Lá na aldeia, pouco depois do jantar, ia ao café. O senhor Zé e a sua adiantada surdez, cumprimentavam-me cordialmente. Num frente a frente ao balcão e com a tv no máximo nível de som, falávamos aos berros. Nada que o incomodasse. Com a sua cara, expressão mista de curiosidade e contemplação, perguntava : então e o que é? Um whisky, senhor Zé. E para o senhor? Agora vai uma cerveja. Enchia meio copo de imperial com o scotch. Não importava a marca, porque só havia uma. Então quanto é que lhe devo? Então é um euro e meio. E a sua cerveja? Já está incluída. Neste lamber de emoções, pago eu, depois paga ele, será lógico pensar que, apreciando eu esta convivência, a minha chegada a casa assumia por vezes alguma dificuldade.
Não gosta de tomate, alface e pimentos? Claro que sim. Vá lá apanhar. Mas nunca fiz uso da sua autorização sem ele na sua horta.
Está velhote o senhor Zé. Maldito reumático e umas tantas dores nas costas. E aqui tudo é tão longe! Já não vou ao café e as ervas vão tomando conta do seu quintal. Gosto da sua cara e sobretudo o modo como entendia as notícias da dica da semana, que nunca se esquecia de trazer quando ia a Tábua ou Oliveira do Hospital.
Passo os dias muito tranquilos em Vila Chã.
Sentado no alpendre, há mais de trinta anos que continuo a ouvir o piar daquele mocho.
Penso que já é tempo de um aperto de asas.
,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA
Sem comentários:
Enviar um comentário