Na cabeça usava ovos com óculos na testa. A aba do chapéu escondia um nariz sempre a fungar. Sorria a chorar. Tinha nos olhos uma tristeza sempre presente e sonhava em forma adulta exactamente o contrário do que era suposto acontecer.
Tinha nove anos e já tomava comprimidos para dormir...
Tinha nove anos e já tomava comprimidos para dormir...
E adormecia ouvindo lengalengas que lhe cobriam os medos. Mas sentia sempre aquele frio que mesmo a luz do quarto não conseguia aquecer. Tinha na sua confusão um mundo tão diferente que fazia com que não soubesse brincar. Mimada até à medula da estupidez, encharcava birras e constipava-se quando bebia a água fervida. Mal tossia e logo uma pastilha a esperava. A febre sempre vigiada por uma soma de cuidados ridículos, exigia uma atenção redobrada. Sabia de cor as marcas dos comprimidos e todos a admiravam por esta habilidade. Era uma menina não criança. Crescia ao contrário da idade. Raio de mundo moldado numa tijela! Ali Babá e os seus amigos fugiram daquele curral. Mas tiveram azar: uma mochila com conteúdo alérgico a refugiados, não os levou ao Banco Alimentar Contra A Infâmia.
Tinha nove anos e já tomava comprimidos para dormir...
Possivelmente tornou-se fã incondicional dos Abba e espera que o Fernando adormeça para sonhar: Give me A Man After Midnight!
Tinha nove anos e já tomava comprimidos para dormir...
Possivelmente tornou-se fã incondicional dos Abba e espera que o Fernando adormeça para sonhar: Give me A Man After Midnight!
,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA
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