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sexta-feira, 30 de setembro de 2022

NÃO SEI JOGAR

 

O patrão joga golfe
com o $taco$ do operário.
A cortesã admira-o, 
humedecendo discretamente o sexo.
No clube
A esmerada esposa
cruzando ostensivamente as pernas,
tenta mostrar a lingerie que prometeu estrear 
ao fim da tarde, numa private session 
com o segurança do condomínio. 
O "caddy otário”,
continua 
desesperadamente á espera
do "hole-in-one”. 
Moral da história:
uns divertem-se com tacadas.
Os outros carregam na vida
costas com todas as facadas.
Não sei jogar este jogo.
Só gosto de um swing:
o do jazz.


,2015aNTÓNIODEmIRANDA

6 PRANTOS INACABADOS

1_ Se quiseres saber de mim, poderás falar com o vento. Costumo andar onde não fogem as sombras, agarrado ao consolo das asas vagabundas.

2_ Não me olhes assim.
Nasci em 55 e continuo à espera da sorte. Todos os dias aponto os números da lotaria, tento a simpatia, claro está, com o habitual gosto de azia, mas a fortuna não me conhece. Fartei-me de ser bom rapaz, depois de ter emprestado a alma embrulhada em delírios desonestos. Vomitei pizzas no azar da fome na “Grand Place”, desejei o calor dos lençóis naquele jardim de “Vitoria-Gasteiz”, e lavei muitas vezes os testículos nos wc`s dos comboios.

3_ Pensava que ser feliz, seria a coisa mais normal, mas a despedida do dia, sem nunca me convidar, fazia de mim o órfão mais abandonado.

4_ Parece que tudo se esconde na minha cabeça! Mas, eu estou de partida, nesta mala cheia de abandonos. O cérebro, escondido num tubo de ensaio, só quer mentir naquela análise demasiado curiosa para incomodar a minha intimidade. Guardo comigo uma luz branca, fora das lágrimas do olhar, um caminho amigo do vagar dos passos, só para inventar dias que ainda não conheço.

5_ Nunca me preocupei com o futuro!
Não tenho seguro para o tempo seguinte. Sou um analfabeto, continuamente desinteressado pelo vazio das ideias que só ocupam espaço.

6_ Ok!
Está tudo bem!
Mas,
não faço parte desta banda.

2019ago_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

7

 

Medos vestidos de borboleta assolaram à porta do paraíso e mentiram 7 discursos do mais ousado fingimento.

Quem os escutava sorria sem qualquer interesse, para o ocaso mais próximo.

Vénias foram exumadas em memória dos 7 anjos ebriamente contemplados.

Depois o éden fechou as portas para reservar o direito de intromissão.

Pragas foram canonizadas num delicioso churrasco saboreado por convidados espaciais.

Na hora da despedida, todos cumprimentaram alegremente a sua não identidade.

Sóis pintam as alturas com tons desconfiados, e não se importavam quando o mijo caído do céu, esborratava os seus poemas.

Poetas descalços distribuem poesia à boleia de 7 estrelas expulsas da constelação de Hollywood.

7 

Velhas máquinas de escrever disputam entre si, o mais celestial cântico do teclado.

7 

Murros mantêm a secreta esperança, de socarem num rápido knockout, uma delinquência a quem chamam humanidade. 


2017set_aNTÓNIODEmIRANDA_Vila Chã



Antologia dos autores da volta d`mar * 29 de Setembro de 2018 * sábado à tarde, na Biblioteca da Nazaré, com autores da volta d' mar

 


RECONSTRUIR O OSSÁRIO

É só um respirar nesta triste sina que tanto me assassina, sentido quilhado, fruto caído no destino que passou ao lado.
É só um modo de dizer que me mata sem querer, enquanto o desencanto desagua na esquina das flores sem leme.
É só um não se querer, assim como quem não quer sofrer.
É o não poder ter, nem sequer o suficiente,
como se falasse para um postal triste, e borrasse a escrita com salpicos do que de mim vou despedindo.
Remodelar a angústia.
Mobilar o sótão da memória.
Reconstruir o ossário.

2017set_aNTÓNIODEmIRANDA

O CÉU NO OLHAR

 

Tinhas o céu no olhar e um sorriso quase total, 
que reconheço, embrulhava todas as dúvidas.
Mas o tempo nem sempre corre para o lado certo, 
conforme está desenhado nos mapas.
O barco que apanhamos 
muitas vezes é um furioso vilão, 
atrapalha as boas marés sem costa possível.
Fiquemos pela corda que nos aproxima 
e deixemos qualquer nó para outras hipóteses.
Riscamos na proa sem destino
e quilhamo-nos no leme
que dirige o nosso abandono.
Temos na mão uma bússola com varicela, 
um termómetro exaltado e a vontade pintada numa vela.
Atira-te ao fundo,
mas não magoes nunca o teu sentido.
Salva-te onde puderes.
Para isso,
foge daqui.

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

NUNCA LAMENTAREI A FALTA DE SORTE


 A exiguidade das emoções que constantemente me são propostas, não passam de anomalias patológicas, gargalhadas congeladas em postas de má tez e configuração. Ínfimos zeros que só atrapalham uma boa relação aritmética. Análises sucessivas a um colesterol previamente envenenado, sangue roubado de veias ulcerosas. Tanto sorriso injectado, mal intencionado, medidas mal tiradas, vontades preguiçosas numa lua de mel adoçada com fel. E o mundo lá fora, a arder. Alguém erradamente calculou a volumetria do desejo, estrangulando o seu vigor numa embalagem fora de moda. O conhecimento académico cansa-me o fígado, causa-me eczema. Ninguém atende o meu problema. Dizem que  112 está constipado. Aleluia! É meio dia! Desta vez o relógio não se enganou. Nunca lamentarei a falta de sorte. Sobrevivo com o oneroso azar de a ela chegar sempre tarde.

Há fados piores. Aqueles que as guitarras não cantam.


2015aNTÓNIODEmIRANDA

ÂNGELO de LIMA





 

terça-feira, 27 de setembro de 2022

A TRISTE FALA DO VENTO ENTREGA-ME NOTÍCIAS PARA TRITURAR NO ALMOFARIZ

 

Queria oferecer-te 
um momento quase perfeito 
- uma sangria de abraços 
- um sorriso de boas vindas 
para apenas receber 
um olhar pintado 
com as flores dos teus lábios 
- e tudo começar 
num caminhar sem promessas 
- nem vozes vestidas 
com sorrisos de mármore 
enquanto a memória 
tenta iludir 
os passos amargos 
do desencanto


,2022Set_aNTÓNIODEmIRANDA

PARA PAPAGAIO... JÁ NEM AS PENAS LHE FALTAM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

 


domingo, 25 de setembro de 2022

EDUARDO HUGHES GALEANO (Montevidéu, 3 de Setembro de 1940 – Montevidéu, 13 de Abril de 2015)


Ando a ler Galeano, 
ouvindo o abraço 
dos seus livros. 

Caminho com as palavras 
que voltaram a ensinar-me a ler. 

A simplicidade 
é a única maldição 
que poderá acariciar 
a genialidade.


,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA











sexta-feira, 23 de setembro de 2022

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

HIPÓTESE SEMPRE VIÁVEL

 

Não sei o que me espera.
Não posso medir essa hipótese.
Gelo-me em quartos de hotéis com o bafo de um reles ar condicionado que não sei respirar. 
Volto a calçar as botas mais limpas que estes lençóis amarfanhados com sonhos que não são meus. 
Lavo as mãos com demasiado cuidado para não sujar a mágoa. 
Finjo que estou cansado na vã esperança que o sono amolgado de tanto esperar, apareça com um blues qualquer que me aconchegue os ouvidos. Não sei ver esta televisão onde parece que o filme fugiu. 
Tento imaginar um postigo projectando na parede a mais audaz das cortinas. 
É sempre difícil o primeiro cheiro da cidade onde nada nos pertence e nem um sorriso simpático podemos olhar na palma da mão. 
No chuveiro saem lágrimas que não me molham e esta misturadora mais parece um coador de ternuras constrangidas. 
Dou corda ao coração para que um aperto de mão aconteça.
Leio poemas que tenho na cabeça e invento títulos que não consigo decorar.
Adormeço ao som de cigarros cansados 
e  tropeço em direcção a nenhures.

Espero o que não sei.

É uma hipótese sempre viável.

2016,09aNTÓNIODEmIRANDA



MEMÓRIA DIÁRIA

 

Não me incomoda pensarem naquilo que perdi.

Relevo numa memória diária 

o muito que vou conquistando.

,2021Setembro_aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Leonard Cohen - You Want It Darker

ASSIM SE GEREM INCAPACIDADES

Se eu para as pessoas não tiver defeitos, como é que os meus amigos podem estimar-me? Não quero deixar de agradecer a todos aqueles que se enganaram quando pensaram que gostavam de mim. Continuo a treinar com esse objectivo. Nunca souberam nada da minha vida. E inventaram propósitos com a imaginação mais estúpida. A vossa ignorância dá-vos todos os motivos para não gostarem daquilo que escrevo. Temos text(o)uras diferentes. E a estupidez nem sequer se discute.
Assim se gerem incapacidades.


2016,09aNTÓNIODEmIRANDA





RONRONAR

RONRONAR




Estou escondido no espelho 
das horas lentas, como aquele gato, 
que de pinote em pinote, 
tenta apanhar as borboletas brancas. 
Era só para brincar, 
miava ele no meio de tanta desilusão. 
Voltava todas as manhãs, 
e estendido na penugem da árvore habitual, ilustrava nos passos sem dança, 
a doce esperança de um dia 
divertir-se com elas. 
Mas, as borboletas eram somente 
anjos caídos do céu, 
e, 
desavindas pelo abandono, 
voavam desconfiadas. 
O gato voltou para o meu colo, 
e, dizia-se cada vez mais cansado. 
Vou ter que deixar de brincar. 
Lambeu-me a pata. 
Deitou-se no estirador do meu sonho. 
Ficou feliz com o meu ronronar.


2018Dez_aNTÓNIODEmIRANDA



#EASY TO LOVE# - ANNE WALDMAN








 

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

MAS ESTÁ TUDO BEM!

Tenho um grito que não foge de mim
e o poster de uma anunciação
que diz lembrar-se do meu nome.
O mundo é esquisito
tem dias complexos cheios de alquimias
que esqueci.
Tenho um rio que fugiu da minha procura
e uma procuração devidamente preenchida,
selada e assinada
num papel de sessenta e uma rasuras.
Tenho tudo em dia excepto a coerência
que continua pertença minha.
Tenho as dúvidas actualizadas
e um ritmo cardíaco sempre sincronizado
com esta contínua vontade
de continuar a ser diferente.
Não pretendam de mim outra coisa
que não o nojo com que vos beijo.

Mas está tudo bem!

Um de nós, vou matar-te!



2016,09aNTÓNIODEmIRANDA




Jantar. 15 de Setembro. Secretos de porco e arroz de feijão.

 



Hoje. Praia da Samoqueira. Porto Covo. Ribeira da Azenha (Restaurante Pôr do Sol). Vila Nova de Milfontes. Praia do Malhão.

 

















quarta-feira, 14 de setembro de 2022

UMA HISTÓRIA HÁ MUITO CANSADA SEM NOMES PARA CHAMAR



 Viagem num tempo traiçoeiro.

Passos envergonhados apontam
o caminho da estação dos
horários
que nunca atendem o nosso
vagar.

Vozes cansadas
de todas as esperas,
defraudam sem qualquer esperança,
a crueldade do mundo.





,2022Set_aNTÓNIODEmIRANDA
Casa Branca* Praia de Melides

NÃO VÁS

 

Quem dera que o tempo roubasse 
as horas que me enganaram.

Melhor seria que o céu não achasse 
o que de mim tirou.

E eu, 
ajoelhado,
mendigaria  à mentira:

por
favor
não vás
embora


,2022Set_aNTÓNIODEmIRANDA
Casa Branca* Praia de Melides

LADAINHA (PORQUE AS LÁGRIMAS NÃO CONSEGUEM FUGIR DAS BOAS MEMÓRIAS)

 
Carrego nos ombros a lembrança dos esquecimentos. 

Não são fáceis as horas que entregam a meia-noite. 

O deserto da solidão deita-se no aconchego das orações que inventamos para desculpar a nulidade dos anos. 

Lençóis de sujo choro não querem saber do sol. 

Realidade fastidiosa.
 
Simulacro ignóbil de bondade.

A burla legalizada deposita nos braços 
a teimosia da desilusão. 

Não há consolo algum para os passos que velarão o pesadelo. 

A felicidade está fora da lei 
chutada em becos medrosos que nunca reclamaram qualquer subsídio para a inclusão. 

Neste fogo ferido, 
fantasmas sujos afirmam no pavilhão dos vendilhões, que perdemos o consolo das putas 
que sempre nos pariram. 

A vida é uma fiel traição, 
um permanente desapontamento 
que não podemos reparar.


,2022Set_aNTÓNIODEmIRANDA
Casa Branca* Praia de Melides

CONQUISTA FOLGADA

 

Venceu 

Tudo 

Que 

Havia 

Para 

Perder.

   


,2022Set_aNTÓNIODEmIRANDA
Casa Branca* Praia de Melides

ACARICIAR IDEIAS

 Só 

O amor 

Inconcebível 



Alcança 

Paixão 

Proibida

   

,2022Set_aNTÓNIODEmIRANDA
Casa Branca* Praia de Melides

NINGUÉM QUER CASAR COM A CAROCHINHA

 

Tinha a mania que era a rainha, 
naquele trono das formigas estafadas. 
Vestido de princesa, com certeza, não tinha, 
e publicava nos anais da imbecilidade, 
convites pornográficos.
Uí!
Exibia no palco nódoas de bailarina,
a sua suprema ambição.
E, assim pensava que animava a frustração 
disfarçada nos Ray Ban.
Julga-se grande na sua imensa pequenez.
Mas, ninguém quer casar com a carochinha.
O João Ratão, 
deixou de ser atrevido.
Dizem agora, que só gosta, 
quando está distraído

2018Set_aNTÓNIODEmIRANDA




Mudam-se os tempos! Mantêm-se as verdades!

 


NO SILÊNCIO DAS NOITES DORIDAS

Ó musa ausente
deste coração que já nada sente,
tenho saudades do teu cantar
na espécie de encontrar,
versos fiados
neste poema que mente
aquilo que não escrevi.
Será pecado este amor
que sempre passou ao lado
do modo exagerado
como ousei gostar.
De ti já nada sei
e o que contam
já não cabe neste recordar.
E alheio não sou a esta dor
que me fere a alma
e grita-me no silêncio das noites doridas
espalhando em vão silhuetas amigas.
Mas este fogo só me esfria
os dedos que quero arder na tua pele.
E agora neste torpor magoado,
perco-me na volta dos beijos
do desejo sempre imediato.
Que alguém me salve de mim mesmo,
e me conduza a outro inferno.



2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

A lagoa de Melides, vista da Casa Branca.

 


A SOLIDÃO É UM BURACO VAZIO

A solidão é um buraco vazio. Forra-nos com sossegos nem sempre tranquilos, que pensamos nos confortam. Ocupa um espaço que pretendemos só nosso, e na sua mórbida curiosidade, distribui limalhas bolorentas no chão que queremos lavar. Repete uma música, rasgando-nos os ouvidos com segredos usados. Enxerta na nossa memória lembranças enferrujadas, para temperar emoções há muito rejeitadas. Miséria no cérebro, velhas sombras que nada aconchegam, só porque pensavam ser uma das nossas, descem devagar lambendo palavras esquecidas, que pintavam os muros onde nos escondíamos.

,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA

A PAIXÃO DOS AMANTES INCORRECTOS

 7 velas para um poema.

O que o vento escreve despenteia a memória. O resto, embrulhado nas sombras vai e vem como se fosse saudade. Nada mais do que um cêntimo a nadar no bolso. Um sumo de liberdade seria bem acolhido.

Um fruto,que nunca amadurará, achado na valeta dos beijos roubados, será devorado na taça dos segredos azedos.

Alguém para nos livrar desta barca desterrada no mar das memórias sujas.

Bebemos há demasiado tempo o veneno dos sorrisos ocos, mastigamos olhares peçonhentos entregues pelo carrasco dos costumes.

Duvidamos que algum céu,mesmo de azul mal pintado, esteja à nossa espera.

O tempo, este verbo que tanto nos desespera é uma roda apressada,foge sem nunca respeitar a nossa demora.

E este chão que nos engana,esculpido em veludo azul,não é de confiar. Enlouquece-nos sempre que lhe apetece com sádicos abraços, oferecidos a preços de saldos de fim de estação.

Adormecemos com pedras na mão, um coração de filigrana arrependida, uma réstia de esperança demasiadamente usada em vão.

No velho banco do jardim contamos as histórias do azar, mas, elas há muito tempo fugiram da pele.

A paixão dos amantes incorrectos arde no velho entrudo das recordações falidas.

Não me lembro dos meus sonhos...

,2020Set_aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 13 de setembro de 2022

IMPONENTE RIGOR



Que noite é esta que para nada presta?
Onde te escondeste anjo dos anzóis amargurados? 

Caiem as estrelas expulsas da limousine dos sonhos, mal sabendo que não haverá feira para as exibir. 

Ao longe uma barca tatuada desenha a rota do precipício. 

Sobe lentamente ao encontro da lua, escondendo o sol que não se cansa de roubar. 

A morte já nada espreita. 

Há muito sabe que a única certeza acabará na inevitabilidade do abraço habitual.

Ampulhetas caídas tornam longa a espera da fatalidade.


,2022Set_aNTÓNIODEmIRANDA
Casa Branca* Praia de Melides

COMO SE FOSSE PROMESSA

 qUALQUER 

dIA

vOU 

sER 

eU

!


,2022Set_aNTÓNIODEmIRANDA
Casa Branca* Praia de Melides




Vento e Chuva. Casa Branca. Praia de Melides.