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terça-feira, 25 de outubro de 2016

Mário Alberto

Mário Alberto foi cenógrafo, pintor, figurinista, profissional de teatro, cinema e televisão. Chegou a dar aulas de cenografia.Co-fundou duas companhias de teatro, Adoque e A Barraca,

"Não há, na arte, nem passado nem futuro. A arte que não estiver no presente jamais será arte". Pablo Picasso


I AM THE BLUES (www.iamthebluesmovie.com) BLUES! JUST BLUES! Um amor antigo, uma paixão permanente!

Pois… 46 anos a ouvir a grande música, deixam-me gostos que gosto de lembrar. Não tem qualquer interesse estar para aqui a contar quantas vezes tenho ouvido, cantado e tocado, à minha maneira, esta canção. O tempo vai rolando e tenho tido o devido cuidado de não atrasar a sua eloquência. Mantenho uma vontade feliz de continuar a abrir as gavetas do meu armário, só possíveis com uma desarrumação inerente à minha permanente disposição de amar esta música. Porque gosto, porque sei, e porque sobretudo respeito. Aqui, nesta grande música, não aparecem grandes palavras, nem acordes trabalhados até à banalidade. Estamos a falar, e exijo que saibam, que estamos a falar de pessoas que na generalidade não sabiam ler nem escrever. Mas, porra! Alguém terá mais alma? Para mim é um acto natural falar e gostar de BLUES! Entendo a todo o momento o seu sentimento. Também eu não ocupei qualquer assento da faculdade, andei a estudar para padre, mas fiquei com pouco mais do que a 4ª classe. Não, não é nenhum disfarce. Outros ventos alheios à minha vontade navegaram um vento contrário à minha maré. Bom! Moinhos parados não movem águas, e eu, não levem a mal, há muito mijei essas angústias. Estamos a falar de BLUES, esta música, que eu com o meu irmão Tomás e o nosso grande amigo, António Salomão, ao longo de 46 anos, vamos bebendo. Desde muito novo quis provar outro sal. Fui procurá-lo. É certo que não tive a noção do medo, nem poderá dizer-se que foi uma questão de coragem ou necessidade. Aconteceu porque eu sou assim, e depois, como sempre, continuo a aprender. Honestamente confesso, que frases como “I`M IN TROUBLE WITH MYSELF”, despertam uma cumplicidade que me satisfaz. “I´M GONNA LEAVE MY BABY”, acontece .“DARK CLOUDS ROLLIN”, é sempre um princípio. Gosto! Gosto muito de BLUES! Gosto tanto que quando toco, sei perfeitamente que eles também gostam de mim. Por isso, continuo a não conseguir tocá-los sempre do mesmo modo.
Vou continuar a amá-los!
Mesmo que continuem a fazer parte da minha miséria.
É esta música triste, como costumava dizer a minha mãe, que ouço todos os dias. Não me canso.
“WAKE UP IN THE MORNING I GOT THE BLUES ON MY MIND”!
Um amor antigo, uma paixão permanente!
Mal ainda eu vim Ao mundo
Já me chamam Vagabundo
Já me mandam Trabalhar
O patrão está à minha Espera
Não houve tempo para a Escola
Não tive dias para Brincar.
 

aNTÓNIODEmIRANDA
 

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Blues.....................................


LIVRO ABERTO

Raparigas que tenham uma certa necessidade,
se forem de maior idade,
podem contar
coma ajuda solidária
da bicha solitária:
um bom edredon
cortejado pelas melhores penas,
um gravador de som
com os gemidos da antiga Atenas,
sonhos com eczemas,
sapateados grelhados
e palmas com salero nupcial,
acordeão electrónico
para os ouvidos mais acordados
e chicuelinas servidas num rodízio
à descrição.
Caso continue a contrariedade
pomos à vossa inteira disposição
uma limonada diurética,
genuinamente asséptica
com sabor programado
a lingerie ainda por lavar.
Cuidamos de vós com toda a devoção
caramelizada e desinfectada
numa lavagem automática.
Arrendamos emoções 24 horas por noite.
Valide a sua sanidade.
O que sobrar é connosco.
Confie em nós!
Somos um livro aberto!
… Embora com todas as páginas multadas.

2016,10aNTÓNIODEmIRANDA


RUMOR PROMETEDOR

Ouço lá longe o calor de dois gatos num rumor prometedor.
Arfam o desejo no corpo enrolado.
Deixei de ouvir o miado.
Cada um para o seu lado.
Amanhã vão fingir que não se conhecem.
Ainda há maneiras perfeitas para o sexo.

2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

FORA DO TEMPO

Abano a vida

sempre que as horas

me botam fora do tempo.


2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

 

INCÓMODO

O tamanho não importa.

O que incomoda


são as intenções minúsculas.



2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

BEIJO OFENDIDO

Nunca saberás
o sabor
das minhas lágrimas.
A vingança
é um beijo ofendido
que
arrefece
num sentimento
sintomaticamente
perfilado
No limite
do fora de jogo
posicional.

2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

DON`T FOLLOW ME!

Eu
   Também
                Não
Quero
          Ir
           Para
                 Onde
Vou.


2016,09aNTÓNIODEmIRANDA



Seria uma honra ser "decorado"!!!!!!!!!!!!!!!!!


quinta-feira, 20 de outubro de 2016

JEAN-NICOLAS ARTHUR RIMBAUD (20 de outubro de 1854 + 10 de novembro de 1891)

Oração da tarde


Qual Anjo no barbeiro, sentado é que eu vivo:
 Cerveja em copo cheio de estrias gritantes,
 Até ao pescoço arqueado o hipogástrio, um cachimbo
 Nos dentes cobre os céus de impalpáveis velames.
Como excrementos quentes de um velho pombal,
 Mil Sonhos em mim fazem azias amenas;
 Por instantes o meu coração terno é um samo
 Que ensanguenta o ouro jovem e escuro das perdas.
Mal engulo os meus sonhos com aplicação,
 Tendo bebido uns trinta ou quarenta canecos,
 É a hora do retiro, da acre dejecção:
Doce como o Senhor da trave e dos argueiros,
 Mijo para os céus pardos, em toda a extensão,
 E os grandes heliotropos respondem ordeiros.
 
 
 

 

SAL!

Sal!
Incendiando-me as teias , chorar nas veias e esconder-

me na sarjeta da tua saia.
Vale o que vale, até porque tu continuas a não saber o

fel deste meu gosto que está à venda no mini mercado
mais perto de ti.
Porque será que me custam a respirar as palavras

que nunca entendes?
Não é a má vontade do meu desinteresse, até porque

me cansei de ser santo, naquela vocação que me
abrandava os joelhos na inglória e exacta hora, em que
todas as orações eram tão sujas como o nosso
não acontecer.
Matei-me tantas vezes no chão numa espera sempre

crescente onde só cabiam ausências indignas.
Atropelei-me queimando uma pele cansada da falta de

confortos e viciei-me em oráculos venenosos.
Ninguém me ajuda a pegar neste andor com resumos de

todas as vontades contrafeitas, pregados numa cruz encristada
de pecados que não são os meus.
Sal queimado na fogueira dos abrenúncios,

coados nas ternuras sem sinónimos,
onde lamentos acachapados escorriam de uma barrela
embutida nas paletes do desespero silicamente conservado.
E a morte empalada em todas as horas do tempo que recuso viver.
Por muito que me digam que gostavam de ser assim,

só porque não gosto de segundas vias,
prometo-vos que Isto dá-me mais canseira do que o trabalho.
Até porque a vida é uma cópula institucional que não respeita a idade.
Eu me saúdo no centro mundial da identidade adulterada

e aguardo angústias disfarçadas de anjos maus
contemplando o tempo que não me presta.
Alguém que me salve sem desgosto.
Sal!
Incendiando-me as telas que eu continuo a rasgar

com sopros que me esburacam a algibeira.
E eu envolto no sal, pilhando nenúfares ao Monet

do meu mar tão desassossegado.
Sal e mais sal!
Que ilha ainda me restará?
Tenho uma sensação necrológica necessitada de uma operação urgente.

E falta-me paciência para preencher o formulário da fila de espera..
Reclamo o meu desespero embora saiba que ele continuará a ocupar

um vão de escada onde choram outros sem abrigo.
Ai de mim, ferozmente assado neste sal.
Estou cansado de secar lágrimas num varal onde pousam

imagens que já não sei retocar.
Sal no guisado amargo da minha vida,

demasiadas vezes gasta na vã ambição de cortejar
a inquietude em tons diferentes.
Descontinuo-me escrevendo num moral anónimo

 liturgias desequilibradas.
Sal!
Incendiando-me as veias, entupindo as teias da solidão

que dorme no meu porta bagagens..
Por favor, avisem quem me espera no cais

que não encontro para atracar.
Sabes quem és?
A puta submissa da constante violação.


2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

A FAVOLA DA MEDUSA | Poesia às Quintas – com Miguel Martins – 205ª sessão – Bar a Barraca – 20 de Outubro – 22.30h

Claro que Gostei! E solenemente prometo que quando deixar de gostar desta merda... Vou Embora! O meu abraçado obrigado.
 
 
 
 
 

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

E EU MESMO NÃO SABENDO O QUE QUERO

Nada nos fica bem nesta fingida preocupação.
A paz é um incómodo constante que repousamos
naquela prateleira onde apodrecem os livros que nunca gostámos.
Liga-se então o purificador da putrefacta consciência,
accionamos a mudança de canal com luvas de seda
e de pés alçados na mesa queimamos solidões
sem a mínima intenção de as solucionar.
Tenho de continuar a fugir
e embarcar neste engano com um chão
que tantas vezes me mata.
Vou comprar um facto mesmo que não seja novo
 para delicadamente continuar o acto
da minha mutilação.
O amanhã pendurado no gancho número 4
com ferrugem mentirosamente desinfectada,
entrega-me 3 euros e alguns cêntimos
que legitimam a minha fuga.
 Sou feito destas canções,
 também elas feitas de lâminas pretendidas
 com cortes tão incisivos que felizmente
 me tornam longe da perfeição.
 E a perfeição não me agrada.
 Finta-me o desejo.
 E eu mesmo não sabendo o que quero,
é só isso o que procuro
.

2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

NUM ME QUILLHES PÁ

É preciso beber
Molhar as palavras
Verter águas
e fazer todas as promessas sem intenção.
Entregar as rolhas
(em razoável estado de conservação)
, roubadas nas reuniões dos bebedores
de fragâncias não permitidas.
Num me quillhes pá!


 Francisco nunca soube andar de trotinete.
Buñuel não consegue alterar o guião deste filme
e Brando sentado na cadeira de realizador,
tem os auscultadores entupidos,
e lê surpreendido notícias preocupadas
de uma actividade biológica lá para os lados de
Woundeed Knee.
Óscar fareja furiosamente um cogumelo glorioso.
Tornemos esta história interessante.
Há que trocar de máquina de escrever.
Do oeste nada de novo.
E já poucos, na verdade muito poucos,
poderão constatar esta verdade.




2016,10aNTÓNIODEmIRANDA



A HIPOTÉTICA IMPORTÂNCIA

Não podes conduzir o meu gostar
nem coordenar o modo como detesto.
As minhas intenções poderão não ser pacíficas
e a minha disposição é situação que não comando.
Vamos pensar numa coisa mais simples:
Ficas como estás!
Eu sou como vou.
Assim experimentaremos a hipotética importância
que continuará longe de nós.

2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

A MORTE NÃO SABE DANÇAR!

A morte não sabe dançar!
Ouço os seus tacões lendo no sobrado
um testamento que não quero. Não
gosto do pijama que me oferece. Tenho
frio e só me arrefece. Despreza
abundantemente o meu pavor pelas
agulhas.
A morte não sabe dançar!
Mas é uma actualização sempre pronta
a instalar com um software infectado de
vírus.




2016,10aNTÓNIODEmIRANDA


A VIDA POR VEZES É UMA ÁRDUA TAREFA

Certidão narrativa da des-concertação social.
Anomalias trôpegas com certificação acidental
mordem-me os calcanhares
e Aquiles fica desesperado.
A estrada sem gps é aquela que mais nos ensina.
Assisto deitado no trapézio à ondulação
das inércias
que me ferem.
Seria mais fácil elucidar a posição nada serena
dos pontos cardeais, mas não estou para aí virado.
Não me cativam as questões religiosas.
Nunca tive ninguém à espera
nas insinuações mais atrevidas
e confesso que daí tirei todas as vantagens.
A vida por vezes é uma árdua tarefa.
Erguer taças vazias ou cheias não é fácil.
Mais duro é pensar
que às vezes nem isso conseguimos.
Cantar a mesma canção sempre de maneira igual
não passa de uma simpatia repetida.
O que a torna numa grande maçada.

2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

TENHAM JUÍZO!

Subverter com um sorriso?
Tenham juízo!
A subversão não é um jogo de sedução.
Escrita criativa?
Incha-me os ouvidos.
Só de pensar nisso, fico com entorses e logo penso
que não há ponto sem dó.
O meu perfil não é temporário.
A poesia é difícil.
Será por isso que certos “poetas” têm estampado na testa
o carimbo da infelicidade?
É como se fosse uma maldade que cultivam
e regam a bajulice
como se as palavras crescessem num canteiro.
Não percebo nada disso,
mas sei que não terá de ser assim.
Nunca tive paciência para analfabetos letrados,
muito menos para o seu anafado conhecimento.
É uma banha que dá maus cozinhados.
Escarro a vaidade para o lenço
e cuidadosamente volto a dobrá-lo.
As vezes necessárias.
Tantas vezes!
Nunca se sabe o dia do vosso amanhã…

2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

COMO É DIFERENTE O CHEIRO DESTE MIJO!

Nada sei disso!
Daquilo que dizem fácil.
Mas não enxergo na minha horta existencial o difícil.
Visto os dias com outros pormenores
que me desenham um Basquiat sempre hábil.
Pinto o meu gosto encharcando um grafiti movimentado
pela vontade de ser quem sou.
Sentado nas escadas,
enroscado nos degraus que me marcam,
arranjo ½ quilo de feijão verde para uma sopa
com todos os desejos permitidos.
E tempero esta malícia com o suave sangue
que molha os golpes dos meus medos.
Em boa verdade,
ainda não sou um exímio afiador de angústias.
Poderei tentar outra alegria mas a minha tristeza
é muitas vezes o mais importante.
Jean Michel sorri com um osso que roubou ao cão
que confiadamente frequentava a # factory #.
Joe Dallesandro com pénis desenhados nos ténis descalços,
pinta na seringa delinquências # gourmet #.
Irei mudar de sopa e afastar educadamente as pevides
com as cores do Miró.
Também já não sinto os degraus.
& alguém roubou a minha roupa!
Coisas dos artistas.
Mas é só neles que eu confio.
A guia do museu tirou-me a fotografia.
Neguei-lhe o autógrafo.
Já nada estranho nestes tempos.
Fui jantar à Trindade!
Como é diferente o cheiro deste mijo!


2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

CONCLUSÃO

  1. Tentarei chegar atrasado à morte.
  2. Assim me deseje a sorte.
  3. Tenho 7 vidas numa faca com todos os gumes desafinados.
  4. Elegi o poema para meu fiel guardador de sonhos.
  5. Perco sempre a cabeça mal encontre um lugar que me apeteça.

2016,10aNTÓNIODEmIRANDA
 
 

ERA JOVEM…

Depilo a memória com a cera dos neurónios
estragados.
Abro o frasco com os sabores de alguma da
minha infância, na bouça de Balugães, onde
gravei o nome no tronco de um pinheiro que o
meu avô me entregou.
Nunca mais nos tocámos.
 Era jovem…

Cuidava que os mais velhos não se esqueciam.



2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

FILME

A amada morreu.

O herói chorou.

Quem perdeu tempo fui eu.

2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

AVISO AO PÚBLICO E ÀS PESSOAS EM GERAL (Com 1 abraço para o Ricardo Álvaro)

Vou captar-me publicamente.

Urgente!

Preciso de uma banda sonora…


2016,10aNTÓNIODEmIRANDA


 

DA NÃO IMPORTÂNCIA…

As tuas palavras

são almofadas

para o meu

desassossego.



2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

A CONJUGAÇÃO MAIS PERFEITA

Só te posso oferecer flores.
Alguém que não me conhece,
diria que era a conjugação mais perfeita
que me acontecia na ideia.
Infelizmente a minha vontade
já não é o que era.


2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

AGORA

Agora despeço-me sempre sem
qualquer dever para partir.
Saio tranquilo às vezes com uma
mochila onde guardo algumas
 tristezas.
Sou teimoso e isso dá-me um
certo gozo.
Também às vezes é isso que me
indica o regresso.
Não arroto postas de pescada
Estou aqui metido num buraco
ensurdecedor. Um grilo canta na
janela para eu ouvir o mar a
trabalhar.
Cansados vão os pássaros para
casa e no seu amigo voar estendo
o meu coração. Continuo a ser o
intruso sem nada para entregar.
Não sou perfeito.
Mas tenho um sensor que me ajuda
a ser menos cretino.
É fácil gostar do que amamos
quando acontece
esse sentimento.

2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

AMIGOS COMO DANTES

Amarro a noite nos passos que me afastam e ilustro
votos de pesar para conseguir pensar na lembrança.
Atiro ao vento todas as memórias que me pintam a ideia
e conforto este sentimento dando migalhas ao meu amigo Heitor
um pombo tristonho e coxo que mal me vê na varanda
apressa o voo estritamente necessário para se fazer notar.
Claro que ele não sabe que se chama Heitor
e simpaticamente duvida que eu sou o Miranda.
Continuámos assim.
Amigos como dantes.
Porque a amizade nunca terá nomes marcados.
Às vezes falho este conceito mas nunca perco o respeito.
2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 18 de outubro de 2016

ATÉ AO FIM, PARA QUÊ?

Já nada sei de ti
dos sorrisos que perdi
e dos beijos carimbados
na ficção em que te tornaste.
Talvez faltasse a ousadia
para te sonhar diferente um dia
nas janelas cansadas da tua espera.


2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

SÁBADO À NOITE AS RAPARIGAS DA CIDADE

Sábado à noite
as raparigas da cidade
julgam que mostram mais idade
do que aquela que não sabem ter.
Apertam babygrows tão curtos
como o seu conhecimento.
Bebem mijeira em baldes de plástico
mais recicláveis do que a sua ignorância.
Exibem porta-chaves cravados no umbigo
e um rímel cruel que lhes encharca as pestanas.
E um batom que nada tem para disfarçar.
Lêem palavras que não sabem escrever
abreviadas como a sua falta de pudor,
como se o teclado lhes queimasse os dedos 
Geralmente com kapas & kapas
de insuficiência hepática.

2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

TV7

Ela pegava no taco como se quisesse aprender.
Sorridente ele aconchegava-lhe as mãos
com toda a ternura de um cheque evoluído.
E no fundo do champanhe a fingir,
combinava-se o sono com toda a urgência
para um cansaço ardilosamente mentido.
Ela lia as gordas das revistas sociais.
Ele sonhava com outras fotografias.


2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

TEMPOS CINZENTOS

Dizem que os tempos estão cinzentos.
Será pedir muito que só um dia sequer,
se adapte à minha pele?



2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

AVENÇA HARMONIOSA

Também acontece que às vezes tiro a roupa
para vestir a minha alma.
Mas o caminho é tão difícil.
O que sempre me transpira a calma.
Prometi-te o fim com uma avença harmoniosa.
Cada um carregando a almofada
cansada do nosso ressonar.
Mas eu não quero tudo.
Nunca tive tudo.
E isso satisfaz-me.



2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

CRÓNICAS DE VILA CHÃ (MEMÓRIAS DE POBRE)

Aqui os cães não sabem utilizar os telemóveis. Falam no ar nada preocupados com aquilo que dizem. Confesso-me curioso por esta conversa. Passam à minha porta rabo entre as pernas olhar medroso acompanhado por um modesto abanar de cauda. Como compreendo eu a sua desconfiança. Bem tento a aproximação mas o seu medo vence a minha intenção. Ofereço num prato de plástico amarelo aparas de fiambre extra “Nobre” e escondido vejo as lambidelas mais satisfeitas do mundo. Não nos conhecemos mas isso não impede o meu contentamento pela sua presença. Mentiria se não escrevesse que no meio destas badaladas da média noite com o silêncio afagado pelo tremor das folhas desta velha oliveira, não me lembrasse de outras sombras. Tenho à minha frente um rebanho vagabundo de ovelhas e cabras vigiadas à distância por três sábios cães e uma cachorra distraída mas curiosa na aprendizagem deste trabalho. O pastor como os demais no desemprego não subsidiado, enrola nos dedos a falta de um paivante e queima o desejo de isto acabar o mais depressa possível. Isto não é vida. Olhe que isto não é conversa de bagaço. Vamos por aqui, sabe lá deus por ali. O leite não vale a pena. A ovelha fica prenha e o filho mesmo que ainda não saiba pular, é a solução.
Já não como queijo.
São memórias de pobre, compreende?
Pouco vale o meu saber. E no café da aldeia onde me pensam como artista, ouço o seu curvar nas cadeiras abarcando um sono insano que lhes promete ardilosamente um amanhã menos mal.
Cresci na cidade. Ainda me falta a alma de viver no campo. Haverá algum passe social?
A previsão meteorológica já não era o que era!
Com tanto parlapié mais parece o anúncio da nova colecção Outono/Inverno.
 

2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

DAFLON 500

A médica receitou-lhe
Daflon 500 mg para a circulação.
Fingiu-se de surda,
foi à loja do chinês
e comprou um rolo de teflon.
Sufocou a pobreza
enganando a fome
que não queria que
soubessem.
Todos lá na aldeia
continuaram a fingir
um usual desconhecimento.






2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

O CHÁ DA FUTILIDADE

O meu amor come sushi e rega-o com mijito
E eu sinto-me beatificado no meio deste cozido à portuguesa.
Obrigado meu bem pelo teu zumbar de mosca bêbada.
Temos um mundo tão belo e um caminho com tanta luz

para iluminar a nossa estupidez.
Abençoados sejam as nossas crianças

tão parecidos com os filhos dos três mosqueteiros
quando bebem o chá da futilidade.

 
2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

O PREGOEIRO ENGANOU-SE NO LOTE

A arte de amar debaixo de uma
mesa de ping pong escutando o
testículo esquerdo a ser ripostado
por uma raquete empunhando um
 rolex apodrecido, comprado por
pura vaidade num leilão de arte
extemporânea.
O pregoeiro enganou-se no lote.
 
2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

OLEIO O FIEL COM UM AFTER SHAVE

O que me dói é a balança.
Com os pratos tenho uma boa conivência.
Só temo, devo dizer não exageradamente,
que o meu optimismo
não enferruje algum contrapeso distraído.
Oleio o fiel com um after shave
comprado numa loja de conveniência
tão bêbada como a minha identidade.
Pobre da minha guitarra
que geme mais do que aquilo
que sofro.

2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

PENSAVA QUE ERA SEGREDO

Pensava que era segredo
o medo que me adormecia.
Enredo nos teus cabelos
poemas de amor tão imaginados
como a vida que pretendo.
Não sei o que acho em mim
naquilo que sempre me foge.
Convivo exemplarmente com a tranquilidade
que pouco a pouco vou bebendo.
Tanto é o difícil que me assalta
e tão pouco o que tenho nesta falida falta.
E celebro esta vitória com longos traços de whisky.
Já falei comigo
e de mim só espero
uma convicção eficaz.
Deixarei para a manhã seguinte
a certeza de que desta vez não falhei.


2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

PULITICAMENTE FALANDO…

Confesso!

Sou eu o fodamentalista da classe otária.

2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

SEXY LADY

Reviras os olhos
& logo penso que és estrábica.
Perdoa-me
o
defeito.
Mas,
eu nem tento compreender
o teu mau gosto.



2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

SÓ GOSTO ASSIM

Há gente que escreve num modo tão difícil, que nem as vírgulas eu compreendo.
Sou um simples analfabeto com uma profícua e contínua vontade de os mandar à merda.
Sou tão sonhador que não tenho medo da minha improvisação.
Só gosto assim.



2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

TÍNHAMOS GRANDES CONVERSAS!

O que pensas que me podes dizer?

Que ainda vamos a tempo de mudar afinal aquilo que não fizemos no tempo certo.
Dos ideais que conspurcamos porque era cedo para agir na altura devida.
Congratular-nos pelos constantes falhanços adormecidos com bebedeiras de maturidade fingida.
Porque não falarmos de tomates enlatados em manuais que mentiam tanto como a nossa covardia?

O que pensas que há para desculpar?

Querer dar cabo de ti só foi um desejo inacabado e isso agora já não me dói todas as noites.
Fui temperando esta resignação tingindo-a numa novena em que nem eu era um digno destinatário.

O que pensas que me podes mentir?

Vingámos a nossa ousadia nos encontros semanais num delírio borrado nos campos de painting ball.
Estou cansado de escrever com esperma.

O que mais poderemos falar?

Desenhar pontos de fuga nestas pontes que fazem a distância cada vez maior. Ou simplesmente reciclar num depósito camarário, um desperdício misturado levado por um anónimo camião com uma grua adequada à nossa tarifa social.

E depois o que nos falta dizer?

Os dias nem sempre nos aprovaram. Muitas horas foram gastas depressa demais e assim nos fugiu a importância que tanto mentimos nos anos que esvaziámos.

E depois?

Contemplar o sol com óculos de marca tão fingida como o céu que nos ignora.

Estamos a falar de quê?

Da nossa inutilidade. Tão imprópria como o mísero número da factura da nossa concordância.

Estamos longe para quê?

Voltamos sempre à meta da partida. Mais imóveis do que pedras, nunca alcançámos o primeiro passo.

E o que nos falta?

A liberdade de um tiro.
Mas a nossa vontade é somente um acto de contrição.
E alguém continuará a proclamar imbecilidades como esta : qualquer rendinha fica-nos bem.

Porque não falamos?

A vida rouba-nos tanto tempo. Faz-nos contas às avessas, que por vezes só um bom momento nos dá o alento para apagar os dias errados.

Tenho saudades dos meus amigos que partiram!
Tínhamos grandes conversas!





2016,10aNTÓNIODEmIRANDA



O Senhor Miguel Martins dirige-se aos humanos. Obrigado. Como gosto desta escrita!

 

 

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

# 4,45 pm

Amigo:
Quando tu dizes que sou o maior do mundo
só poderei responder que perante tanta amizade,
Ele ainda não nos merece.
Poderíamos falar com palavras para o ar
Que é assim que os poetas escrevem.
Nada nos paga.
Ao menos respeitassem esta ousadia.
Já não quero o vosso tempo,
Aquele que esculpe a dúvida
Num lamento cerâmico onde brotam palavras
que já não ouvis.
Semblantes turvados em tons nada subtis
e o sargaço do vosso olhar
Molhado naquele chão desamparado
que só lhes tingia os atropelos.
De tão perto e ferido
Entre lençóis de um azul fingido
Onde se fere o desejo
Esperando ondas de sossego
Para uma vida lavrada no sal
Do nosso esconso choro.


2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

O ÚNICO CAMINHO

Tinhas na boca o amargo
com o mais acre-doce sabor
da amor(a) ressequida.
Eram as tardes apressadas
que discutiam entre si a nossa entrega,
enquanto mãos que já não eram as nossas,
tocavam peles também ausentes.
Meu amor não sei em que barco fingiste
que a nossa ausência era coisa passageira.
É certo que existem faróis perdidos
por não os termos avisado do nosso naufrágio.
Vais para longe porque não me conheces.
E esse é o único caminho
que me trás o teu encontro.



2016,09aNTÓNIODEmIRANDA


O TEMPO SEGUE PENEIRANDO

Aqui nesta aldeia sofrida
bordo a ferida num quintal plantado de lápides
com nomes que já conheci....
Desço a tua calçada,
manha por mim inventada
onde acordo todos os relógios
que mentirosamente me entregaste.
Sou a tua única ruína compendiada
numa arqueologia que nunca nos salvará.
Apoio esta dúvida nos corredores do metro
com saudades dos velhos cegos
tocadores de acordeão.
O que é feito daquilo que me pertence?
Não posso pintar-te num azulejo
porque quem te tocasse
nunca iria aceitar os teus abraços.
Deixa-me ficar assim.
A despedir-me com cardápios
de línguas estrangeiras
que tornam confusas as coordenadas
do voo das almas distraídas.
Submeto-me a uma noção fora do contexto
aguardando serenamente a não normalização
do que de mim
o tempo segue peneirando.



2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 11 de outubro de 2016

SEC`ADEGAS ON TOUR 2016_OUT_7, 8 e 9 (Tó Zé Salomão | Tomás Miranda | aNTÓNIODEmIRANDA | Luis Bento

Boa comida na casa da Senhora Fátima , da Benilde e do grande amigo Abílio, em S. Geraldo. Um especial obrigado ao Jose Gomes da Costa ( fotógrafo e motorista privativo dos SEC`ADEGAS)







 












 

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

BLUES PARA 6ª FEIRA À NOITE

Tudo mais do que o mundo, foi o que me prometi enquanto todas as tardes eram passadas em buracos.
Desci tantas ruas às cambalhotas trauteando “I`m a rolling stone”.
Perdia-me assim do olhar das pessoas e salvava a pele com esta minha alma.
Tinha estampado nos olhos um sorriso indiferente enquanto pensava no “leave me alone”.
Cuidava de mim assim nesta “Worried life”.
Pisava esta encruzilhada, embrulhado no “crossroads” cantada por um velho amigo preto. E quando chegava à realidade não faltava nunca a lembrança do “ I got the key to the highway”.
Ficava calmo desejando um amanhã mais depressa.
A minha mãe dizia que era uma música muito triste enquanto me penteava uma cabeleira com mais de quatro anos.
Continuei a prometer-me muito mais.
E este mundo já não cabia em mim.
Mas era sempre o mesmo acordar e eu fazia disto um desafio à minha medida.
“Dark clouds rollin`” nunca foi uma preocupação importante.
“I`m a king bee” acompanhava-me no primeiro cigarro da manhã.
E chegava à hora habitual, à secretária do costume com um autógrafo personalizado desodorizando no escritório “I can`t get no satisfaction”.
Era uma pedra rolante ainda não tendo provado o amargo sabor do “Love in vain”.
Da janela chegava-me um convite que me acendia o dia: “Born to be wild”.
Saía com toda a pressa inventando desculpas porque estava à minha espera um jamaicano um tal de Jimmy Cliff com a tal promessa do “Wild world”.
Todos a bordo! “That`s Alright”
Eu sou o vosso “hootchie coochie man”.
Blues! Apanhei este vício e escondi-o para sempre nas minhas veias.
“I`m in the mood” ! “I`m ready” !
“Blow wind blow. Blow back my baby to me”.



2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

O Senhor António Guterres.

Nunca caberei em pátrias.
Mas às vezes Portugal orgulha-me.

,2016out,aNTÓNIODEmIRANDA


Está quase...


A minha banda preferida!


sábado, 1 de outubro de 2016

Apresentação do livro "Ferido" de M. Parissy (Edit. Volta d`mar) BARABARRACA C/ MIGUEL MARTINS

Miguel Martins | André e Mário Parissy


Rui Godinho | Miguel Martins | M. Parissy | António de Castro Caeiro e Tozé Salomão 


Miguel Martins | M. Parissy | AM | Tomás Miranda | Tozé Salomão e António de Castro Caeiro

SEC`ADEGAS. 29Setembro2016

Planos para o futuro. Discutidos em Las Vergas num restaurante tipicamente português. Brevemente daremos notícias da nossa digressão por Vila Chã | S. Geraldo | Barras | Póvoa de Midões e possívelmente Várzea.