É a nova tendência das noites da capital: ouvir e dizer poesia. De segunda a domingo, há sempre uma casa aberta à palavra. A Notícias Magazine andou por Lisboa e entrou em algumas.
São cada vez mais os que estão com ela – a ouvir quem lhe dá alma, conhecer quem lhe dá corpo, a (re)descobrir os versos que lhe dão vida. O convívio em torno da palavra escrita, feita palavra dita, cresce em Lisboa, com espaços dedicados a noites de leitura de poesia, um público fiel e uma porta aberta a revelar potenciais talentos.
Um autocarro, a travessia do Tejo de barco e mais uma caminhada. São estes os passos seguidos por Dulce Santos, da Amora ao largo que lhe carrega o apelido – e que alberga o bar do Teatro A Barraca. O aparente esticão noturno de transportes públicos, para assistir a uma sessão de poesia cronometrada entre os 20 e os 40 minutos, não a demove. «Não me custa. Se me custasse muito também não o faria», relativiza, fiel ao espaço e a quem o povoa. Estas são as noites que há mais tempo, de forma (quase) ininterrupta, persistem no roteiro lisboeta de leituras de poesia: está ao virar da esquina a 192ª sessão semanal, já a 23 de junho. Para Dulce, «calhou encontrar aquilo». Uma pesquisa online sobre poesia, enter, entre os resultados o blogue do poeta e editor Miguel Martins, enter, nos posts de oúnicoverdadeirodeusvivo.blogspot.pt a descoberta das Quintas de Poesia, que ele organiza. Bingo.
«Tem de ser tratado com muito respeito », atalha Miguel Martins quando se refere às idas e voltas de Dulce, que entretanto já viu em palco boa parte dos cerca de 145 convidados – poetas, artistas plásticos, escritores, músicos… –, de 15 países, a marcar presença nestas noites. Porque se «a estrela são os poemas», como ele diz, também aqui cabe «muitas vezes prosa. E pode ser só música. O que tenha cabimento no conceito de poesia».
A cantora e atriz Mariana Abrunheiro, ouvinte assídua, também se coloca sob os holofotes, a voz a enfrentar a sala escurecida. «Mesmo que tenha assistido a uma leitura de um poema que conheço, como é outro a ler, chega-me outro mundo», assume quando do lado do público.
Há dias, coube-lhe esse papel e ao bar d’A Barraca levou «alguns textos que leria aos amigos». Entre outros, ecoaram na sala Hélia Correia, José Gomes Ferreira, António José Forte, Alexandre O’Neill, para silêncio, sorriso, recolhimento da pequena plateia dessa noite, de que fazia parte outro habitué da casa, António de Miranda. Como o próprio sintetiza, «isto é um bocado vício». Tanto o de ir ali como o de criar. E stop. «Nunca leio. Costumo dizer que já me basta escrever.» Aprecia os bons leitores, «a arte é ritmo».
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