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domingo, 31 de julho de 2022

A NÃO PERDER! HOJE! EXPOSIÇÃO E VENDA DE BICICLETAS NÃO USADAS. TAMBÉM DISPONÍVEL A CABIDELA DO COSTUME!

 







ALMOÇO

 


Nina Simone Save Me

FELLINI VIVIA FELIZ!

Enquanto descalcei as botas
um barco roubou-me os cordões
com medo de ser atracado. ...
Depois veio uma onda revoltada
que leu num jornal mentiroso uma notícia atrasada.
O marujo acima e abaixo do seu mastro sujo
fingia que via o tejo ocupado.
Chamaram a rota,
desenharam o comandante
e no lastro do navio já perdido
um leme ferido
abandonava um grito onde se ouvia:
Voglio una donna.
Fellini vivia feliz!
Na sua "Cidade das Mulheres"
a "Julieta dos Espíritos",
tinha sempre um 8 ½ para o mimar.


,2016,03aNTÓNIODEmIRANDA






PELE GRAFITADA

 
O último comboio vai rasgando o tempo da espera. 
Temos um pacto lisonjeiro, 
possivelmente a única testemunha da despedida. 
Ambos sabemos que ninguém aparecerá para libertar a dor. 
Vozes deitadas ao abandono, 
grafitam na pele a réstia da inútil esperança. 

Nenhum lugar para abrigar a fuga.
 
Um sorriso idiota aplaude o aconchego 
da solidão desta coragem traída. 
Onde andas? 
Talvez desta vez, 
finalmente não chegue o tempo de encontrar 
o abraço que tinha escrito um nome 
parecido com o nosso malogro.

A vida é o único lugar que não engana a morte. 

O que farei de mim sem as nossas mentiras? 


,2022Jun_aNTÓNIODEmIRANDA




sábado, 30 de julho de 2022

CULTURA?

CULTURA?
.
.
 

Isso já foi chão
que deu egos


2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA

 

CREIO

Acredito na salvação. Não na minha, pois não tenho interesse nisso. Creio em tudo o que não me perturbe, em certas bondades infectadas nos cabides que amparam a cerca das felicidades vindouras. Nas ideias inúteis deitadas ao abandono. Em solidões choradas nas "bag in box" 5Lts, com origem nas regiões das carícias nunca encontradas. Creio nos lugares que enganam certos passos, na bíblia sagrada escrita pelos pastores da noite, que ainda esperam núpcias prometidas, no não sentido das coisas verdadeiramente importantes, na redundância das hipóteses não concordantes, e no vazio que não queima o significado dos instantes atrevidos. Acredito no ouro que marca a pele, no sorriso sem palestra e nas intenções não pacíficas. Creio algumas vezes em mim, claro está, nem sempre até ao fim. Creio na tolerância da intolerância, na alquimia, nunca em demasia, e sobretudo em qualquer perspectiva anacrónica que não infecte excessivamente a minha cronologia.

2018Jun_aNTÓNIODEmIRANDA

MAX (Maximiano de Sousa) "Imita Vários Instrumentos" ESPECTACULAR!!!

Max A mula da cooperativa

John Lee Hooker, Eric Clapton and The Rolling Stones: "Boogie Chillen'" ...

Pulp Fiction - Dance Scene (HQ)

La scena più bella della storia del cinema.

The Shadows ~ Apache

Manu Chao - Me Gustas Tu (Official Audio)

Rolling Stones feat. Angus & Malcolm - Rock Me Baby

quarta-feira, 27 de julho de 2022

TV BANAL

 


Assim me despeço renovando os votos de uma digna putrefacção 

Escusado será dizer
Que é um prazer
A companhia com que continuam a distinguir-me 

Um Bem-Haja pela vossa incineração


,2022Jul_aNTÓNIODEmIRANDA

BEAT& BLUES

 





Gosto deste gajo!



 

Que Porra! Lá se foi a cabidela...



UCI suspende W52-FC Porto

 A BOLA apurou que a UCI (União de Ciclismo Internacional), entidade que rege o ciclismo mundial, decidiu suspender a W52-FC Porto, na sequência da suspensão de oito ciclistas e dois mecânicos por práticas dopantes. 
Desta forma, a equipa não poderá participar na 83.ª edição da Volta a Portugal, que começa a 4 de agosto, sendo que a comunicação será feita durante o dia desta quarta-feira à Federação Portuguesa de Ciclismo, à equipa em causa e à Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP).

NO TEU CÉU NÃO ENCONTRO ASSENTO


-
Eu,
que nem o mais ínfimo lugar
ocupo

-

Já não posso levar-te,
disse a nuvem do anjo caído
-

Perdi o tempo da espera.
Já só sonho penas sem fim,
amarrotadas num pulsar bafiento.
Só me resta o chiar do voo do corvacho,
neste rastejar para um destino 
que não me compete.



,2020Julho_aNTÓNIODEmIRANDA

ESPERO OUTRAS VOZES


Não compreendo a urgência deste silêncio, 
que insiste em sentar-me na cadeira 
dos soluços. Não quero saber da ternura 
que empresta ao entardecer, um sufoco 
envolto em lençóis da mais astuta 
crueldade. 

Desligo as importâncias traídas, cumprimento lábios imaginários pintados em tons de papoilas mentirosas. Não consigo passar para o que de mim irá vir. Derreto-me em fingidas convicções, numa aliança que nunca coube no meu pensamento. 

Espero outras vozes,
um suave arfar de passos
que não magoem
os sons
que
desejo
ouvir.



2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 24 de julho de 2022

Where Did You Sleep Last Night?

Robert Johnson - Love In Vain - High Quality

Grand Funk Railroad - Heartbreaker

Talking Heads - Heaven - 1984 - (HQ - 1080p)

Thin Lizzy Whiskey In The Jar official music video

41 (24.07.1981 * 24.07.2022)

 


Pichardo é campeão do mundo

 


Pedro Pablo Pichardo sagrou-se, na última noite, campeão do mundo do triplo salto, ao registar 17,95 metros na prova inserida nos Mundiais de atletismo que terminam este domingo em Eugene, nos Estados Unidos.

sábado, 23 de julho de 2022

CRÓNICAS E MELIDES (9)

 

Parto em desvantagem. Que raio de glória me havia de calhar. Ouvi-lo dizer que está a ficar com os lábios colados de nunca ter ninguém para falar. Quando apanha alguém, tenta a desforra de tanta ausência, e passa-lhe ao lado a preocupação, noutros tempos acanhamento, de qualquer estrangeiro não entender o seu passado de bom trabalhador de língua. Diz, com o orgulho mais verdadeiro, que ainda não sabe porque as pessoas gostam dele. Era muita responsabilidade, mas aguentei a bucha. Olha, (sinto o toque dos seus olhos), tudo se passou. São agora fragmentos de muitas histórias, que fui ouvindo ao longo de 32 anos.Estou a ver um velho armário cheio de novelos. O cavalo, a lavra do arroz, o jogo das cartas, a "buida" com o seu grande amigo Toino Domingos, a "irmindade" da qual  é o único vivo, a falta de nomes para chamar, o peditório feito lá pelos montes, para a festa de Melides … Ai vida, vida. O que é que se pode fazer? Não queiras saber. Chiça! Já me esquecia disto! Saboreia mais um trago do tinto que faço prazer em lhe oferecer. Se calhar, já te contei isto, mas se calhar também não te lembras. Ajudo-o discretamente a levantar-se. Com um humor envelhecido há 93 anos em cascos de autenticidade, diz-me, nunca em jeito de despedida: vou ter com o meu companheiro do sono. Ele não adormece sem eu chegar.


2015melidesaNTÓNIOdemIRANDA



CRÓNICAS E MELIDES (10)

Estava sentado na esplanada. As melgas não me incomodavam. 
Um whisky e o mar como horizonte. 
Chegou á minha mesa, e com um olá abusivamente espanholado, perguntou se podia sentar-se. Pensei, isto não está a começar da melhor maneira. Disse que sim. Vou beber um viño. Encolhi os ombros. Isto é fantástico! Aqui vivo com um euro por dia. Pedi mais um whisky, ele mais um viño. Bebi 5 whiskies e o jimgromé outros tantos viños. Conversa de trampa. Pedi a minha conta. Paguei. Ele admirado, então não pagas os meus viños? Respondi-lhe com vontade de lhe mijar para os pés: ninguém da minha tribo vive com 1 euro por dia.
No caminho, lembro-me de pensar: há sempre um monte de merda que espera por nós…




2015melidesaNTÓNIOdemIRANDA

sexta-feira, 22 de julho de 2022

1977*Festival Internacional de Jazz * Espinho (estive lá)








 

NÃO TENHO A SABEDORIA DO FAQUIR

 

Vivo na minha cabeça
O sítio onde passo todo o 
Tempo
Deixo-me estar
Neste lavar de pensamentos
Escritos num destino que não
Conheço
Aconchego poemas
Em doentias importações de
Optimismo
Tento fugir 
Do caminho dos espelhos 
Quebrados
Não tenho a sabedoria do
Faquir

,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA

BEBER QUALQUER COISA ÚTIL À MINHA DIGNIDADE

 

Navegamos nos tempos difíceis.
Mais uma noite para chorar.
Mais um lençol manchado por perguntas 
erradas. 
Um brilho de nódoas ilumina a esperança 
espalhada no desdém da vida. 
Não há cura para este remédio, 
nem maleita que dignifique 
saúdes defeituosas. 
Quem poderá esperar-me 
na esquina dos pecados viciados?
Estou cansado desta afronta entediada. 
Acendo a teia da escuridão, 
ajoelhado no chão que não acredita no meu nojo. 
Virado para mim mesmo, 
deslizo-me no contrário do que sou. 
Manobro no catavento 
a procura do negro carinhoso.
A quem entregar 
este envelope travestido de ousadias?


,2021Julho_aNTÓNIODEmIRANDA


quarta-feira, 20 de julho de 2022

PEIXES ENRAIVECIDOS AFOGAM-SE NA SALIVA

 

Quando a memória cabe no buraco da tua algibeira, 
quando a hipocrisia que te respeita não passa de uma farsa copiosamente encenada, 
quando o caminho que te ilumina voltou para écran da televisão, 
o futuro que tatuaste, 
é apenas um código de barras apressadamente apresentado nas cerimónias que despem o teu respeito.
Pensa bem! 
Nada lhes deves.
Ou, 
pensando melhor, 
um molotov de cortesia 
para demonstrar a simpatia para com aqueles 
que tanto estimas.
Não hesites na hora.
Mata-os agora!
Lembra-te que diziam que tinham comprado o céu.
 Não te preocupes. 
Alguém já lavou as mãos por ti, 
através de uma sinergia conventual. 
Falar-te-ão do prazer que tiveram quando apareceste, 
enquanto rogam para que esqueças o seu nome. 
Todo o covarde é um criminoso.
Não passas de um cão raivoso.
Fica-te bem esse fato de cetim, 
embrulhado na borboleta da clemência.
Nunca é tarde para detestar memórias estúpidas.

,2021Julho_aNTÓNIODEmIRANDA

ERNESTO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!_ Praia de Melides

Praia de Melides_Jul2017

SINA

 Tinha na mala a solidão 
que enchia o gira-discos,
e uma cassete
rebobinava 
o tempo que perdia
quando soluçava
ausências.
E nos horários
da estação dos comboios,
pensava que estava escrita
a sua sina.
A agulha dos carris,
por vezes oferecia-lhe
desvios generosos.

2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 17 de julho de 2022

CONVITE IRRECUSÁVEL

 

Em princípio não deverei poder ir 

Mas se for 

Lá estarei




,2022Jul_aNTÓNIODEmIRANDA


NUNCA HOUVE UM ACORDO JUSTO!

 Venero-te, terra sagrada mãe natureza, que me confortas no abraço com que beijo o galope do teu amor. Lugar de todos os ossos, dos velhos que me ensinaram a estimar o teu respeito. Terra solene, agasalhada na pele do búfalo que só matava com a tua bênção. Nunca quis mais do que aquilo que a minha fome precisava. Guardo no corpo o cair das folhas para te forrar a bondade, e a canção de Wounded Knee, que nos trazia o sussurro da lua. Amo-te velha essência, mas o meu sonho foi queimado, quando apareceram as nuvens negras, trazidas pelos casacas azuis com estrelas expulsas do céu, e promessas escritas nas palavras enganosas, que tanto nos mataram. Não fomos nós que te sangrámos. Cravaram-nos na pele a ganância que te assassinou. Não culpes a nossa inocência. Abraço-te com um hálito amargurado, tu que me deste o olhar, dona deste meu sangue atropelado, para saudar a tua ternura. Terra amada, que me pariste neste pôr-do-sol, em que tento dizer que te amo. Sou apenas uma memória. Toco-te sempre que vivo, e o teu sopro que sempre me acompanha, leva-me para o bosque onde se ouvem as vozes que me ensinaram a escrever. O terra minha, porque me fazes sentir que não te mereço? Dou-te o meu eterno repouso, e desenho numa nuvem dourada a tua lembrança. Porque só quero apagar as nódoas que te feriram. Falo-te neste hoje perpétuo, que só pode oferecer um desgosto latente, chorado no calendário da absolvição não possível. Não sou digno da tua sabedoria, e por ti vou morrendo nesta cirrose de gestos despedidos, mostrados na banca da feira de todos-os-dias, enfeados por serpentes que exibem nas matrículas, o site da reserva exposto na prateleira do corredor da vergonha da América que tu tanto amaste. 
É este o inferno que te legaram, semente apodrecida de toda a sinceridade, maldade que te entregaram a todo o momento, nos tratados selados pela ruindade. 
Não ouço o teu silêncio, não sinto o teu cheiro, e envergonha-me o olhar desconfiado do alce que foge de mim. Estou só, nesta sombra outrora amistosa, onde costumava sorrir para o voo da águia, que pintava no céu, palavras de esperança. Lembro-me dos trovões e dos cânticos espalhados, que faziam crescer crianças felizes. Peço-te perdão, mesmo com a dignidade ferida, perante este totem que tanto me abençoou. Morri com o teu assassinato. Tarde demais soube que as intenções deles, nunca foram pacíficas. Não viveremos de novo o regaço suave do ribeiro, o som das pedras rolantes, a quietude que tu imanavas.
Lamentam fingidamente a tua dor, numa realidade cozinhada em filmes com Índios a fingir.
A tua história está escrita com sangue, nas bibliotecas deste país que nunca se cansou de te roubar.
Nunca houve um acordo justo!



,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA


O POETA

 

Há muito

Que estava a ser

Invejado.

Apresentava

Assiduamente

Sinais 

Exteriores

De 

Rara

Beleza

,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA

O SEU ÚLTIMO POEMA


Não é a ferida que me arde
Nem o golpe que me consome.
A memória
É uma lâmina com um tricotar absurdo
Que tudo absorve.
Ronrona um poema não audível
Que atinge a raiz da alma
Que nos abandona.
Deixa um sabor sempre estranho
E um badalar sinuoso
Por onde ecoam as horas.
Um gato atravessa a estrada.
Miar namoradeiro
E dança na sua noite
Olhares em câmara lenta
Para mais tarde serem filmados.
Naquele sítio,
Onde as estrelas perderam a lua
Escondem-se nos ramos do céu
Nuvens da sabedoria
Nunca escrita nos livros.
Pássaros vadios
Aguardam pacientemente
A leitura do poeta.
Sempre atrasado.
É assim que ele acontece.
Chora na alma
O seu último poema.

2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Senhor Arsénio (1922-2016)



Perdi um amigo! Mais um caminho que vou percorrer sozinho.
Despedimo-nos com um beijo abraçado no dia 2 de Agosto do ano passado.
Há memórias que me irritam. Percorrem momentos feridos e apanham-me sempre na curva onde eu não dou por elas. Deveria de haver dores interditas à minha disposição.




CRÓNICAS DE MELIDES (2)
SINAIS DO FIM (poema para o Senhor Arsénio)




As estrelas dormem na velha palmeira
Cuidando do meu velho amigo
ARSÉNIO (1922).
Agora que nomes
Posso eu ouvir?
Ai vida, vida
Ouço-o falar
Com os olhos molhados.
Então diz-me
Para eu acreditar
Que tem sempre lágrimas
Dentro deles.
Algo me faz sentir
O começo da saudade.
Deixaram-me sozinho!
Agora
Que nomes tenho eu
Para chamar?



Melides2014

aNTÓNIODEmIRANDA

CRÓNICAS E MELIDES (7) CANÇÃO TRISTE: ALZHEIMER_D. FRANCISCA



Fala agora com outros anjos, ouve outras músicas, mas não tinha de ser desta maneira. Que palavras poderá entender? Que aplausos escutará? Pisamos o cume da montanha sem agarrar a flor há tanto tempo plantada. É a mentira mais vil, a verdade mais enganada. Faz-nos tanto doer, tanto tanto, que o sofrer não chega a nada. A vida é para morrer. Não passa de um lugar, onde costumávamos estar. Pagamos-la com amor e sangue e enchemos-la com caixas de poesia. Os patos da lagoa, ao fim do dia, no seu voo, escrevem no céu alguns dos seus versos. Não me importo que não se lembre do meu nome. Gosto de si de todas as maneiras. Solitário numa paz que me entristece, recordo agora, o jardim das três palmeiras.
Magoa tanto este tempo, que no acabar dos outros, nos faz sentir a chegada do nosso fim.

_2015aNTÓNIODEmIRANDA

CRÓNICAS E MELIDES (8)


Quantas vezes terei calcado este caminho? Muitas de muitas! De todas as formas e maneiras. Bastantes delas com uma acentuada carga etílica. Muitas conversas que engrandeciam o caminho de volta a casa. Fui, então muita coisa: lembranças, confidências, diálogos comigo próprio (não confundir com os aborrecidos monólogos), planos para um qualquer futuro ornamentados com desejos que abraçavam calorosamente o tamanho do mundo idealizado. Quantas canções toquei para um público que era só eu? Quantos poemas não ficaram no papel, pelo simples facto de tanta cumplicidade não poder ser escrita? Arranhões na pele, e tanto cambaleio amparado por arbustos sempre prontos a ajudar o próximo. Quantas estrelas invejei? Eu e este caminho, mantemos uma longa conversa, que ambos sabemos nunca será terminada.

,2015Melides_aNTÓNIOdemIRANDA

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Ontem! Gostamos Muito!







 

PERDI AS CARTAS DESTE JOGO

 

Despi as rainhas
Encornei os reis
Fodi as damas
Despedi os valetes
E
Subornei os jokers

Beijei convenientemente  
o lado errado da sorte

Acordei na cela dos
sonhos proibidos


,2021Julho_aNTÓNIODEmIRANDA
Vila Chã

terça-feira, 12 de julho de 2022

O ÚLTIMO MOMENTO

 

Pensei que gostava de ti. 

Fumei nos teus olhos a viagem que prometia 

lençóis de poesia. 

Depois partiste embrulhada no guardanapo da 

tristeza. 

(vendi a alegria em desconfiados cotonetes de 

angústia)


,2022Jul_aNTÓNIODEmIRANDA


LUTAR PELO CÉU NAS ASAS DESTE VOO MENTIROSO

 

Não me interessa se alguma memória deixarei. 
Tento não desiludir o convite para a viagem 
que o nascer me entregou. 
Revejo-me nos abraços da solidão ancorada 
com suaves beijos de tolerância. 
Velho agora, 
(como me mira o espelho enrugado), 
embeveço neste odor de hortelãs taradas, 
estendo-me num colchão de chá, 
esperando o fingir de um qualquer adormecer. 
Continuo a morrer sempre que não importa a maneira como acordo. 
Calçar a esperança ainda é um exercício que não me mente. 
Mas as horas deste relógio são mais atrevidas que o tempo que desejo. 
Então enleio-me neste poço de mentiras  
que não consigo rasgar.



,2022Jul_aNTÓNIODEmIRANDA

& ELE FALOU:

 

Quando chegares ao céu

Lá terei de deixar de fingir 

Que 

Fui 

Misericordioso



,2022Jul_aNTÓNIODEmIRANDA

ESTOU CANSADO DE SEGURAR A ESPADA DA GLÓRIA

 


Magoa esta caneta, amparo de todos os choros, dos acordes sinuosos lambidos na dor da escala insensível.
 
O som chicoteia os assobios do vento 
e fustiga a capa que pintava a indiferença.
 
Há agora o brilho vestido de lâminas 
que oferecem acordes afáveis.
 
Teimam ainda em querer que repare 
erros que não cometi.

Agora, sei que posso começar a estrangular todas as promessas hipócritas.

Quantos sonhos terei de atraiçoar 
para matar a lisonja que me entregam?

Quantas mentiras terei ainda de vestir 
para fingir que o chicote esfregado na vossa pele, também sangra na minha indignação?

Enganaram-se na conveniência do futuro que não me dizia respeito.

É sempre tarde para aceitar desculpas na feira dos soluços. 

Continuo entristecido neste cocktail de esperas caducas.



,2022Jun_aNTÓNIODEmIRANDA

FLORESTA DOS MURMÚRIOS

 

Viver

Também

Dói


,2022Jun_aNTÓNIODEmIRANDA

O DESCONHECIMENTO DO MEU NADA

 Finalmente a amizade do tempo 
Vai fintando o seu passar


Quando dizes que tudo 

Queres 

Aumentas o desconhecimento 

Do
 
Meu
 
Nada


,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 11 de julho de 2022

SEPULCRO MAFIOSO

 

Não me convidem para entrar no meu caixão. 
Ainda estou ebriamente sóbrio. 
Empenhei atempadamente o bolso que guardava a bomba, cientificamente programada para explodir no primeiro momento da vossa consternação. 
Estou sentado na varanda, charuto na boca, ócio de reformado, a coordenar a confusão das estrelas. 
Entregam-me notícias que pensei ler. 
Esta mania de muitos de quem eu gosto, partirem antes de mim, poderá parecer mórbido, mas no fundo, causa inveja. 
No cartão de cidadão, está indicada a verdadeira certeza: 
já tens idade para aguentar as possibilidades mais punitivas: 
a morte nunca deixará de ser um estranho lugar para viver. 
Há um amante nesta história, uma verdade prisioneira clamando a nossa liberdade. 
Abrimos a fronteira dos muros escuros, com lamentações chacoteadas no sepulcro mafioso, sem lugar para dizer adeus. 
Nada poderá acender a luz daquilo que já partiu. 
A traição recomeçará.
 

,2020mai_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 7 de julho de 2022

NEGATIVO...

 
 
NEGATIVO...

Estou na penumbra.
O negativo é o que agora está na minha frente.
Sinto o bafo cinzento da sua pele arrastando a minha sombra.
Agora somos dois:
Ele
E uma radiografia com manchas de angústia.
Nada mais há para queimar.
Dois contra um!
(Sempre soube que esta é uma conta desigual).
Não chega o que tenho.
Bastava aquilo que continua a faltar-me.
 
aNTÓNIODEmIRANDA

#FundaçãoBenfica — em Alfandega do Porto. JORGE MIRANDA

 


Recebemos ontem, durante o evento de Kick-Off da Liga de Futebol Profissional, o Prémio de Mérito da Fundação do Futebol relativo ao trabalho desenvolvido na época passada!

Obrigada a todos os que caminham ao nosso lado e que nos ajudam a fazer a diferença!


06/07/2019_lançamento do livro. # pequeno roteiro cego# Levi Comdinho_ edit. Abysmo * A favola da Medusa. Fotos de Marta Lapa





Tomás Miranda | aNTÓNIODEmIRANDA | José Anjos | Miguel Martins



sábado, 2 de julho de 2022

MAS EU NÃO PRECISO DE BONDADE * Gregory Corso # in Gasolina# editora Barco Bêbado

 

Conheci as estranhas enfermeiras da Bondade,
Vi-as beijar os doentes, cuidar dos velhos,
Dar doces aos loucos!
Vi-as, em noites obscuras e tristes,
A empurrar cadeiras de rodas junto ao mar!
Conheci os gordos pontífices da Bondade,
A velhinha grisalha,
o padre da vizinhança,
o poeta famoso,
a mãe,
conheci-os todos!
Vi-os, em noites obscuras e tristes,
a colar cartazes de piedade
nos desolados postes do desespero.

2

Conheci a Toda-Poderosa Bondade em pessoa!
Sentei-me nos pés d`Ela, puros e brancos,
ganhei a confiança d`Ela!
De nada maldoso falámos,
mas uma noite atormentaram-me aquelas estranhas enfermeiras,
aqueles gordos pontífices
A velhinha passou-me com um carro de picos por cima da cabeça!
O padre abriu-me a barriga ao meio, pôs as suas mãos em mim
e gritou:- Onde está a tua alma? Onde está a tua alma?-
O poeta famoso pegou em mim
e atirou-me pela janela fora!
A mãe abandonou-me!
Corri para a Bondade, irrompi pelos Seus aposentos,
e profanei!
com uma faca inominável fiz-Lhe um milhar de feridas,
e maculei-as de imundice!
Levei-A dali nas costas, como um demónio!
pela calçada nocturna abaixo!
Cães uivavam! Gatos fugiam! Todas as janelas fechadas!
 Levei-A por dez lanços de escada!
Deixei-A no chão do meu quarto acanhado
e ajoelhado ao lado d`Ela, chorei. Chorei. 

3

Mas o que é a Bondade? Eu matei a d`Ela,
mas o que é ela?
É-se bondoso porque se leva uma vida gentil.
S. Francisco era bondoso.
O senhorio é bondoso.
Uma bengala é bondosa.
Posso dizer que as pessoas sentadas em parques são mais bondosas? 

Mas Porque É Que Não Morres?! de Kirill Sokolov * Ontem na RTP2




 

& O FUTURO FOI PARA A PUTA QUE O PARIU

 

*Luz seca corta o céu em bocados de desespero*

* Fugir sem sair*

*Morrer abraçado a um grito* 

*Chorar numa cama de sombras vadias* *Humedecer a tristeza* 

*Acordar a espera* 

*Distrair a angústia* 

*Agarrar a fisga* 

*Rezar o último segundo* 

*Queimar o prazo da validade* 

*Regar ausências* 

*Explodir frequentemente* 

*Enraivecer* 

*Conferir*

*Suturar esperanças*

*Despoletar por aí*



,2022Jun_aNTÓNIODEmIRANDA


sexta-feira, 1 de julho de 2022

PRAÇA MARQUÊS DE POMBAL – PARAGEM DO AUTOCARRO 748

 

Foge o tempo alourando chocalhos, sacudindo memórias no triste oásis das ideias feridas. 
Sou um mártir desocupado esculpido em culpas inúteis, vagarosamente arrependidas neste concurso de sóis encardidos. 
Carrego aos ombros uma misericórdia banal. 
Dei 1 € a alguém que nunca tinha visto. 
(Falou de um sem-abrigo, que depois de tantas horas a pedir, foi a primeira, a moeda que lhe entreguei). 
Educadamente mencionou uma qualquer sabedoria. 
Retorqui com a palavra respeito.
PRAÇA MARQUÊS DE POMBAL 
– PARAGEM DO AUTOCARRO 748
Claro que olhamos um para o outro. 
Mesmo assim, não aclaramos a distância.
Ela pegou num pequeno caderno e desenhou as ideias que a cabeça queria que pintasse. 
Tentei, mas não consegui disfarçar a curiosidade. 
A elegância do seu caminhar, (assim como um voo de pássaro ferido), esboçava o bailado do anjo da desolação que espalhava as mais tristes lágrimas de um qualquer desgosto. 
Ali estava eu. 
Perfume de merda aconchegado ao rosto, a puta da esperança matinal para o dia perfeito, as desculpas formatadas para o falhanço do costume. 126 m2 + garagem, contas do condomínio em dia, seguros atempadamente pagos, 74 camisas+32 pólos+8 fatos com gravatas a condizer + champô contra a caspa, sabonetes certificados. 
Não quero falar das angústias auto conformistas. 
Sei o nojo que sou, mas o pior é que domino a batota que o indulta.
PRAÇA MARQUÊS DE POMBAL 
– PARAGEM DO AUTOCARRO 748
HORAS:16,52
Ela, por fim, olhou.
Desta vez a minha trapaça envergonhou – me.
Quando cheguei a casa, 
reguei a consciência na máquina de ignorar silêncios que já não conseguem chorar.



,2022Jun_aNTÓNIODEmIRANDA


ESTOU PRONTO

Não estou para gastar a vida observando os medos a crescer. Nunca nada comprou a beleza do tempo que me abandona. Deitado num baú de suposições, o cansaço oferece-me uma forma de envelhecer, ostentando o monstro da mentira, que diz que estou na mesma.  Continuo a nada perceber da preocupação alicerçada na incoerência. Portanto, não respeito a indignação, como salada de percalços, marinada num molho de lágrimas naufragadas num horizonte enferrujado. Para isto, estou sempre pronto. Permanentemente atento para sair dos planos da glória. Continuo a esconder as lâminas que cortejam a pele. Quero queimar as acendalhas da esperança inútil, e, esfaquear as armadilhas, que um dealer sem direitos de autor, tenta vender. Trafiquei o incenso da espera, que prometia o melhor caminho de desespero. Admiro os sangues oferecidos, embora esteja sempre longe do lugar que pensava me pertencia. Não passa de um vomitado, a certeza que tenta iludir-me. Tenho no ousar, um delírio nunca acabado, um destino pré-comprado para a pousada dos beijos não magoados. Morro muitas vezes num silêncio casto, enquanto a noite me oferece um vagar abençoado, para não atrapalhar a troca dos presentes. Não consigo correr mais do que este abandono, que me ilude com a oferta perfeita, tocada no tambor da pele quebrada sem artifícios para trocar. 

Os meus heróis não passam de fantasmas. 
Estou pronto para o último carimbo no passaporte. 


2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA