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terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

IDEIA REGISTADA

 

Montanha vermelha

Que me levas ao cinzento

Do céu.

Contudo,

As flores

Continuarão 

A

Crescer


,2021Mar__aNTÓNIODEmIRANDA



PARA TI MORRO DE VERMELHO SEM MEDO DE ME AFOGAR

 

Todo o tempo anseia pela mudança
Espalha na sebenta 
o rabisco da esperança 
e na sombra da memória abençoada
pinta sorrisos para abraçar
Talvez um dia...
Inundarei o teu desejo com o perfume do nosso 
sexo 
Talvez outras flores regarão a nossa memória 
E nos beijos que espalharei no teu corpo 
molharei esse doce olhar
Para que a despedida não mate nunca 
este desejo de gostar de ti 
E depois escrever com a língua 
um poema na tua 
Pele


,2021Julho_aNTÓNIODEmIRANDA

PAULA BARATA * Cheias em Algés* Exposição de Fotografia * Fábrica de Alternativas * 3 de Março

 


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

POEMA DO MIGUEL MARTINS / segunda-feira, 27 de Fevereiro de 2023

 

Morrer à janela.
De borco.
Deixar, debaixo da barriga, sobre a mesa
de permeio, um copo de álcool por estrear
e, no cinzeiro, um cigarro
que — perfidamente — teimará em abrir
um derradeiro buraco no pano da camisa
e outro na pele já insensível.
Morrer de olhos abertos
para a monótona paisagem circunscrita
por uma dúzia de traseiras de prédios,
onde moram pessoas cujos vícios e paixões,
decorrida uma década,
nunca tive interesse em tentar, sequer, imaginar.
 
E, depois (ah, depois!), voar sobre os telhados
descarregando finalmente a diarreia imaterial
de tudo quanto sou, não sou ou poderia ter sido,
com a mesma indiferença com que um balão perdido
vai para a esquerda ou para a direita
ou se esvazia,
cansado de animar o pasmo dos basbaques
voluntariamente, artificialmente acriançados.
E, de seguida, pfft, mais nada.
Ou o início de um batimento cardíaco
sem necessidade do respectivo órgão,
mas sintonizado com os ritmos, airosos e celerados,
que saem das bocas dos adolescentes dos bairros de lata
de Saturno assassinados à facada pelos gangues de Úrano
ao chegarem ao purgatório.
Que, como toda agente sabe, é um sítio cheio de futuro
e paciência, horribilis e amoenus,
como um saguão cheio de jornais pretéritos
ou um armazém frigorífico de carne
em que já crescem estalactites.
 
Penso: mas abrir a garrafa e encher o copo de álcool
é que foi um desperdício desnecessário,
derradeiro egoísmo de quem não deixa herdeiros
ou só daqueles que já não esperam nada,
que é como quem diz, daqueles que vingam
o tédio dos novos e o frémito dos velhos
com os seus sexos
de mel.

Miguel Martins _27/02/23

BEAT&BLUES # Quiçe Mi Lá Buche#

 

Falava de um anjo que o guardava. 
Disse-lhe com a educação possível que já tinha visto naufrágios com finais mais agradáveis. 
Vai para a cama com um manual complexado e adormece candidamente abraçando figuras mitológicas. 
Não dispensa um hambúrguer santificado, 
daqueles que só o mcdonald´s consegue fazer. 
Disse-lhe com a educação possível: 
beatificado seja o teu nome. 
Perguntou qual a marca do meu porta-chaves. 
Disse-lhe com a educação possível: j
á não há malucos assim! 
Estivemos a falar de quê? 
Levantou-se com a educação necessária e mijou nos pneus do autocarro. 
Na televisão alguém com um ar seriamente preocupado, avisava os incautos para terem cuidado. 

Muito cuidado! Há por aí 2 beatnicks à solta.


 2015melides_agora mesmoaNTÓNIOdemIRANDA

Madalena ÁvilaPoesia à Deriva - Estrofe I - 2019

 


3 CONVERSAS PARA O POEMA DO AMOR POSSÍVEL

1

 Tatuámos o desejo
nas algemas da ternura
e o amor possível
não as abriu.


2


 Drive me!
Drive me baby!
I like the way you do.
Take me!
Take me baby!
I wanna do bad things with you.


 3


 As promessas indicadas
no código de barras
abrangem a pequenez
da nossa intenção.


CONCLUSÃO FINAL
Por ti,
neste encontro nunca acontecido,
entonteço na sombra do candeeiro
que sempre me engana,
quando tento abrir a tua porta



2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

LESBOS...


SE SOUBESSE TOCAR PIANO...(do blog do Miguel Martins. Obrigado)




acabaria de vez
com esta mania
que pensa que escreve.



,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA



domingo, 26 de fevereiro de 2023

Um poema de Allen Ginsberg, traduzido por Miguel Martins.

 


CECYL TAYLOR

 Sacudia a extravagância no 

teclado do piano. 

Naquela noite de `77, 

embebedei-me para sempre, 

com aquele som que não 

queria fugir dos ouvidos. 

Na praia de Espinho, 

o frio do mar, 

continuava o concerto 

com notas que tentavam 

adormecer o saco-cama. 

E, eu, rezava com as estrelas, 

privilégios do mais feliz habitante 

do império com sentidos. 

Queria abraçar aquele anjo com fumo, 

e remar nas suas ondas de incenso, 

a exactidão da loucura 

que há muito procurava. 

Taylor entregava abraços 

ungidos de liberdade, 

e, eu, na maré dos 22 anos, 

cavalgava mundos naquela mala. 

2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA




PALAVRAS ALHEIAS

O poeta é louco.

Aquele que pensa que não é,

é tão pouco,

que o poeta que é louco,

finge que é mouco,

quando ele começa a dizer

palavras alheias à sua vontade.


2016,02
aNTÓNIODEmIRANDA

ELEGIAS ROTAS

 


A força deste compromisso, 
varre o calor do teu carinho.
Carrega mamilos amadurecidos,  
e a carne de aço apodrece na minha cabeça, 
e oferece-me lascas 
que cintilam nas nuvens da tempestade 
deste serão atordoado.  
Espalha plumas num débil arremesso, 
detentor de menos 50% de probabilidades 
não razoáveis. 
Hospeda no abandono da fenda, 
gestos da ganância degradada, 
e aguça com desordenados gritos, 
fios de suor.
É para eles que a voz tem de falar. 
Não cabe na colher do negócio principal, 
o sonho maior. 
Na armadilha, 
nada mais do que um movimento supérfluo, 
que enrola as mãos de querubins, 
guardiões de toda a maldade. 
Desenhar o olhar forjado num curvador de vontades para espalhar a luz negra, 
que ilumina o sangue farto 
das elegias  rotas.


,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA


ENCOSTADOS NA POLTRONA DAS PALAVRAS

 

Talvez tivesse ido mais longe,
tentado de modo diferente
alcançar outras asas,
voado para além do medo.
Mas, 
o enredo que não consegui queimar
acabou sequestrar
a coragem que me ouvia.
Os tempos mudaram.
E,
agora encostados
na poltrona das palavras,
voltamos a ser 
amigos.


,2019Dez_aNTÓNIODEmIRANDA


Jornal A Batalha (Letra Livre).


 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Keith Richards / Gimme Shelter (Live 1993)

O ÚLTIMO BEIJO

 



Técnica Mista


MUNDO MENOR


Quando se admite a existência de deus,
sugere-se o pecado.

A necessidade do homem,...
gera coisas insensatas.

O diabo
É o fruto do seu arrependimento.

As pessoas pequenas
Fazem-me um mundo
Sempre Menor.


,2015aNTÓNIODEmIRANDA

SONETO DO AMOR AUSENTE

 

De ti me fica a lembrança
Do amor por nós não entendido
Do tempo sempre sofrido
Passado nas ausências da esperança

Nesta estranha forma de dança
Mais do que eu, triste é o meu fado
Que se perde no beijo desesperado
Escorrendo do tempo a mudança

Foi-se a hora da paixão
Gasta nos abraços clandestinos
O que nos uniu foi o fracasso

Feito no engano da ilusão
Nos abusados desatinos
Num amor tão breve e escasso



.aNTÓNIODEmIRANDAjul03/2006

EXCEPÇÃO À REGRA

Quis o mundo de tão pequeno
exceder o tamanho de mim próprio.

Não me pertence tal medida.

Gosto da excepção à regra
que me permite viver diferenças
que incomodam a realidade.


2016,02
aNTÓNIODEmIRANDA

JÁ NÃO FALAMOS MUITO

Às vezes desvio-me para a caverna só para acordar a sedução,
dizendo-lhe ao ouvido que não pode abandonar-me.
Ela então sorri um riso vertical e promete-me que quando se lembrar,
não vai esquecer-me.
Então aqueço-lhe as mãos com um tremor ternurento
e beijo a sua memória com todo o afago.
Rimos os dois num modo igual à ficção em que nos tornámos.
Visto-lhe o roupão comprado no último saldo dos certificados de aforro.
Agradecemos encarecidamente à rolha da garrafa do tinto que tanta alegria nos proporcionou.
Já não falamos muito, é certo,
mas também é verdade que em dados momentos,
as palavras deixam sempre de ter sentido.
Adormecemos geralmente sem a necessidade de continuar esta ilusão.
Ainda não sei se temos relógios iguais… mas nunca falhámos qualquer encontro.
Vamo-nos vendo por aí.
Às vezes nas esquinas onde ninguém se encontra.

  2016,11aNTÓNIODEmIRANDA



terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

A JANELA DOS SONHOS CORAJOSOS

 

Este absurdo estar entrega o enredo de 
memórias assassinas.

Só, 
como é hábito, 
arranho réstias de esperança 
nas paredes deste quarto, 
odioso observador 
das tentativas de revolta. 

Prisioneiro de mim, 
recuso lamber as hipóteses que feri.
 
É ensurdecedor o louco riscar 
do espanto nesta ardósia encarquilhada 
com lembranças inúteis.
 
Disseram que sabiam 
que a janela dos sonhos corajosos 
dormia na magia da almofada.

Então porque este engano de mim 
nunca deserta?




,2023Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

CONVERSA ACABADA

 

Tomai Tomai

Bebei E Comei

Se Mais Não Disser

É Porque Demais

Eu Falei



,2023Fev_aNTÓNIODEmIRANDA


ESCADA PARA O PARAÍSO

 

Escondeste nas palavras recônditas despedidas 
como se o céu de ti tivesse 
desistido. 

Ficou um rasto de lágrimas estendido 
no lamaçal das memórias. 

Ergueste um risco de gume malvado 
numa cerca de lamentos.

Um voo sem destino identificado 
continua à tua espera.

A pressa adormecida deixou fugir 
a corrida dos aflitos.

    Encostado à escada para o paraíso, 
temperas a chegada do último fôlego.





,2023Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

BAILE DO COTONETE

Vou pisando nuvens neste chão
que não me é sagrado,
nem sei agora que pecado devo cometer.
Visto luvas de frenesim nos pés
para não magoar a memória.
Triste ideia marinada em alecrim
que me consola um olfacto constrangido
devolvendo-me santidades de caruncho.
Estou aqui,
onde não me pertenço,
náufrago de um mar de fotografias
que ainda não rasguei.
Continuo os dias
com a infindável esperança
de ser benzido por gotas de chuva
com sabor a Jack Daniel`s.
Vou atrofiando a amnésia
nesta lipoinspiração
escondido na sentina
alegrando as impressões vegetais
do baile do cotonete.


,2017fev_aNTÓNIODEmIRANDA

SENTINA

 É assim que as coisas acabam?



Sentado na sentina

mandou à merda,

a fidelidade



,2023Jan_aNTÓNIODEmIRANDA


DAQUELES

Daqueles que passam

Dos vagabundos

A sombra

                    É o algo que permanece



 
.76aNTÓNIODEmIRANDA

ABSURDO OU NÃO...

Empatia Apática
Vulnerável Resiliência
Santa Ninfomaníaca
Indiferença Recíproca
Pragmatismo Improvisado
Disposição Rejeitada
Ignorância Esperta
Déspota Libertadora
Insubordinação Submissa
Humildade Exacerbada
Mitigação Reagravada
Prévia Tardia
Lisonja Desbocada
Moléstia Arrumada
Menosprezo Apajeado
Escarnecer Cortejado
Desagrado Prazeroso
Contrário Deleitado
Ofensa Exultante
Humilhação Acariciada
Aborrecimento Simpático
Míngua Fortalecida
Prostituição Assoberbada
Depressão Vigorizada
Desonra Elogiosa
Desencorajar Excitante
Vilificação Valorizada
Desesperar Descontraído
Desgostar Delicioso


2016,10aNTÓNIODEmIRANDA


SAUDEMOS COM ELEVADA TERNURA A SOLIDÃO DOS ECZEMAS

 
Louvados sejam
os consolos das viúvas,
e, as jovens que desesperadamente    ambicionam um igual atributo.
Santifiquemos os confessionários ansiosos,
as absolvições maliciosas, as celas do gemer silencioso, a madre, o padre, o santo do saco dos milagres rotos. 
Estimados sejam os ingénuos, nascidos de mãos erguidas para um céu que nunca os abençoará.
( O futuro estará demasiado ocupado na correcção das deficiências bíblicas ).
Imaculados sejam os pecadores do último dia, os corretores das obras da Santa Engrácia, os difusores da abundância, mesmo que a fome seja o pecado infamemente perdoado. 
Malvados sejam os crentes na esperança que os destrói.
Bem queridos lá no reino dos véus, serão todos os imbecis. 
Saudemos com elevada ternura, a solidão dos eczemas.
Louvados sejam os que morrem, antes do tempo os tornar inúteis. 
Que para sempre sejam recordados, os que tentam sempre a discordância.

Ao fim
E ao Cabo
O ser
É
Ser-se
Diferente.



,2020Fev_aNTÓNIODEmIRANDA


AGORA ELA PERCORRE A ESTAÇÃO DOS SALDOS

Pensava que estar ao contrário era suficiente.
Nunca chegava ao fim e perdia-se na procura
do caminho, com passos que marcavam a encruzilhada.
Cosia demasiadamente as ideias,
queimando sempre a tentativa mais simples.
O psiquiatra só a queria comer
e prometia-lhe a cura numa fria salada de delícias do mar.
Mas ela duvidava 
sempre que a ocasião era chegada.
E despia-se em ousado ritmo de strip-tease,
para que ele não duvidasse nunca da sua vontade.
As melhoras tardavam e o período constituía assim a sua desculpa.
Mas ele queria. 
Insistia. Insistia.
E chegou assim o dia prometido.
Beijou-o quentamente numa língua apaixonada com sabor a comprimido.
Deu-se mal, pois então!
Mostrou uns olhos estranhos, 
um respirar dificultoso
e apareceu no canto da boca uma espuma 
que não parava de crescer.
Alguns peixes ainda tiveram tempo para fugir,
mas um tentáculo distraído,
foi dormir a sesta numa cama abraseada.
Nem o branco gelado, 
prontamente servido, o salvou.
Agora ela percorre a estação dos saldos,
à procura de uma lingerie enviuvada.
E de cada vez que a experimenta,
lembra-se como ele gostava do vermelho,
que agora lhe beija a pele.


Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA



ASSIM FOGE O TEMPO

Por vezes deixo-me perder 
no conforto do desassossego.
Lapido um coração de inox
que mente, quando me pertence,
enquanto alvejo nuvens dos dias do Outono.
Escrevo inutilidades nas folhas caídas,
sabendo que essas palavras desprezarão
todas as memórias.
Cães ladram sonhos
num vomitado abusivamente conhecido.
As pérolas libertaram-se do colar,
e o tiquetaque incomoda os silêncios da decência. 
Assim foge o tempo,
embrulhado nas pistolas
de brincar.

,2021Fev__aNTÓNIODEmIRANDA

MENINA

Era
Uma Menina Muito Bem
Fazia Tudo Como Deve Ser
Às Vezes Esquecia-Se
De Tapar A Boca
E Toda A Gente
Toda A Gente A Ouvia Gemer
Ela Então Tentava
Tentava Disfarçar
Mas Havia Algo Que A Não Ajudava
E Esse Algo Era O Olhar
Esse Olhar Tão Penetrante
Com Que Ela Pensava Cativar
Só Durava O Instante
O Instante Que Ela Conseguia Enganar.


27.5.86_aNTÓNIODEmIRANDA

NINGUÉM PODE ESCREVER NA MINHA CABEÇA

Os meus índices de normalidade geralmente estão muito aquém do normal pretendido. São evidentes alguns coeficientes abalados por uma estúpida agitação alheia à minha vontade. Também é verdade, que frequentemente não funciono com as opções propostas. Continuo preguiçoso para analisar outras situações. Não tenho paciência para doses instantâneas de karma, não cultivo o drama e enrolo muitas coisas, menos a vida que me proponho viver. Não gosto dos vazios nem da sua natural tendência para a constante lamentação. Sou simples e não discuto coisas como a chuva no inverno ou a perspectiva anacrónica de uma qualquer vaga ideia. Gosto da velha gillette, da sua lâmina que toca sem desprezo a minha cara e nunca fica ciumenta com o perfume com que dela me despeço. Gosto, gosto muito de me lembrar dos livros e discos que tenho. Corre, por vezes tanto tempo sem nos falarmos, mas só os amigos conservam esta fidelidade. Gosto desta caneta com tinta sempre presente, vestida com um aparo de 14K. Adoro esta sensação inequivocamente vivida no gostar. Gosto sempre da deliciosa vontade de não fazer o que não gosto.
Adoro o sim rápido e verdadeiro e o não sem alguma subtileza. 
Obrigado pela vossa compreensão.
Atentamente,


2016,02
aNTÓNIODEmIRANDA

LOVE IN VAIN


Irei


amar-te 

até ao fundo 

do 

coração






Dizia 


ela

beijando o adeus

escrito na  janela 

da carruagem



, ,2022Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

SALDOS

 As raparigas bonitas 

Compram atraentes vestidos 

Para dançarem no meu céu


Avisei-as para não saírem 

Da gaiola


Até porque os saldos

Não são de fiar


, ,2022Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

AGORA QUE O CÉU FOGE DO SOL


E ao terceiro dia perguntou 
que mais poderia ter feito 
agora que o céu foge do sol 
e na garganta tem o sufoco dos relógios perdidos 
tornando rugosa a urbanidade 
onde passos promíscuos enganam a noite.
Ainda não tinha aprendido 
a traição de todos os sexos que pariu 
e o desejo negligente 
com que abraçava pérolas ausentes de abraços 
com chapéus de arame farpado. 
Lançou para longe o seu próprio ruído 
e ficou assustado com o cair de todas as penas. 
Tinha nos olhos a cor que o espelho tinha partido.
A alma encanecida 
tinha abandonado o uivo da sua urgência 
e agora tingia a crueldade do pensamento.
Tinha de aprender a esquecer a sensatez 
de todos os silêncios que nos morrem nas mãos.
Não poderia continuar a desprezar o prazer.
Pontapeou para longe o coração que lhe roubaram.
Agora que o céu foge do sol...



,2016,06aNTÓNIODEmIRANDA


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

AS PALAVRAS DA DESPEDIDA

 

As palavras da despedida são o conhecimento com que ficamos, agora que o resto foi coado no passar deste tempo que alongou a memória. 
Os dias do sol feliz deviam ser sempre gastos com abraços de absolvição. 
Um ritmo absorvente não nos ficaria nada mal e o sorriso sempre aderente, deveria ser considerado um bem mais que necessário para o desenvolvimento da contracultura há demasiado tempo metido no reservatório do lixo nacional. 
As palavras da despedida são lidas nas exéquias da 7ª lua, supostamente como se tivessem morrido. 
Não há funerais de véspera e os véus que enfeitam os bancos do purgatório, só não ardem porque acender uma simples vela, leva-nos a módica quantia de 50 cêntimos por minuto. 
E há espectáculos de superior qualidade manifestamente menos dispendiosos. 
Depois da morte, qualquer filho da puta aparece milagrosamente na fotografia como boa pessoa. E isso, deixem-me dizer, retarda a ideia que tenho do finamento. Nas horas da despedida dizem o céu fica turvo, o vigário liga o turbo, as nuvens deslocam-se apressadamente para Hollywood e no spa dos prazeres sensoriais, secam-se tomates supostamente de origem demarcada, em estendais noticiando a evolução da bolsa das vergonhas. 
Nas horas da despedida despejam-se lembranças, queimam-se os últimos poemas e admitimos a morte súbita como a única culpada desta vida passada na ideia errada de transformar em ouro a merda que fizemos. 
Nas palavras da despedida há lágrimas de castidade, causas nunca assumidas e esculpida no rosto, uma indigna surpresa que nunca vimos no relógio.
Apanha-nos desprevenidos esta hora sempre adiantada e no ramo que pensam nos aquece os pés, uma cor que nunca iremos cheirar. 
Já não falamos para o umbigo e a autópsia, a única amiga que desprezamos, deixou a assinatura.
Temos agora outro nome!
Mas não o sabemos dizer!
E no samba deste Carnaval, abanam-se cus, mamas tentam tocar céus já ocupados e tambores que rufam nas nuvens para que a chuva nos respeite.
As palavras da despedida correm num rio com curvas que escrevem aquilo que fomos.
Que os sorrisos se alegrem desta vez sem fantasia e que a festa seja feita de acordo com a nossa última vontade.

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

CARNAVAL

O Carnaval é uma menstruação cíclica.
E para que saibam, absolutamente ignorada pela igreja caótica.
Na quarta-feira, serão distribuídas cinzas para serem "snifadas" pelos atrasados mentais, tipo aqueles que constantemente no "fuckbook", mudam a foto de pernil.



,2018Fev_aNTÓNIODEmIRANDA


Um poema de #S.A.# de Miguel Martins Do lado Esquerdo #25 (assinados e numerados pelo autor) tiragem única de 100 exemplares

 

# Não me identifico com a minha infância. Não me revejo
na minha juventude. Não morro de amores pelo rapaz 
que era há vinte anos. Não quero saber quem sou e, desde já,
não me interessa quem possa vir a ser. Contudo, em viver
ponho um enorme gosto, um prazer calmo. Sem pensamento
e sem identidade. Pequenas coisas britânicas  - um chá,
uma cerveja, um vaso, um tecido, um penhasco de giz -
confundem-me a realidade e inebriam-me como um romance
antes de adormecer. São entusiasmos partilháveis, cintilações
fugazes, amores de beira-gare. Enquanto, com denodo
e sem pressa, aguardo a dissipação do mistério maior,
o espanto de que as tempestades são o fogo-de-artifício. #



AUSENTE DE MIM

Fecho os olhos
Para a noite que sempre acaba
Olho-me num rio
E imagino-me barco sem cais
E se as ondas batessem em mim
Ou se eu fosse areia sempre molhada
Mesmo com sabor a sal ?
Não sei se estou cansado
Ou ansiosamente procuro o cansaço.
Sorrio a mim próprio
Mirando-me num espelho de uma só face
O outro lado sou eu
& a minha completa desilusão .
Volto atrás ! Caminho em frente
Com a pressa traiçoeira do sabor vazio.
Tento só o que quero
Nem sequer o possível.
Espero no desespero
O tempo do desalento
O desejo adiado. E consumo
Cenários de mera conveniência.

& suicido-me em ficções
& morro as vezes que não quero
& desejo não desejar
& choro lágrimas anónimas
& estou bem onde não posso estar
& estou não sou fui sou

Ausente de mim

96.abr.18_aNTÓNIODEmIRANDA

VOU-ME ALEIJANDO NA VIDA

 Salto anos, 
agarrado aos dias nesta oração nua, 
cantada no verbo que já nada disfarça.
As palavras da sabedoria pedem desculpa 
por não conseguirem mentir.
Eu compreendo, 
e escrevo nas rugas, 
aplausos que habitam uma sombra inóspita.
A despedida quer uma tela sem enganos 
para remendar.

A morte, não me convém.

Até porque não sei em que latrina fica o paraíso.


,2021Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

CANÇÃO CONFINADA

 Alojado no sol do inferno
aqueço a paisagem desta guerra. 

De mão estendida, 
tento não pisar 
as máscaras da vergonha. 

Que triste deus encalhou a sorte. 

Moeda danada atirada à morte 
nesta canção confinada.


,2021Jan__aNTÓNIODEmIRANDA


SEI QUE NÃO SABES

 Eu também duvido da cor dos dias que irão chegar.
Entrego o sabor do último abraço, 
enquanto escondo lágrimas no altar abandonado.
Tempos estranhos estes, 
que não deixam desenhar sorrisos. 
O desencontro nunca foi corrigido. 
Lenta, a vida foge do nosso convite. 
Que assim sejam todas as núpcias.
Fora de horas foi sempre o acontecer do desejo.


,2021Jan_aNTÓNIODEmIRANDA


SILÊNCIO ESCULPIDO NA DOR

 Não me pertenço. 
Nunca aparentei existir, 
Nem anónimo me considerarão, 
Mentem,
no especial que fingem que sou. 
Mas,
só me arrasto para esconder todos os nojos.
Sou o verbo errado 
no tempo que me julgam. 
Erva daninha
nem sempre mal comportada.


,2021Jan__aNTÓNIODEmIRANDA


"SOLIDARIEDADE”

 De tanto levar porrada do patrão

Só ficaram indignados

Quando 

De

Sangue

Se

Pintou

O

Chão


,2021Jan_aNTÓNIODEmIRANDA


domingo, 19 de fevereiro de 2023

Um especial obrigado para um grande AMIGO : Manuel Filipe ! Já comecei a ler. Caramba, estou a GOSTAR ! 19 de Fevereiro de 2016

 





SEC`ADEGAS . O cachet Dos SEC`ADEGAS Só tem dado Despesa.

 


Lawrence Ferlinghetti reads "Surreal Migrations"

Allen Ginsberg's LSD poem to William Buckley

241st Chorus by Jack Kerouac

 

And how sweet a story it is
When you hear Charley Parker
tell it,
Either on records or at sessions,
Or at offical bits in clubs,
Shots in the arm for the wallet,
Gleefully he Whistled the
perfect
horn
Anyhow, made no difference.
Charley Parker, forgive me--
Forgive me for not answering your
eyes
For not having made in indication
Of that which you can devise--
Charley Parker, pray for me--
Pray for me and everybody
In the Nirvanas of your brain
Where you hide, indulgent and huge,
No longer Charley Parker
But the secret unsayable name
That carries with it merit
Not to be measured from here
To up, down, east, or west--
--Charley Parker, lay the bane,
off me, and every body



SEX (A) ME

Sex
(a) - me
Disse ela. 
Embrulhei
a língua
no clitóris
e
abençoei
todos os
prazeres do mundo.
Lá fora
continuaram
a ignorar
o sexo
dos
anjos.


, 2019fev_aNTÓNIODEmIRANDA

R.L. Burnside: See My Jumper Hanging On the Line (1978)

ATÉ Á PRÓXIMA

 

até á próxima.

&

foi assim

que a distância

se 

despediu

do

infinito


,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA

sábado, 18 de fevereiro de 2023

ADULAÇÃO


Soltaram os imbecis.

Andam por aí espalhados com doutoramentos dourados e abusam nada preocupados dos pesticidas.

Enjaulados nas palavras, 
reúnem-se em alcateias onde vomitam ideias 
que nem eles entendem.

Fingem-se amigos, 
pobres mendigos, 
no meio da cerveja.

Pensam que inventam, 
mas só jumentam 
e batem palmas para sacudir o tédio das mãos.

São exageradamente simpáticos e sorriem abraçados a esta tendência sem inteligência com beijos que andam de cara em cara. 

Tiram fotos para uma telenovela para mais tarde criticar. 

Amam-se enganosamente num gosto tão defecado e adulam-se como se isso fosse o mais natural acreditar.

E agora aplaudem-se bestas comodamente instaladas no recanto dos indignos.

Estou além deste propósito 
e propositadamente 
não consigo gostar.

Estou além da simpatia fingida.
E tenho amigos.




2016,08aNTÓNIODEmIRANDA

FREE LIKE A SHOT FROM MY GUN


D e  r  a  m - l  h  e   u  m    t  i  r  o   n  o    r  e  t  r  a  t  o  .

…  M  o  r  r  e  u   s  e  m    d  a  r   p  o  r   i  s  s  o  !



2015aNTÓNIOdemIRANDA




 

BREVEMENTE NUM LUGAR A FUGIR DO CÉU

 No acto de contrição, 
contribuo assiduamente com aldrabices benzidas. 

Entretanto,
derreto a alma em suaves harmonias de desequilíbrio.

Findando-me todos os dias, 
enredo num lamento sentimental
a pele tingida da dor,
antes que a morte aconteça.
 
E nos segredos que os dedos escrevem,
caminho através do sono
para que a beleza nunca me abandone.



, ,2022Fev_aNTÓNIODEmIRANDA


CANÇÃO DA AUTO-ESTRADA


 E o teu amigo especial é a tua sombra nos momentos em que invejas o conforto da casa. 
Esse bálsamo desconfiado que te fez pegar na mala e largar. A tua alma é um saco de viagem repleto dos sonhos que te acompanham. Agora és uma solidão não sozinha, nunca igual à que vês nos olhos apressados, dos que sem qualquer sentido, caminham para o mesmo lugar. É a hora do lobo, onde o sol mal disposto e cansado, vai enganar a lua. E o teu amigo especial, é a tua sombra nos momentos feitos de esperança, às vezes com lágrimas com o sabor da hipótese mais apetecida. É sempre tempo para se viver aquilo que ainda não aconteceu. Agora que a noite caiu, e o polegar é o teu anjo da guarda, há um frio que te deseja e abraça o corpo. Há uma espera imaginada. Agora qualquer beijo seria bem-vindo. Qualquer tronco de árvore no jardim será a tua cama. Agora que rogas no teu único silêncio, um soluço que nem de saudade já é, agora onde todos os minutos recusam o adormecer, e o medo habitual vai fazer-te companhia, agora que te apetecia chorar mas falha-te a vontade, agora não podes parar. É a vida feita saudade. E há sempre um carro que policia com olhos curiosos. Abeiram-se de ti, e pedem uma qualquer identidade, menos aquela que te pertence Partem para voltar. Voltar sempre mais cedo do que era imaginável. Observam-te, vigiando a atracção da tua diferença. Agora, todas as estrelas que tu não vais sonhar, foram dormir. Deixaram-te sozinho e não te iluminam o tecto. É sempre longe qualquer desejo. Nem um cão está tão abandonado. Logo, quando o frio for mais forte, terás pensado, talvez mais um dia, afinal sou um gajo com sorte. E vais tomar o banho habitual, numa qualquer retrete de estação, lavando a tua bondade em suaves prestações. Então, esperarás como sempre, por alguém sempre ausente, que continuará a não te estender a mão. São fáceis todos os sorrisos. É normal o desprezo com que passam por ti. Hoje e  amanhã, nada será diferente 
Mas tu tens a estrada da alma enorme, que impede de seres tal gente.
Fugiste dos caminhos perfeitos. Em tempo algum, foi aceite a tua necessidade E a tua consciência sempre foi confundida
Adormeces com uma faca na mão, sabendo que nem sequer vais ter tempo para a usar.
Educadamente dizes boa noite ao “clochard”.
Ele farto de ti Saúda-te com um peido
Nem um deus mentiroso tens para confiar.
Agora fazes-te lembrar naquela velha música:


“Sitting on the dock of the  bay 
Watching the tide roll away”



,2015abr_0,22h-14aNTÓNIODEmIRANDA


SE CALHAR, NEM NOME TERIA

Caminhava no vazio em busca da sombra, a sua única companhia. Por entre os gritos que ouvia, molhava com lágrimas todas as esquinas. Nada mais era, do que uma doce criança, na amargura do tempo que lhe roubava a idade. Apertou o coração com o choro que restava, e, embrulhou cuidadosamente o futuro dos dias possíveis. Havia um tango que fumegava convites que não conhecia. A chuva começou a arder, naquele olhar que já nada sentia. Enrolou a vida numa manta de feijão. Abanou a gamela, encostou-a ao peito que tremia num esquisito jeito, e gemeram juntos nas cascas a fingir alegria. As ruas fugiram. Correu para o banco do frio cimento, para ouvir outra história. Escondeu a corda com todo o cuidado, não fosse algum curioso aleijar o nó. Não se lembra de ter dormido, mas a azáfama dos ainda mais tristes, não deu por ela. Estão moribundas as luzes, procurando fugir do desânimo que as habitam.
Agora dizem que era bizarro,
mas nunca incomodou alguém.
Se calhar, nem nome teria.





,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA



LÁBIOS DE BATOM

Antes de sair
escreveu no espelho
com lábios de batom:

irei para sempre
recordar
estes momentos
hesitantes
de prazer
inigualável


2019_ fev_aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

CORAÇÃO CHEIO DE NÓDOAS

 

Há quem ainda acredite na infalível vontade dos opressores.

Há ainda quem julgue que a miséria é um prato que mata a fome.


Contentarmo-nos com o que temos, 
é a vida?

Ou somente um coração cheio 
de nódoas?



,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA

A SORTE DO POETA


 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

SEC`ADEGAS FUNKIE TANKYE

SOU ASSIM

 Não tenho sensações dúbias
Nem sou de sensibilidades alheias
Nunca a circunstância da inconstância 
Me atrapalhou.
Tenho o gosto de gostar
Da minha mania de construir sonhos
Não sei se é mal de mim
Nem sei porque às vezes sou assim.
Tenho muitos sangues
Que me entopem as veias.
Tenho na alma um azul humedecido
Que vai apagando a vela que sou.
Sou um vermelho e preto curiosos,
Poeta maldito
Filho de um pénis e um pito,
Que não tem medo de armar
O meu castelo de cartas.
Continuo a gostar do seu cair.
Gosto do roncar
Do motor do meu carro,
Não me importo da mudança errada
E a marcha atrás, 
Continua a ser-me difícil.
A minha ilusão
Está tão amolgada
Como o seu pára-choques.
Só tenho um cheque na minha carteira,
Um papel com toda a minha importância :
Prazo de validade ultrapassado.


,2015fev:11aNTÓNIODEmIRANDA

 pintura de Gilles Maddalena


OUT OF LOVE. SO FAR AWAY FROM MY DREAM

 

Gostaria de te levar a casa.


Mas é tão longe o paraíso…




,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA



BARBA SURREALISTA

 

Este não se cansa.
Dá horas para roubar tempo.
Cada vez gosto menos desta simpatia. 
Resta-me confiar na memória, 
vomitar o que não presta,
 e limpar, se me aprouver, 
as lentes que têm gravadas calendários que não vivi.
Os jardins do paraíso fartaram-se das boas intenções. 
A Eva continua linda e convenceu o Adão a vestir calções. 
A parra foi levada para Marte, 
e consta-se que está contente com o novo parceiro. 
Noé, finalmente rebitou a arca nos estaleiros de Porto Brandão. 
A ferrugem já dificultava aquela estúpida crença. 
Tem sido visto por aí, 
um cabeludo com barba surrealista, 
que agora é confundido por um outro qualquer. 
Comenta-se que o transplante poderia ter corrido menos mal...
Moral da história:
ele há coisas que nem Ele imaginava.


2018Set_aNTÓNIODEmIRANDA

Eu…

 

sou aquele
que pensas que conheces
mas não me alcanças
quando caminho sobre o arco-íris

sou como um rio
tortuoso
fugidio
anjo ferido
esquecido
nas tuas preces

alegoria imperfeita
ângulo sem bissetriz.
prescrição sem receita
embrulho que se deseja
oferta disponível
do optimismo possível

sou o que quero
nunca o que querem que eu seja.

dezembro6.2010_aNTÓNIODEmIRANDA