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terça-feira, 25 de julho de 2017

O VENTO FAVORÁVEL

Serei sempre umas reticências, um ponto de interrogação ladeado por um etc às vezes latido. Um aloquete mal aberto ou ferrolho enferrujado. Tímida descoberta desaguando num cais com todas as milhas da distância. Mera circunstância de marinheiro atrevido. Relógio sem pulso, mentindo o impulso do tempo em que me abuso, navegando alturas agarrado a uma corda digitalizada em formato de imagem desfocada, que não me respeita. Serei sempre aquilo que gostava de ser.... Vontade presente, para um desejo sempre premente parindo uma razão apenas não válida, para um pretérito imperfeito onde nada mais poderá caber. Não gosto de meias medidas!
Serei sempre o meu mundo dentro de uma barca prenha de soluços encaminhados por um controlo remoto, tentando enganar o nevoeiro anunciado pelo ronronar dos faróis automatizados. Uma solitária prancha de surf, aproveita o momento para entregar poemas de amor a uma onda com destino desconhecido. Uma vela ingénua, anuncia contente uma passageira hipótese de poesia.
Na praça do costume, à hora habitual, estátuas supostamente interessadas, catam o tempo corrigindo a minha escrita não adequada. A cigana despenteia-me o olhar. Perdeu a vontade de me ler a sina. Caminho ao contrário. Esta rota já não me convém... O comandante sou eu!
Ainda não descobri o vento favorável.
2015dez11_3 ½ da manhã_aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 24 de julho de 2017

36 (24/07/1981-24/072017)

Escrevo na tua pele
a solidão dos poemas
com que entardeciamos

o amanhecer.
Saudades caligrafadas
neste mar caído
onde acontecia
o nosso naufrágio.
Solta o vento
o resto das palavras
que não tivemos tempo
para inventar.
E no tempo que passa
oferecendo-nos a brisa
que nos torna mais usados,
ainda consigo traçar
nos teus lábios
sabores de um amor
que pretendo total.
Me gustas baby.


2017,jul24_aNTÓNIODEmIRANDA

REBECA e a merditação...


domingo, 23 de julho de 2017

FMM_Porto Covo


Ana Gomes da Costa


SHOTGUN

Encontrei certas veias serradas no álbum das fotografias. Um curioso fotógrafo pensou que as congelou. O gelo matou a máquina e escondeu o negativo. Li esta notícia, sentado em frente do engraxador das mentes coloridas. Não percebo nada de abismos e não estou com grande vontade para relembrar esse sorriso. Há por aí muitos parvos que pensam que sou eu que lhes engraxo os ténis.
Quero que se saiba, que sou um intelectual da esquerda minimamente alcoolizado em raids sub...mersos de conversas sem título. O que você leu, alguém escreveu e isso nunca satisfará a minha curiosidade. A sua cabeça exibe bolas de pingue-pongue e a minha raquete não está para as jogar. Poderíamos falar de uma atitude profiláctica, mas a minha paciência neste momento, está pouco saudável para aguentar explanações de bidé. Iremos tentar o “AIKIDÓI”, mas não quero que se magoe. E, devo dizer, não aprecio por aí além a sua postura de “pizza hut”. Não sei quem o convidou para este filme, e reconheço sempre quando um realizador não está na plena posse das suas possibilidades fecais. Temos estrumes diferentes, o que torna neste caso a vida numa grande diarreia. Já reparou que nos estamos a entender, pensa você com esse tom argiloso, andar dengoso e estupidez pepsodent. Não vimos a mesma cena no écran que mirámos. Mas não é grave. Tenho quilómetros de vaporizações de desodorizantes habilmente aconselhados, e isso, permita que lhe diga, dá-me uma certa fragância para aturar os imbecis que cada vez mais invadem a minha área geográfica. Gostaria que isto acabasse bem. Não por uma questão de consciência, mas o tempo vai passando, a idade avançando e a pontaria já não é o que era. Tenha eloquência, meta uma pose de irreverência, encoste-se ao muro. Mantenha-se sereno! Assim está bem. Então, gostou do furo? As despesas do funeral são por conta do governo.
2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 20 de julho de 2017

O SEU ÚLTIMO POEMA

Não é a ferida que me arde
Nem o golpe que me consome.
A memória
É uma lâmina com um tricotar absurdo
Que tudo absorve.
Ronrona um poema não audível
Que atinge a raiz da alma
Que nos abandona.
Deixa um sabor sempre estranho
E um badalar sinuoso
Por onde ecoam as horas.
Um gato atravessa a estrada.
Miar namoradeiro
E dança na sua noite
Olhares em câmara lenta
Para mais tarde serem filmados.
Naquele sítio,
Onde as estrelas perderam a lua
Escondem-se nos ramos do céu
Nuvens da sabedoria
Nunca escrita nos livros.
Pássaros vadios
Aguardam pacientemente
A leitura do poeta.
Sempre atrasado.
É assim que ele acontece.
Chora na alma
O seu último poema.



2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

SINA

Tinha na mala a solidão
que enchia o gira-discos,
e uma cassete...

rebobinava
o tempo que perdia
quando soluçava
ausências.
E nos horários
da estação dos comboios,
pensava que estava escrita
a sua sina.
A agulha dos carris,
por vezes oferecia-lhe
desvios generosos.


2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

HIPÓTESE ADIADA

Não há motivo para sorrir a esta fúria embandeirada em laços de couro, neste hospício trajado de negro sacaneado onde loucos possuídos pela razão, pintam endereços sem esperança.
E há gritos que sulcam os sonhos, facilmente ouvidos nas avenidas da solidão violada.
Um trânsito amargo dirige as pessoas para o lugar onde nada de novo acontece.
Estrelas telecomandadas enrolam cigarros com cheiro agradável, e longas nuvens de fumo desenham coreografias atrevidas nos prédios da cidade ignorante.
E há um tempo nada diferente dos dias passados, que entontece qualquer busca de identidade.
Ninguém ousa palavras neste circo viciado e poetas tristes choram nas horas amargas, dramas pintados com o azul que desceu do céu.
Não se acorda nunca deste sono iluminado por fantasmas caridosos.
E no movimento das estátuas, nota-se uma vontade apressada para um qualquer salvamento.
Ficam as ideias perdidas atropelando numa fuga tardia rótulos que forram estrelas sem rumo.
Nada é sagrado, neste templo ilustrado com pedaços vermelhos do choro que escorre pelas ruas da solidão revisitada.
A viagem possível é sempre uma hipótese adiada.

2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

ESTE CHÃO QUE DE TUDO NOS SEPARA

Nesta lua desenhada com crescentes que nos minguam, há os restos das pontas do sol-posto, avisando a inevitabilidade dos sonhos sem jeito.
Falta-nos o modo para aligeirar o caminho, uma sílaba peculiar que alcance o nosso passo e um tossir não enrouquecido para tomar conta da nossa idade.
Falta-nos um apetecer, até mesmo lisonjeiro, e um cinto que de uma vez por todas desaperte os nossos segredos.
Falta-nos uma moldura digna, um beijo ousado, só para libertar as margens que apertam todas as veredas santificadas.
Falta-nos sulcar este chão que de tudo nos separa.
2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

ALVÍSSARAS

Há por aí alguém que possa explicar o que vai na alma de um poeta?
Há um burburinho como pano de fundo dirigido por golfinhos contentes, guardadores de museus sem visitas curiosas.
Escondo a minha timidez numa moldura para ninguém a fotografar. Sou uma falsificação sempre presente, diluída num cocktail presumido.
Fecho-me nas copas deste baralho desordeiro e sonho um dia investir nas acções da companhia das ideias vagas. Ninguém me afina o teclado e começam a ver-me como uma antiguidade não apetecível. Estou fora do catálogo das superstições idiotamente confiáveis. Assim como uma velharia com a alma em 2ª mão. A lua que me acode, jaz enrolada numa carpete azul. Ninguém visita a minha galeria, e o marchand está a ficar nervoso nestes tempos selados em horas encolhidas. E o bater do cansado relógio, acabará como sempre, por adormecer a parede.
Fica tão longe!
Anuncia-se um concurso de cartomantes, excelentes executantes nos procedimentos do “um-dó-li-tá”.
Há por aí quem compreenda o que vai fugindo da cabeça do poeta?
Dão-se alvíssaras.

2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

A CULPA MAIS PEQUENA

Falava sempre das estrelas
que lhe liam as notícias
e elogiava a espera
do seu aparecimento.
Escondido na hora habitual,
desligava a realidade
e entrava no templo dos sonhos.
Arregalava os olhos,
arrastando as pernas
no soalho das aparições.
Estendia a música
no caminho prometido
e sorria, até que a primeira
de todas as estrelas
o abraçasse.
Depois,
deitava-se com a angústia,
a culpa mais pequena da sua não existência.

 2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

DESTA VEZ TENDE PIEDADE DE MIM

Meu deus! Desta vez tende piedade de mim.
Deste seu possível filho desamparado.
Aquele que cansado do caminho, se deitou no passeio, acariciando o lugar onde nunca tinha estado.
Quero deixar esta cidade com ruas que me esfaqueiam. Toda a gente me quer ajudar mas vejo no seu olhar um ar desconfiado.
Estou mais só que um cão abandonado.
Alguém me dê a chave para começar um jogo novo.
Uma nuvem sortuda fugiu do meu casamento e agora desfila pelas avenidas olhando putamente para as vitrinas das marcas da vergonha.
Era azul aquela nuvem que afastou o nosso amor, naquela manhã em que dissemos adeus.
Nada falámos do que sabíamos e 50€ à hora foi sempre uma promessa abreviada.
A primeira vez que a vi, logo pensei que fui eu que tinha pisado a lua. I`m in the mood, prometi-lhe eu, enquanto nos despíamos e eu lhe pedia para deixar o negócio.
Mas ela era só uma rapariga de uma pequena cidade, curiosa pelo vermelho da lingerie que sempre lhe disseram, era pecado. E eu, um mísero apaixonado que lhe afiançou que tudo estaria bem, lá no fundo das almofadas da manhã. Mas aquele chão matou-nos enquanto o amor fugia à pressa. Por vezes pensamos que temos uma boa sensação, daquelas que nunca acontecem, e acreditamos que algo de novo poderá tocar os nossos corpos. Percorro as lágrimas como um cansado galo vermelho e agora quando me vêem, chamam-me aquele que procura aquilo que perdeu nas águas turbulentas.
Não sei porque não fizemos.
Lembro-me de ti, baby!
Húmida, com aquele trocar de joelhos, bem tu sabias, adiantava a pressa de entrar em ti.

2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 4 de julho de 2017

Estou por aí!


OUTROS LUGARES & MAIS NENHUM

Outros lugares & mais nenhum,
fazem o longe das palavras
que roubaram as lágrimas ...

do arco-íris.
E no sítio
onde se escondem as sombras,
há um ladrão descarado
sempre à espreita da tal cor,
farta de ser pintada.
Há um sangue que corre
num corpo ausente
e um sabor subtil,
que enche amargos de boca.
Há uma bandeira curiosa,
defraudada nas ranhuras do desgosto
e um choro contínuo
que inunda
os outros lugares & mais nenhum.
Há um sorriso
paralelo ao desespero
e uma malvada pressa de chegar
a nenhum dos outros lugares.
E há um poema
morrendo de velhice prematura
e um poeta desesperado
a confortar todas as mágoas.
Ali,
nos outros lugares & mais nenhum.







2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

Gostei muito. Abraço para Ricardo Marques!