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domingo, 31 de dezembro de 2017

BLUES! JUST BLUES! Um amor antigo, uma paixão permanente!

Pois… 46 anos a ouvir a grande música, deixam-me gostos que gosto de lembrar. Não tem qualquer interesse estar para aqui a contar quantas ve...zes tenho ouvido, cantado e tocado, à minha maneira, esta canção. O tempo vai rolando e tenho tido o devido cuidado de não atrasar a sua eloquência. Mantenho uma vontade feliz de continuar a abrir as gavetas do meu armário, só possíveis com uma desarrumação inerente à minha permanente disposição de amar esta música. Porque gosto, porque sei, e porque sobretudo respeito. Aqui, nesta grande música, não aparecem grandes palavras, nem acordes trabalhados até à banalidade. Estamos a falar, e exijo que saibam, que estamos a falar de pessoas que na generalidade não sabiam ler nem escrever. Mas, porra! Alguém terá mais alma? Para mim é um acto natural falar e gostar de BLUES! Entendo a todo o momento o seu sentimento. Também eu não ocupei qualquer assento da faculdade, andei a estudar para padre, mas fiquei com pouco mais do que a 4ª classe. Não, não é nenhum disfarce. Outros ventos alheios à minha vontade navegaram um vento contrário à minha maré. Bom! Moinhos parados não movem águas, e eu, não levem a mal, há muito mijei essas angústias. Estamos a falar de BLUES, esta música, que eu com o meu irmão Tomás e o nosso grande amigo, António Salomão, ao longo de 46 anos, vamos bebendo. Desde muito novo quis provar outro sal. Fui procurá-lo. É certo que não tive a noção do medo, nem poderá dizer-se que foi uma questão de coragem ou necessidade. Aconteceu porque eu sou assim, e depois, como sempre, continuo a aprender. Honestamente confesso, que frases como “I`M IN TROUBLE WITH MYSELF”, despertam uma cumplicidade que me satisfaz. “I´M GONNA LEAVE MY BABY”, acontece .“DARK CLOUDS ROLLIN”, é sempre um princípio. Gosto! Gosto muito de BLUES! Gosto tanto que quando toco, sei perfeitamente que eles também gostam de mim. Por isso, continuo a não conseguir tocá-los sempre do mesmo modo.
Vou continuar a amá-los!
Mesmo que continuem a fazer parte da minha miséria.
É esta música triste, como costumava dizer a minha mãe, que ouço todos os dias. Não me canso.
“WAKE UP IN THE MORNING I GOT THE BLUES ON MY MIND”!
Um amor antigo, uma paixão permanente!
Mal ainda eu vim Ao mundo
Já me chamam Vagabundo
Já me mandam Trabalhar
O patrão está à minha Espera
Não houve tempo para a Escola
Não tive dias para Brincar.


  ,2016aNTÓNIODEmIRAND

https://youtu.be/6hAOqVoyWZ4
https://youtu.be/NvOgWKV_DB0
https://youtu.be/OpKB6OZ_B4c
https://youtu.be/US09rPzD7t0
https://youtu.be/xoFWtohnz9E
https://youtu.be/fpG_6GX51sE
https://youtu.be/pIULSIM9hwo
https://youtu.be/w5IOou6qN1o
https://youtu.be/JShiWrqRgXY

https://youtu.be/TUMQ6cYtxtc

https://youtu.be/wxoGvBQtjpM

https://youtu.be/UNftrsCMiQs

https://youtu.be/WBW9hYLsSHE
https://youtu.be/1_xnOhXIpHg

https://youtu.be/3MCHI23FTP8

https://youtu.be/V_5YJDssoNM
https://youtu.be/JA_lcfu_h84 
https://youtu.be/ZXg9UFUXFXU
https://youtu.be/SbjMMqHInwU
https://youtu.be/i3GEDqkJeVs
https://youtu.be/bhm_R6NrAhI
https://youtu.be/jWvOII5-9Qw
https://youtu.be/OUc0mzmQQWQ
https://youtu.be/TPgRPRu4sho

POEMA PARA UMA PASSAGEM DE ANO COM FINAL FELIZ

Lembro-me de certos dias,
de um sonho sem retorno,
de alguns passos desviados,...

e da matança integral dos fracassos
com doses de naftalina.
Da aparição púdica do homem barata,
e da alfabetização da ejaculação colectiva.
Dos buracos ocasionais da estrada da glória,
de alguns erros de palmatória que não pude escusar,
de certas acções de castidade mal sucedidas,
de elogios frios como o mármore,
de favores perfeitamente dispensáveis,
de poucas curvas sem muita gravidade,
de aparições cósmicas sem serem convidadas,
de senilidades não vigiadas,
de carícias tímidas,
de poucas conversas envergonhadas,
de algumas urgências atrapalhadas,
de poucos convites para a deserção social.
Também me lembro dos dias restantes.
Mas esses serão sempre pertença minha.
Permitam-me que me apresente.
Sou um homem que em mim tem fé.
E pelo qual nutro a simpatia suficiente.


,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

O POETA

Há muito
Que estava a ser
Invejado.

Apresentava
Assiduamente
Sinais exteriores
De rara
Beleza


,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA

SEGUNDAS NÚPCIAS

Até que a sorte nos separe.
Diziam um para o outro,
Relegando a morte,

Para segundas núpcias.



,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA

CROUPIERS DESCONFIADOS

Os poetas não podem frequentar
O casino.
Croupiers desconfiados

Não aceitam
Aces full
Sem
Batota.





,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA

Porque nós merecemos! Canja de garoupa ( garoupa_miolo de caramão_arroz tautau)



CACHET

Embrulhar
-
te...

num cachet de 50 cêntimos,
depositar
-
te
num recibo sem importância
e tecer no pin do código de acesso,
impressões digitalizadas
da ternura roubada
numa black friday.
Mudar de voltas
e tentar abafar num cachecol
a mínima fragância
que nos deixou.
Alinhavar a mais pequena hipótese
e esperar,
se houver vagar,
a esperança que sabemos,
não irá anoitecer.
Andar no tentar das outras rotas,
soletrar um sorriso,
mesmo fingido, como os botões
que apertam os sobretudos
desta solidão.


,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

ORA PRO NOBIS

ORA PRO NOBIS (1)

Aquele pastor falava muito bem.
Estendia no condão que deus lhe entregou, palavras que os ajoelhados gostavam de ouvir.
A importância dos seus gestos coincidia alegremente com a via-sacra, transpirada nas paredes do confessionário.
Assim como uma Cama Sutra animada em silêncio eclesiástico.
Os pedintes, trajados de cinzento cerimonial, agradeciam a fome que vergonhosamente ostentavam.
Na última ceia, servida com comida vegetariana, os lobos ficaram lá na tenda.
& comentavam entre si:
maldita fé que tanto nos atropela.
 
ORA PRO NOBIS (2)
O dó da piedade enforca tanto
como o nó da indiferença.

 
 
ORA PRO NOBIS (3)

Nunca pedi nada ao pai natal.
Os meus pais não tinham dinheiro

 para comprar as suas mentiras.

ORA PRO NOBIS (4)


De boas intenções
Continua o céu
À espera



ORA PRO NOBIS (5)


Até amanhã
se deus quiser
por vezes
será uma hipótese
falível


ORA PRO NOBIS (6)

Se sofreres de artroses nos joelhos
e de outros males congénitos,
evita a genuflexão no confessionário.
Nestes casos, e sem receita prévia,
é permitida a felação.
A via-sacra,
na sua imensa aflição,
ofertará produtos de limpeza


ORA PRO NOBIS (7)

Não tenhas medo
de contar o teu mais pecaminoso segredo
àquele que com o crucifixo na mão
ansiosamente aguarda a tua chegada.
Dá-lhe tempo,
porque ele,
en_
verga
a sotaina
com demasiados botões



ORA PRO NOBIS (8)

Não ajoelhes
se isso te fizer doer.
Na sua imensa bondade
ele colocar-se-á
num nível adequado



ORA PRO NOBIS (9)


Deus não dorme!
&
se existisse
não teria tempo
para isso.
O seu ocioso rebanho,
ocupava-lhe
todos os
milagres



  ORA PRO NOBIS (10)

A mão que te afaga,
nunca pensou
que gemesses tão alto.
Pediu desculpa
por não ter desligado
o microfone.
Também é verdade
que a “glória in excelsis deo”,
subitamente ficou com um som
estranhamente
roufenho


ORA PRO NOBIS (11)


Com tanta fé
que me querem entregar
outro aspirador
terei de comprar


ORA PRO NOBIS (12)

Naquela ceia
faltou o rosé
nem mesmo
Ele
soube porquê

  

ORA PRO NOBIS (13)
 
Meu pai!
Porque me abandonaste?
Chamaste a bófia
e o carro deles
pisou o meu charro!
Achas que valeu a pena?
A Gina do Texas Bar,
mais tarde contou-me
que não te portavas nada bem.
Pintaste-me numa cruz
&
eu agora,
é que os aturo

 
 
ORA PRO NOBIS (14)

 
A minha conexão com
deus
é feita através de um cabo
umbilicalmente
afectado


ORA PRO NOBIS (15)

Velas a 50 sêntimos
são muito caras
para os meus sentimentos


ORA PRO NOBIS (16)

Deitado nas palhas
no meio do cheiro
a merda,
não achei nada engraçado
as mensagens com votos
de uma felicidade
eventual


ORA PRO NOBIS (17)


não sei porque
te
louvam
este bando de imbecis
que
só quando têm medo
tentam respeitar a tua
vontade


ORA PRO NOBIS (18)

O
que
fizeste
ao incenso
e
à
mirra?
O
ouro
é sabido
que navega
tranquilamente
numa off-shore



ORA PRO NOBIS (19)

Se o teu presépio
fosse feito pelo
da Vinci
pouco ou nada
alteraria o teu pecúlio

financeiro

ORA PRO NOBIS (20)

As tuas
beatas
são mais nocivas
do que os malefícios
do
tabaco


ORA PRO NOBIS (21)

Não levo a mal
que te confundam
com o
nenuco


ORA PRO NOBIS (22)

Pai nosso,
vai chamar
filho
a
outro


ORA PRO NOBIS (23)

Só um deus
mentiroso
pode absolver

criaturas tão
indecorosas


ORA PRO NOBIS (24)

Amai-vos
uns aos outros
&
de uma vez
por todas
deixai-me
de

me
incomodar


ORA PRO NOBIS (25)

Oremos
Orai
Oral
Bosch
É
Brom


ORA PRO NOBIS (26)

Olhai
para o que eu digo
e nunca para aquilo que faço.
Não gosto de imitações


ORA PRO NOBIS (27)
 
Ide em paz
&
que o meu

IBAN
vos acompanhe


ORA PRO NOBIS (28)

Feliz daquele
que em mim acredita.
Pelo menos
é o único
crente
que eu conheço


ORA PRO NOBIS (29)

Não posso
queixar-me do meu padrasto.
Mas não é de bom pai
abandonar um filho
com um futuro tão auspicioso
nas mãos de um simples carpinteiro


ORA PRO NOBIS (30)

Aquela vaca do presépio
pregou-me uma valente
brucelose


ORA PRO NOBIS (31)

O burrinho até era simpático.
mas quando começava a ficar nervoso
tinha de me afastar
para não ficar com um andar esquisito



ORA PRO NOBIS (32)



O Baltazar
era um grande chato.
não desistiu
enquanto não me vendeu
um

IPHODE

ORA PRO NOBIS (33)
 
A minha mãe
com o seu inocente cruzar de pernas
à Sharon Stone
conseguiu a reforma antecipada
sem qualquer penalização


ORA PRO NOBIS (34)

Não estava frio nenhum.
agradeço ao patrocinador
do evento
o notável desempenho
do aparelho do ar condicionado


ORA PRO NOBIS (35)

A net estava lenta.
Assim a mentira
durou o tempo
combinado


ORA PRO NOBIS (36)

Os camelos
chegaram exaustos.
Os que neles vinham montados
apareceram estúpidos



ORA PRO NOBIS (37)


O cenário estava lindo.
Lamento a insuportável
qualidade das tintas


ORA PRO NOBIS (38)

Não apreciei o papel
onde esta história foi escrita.
&
o tipo de letra
não me pareceu o mais adequado


ORA PRO NOBIS (39)

Apesar de tudo não me constipei.
Portanto não cheguei
a tomar os comprimidos.
Também encontrei
6 embalagens de preservativos
não utilizados.
nb:
agradeço sugestão
para a sua devolução





ORA PRO NOBIS (40)

 
Resta-me agradecer
a maneira como fui recebido.
Em verdade
vos digo
que não pedi
para ter
aparecido




,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA

Uma prenda.Obrigado, Tiago Costa!

 
 

sábado, 23 de dezembro de 2017

NO CLUBE DOS CORAÇÕES SOLITÁRIOS

No clube dos corações solitários,
toca-se o hino da sorte madrasta,
e escrevem-se nos canapés mensagens atrevidas 

para os destinatários distraídos.
Eleva-se a esperança à raiz quadrada do desejo,
e com carícias fatiadas, é bebido o chã dos dias felizes.
Depois, no baile das simpatias sem jeito,
mostram-se passos eróticos,
e lábios vermelhos com vergonha
imaginam palavras libidinosas
que não ousam dizer.
Os olhares trocados, como sempre esperançados,
não saem do canto.
Um decote auspicioso reflecte-se na bola de cristal,
ainda com alguma expectativa.
À saída,
Fecha-se a porta do presente adiado.

,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

FANTASIAS DE NATAL

Não sei se terei o tempo para ter o momento
para te mentir no engano mais verdadeiro.
Nada sei de calendários com nomes estranhos que definem dias para vontades nunca apetecidas. ...

Fico-me por Janeiro não por ser o primeiro porque sei que Dezembro tem um calor que já não me aquece.
Roubo figuras do presépio poupando-as assim ao desconforto de um choque eventualmente patético.
Agora são cromos pousados num musgo com características normalizadas.
Queimei assim as palhas para incendiar natais onde só isso faltava.
Fingia a alegria imitando o olhar infeliz da criancinha e adormecia com a repetida frustração de mais um par de meias de uma qualidade nem por aí além.
Na manhã seguinte toda a gente sorridente mas nada era mesmo o nada e o resto nunca diferente.
Os anjos de chocolate com asas deficientes, animavam o José e a Maria arrependida.
O burrinho constipado, o menino cagado e alguém agoniado queimava incenso para disfarçar o cheiro da erva.
,2016,05.aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

ORA PRO NOBIS (7)

Não tenhas medo
de contar o teu mais pecaminoso segredo
àquele que com o crucifixo na mão...

ansiosamente aguarda a tua chegada.
Dá-lhe tempo,
porque ele,
en_
verga a sotaina
com demasiados botões.

 

 ,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA

O Senhor Vitor Silva Tavares


quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

ORA PRO NOBIS (6)

Se sofreres de artroses nos joelhos
e de outros males congénitos,
evita a genuflexão no confessionário....

Nestes casos, e sem receita prévia,
é permitida a felação.
A via-sacra,
na sua imensa aflição,
ofertará produtos de limpeza.

 

,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA

https://www.facebook.com/guilhermecossoul/videos/1785755314799927/

https://www.facebook.com/guilhermecossoul/videos/1785755314799927/

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

sábado, 16 de dezembro de 2017

CASA Raphael Baldaya.

Hoje a CASA esteve cheia na nossa sessão dedicada AO POETA PECULIAR, de seu nome António de Miranda. Poeta vivo, meu amigo, com uma obra literária fantástica e imensa.
Homenageámos o António como ele merece!
Obrigada a todos que vieram por esta noite tão especial.
Quero agradecer ao
Rui Cruz Godinho que esteve incansável na Guitarra Portuguesa, à Graça Lopes e ao Miguel Martins que hoje me ajudaram nesta árdua tarefa.
Foi uma surpresa que fizemos e quem conhece bem este poeta sabe que seria sempre uma árdua tarefa conseguir fazer uma grande surpresa! Obrigada poeta peculiar! Feliz Natal António e Ana!

Foto de Rita Baldaya.Foto de Rita Baldaya.
Foto de Rita Baldaya.Foto de Rita Baldaya.Foto de Rita Baldaya.Foto de Rita Baldaya.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

HAPPENING NA AVENIDA DA LIBERDADE

Ela
     A estátua estava
                               Nua...

Ele
             O polegar
                            Há
Trezentos Anos
         Que Estava
                          Imóvel
- Olhou - Pensou - &
           Tirou uma camisa de
Vénus da embalagem
&
              Enfiou - a
                             No polegar da
               Estátua.
 
                      - Assim se fode
                                             A imobilidade !
,aNTÓNIODEmIRANDA
 
 

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Terça-feira, 5 de Dezembro, às 19h. CLUBE DOS POETAS VIVOS com Miguel Martins

Para continuarmos a ler e a ouvir poesia, para continuarmos a conversar livremente, para continuarmos a encontrar-nos e a passar tempo lado a lado, a próxima sessão do Clube dos Poetas Vivos traz-nos Miguel Martins.
Nascido em 1969, Miguel Martins é poeta, tradutor e crítico, com mais de uma vintena de livros publicados desde 1995. Recentemente, publicou "O Caçador Esquimó" na editora Fahrenheit 451.
coordenação Teresa Coutinho em parceria com Casa Fernando Pessoa



BICARBONATO DE TÉDIO

Sobretudo não aguento esta ácida chuva de sorrisos ocasionais. Sobretudo não suporto os compromissos de conveniência facilmente dissolvidos numa solução doméstica de bicarbonato de tédio. Sobretudo não pretendo dissimular a má qualidade desta realidade infeliz.
Mas...
Acredito no entupimento nas artérias fecais, nas princesas arrependidas, nas rendas descaídas da lingerie da feira de Carcavelos, nos príncipes obcecados pela passerelle da Praça do Comércio, no não cumprimento dos horários da “TT”, na bebedeira ainda não curtida do piloto do “Trafaria”, na atracagem exemplar no terminal de cruzeiros onde se compram “souvenirs.
Passo a palavra para o enviado espacial, bêbado como de costume, no meio do cardume dos eternos surpreendidos. Na conferência de imprensa, sua excelência o presidente, o ausente, o residente e o discurso eloquente do carro do almeida, agora que ninguém o ouve, diz estar farto desta gente.

E o colar das efemérides continua indiferente

2017,nov_aNTÓNIODEmIRANDA

Zé polvinho
Zé por vinho
Zé povinho
Zé parvinho
Zé pobrinho
Zé velhinho
Zé caído
Zé sofrido
Zé fiado
Zé quilhado
Zé valente
Zé inocente
Zé crente
Zé contente
Zé dormente.
Assim,

Zé,
Não
Se
É
Gente

2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

RAPOSA VELHA

Tenho-te debaixo do meu olhar,
ideia entontecida
no mais amargoso despertar.
E,
olha,
que isto não é fácil.
O cair das folhas já me molha
o horizonte,
e os sonhos demasiadamente repetidos,
enfadam o meu ousar.
Não tento trocar de pele
diante do teu olhar furioso.
Raposa velha que agora és,
procuras sangue novo
 para o desenvolvimento da precaridade.

 
,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA
 

POUSADO NOS OLHOS DO POETA

Pousado nos olhos do poeta, abraço palavras para colar no velho caderno que guarda a viagem que ainda não escrevi.
Alegra-me este sentir não sofrido, que esconde no outro lado, um diário tão secreto, que dele nada sei.
Nunca olho direito para o caminho estreito, e, neste trajeito, muitas vezes sem jeito, penso nos voos fora do tapete. Encomendo coordenadas fora do radar que tanto me aborrece.
Fico nos olhos do poeta, encolho as dúvidas e separo o trigo do joio, para não o cansar.
A poesia não tem idade, mas a memória do seu peso, deixa sempre marcas.

,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

NÃO ME APETECE TROCAR DE CABEÇA

Não me apetece trocar de cabeça.
Adoro esta carne branca que enrola os meus sonos, e esta cor pintada a preto, quase a atingir uma crise inadiável.

,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

SATÉLITE APAGADO

Não me sinto bem, e tu não me podes ajudar.
Deitada nesse sofá com o mapa do mundo fora do teu olhar,
vejo o filme que nada quer saber de ti.
E, tu que conhecias de cor os intervalos do nosso amor, és um satélite apagado, rogando-me um perdão não aceitável.
Só posso cantar-te nesta tela triste,
que o céu que pintámos não aceita.
O que farei com o teu último sorriso?
Eu,

que tanto me queimo nos caminhos do teu fogo!
Mas, está tudo bem, minha querida.
Não fiques ofendida.
Isto poderá ser unicamente uma dança de rock`n`roll.


 
,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

GOSTO DA PAZ POR MIM IMAGINADA

Não tenho de acreditar em mim.
Sou um low profile minimamente desenvolvido, e isso em nada altera o meu ego. Não gosto da calma quando me é imposta, e mal disposto que fico, amuo categoricamente.
Gosto da paz por mim imaginada.

,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

TAMBÉM PENSEI QUE NUM DIA QUALQUER

Disseram-me que encontraste uma nova sensação.
Diz-me o que ela sente,
quando dizes que sim,
e eu só consigo ler o não.
Tens o meu número,
mas não me telefonas.
Também pensei que num dia qualquer,
te lembrarias do meu nome.
Nada tenho para considerar,
neste modo aleijado,
de já não contar os passos
que te levam para longe de mim.

,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

CARTÃO DE DESCRÉDITO

Riscar o céu com 1 pedaço de vidro,
cortar a nuvem com algum cuidado
e amarelecer o hábito,
que de tudo julga ser capaz.
O fácil embalado em suaves prestações
de certificados de aforro.
De nós, nunca ninguém falou.
De nada valem todos os extractos.
Enlatámos o possível,
sempre que ele nos assustava.
E conservámos este cartão
de descrédito.

 
,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

A SECÇÃO DE ENGATES É NA PORTA AO LADO

todo tipo de remodelações
pintura da alma
galvanização da aura
retocagem de personalidade
correcção de quadris

&
armazenamento sigiloso
das fotos de perfil temporário.

  
,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

NA RUA DOS PRAZERES PERDIDOS

Se de todas és a mais triste,
musa de coração enlutado,
no olhar que não viste,
mandei um beijo envergonhado.
Já o amor não te assiste,
no sorriso de ti afastado,
flor que nunca abriste,
botão triste e abandonado.
Beijo-te no amor mais finito,
no breve instante de fingir.
Cálice de dor aflito,
em ti não quero mentir.
Nada do que quis foi dito,
neste desejo para cumprir,
na rua dos prazeres perdidos.

 
,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

& HÁ SEMPRE UM COMPRIMIDO

Fugimos para nós, sempre que a esperança tenta descobrir o segredo da nossa identidade.
O medo espreita sempre, estampado no tecto que fingimos ignorar.
Desligámos a ousadia no botão do candeeiro, naquela manhã em que tentámos não nos lembrar das palavras que fizeram estremecer as tentativas do sonho.
& há sempre um comprimido,
bem recebido,
para quem não sabe de cor
o pai nosso,
que julgamos ainda está no céu.

 
,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

NÃO ESTIMO POR AÍ ALÉM A CLASSE TURÍSTICA

As raparigas não pedem desculpa,
os rapazes bêbados também.
Bebem-se agora margaridas
que nunca foram flor,
e shots de uma Magnum desconhecida,
batem bem.
É humilhante, este ritmo
de ondas Iphonizadas
com rituais à la minute.
Tout en grand,
como se diz num tal país que ignora
quem não respeitou outrora.
Sentado, olhando o pequeno bocado do Tejo que ainda me resta, respiro preocupado este fim cada vez mais perto, que vai afastando os passos com que muitas vezes ousei ser feliz.
Ei! Ei!
Tenham calma!
Ce ci c`est pas Paris.
 


,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

CARTAZ

O futuro da liderança está escrito no cartaz que não compreende a minha falta de curiosidade. A próxima paragem será num sítio qualquer, com gente que não me conhece. E, eventualmente sem hora marcada. Gosto desta subtileza não programada. Aguardo neste céu, alagado pelos sons dos vinhos que correm, aquecendo estas cadeiras ébrias de satisfação. Contudo, a realidade que vos entorna a cabeça, não deverá ser para aqui chamada.

 


,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

ENCONTRAMO-NOS SEMPRE FORA DOS SONHOS

Encontramo-nos sempre fora dos sonhos.
É uma sina arreigadamente conseguida. Melhor seria, que a hora que já não nos espera, usasse uma bússola, mesmo avariada, para não continuar este acto de absolvição abusiva. Choramos lágrimas sem segredos, nestes enredos que entopem a intenção. O que fazer, quando caminhamos nesta rua de prazeres perdidos? Dizer olá a quem julga que nos conhece, entediar-nos com as conversas do todo o sempre, e olhar fastidiosamente para o lado, como quem diz, tirem-me daqui. Custa-me tanto esta simbiose, que não consigo fingir, este palrear sarcástico, molhado nos goles apressados de whisky com gelo, só para diluir palavras, com a única importância de amanhã nem delas me lembrar.

 
,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

O NÉCTAR DO NOSSO SUOR

Não sei o que combinámos neste abraço surpreendido, entregue por uma orquídea fora das horas.
Costumavas ser o bouquet a quem entregava convites maliciosos.
Beijávamos em cheiros de hortelã, enquanto as doces manhãs feitas das mais formosa flor de sal, entonteciam os abraços que conseguíamos guardar.
E com o néctar do nosso suor,
até julgámos que a felicidade tivesse acontecido.

,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

FAHRENHEIT

A minha carruagem está a chegar.
Não me lembro de uma só vez em que esta cidade desse pela minha presença.
Não pretendo o amanhã como outro dia.
Já não tenho tempo para coisas inúteis.
Deixo-vos essa angústia enquanto vou estrelar o céu.
Como é que estão?
Sentem-se bem?
Não acredito.
É melhor tomarem qualquer coisa que não deprima a hipótese do habitual.
Hey, baby.
Tardas em aparecer.
Tenho para ti as flores que roubei daquele pomar infestado de olhares curiosos, onde só queríamos esconder o destino da lua. Tínhamos sempre que fugir pela porta das traseiras, lambendo um chão conspurcado por uma lei que sempre ignorou o respeito que nos era devido.
Eram tão corriqueiros os sons das sirenes, que enrolávamos o medo em mortalhas cheias de nojo.
Tocávamos as mãos num azul, mesmo sabendo que não seria nosso.
E juntávamos os lábios com decibéis de fahrenheit (s) proibidos.





,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

VEM DEVAGAR

Vem devagar.
Mesmo ainda que não te canses, de me roubar o tempo com que me ofereces um presente com menos amigos.
Senta-te na mesa do lado, onde descansam as presenças ausentes que servem risadas entrelaçadas nos copos vazios.
Não ilustres esta tristeza como se fosse uma morte anunciada, que o teu discurso fétido teima em justificar.
Vem jogar este xadrez de anões, como se fosse uma partida de cabra-cega, em que o lenço que acenas, é um risco furado.
Sei quase tudo sobre o tropeço que me propões, mas não me deixo levar, por essa simpatia de veludo, que tinge o chão com sépias, que não deviam ser pertença só tua.
Vem devagar.
Mesmo assim,
continuarei surpreendido.



,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

LÁPIDE LISONJEADA

Nikita usava uma sombra azul que encobria a ousadia do andar.
Tentava de vez em quando um sorriso peculiar, só para disfarçar o enfado daqueles que a miravam.
Cansada do desejo sem jeito, embarcou no foguetão, pensando que iria alcançar outro lugar.
Nikita, na pele de espia do frio agreste, acendeu a lareira, e nela sossegou o catarro.
Tentou mudar de sexo, mas a opção não correu nada bem.
Nikita escreve agora poemas, numa lápide lisonjeada, onde cães amestrados hesitam alçar as patas.


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POSSO REZAR?

Entardecia o poema enquanto o sol lamentava
a inquietude das estrelas.
Espalhava moedas com sons de cristal,
e agarrado a um desejo repetido,

tentava sorrir como estava rezado nas palavras.
Ajoelhado nos murmúrios,
enlatava os ruídos que todos recusavam ouvir.
Abriu a mala sempre cheia destes gestos,

e entregou ao vento resignações
para destinatários desconhecidos.
Sentou-se na ferrugem da esperança,

e convidou o mundo para a hipótese dos dias felizes.
Abençoou os versos que sobraram,

e encenou uma sobremesa digna do último rei.
Riscou depois, mais uma folha do calendário.
Esticou o polegar da boleia especial.
Cá em baixo,

ninguém reparou que ele só esperava
a viagem prometida.

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