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quinta-feira, 31 de março de 2016

Gimme Shelter 1969 - The Rolling Stones * ENERVEM-SE À GRANDE! ISTO SÓ AGORA COMEÇOU...








"Gimme Shelter"


Oh, a storm is threat'ning
My very life today
If I don't get some shelter
Oh yeah, I'm gonna fade away
War, children, it's just a shot away
It's just a shot away
War, children, it's just a shot away
It's just a shot away
Ooh, see the fire is sweepin'
Our very street today
Burns like a red coal carpet
Mad bull lost your way
War, children, it's just a shot away
It's just a shot away
War, children, it's just a shot away
It's just a shot away
Rape, murder!
It's just a shot away
It's just a shot away
Rape, murder!
It's just a shot away
It's just a shot away
Rape, murder!
It's just a shot away
It's just a shot away
The floods is threat'ning
My very life today
Gimme, gimme shelter
Or I'm gonna fade away
War, children, it's just a shot away
It's just a shot away
It's just a shot away
It's just a shot away
It's just a shot away
I tell you love, sister,
it's just a kiss away
It's just a kiss away
It's just a kiss away
It's just a kiss away
It's just a kiss away
Kiss away, kiss away



terça-feira, 29 de março de 2016

FLY sporting ! Uma forma diferente de voar. Isto é : voar baixinho.


Gosto muito destas Senhoras.


O BAILE

Ela movia-se como geleia
Enquanto subia e descia a avenida
Cada curva das suas meias
Acentuava a pele cobreada
Que fingia uma indiferença mostrada
40 dias
&
40 noites
Desde que foi embora
Não sei o que fiz de errado
Quando só lhe prometi
Amá-la a cada hora
Gastava assim o tempo
Secando sempre o momento
Num sorriso árido e infeliz
Partia então cansada
E mal chegava
Ao quarto da pensão
Gemia ao chorar
Sonhos de meretriz
Na outra manhã acordava
Na toalha enxugava
Lágrimas cansadas e secas
Por nunca ter sido
Aquilo que sempre quis
Mas ela
Movia-se como geleia
Já com a condição dos anos
Com todos os minutos sem faltar
Já era mais atrevida
Menos tímida no olhar
Procurando nesta ânsia
Outros olhos para a ver
Mas só um chauffeur de táxi
De idade muito avançada
Com o brilho da saudade comentava
Para indiferentes passageiros
Esta foi a mais linda das mulheres
Não teve sorte na carreira
Mas ela
Movia-se como geleia
E voltava para o quarto da pensão
E lá chegando
Chorava da mesma maneira
Enquanto adormecia
Abraçando a cabeleira
Embrulharam o seu corpo
De um modo igual àquilo que é feito
Alguém escondido soluçava
Olhando uma tabuleta de mármore
Que nunca terá escrito o seu nome
Agora,
Ela move-se como geleia
Num baile onde todos a convidam.



,2016,03aNTÓNIODEmIRANDA

2

Como poderei beijar o teu corpo
tão ateu como o meu?
Ai meu amor estamos tão perdidos
que não nos deixam morrer como deve ser.
Agora não sei como esperar outras luas
mesmo com significados traiçoeiros.
A verdade é que fomos dois números
com hipotenusas nem sempre mentirosas.
Beijo-te os seios
sempre como se fosse um desejo
que virá tardiamente depois da nossa aparição.
Esperaremos o dia
para que violetas agradecidas
beijem os nossos desesperos
escondidos em lençóis
que mancham o nosso encontro.
Tanto nos amamos
e ardemos numa febre
que queima a indiferença que nos difama.


,2016,03aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 28 de março de 2016

LIVRO DO GÉNESIS (impressão fraque-simulada)

Ao princípio não era nada
E o homem pensou que isso era mau.
E foi assim que foi criada a maldade.
No fim e por fim Deus comodamente instalado noutras paragens, continua a lamentar o maior erro da sua criatividade: o homem!
Eu bem o tinha avisado que há coisas com que não podemos brincar. Mas a bicicleta ainda não tinha sido inventada.
Moisés tinha uma vara de um acrílico carbonado, alérgica a peixes e teve a preciosa ajuda, quem diria, de um forte vento do leste. A Emel, aproveitando a separação das águas, bloqueou as rodas dos carros dos egípcios, que assim levaram uma grande banhada. Muitos deram à costa em Sevilha, onde foram oferecidas à população opulentas doses de lulas à sevilhana. Oremos ao senhor que com tanta água nos libertou do imenso calor. O mar vermelho só acontece no Marquês de Pombal, quando o glorioso ganha o campeonato. Isaías, depois de marcar ao arsenal, tímido como era, quando lhe perguntaram o que sentiu, socorreu-se de uma página de certo livro, respondeu: eu sou bom, mas o outro é que continua a ser o senhor do universo. Ainda não chegou a minha vez. Palavra do treinador: ainda bem! Todo o nome devia ser santificado e infelizmente isso nunca fez maravilhas. Há quem diga que a salvação está escondida na caixa negra do avião. Lázaro nunca andou, Abraão não sabia escrever e mais tarde foi visto a recolher um jackpot lá para os lados de Las Vergas. Isaac, sempre doido pela velocidade, treinava numa carroça com 220 cavalos. Continua preso por excesso de excremento. O filho do Abraão foi salvo da morte por um cordeiro imprudente que mais tarde foi servido em coentrada. O salmo 32 foi alterado. Continha leituras impróprias para oníricos. Alguns dos caminhos da vida ainda não são conhecidos. Por isso, devemos continuar a desconfiar daquele que se sentou à direita. Palavra do senhor: ide-vos que eu fico por aqui. Não me confino nunca a que deus seja a única esperança do mundo. É um peso demasiado para umas costas tão curvadas. A paz não é eterna e até já foi banida de muitos dicionários. Aqui estamos. Resplandecendo alegremente esta possibilidade nunca correspondida. Palavra do senhor: Israel é uma conveniência que nunca desculpará um certo erro de cálculo. Não há lei perfeita. E a que o senhor nos quer impor, ainda menos. Enfim, preceitos que não alegram o coração e apagam olhos que só queriam ver. O temor ao senhor, reza-nos um juízo mentiroso e também é verdade que ainda há quem prefira a posição de missionário. Gente esta que sabia brincar. Senhor, senhor estás sempre do meu lado e isso distrai a minha amante. A unidade, dizia o profeta Ezequiel, não pode acontecer com o espírito santo. Ezequiel não gostava da imundice e isso já naquele tempo era uma grande chatice. A minha alma suspira por vós, mas vós, mais do que ninguém, sabeis senhor que eu sou um mentiroso compulsivo. Como suspira a minha alma senhor! Mas desta vez não mentirei. Não estou arrependido. Mas eu sei que o veado suspira pelas águas cristalinas da montanha, onde cítaras tocam poemas louvando a tua ausência. S. Paulo nunca gostou dos romanos. É evidente a maneira como não manifestou qualquer contentamento pelos golos do Paolo Rossi. Baresi e Dino Zoff até lhe provocavam tosse. Aleluia! Aleluia! Gritava ele com o nariz enfarinhado quando o Nápoles de Maradona foi campeão. Ainda hoje, entre espirros gosta de falar disto. O senhor é o meu pastor! Mas a médica proibiu-me de comer queijo.
Glória a deus nas alturas! No 35º andar vão servir Moet&Chandon e rissóis de camarão. Andainde pois então! Vinde até mim! Há gajas boas no camarim.



 2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 24 de março de 2016

César Baldaccini






FREE LIKE A SHOT FROM MY GUN

D e r a m - l h e   u m    t i r o    n o    r e t r a t o .

… M o r r e u    s e m    d a r    p o r    i s s o !



,2015aNTÓNIODEmIRANDA

PATTI SMITH # EASTER#

Easter Sunday, we were walking.
Easter Sunday, we were talking.
Isabel, my little one, take my hand. Time has come.
Isabella, all is glowing.
Isabella, all is knowing.
And my heart, Isabella.
And my head, Isabella.
Frederick and Vitalie, savior dwells inside of thee.
Oh, the path leads to the sun. Brother, sister, time has come.
Isabella, all is glowing.
Isabella, all is knowing.
Isabella, we are dying.
Isabella, we are rising.
I am the spring, the holy ground,
the endless seed of mystery,
the thorn, the veil, the face of grace,
the brazen image, the thief of sleep,
the ambassador of dreams, the prince of peace.
I am the sword, the wound, the stain.
Scorned transfigured child of Cain.
I rend, I end, I return.
Again I am the salt, the bitter laugh.
I am the gas in a womb of light, the evening star,
the ball of sight that leads that sheds the tears of Christ
dying and drying as I rise tonight.
Isabella, we are rising.
Isabella, we are rising . . .


quarta-feira, 23 de março de 2016

RUGAS... Árvore no Jardim de Santos / Lisboa


AS SENHORAS PRIMEIRO CAM-GULBENKIAN


NÃO SEI SE EXPERIMENTEI.


JACK DANIEL`S PICANTE. (Obrigado Miguel Martins). Feelin`Good!


O TEJO APAIXONADO

Não sei que ondas são estas
Que me tingem a janela
Desconheço os salpicos
Que me irão chover
Sinto-me quieto
Esperando a espuma do outono
Dona de Lisboa
Cidade com sóis diferentes
Iluminando os carris de um eléctrico
Completamente desafinado
Lá longe o Tejo
Desliza apaixonado
E por vezes sossega
Para melhor contemplar
As barcas dos amantes
Que remam poemas
Para não o acordar.



2016,03aNTÓNIODEmIRANDA


AMSTERDAM CENTRAL STATION #75

I love you,
Sorriu-me ela com um abraço inesperado.
Fascinado,
não consegui esconder a surpresa
embora estivesse prevenido que em Amsterdam
tudo é diferente.
Ela movia-se como geleia.
Contente ,
de mãos dadas descemos a avenida
em direcção à praça Dam,
pintando eu todos os cenários de uma noite feliz.
No Poorboy Club
numa festa dos meninos de deus,
senti-me desconfortável
e não tinha dinheiro para visitar o bairro vermelho,
ficando a ideia do rala e rola para quando fosse grande.
Passei a noite num sleeping
olhando os sorrisos de uma gaja nua,
estendida na cama do lado,
que perturbavam qualquer ideia de dormir.
Foram instantes difíceis
até que acabamos por nos entender.
A língua faz milagres!
Em Amsterdam tudo pode acontecer.
Mesmo não ter tempo para corresponder
ao malicioso sorriso da mãe da minha amiga,
que nos foi levar o pequeno-almoço à cama.



2016,03aNTÓNIODEmIRANDA

MEETING POINT

Duas rectas

Acabaram de se cruzar
E desenharam uma bissectriz

Em forma de poema.

Maldosamente,

Continua a dúvida

da sua existência.



2016,03aNTÓNIODEmIRANDA

POESIA

Sei poucas palavras.

Mas,

Às vezes

Consigo juntá-las

Num modo adequado.



2016,03aNTÓNIODEmIRANDA

Se Beber Minta Com Moderação

Um barco à toa
Capitão bêbado pendurado na proa
Delírio sui generis
Como se fosse Lisboa
E tanto mar tremendo de frio
Num rio cheio de vagas fingidas
Depois veio a maré Agora é que é
É preciso lubrificar a fé
Ida para longe num voo cúmplice
De gaivotas distraídas
Depois veio o fado
Triste sina sempre fora de prazo
Cantado pelo peixe escondido na ré
Vendido por varinas
Com varizes muito sabidas
Já ninguém ligava ao comandante
Triste farsante
Mentiroso curador de feridas
Consta-se que o comerciante
Deveras preocupado
Dedicou-se ao negócio do congelado
E o anzol desprezado
Converteu-se numa posta independente
Rezam as crónicas como sempre astuciosas
Que os peixes sincronizaram outras rotas
O bom filho à casa torna
Dizia a avó com os pés dentro da dorna
Moral da história:
Seja decente
Preste atenção
Se Beber
Minta Com Moderação.


2016,03aNTÓNIODEmIRANDA

DO LADO ESQUERDO...

Do lado esquerdo,
escrevo na outra fase da lua,
enquanto sonhos ansiosos
aguardam curiosos
temperos coloridos
com os sabores de ousadias não programadas.
Do lado esquerdo,
deito-me enternecido,
e jogo o elenco preferido,
agarrado a uma eventual play station
com comandos avariados,
que fugiram para outra cena
agarrados ao chupa-chupa da Mary Poppins.
A Alice já não quer dormir comigo,
( a não ser do lado esquerdo )
e deve ser por isso que tenho suores frios
que me enlouquecem a barba,
sempre mal disposta para o afago do pincel.
Não sei quem mora aqui,
agora que estou disponível
para uma conversa de pé de orelha,
sem corrector pornográfico.
Do lado esquerdo,
alcanço outras irreverências
e não é sujo dizer
que amparado por óculos monofecais,
sinto nas costas um par de m(i)amas,
que me aquecem as mãos.
Do lado esquerdo...



2016,03aNTÓNIODEmIRANDA

SENSAÇÕES ESTRANHAS

É tão simples
Aquilo que queremos complicar
Mas eu não ando por aí
Desesperado por agradar
à gente que no lugar do cérebro
Usa uma couve.
Meteram-te nas veias
Sensações estranhas
Com manhas
Que só te fazem chorar
Como um compromisso absurdo
Que não sabes como desistir
E gota a gota
Saboreias como se fosse
O mais eficaz dos venenos



2016,03aNTÓNIODEmIRANDA

POORBOY BLUES


segunda-feira, 21 de março de 2016

A ÚLTIMA CEIA JOÃO PEDRO SANTOS e IRMÃO RITA BALDAYA

ARMANDO MACHADO AS COISAS ESPECIAIS FICAM SEMPRE TÃO LONGE

E TU

E tu
Tinhas tanta vontade
Uma esperança sem fim
Que julgavas
Faria um mundo melhor
A culpa não foi tua
Havia então coisas diferentes
Que manchavam aquilo que querias
Com coordenadas tão tortas
Que feriram sempre
A tua mais nua intenção
Mas tentaste
Tiveste a ousadia para amar
Uma coragem amargamente
Assassinada




2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

BACALAU?

Bacalau
C`est ça bacalhau
Abri a boca
E com todo o orgulho
Mostrei todo o desagrado
Da minha aparelhagem dentária
E sorri com o amarelo dos dentes de origem.
Respondi secamente ao pateta ilustrado:
Eu só como bacalhau!
Agradou-me o ódio vidrado
Do seu sorriso sem importância.
Foi possivelmente simpático
Quando se encaminhou para a saída.
Ainda consegui ouvir
Qualquer coisa como merde.
Tinha acabado de pisar
Um cagalhão de um cão português.
Mais tarde
A velha dona do animal
Contou-me que o bichinho
Não parava de abanar o rabo
Com tanta vontade de rir.




2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

O MAU DA FITA

Poderia falar-te
Do equinócio acontecido no corneto da olá,
na nova embalagem dos cotonetes da tampax
e até na pressão assustadoramente normal
dos pneus dos carros de linhas…
mas falemos de coisas menos importantes,
isto é, a impressão vegetal do nosso cartão de cidadão,
onde por muito que não queiras,
apareces sempre com a foto de ladrão.
Não leves a mal,
mas o governo tem obrigação de se mostrar preocupado!
Claro que tens os impostos em dia,
 o seguro pago,
mas o resto…
Então não sabes?
Aquilo que me deves,
depois de tudo o que te roubei!
Mau! Claro que sei!
O mau da fita sempre serei,
mas não é a ti ou a outro como tu,
que compete,
e presta atenção,
 não é de bom tom,
 nem mostra educação,
de mim dizer mal.
Porta-te bem
se quiseres votar em mim nas próximas eleições
 
 
 
2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

AS COISAS ESPECIAIS FICAM SEMPRE TÃO LONGE

Vou indo devagar.
Neste tempo a pressa é mais lenta
Não deixando de acompanhar
Todos os nojos destes anos.
Eu sei meu amigo
Que aquilo que sempre precisas
É só um momento de conforto
E isso nunca acontece.
Nunca ninguém
Mesmo aqueles com olhos mentirosos para te ver,
Te estenderam a mão.
As coisas especiais ficam sempre tão longe,
NÃO É?
Estás só como todos os dias que virão
Momentos confitados sem esperança
Tornam maior a distância
E marcam a pele do teu rosto
Envergonhado pela ausência de respeito
Que sempre te deveram.
Perdoa-me esta lágrima
Mas eu sou tão pouco
Que nem consigo estar perto
De ti




2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

ENCONTRO IMPOSSÍVEL

Não falamos.
O tempo
não lavrou palavras
disponíveis para o nosso encontro.
O tempo
nem sempre
está atento.
Ficamos
com o amargo
silabiado
do nosso desalento.
Penduramos a ilusão
num rosto de um anjo surpreendido.
Não falamos.
Outra pressa
molhou o nosso olhar.
Um pássaro atrevido
espalha por aí
penas do nosso desejar.
Não ousamos.
E até agora não sabemos
onde perdemos o momento
de nos encontrar.



2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 16 de março de 2016

LUDO (O nosso gato que adorava ouvir as tangas do pastor da iurd ou lá o que é essa merda)


Naquele dia a Ana, aparelhou a nossa casa com uma gatinha que tinha ido buscar a uma loja. E mais uma vez, com o olhar que ela tinha, não consegui resistir. Foi assim que fui apresentado à Ludmila. Confesso que não achei lá muita graça, mas gostei imensamente da indiferença com que ela me acolheu. A Ludmila quando visitou o veterinário, logo passou a chamar-se Ludovico. Mais tarde, Ludo. Nos primeiros tempos da sua actividade ocupacional, entreteve-se a dar cabo de dois sofás e dos pendericalhos que prendiam os cortinados. Claro que também sabia brincar como se verdadeiramente fosse gato. E isso, de tão engraçado que era, tinha o efeito de amenizar os prejuízos dos estragos cada vez mais frequentes. Estou a falar de um gato, porra! Mas que gato! Seguia a dona, rabo alçado, numa conversa exclusiva dos dois. Eu quando chegava a casa, era simplesmente ignorado. Por vezes cheirava-me com alguma curiosidade, mas ficavamos por aí. Mas o Ludo não era um gato qualquer. E eu também não. Fomos conversando e acabamos por nos entender como pessoas de bem. Tivemos algumas performances que ainda hoje me fazem rir. O que é que foi? Foi a frase que ele mais gozava. À medida que o tom da minha voz se elevava, ele invariavelmente fingia-se de morto e caia redondo no chão. Enganava-o amiúde com o abanar da caixa de fósforos que ele confundia com o som da embalagem da ração. Lá vinha o gajo, orelhas para trás, a correr desalmadamente em direcção da cozinha. Como resistir a tamanha atitude de complacência? Então pegava nele e dava-lhe beijos no nariz. O Ludo agradecia com ternurentas turras. Todas as noites em que acabava por adormecer no sofá, era acordado invariavelmente por ele. Já no quarto, enquanto me despia, sentado no tapete, o chavalo aguardava pacientemente a minha entrada na cama. De repente 13 quilos de satisfação aconchegavam-me tórax. Oferecia ao meu amigo um braço dobrado e tapava-o. Colocava um dos auscultadores no seu ouvido, enquanto duas patas riscavam-me o peito, mas quando chegava a voz do tadeu, ouvia com satisfação o seu ronronar.





2016,03aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 15 de março de 2016

AQUELA MANHÃ NO JARDIN DU LUXEMBOURG

Naquela manhã no jardin du luxembourg
demolhei os pés no lago
& uma estátua incógnita
contou-me segredos ousados
sobre Paris
& tocava uma qualquer sinfonia maldita
& pássaros de pés descalços
vestidos com fraques às tiras
entretinham-se a escrever
numa alvoroçada
máquina de escrever Olivetti lettera 82
poemas com palavras obscenas
& polícias desalinhados
agitavam batutas
como se dirigissem músicos
com laços desesperados
enfeitando cous distraídos
Regarde maman
como eu danço de cócoras
esta música que tu não ouves
aquela manhã no jardin du luxembourg
prometia uma chuva vagabunda
se os anjos não tivessem adormecido

,2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

BRUXELAS GARE DU MIDI

No corredor da gare du midi
Enfiado no saco cama
Acordei com o corrupio de gente apressada
Nunca tinha visto tanta conformidade por passo quadrado
A gare du midi é um lugar estúpido e impróprio
Para contemplar o que quer que seja
Não riem não falam e quando nos olham
Têm sempre estampada na indiferença
Carimbos com o formato de martelos
Não sei para onde caminha esta gente
Sorumbáticos Automáticos
Caras de banda desenhada
Encolhi as pernas preocupado
Com a real possibilidade de ser pisado
A gare du midi É um local sombrio
A condizer com a cor do céu
Que entristece uma cidade
Preenchida com um mar de bonecos
Que nem bêbados conseguem pular a lei
Que tanto os amarra
A gare du midi
Mete-nos todas as angústias
E tem o perfume de uma constante desilusão
Gente nunca ousada
Com óculos que fecham a visão
E eu
Que já tive conversas minimamente interessantes
Com outras espécies de robots
Fiquei deveras preocupado
Com o ar de pateta ilustrado do maquinista
Na gare du midi Nada há para admirar
Nem sequer a minha canadiana
Que tinha comprado no stock americain
Mija-se bem na gare du midi
Contaram-me anos mais tarde
Não foi o meu caso
Tive pressa de apanhar o comboio


,2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 10 de março de 2016

Eddy Clearwater - DR big band - Came Up The Hardway *** BLUES FOR YOU ***



I came up the hard way,
I had to work both day and night,
I came up the hard way,
I had to work both day and night,
it's a shame, shame, shame
that a poor man have to live that way.
I came up the hard way,
I had to work from song to song.
I came up the hard way,
I had to work from song to song.
That a poor man's work is never done,
everybody is talking about the blues,
brother,
deep down in your heart ...
everybody is talking about the blues,
brother,
deep down in your heart ...
all my life, I had nothing but the
blues
ever since I was nine years old,
I had nothing but the blues,
sometimes I feel so bad down inside,
I have to put on my walking shoes.
I think I wanna walk one more mile with
the blues.
I came up the hard way,
I had to work from song to song.
I came up the hard way,
you know they got me working night and
day,
it's a shame, shame, shame
that a poor man have to live that way.


ENCONTRO MARCADO

Eu
&
Deus
Mais
Dia
Menos
Tempo
Vamos
-nos
Perder.
Eu tenho essa certeza.
Ele continua
A duvidar.
De
Qualquer
Modo
Tenho
2
Ácidos
Congeladamente
Guardados
No
Cacifo
Da
Morgue.



,2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

MERDA NA CABEÇA

É seguro
 Remover
O
 Hardware
 Por amor de deus
 Tente não falhar
 A sua pen(is)
 Está
Infectado
Com
O vírus
 Que você
 Nunca
 Deixou
 De
 Ser.


,2016,03
 aNTÓNIODEmIRANDA

A IMPORTÂNCIA DO GPS

Que
Deus
Vos
Encaminhe!

Eu
Perdi
O
Gps.


,2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

BEM VINDO!

 Por favor,
     toque à campainha.
          O criado é surdo,
  o patrão está ocupado,
        mas o cão está bem habituado:
                  não abre a porta a estranhos.

 

2016,02
  aNTÓNIODEmIRANDA

VICTORIA STATION `73

Londres
O wc mais estranho que pisei
Um anjo tresmalhado - olhava-me intensamente segurando na mão uma antena de televisão -
Sabia algumas coisas desta cidade - mas nunca me tinham falado de aparições impossíveis -
Fugi corri e naquela douda pressa enfiei-me num táxi - e assim gastei o pouco dinheiro que tinha -
Encontrei-me num bar onde alguém me pagou uma special beer - segui depois até Stamford Bridge -naquele tempo o futebol era bonito - mas eu estava sempre a embirrar com o árbitro – parti com saudades de Londres e sobretudo de uma certa árvore do Hyde Park
Só tinha 18 anos e viajei este mundo com uma autorização do meu pai - assinada e reconhecida notarialmente – nasci num país em que naquele tempo a maioridade acontecia aos 21 anos – hipocrisia mentida pois a essa idade correspondia a entrada na tropa.
Contudo, naquele dia de Setembro, Londres estava magnífica.


,2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

QUINTA-FEIRA 3/3/1955

No dia em que nasci, aquela quinta-feira. fez planos para um futuro nunca qualquer. Os anos que entretanto foram rasgando peles, não absorveram essa ideia, muitas vezes maltratando ideais que só o dignificariam. Procuro agora, outro porvir, mas o presente oferece-me sem eu pedir, dias grafitados com cores alheias à minha contrariedade.


 
2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 8 de março de 2016

MATCH POINT

Depois a morte
Chega devagarinho,
Mas eu há muito tinha partido.
Sopra-me o mais doce poema,
Aquecendo-me o ouvido,
Mas eu há muito era surdo.
Depois com ar de matreira,
Finge-se boa conselheira,
Mas eu há muito lhe tinha mentido.
Agora,
Cada um para o seu lado,
Só nos olhamos de lado,
Cada qual com uma ficha na mão.
Qualquer dia
Teremos de recomeçar este jogo.
Por enquanto,
Disputámos o match point
Em campos diferentes.
O árbitro
Ainda não chegou.

,2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

A BALADA INCOMPLETA DE JURUMIAS TEMTEM

Jurumias dizia
Nunca tive um dia
Sem alegria
Quão feliz
Ele não se sabia
Desabafava com os seus feijões
Ignorando desenfreadamente outros sabores
Jurumias mentia
Quando na carta escrevia
Nunca tive um dia
Sem alegria
Agarrado à telefonia
Fingia que ria
Quão triste
Só ele se sabia.


,2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA


quinta-feira, 3 de março de 2016

Obrigado, Dona Isaura!


61,00 anos
732,00 meses
+/- 21.960,00 dias
+/- 527.040,00 horas
+/- 31.622.400,00 minutos
+/- 1.897.344.000,00 segundos
...Estou a ficar assiduamente mais velho!
Gostava de tanta gente que já não pode ficar nas fotografias.
Não sei o que perdi
ou se naquilo que me perdeu,
não havia caminho.
É uma ideia obsoleta, quiçá sem piada, achar que voltar àquilo que era poderia alterar uma vírgula distraída, num discurso escrito com ideias que só a mim dizem respeito. Não tenho vontade, nem sequer jeito para outdoors com publicidade enganadora. Sigo uma constelação de estrelas anónimas, tão preguiçosas que se recusam a brilhar.
Não sou de grandes sonhos, o que até não é difícil para quem não se lembra de nenhum. Tenho, claro que tenho, uma caderneta de memórias cronologicamente desarrumadas numa estante, onde está à vista um sinal de perigo : proibido limpar o pó.
Como diria Ginsberg, “de facto só estou aqui há 61 anos”.
Só sou o que me conheço.
Outras solicitudes estarão sempre fora de prazo.
 
 
,2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA


  
 

terça-feira, 1 de março de 2016

Muddy Waters - That's Alright


Rock Me Baby - Muddy Waters - (HQ) - The Johnny Winter Sessions 1976-198...





OH YEAH !

Muddy Waters, John Lee Hooker, Johnny Winter - I Just Wanna Make Love To...





Muito Bom   Muito Bom  Muito Bom

Blind Owl Wilson - Sloppy Drunk | Adoro esta canção.


John Lee Hooker & Canned Heat - Whiskey & Wimmen' [HQ] - Of course...


Canned Heat - Going Up The Country - Cá vou eu!!!!!!!!!!


O Único Verdadeiro Deus Vivo: Greenwich Village Sunday (1960 Documentary On The ...

O Único Verdadeiro Deus Vivo: Greenwich Village Sunday (1960 Documentary On The ...







Espectacular! Obrigado, Miguel Martins.

“A ANGÚSTIA DAQUELE QUE NASCEU ANTES DE MORRER”

Para o Changuito. (A minha escandilose não permite como desejaria, beijar o sagrado da tua sombra).

Naquele tempo estavam doze poemas e um intelecualóide a copo, que só por milagre escapou à sincronizada operação da brigada de trânsito. Furioso, o comandante propôs-se castigar o resto da humanidade.
Alguém ironicamente bêbedo, lá do alto do seu filme, balbuciava sem a menor convicção:
Perdoa-me pai! A culpa é tua! Eles só fazem o que sabem.
Ferlinguetti no preâmbulo da leitura do poema “a angústia daquele que nasceu antes de morrer”, tentava convencer os demais, que a poesia só pode ser dita por alguns. Corso, incorrigivelmente narcotizado, limpava a boca a haikus que lhe sabiam a hambúrguer de peyote. Kerouac, sentado no canto do meio, rezava e chorava com cara de Ginsberg, agarrado ao último rolo de papel higiénico. Di Prima, estava com muita vontade, mas ninguém ali, mostrou o mínimo interesse numa demostração grátis de um superior blowjob. Paul Carroll, tinha na mão as três dimensões do retrato do pai, mas só conseguia ver dois minúsculos pês (pele, picha & ossos).
Um ovni aterrou disfarçadamente em cima do gira discos e todos puderam ouvir aquela música.
Como eu gostaria de ter estado presente.
 
 
 
,2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA


 


Allen Ginsberg Ballad Of The Skeletons | Muito obrigado, amigo Miguel Martins!