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terça-feira, 30 de abril de 2024

ATÉ AO FIM, PARA QUÊ?

 


Já nada sei de ti
dos sorrisos que perdi
e dos beijos carimbados
na ficção em que te tornaste.
Talvez faltasse a ousadia
para te sonhar diferente um dia
nas janelas cansadas da tua espera.





2016,09aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

ATÉ LOGO É A NOSSA MENTIRA HABITUAL

 


A tristeza não tem sabor a deus nem o amor sempre viva a paixão. 
Nesta areia branca onde serenatas escolhem outras lágrimas deixando-nos um oxalá com toda a saudade, 
ofereci-te o coração embrulhado numa carta com as palavras que nunca pensei escrever. 
Entreguei-te o ramalhete do amor perfumado 
e foi tão suave este gesto levado num barco entontecido que agora anda por aí a recolher corações desconsolados. 
Está triste e magoado este coração mata-borrão  
à deriva no mar azedo que me dá tanto medo desta angústia, 
porque só tu tens a chave para dela me esconder.
Até logo é a nossa mentira habitual.





,2016,08aNTÓNIODEmIRANDA
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ATILHO

 


Enlaço-me no saco-cama 
onde uma nuvem que há tanto me procura, 
enrosca o colar 
deslizando no fumo um cair que me entorpece. 
Salgo estes momentos com a flor do mar 
e adorno os desejos que me são possíveis. 
Adoço a xícara deste prazer, 
às vezes com açúcares que não me pertencem. 
Deslizo a cãibra numa ausente solução 
e limpo suores refrigerados 
em tépidos pensamentos.
Não sei fazer estas contas e por isso 
enfio-as num atilho para mais tarde desatar. 
Adormeço com algum cuidado 
para a não dormência dos braços.
A luz vai desaparecendo. 
Estou pronto para mais um filme.








Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 28 de abril de 2024

A CONDIÇÃO DO POETA

 


Andamos para aqui a sarapintar vírgulas num papel qualquer.
Sabes, os poetas não têm uma fama lá muito aconselhável.
Há quem diga que têm na alma um teclado de uma máquina de escrever. 
E não são muito rígidos na escolha das palavras adequadas.
Às vezes pintam imagens estranhas, como se falassem com elas.
Abusam constantemente nas cargas etílicas.
Têm sempre uma pressa urgente.
E lavam pouco os pensamentos.
Enfeitam com um laço as ilusões,
ouvem outras vozes frequentemente
e são geralmente doidos por um par de asas.
São singelos na leitura de cartografias,
aparecem tímidos nas fotografias,
e passam muitas tardes a corrigir epitáfios.
E beatificamente despedem-se com a bênção habitual:
Que deus vos acompanhe,
porque eu já não sei o caminho.
Aqueles, ditos subversivos,
apostam sempre na barata tonta,
e lisonjeiam com desdém matraquilhos curiosos
que vomitam sílabas mal cheirosas.
Os poetas não são assim,
mas também nunca poderiam ser o contrário.
Têm ritmos de alquimia,
e, sentados, tentam colorir outro cenário.
Pensam que falam como as pessoas,
discutem amiúde anatomias sintéticas,
descansam os olhos com atitudes patéticas,
e sorriem como se fizessem parte do mundo.
Cultivam simpatias incompreensíveis,
dão longos passeios envoltos num manto de nevoeiro, chamando alguém em forma de estátua, de Sebastião.
Odeiam parapeitos supersticiosos, 
e escorrem por uma corda fictícia
até pisarem os pés da lua.
Dois poetas nunca se encontram, 
mas abraçam-se com um código secreto, 
e sabem de cor a maliciosa palavra-chave.
Os poetas têm importâncias não definidas,
e sangram como crianças,
pelo poema que nunca poderão escrever.
Vivem em forma de tempestade, 
o tempo que constantemente lhes foge.
Cavalgam como um puro-sangue, 
mas enganam-se sempre na corrida.
Sabem que não há futuro na poesia,
mas, enquanto poetas acreditam na sua eventualidade.
Há quem diga que não são normais! 
Até mesmo difíceis!
Têm sempre um copo na mão,
Donde bebem sessões contínuas de dignidade.
Nunca renegam a condição de ser poeta.


2016_aNTÓNIODEmIRANDA
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“A ANGÚSTIA DAQUELE QUE NASCEU ANTES DE MORRER” Para o Changuito. (A minha escandilose não permite como desejaria, beijar o sagrado da tua sombra).

Naquele tempo estavam doze poemas e um intelecualóide a copo, que só por milagre escapou à sincronizada operação da brigada de trânsito. Furioso, o comandante propôs-se castigar o resto da humanidade.
Alguém ironicamente bêbedo, lá do alto do seu filme, balbuciava sem a menor convicção:
Perdoa-me pai! A culpa é tua! Eles só fazem o que sabem.
Ferlinguetti no preâmbulo da leitura do poema “a angústia daquele que nasceu antes de morrer”, tentava convencer os demais, que a poesia só pode ser dita por alguns. Corso, incorrigivelmente narcotizado, limpava a boca a haikus que lhe sabiam a hambúrguer de peyote. Kerouac, sentado no canto do meio, rezava e chorava com cara de Ginsberg, agarrado ao último rolo de papel higiénico. Di Prima, estava com muita vontade, mas ninguém ali, mostrou o mínimo interesse numa demostração grátis de um superior blowjob. Paul Carroll, tinha na mão as três dimensões do retrato do pai, mas só conseguia ver dois minúsculos pês (pele, picha & ossos).
Um ovni aterrou disfarçadamente em cima do gira discos e todos puderam ouvir aquela música.
Como eu gostaria de ter estado presente.
 
2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA
 
 
 
 
 

POSSIBILIDADE NÃO ENDEREÇADA

 


Fechada para inovação

Abrirá Brevemente
Com

Inteligência 
 Possível 








,2023Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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NÃO ANDO POR AQUI À CATA DO SOM DAS PALMAS

 


certas coisas acabam
e tal como eu previ 
o mundo
não ficou mais pobre  




,2023Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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