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quarta-feira, 1 de maio de 2024

Já passaram 7 anos! Obrigado, Graça Lopes e Michel.

 


“NA TRISTEZA, O TEMPO ANDA DEVAGAR” # CÃES MAUS NÃO DANÇAM# Arturo Pérez-Reverte

 


Vou ali e não sei se volto.
Tenho de pintar as lágrimas do céu.
Estou tranquilo. 
Aplaudo o sangrar dos dias 
para o funil dos sonhos 
que já não lambem as feridas
Mas, não te preocupes. 
É o momento para cuidar da minha sombra.
Estou tranquilo. 
A incendiar ideias.
As nuvens passam
e beijam as recordações 
com abraços das memórias 
ainda não esquecidas.

    Claro que sim!
            Honrar o contar das horas,
            é uma história que não sei ler.




,2021Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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MAL FEITO O TEMPO PASSADO A CURTIR PENAS

 


Grandes bolas de fogo morreram na minha 
mão. 
Conservo o seu néscio significado 
    neste asco porcamente habitado.
    Guardo na gaveta secreta das solidões,
aquele sorriso que enganava todos os desgostos.
    Deitado no sofá, 
dou corda à lua, 
desatino a vida, 
puxo a culatra para o afinar da guitarra.
            Mal feito o tempo passado a curtir 
penas.






,2021Mar__aNTÓNIODEmIRANDA
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ALMA LUSA

 


No genuflexório desta Pátria
abafo a triste sensação
amarrotada na ilusão
de tentar gostar de ti

                    Alma lusa
                            Que me partiste 
                                        Nunca esperes 
                            Fazer
                                        De mim
                            O teu
                                        Pedinte
                            Exemplar




,2019mai_aNTÓNIODEmIRANDA
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#O DIREITO À PREGUIÇA# Paul Lafargue * È o que me apraz dizer...

 


terça-feira, 30 de abril de 2024

ATÉ AO FIM, PARA QUÊ?

 


Já nada sei de ti
dos sorrisos que perdi
e dos beijos carimbados
na ficção em que te tornaste.
Talvez faltasse a ousadia
para te sonhar diferente um dia
nas janelas cansadas da tua espera.





2016,09aNTÓNIODEmIRANDA
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ATÉ LOGO É A NOSSA MENTIRA HABITUAL

 


A tristeza não tem sabor a deus nem o amor sempre viva a paixão. 
Nesta areia branca onde serenatas escolhem outras lágrimas deixando-nos um oxalá com toda a saudade, 
ofereci-te o coração embrulhado numa carta com as palavras que nunca pensei escrever. 
Entreguei-te o ramalhete do amor perfumado 
e foi tão suave este gesto levado num barco entontecido que agora anda por aí a recolher corações desconsolados. 
Está triste e magoado este coração mata-borrão  
à deriva no mar azedo que me dá tanto medo desta angústia, 
porque só tu tens a chave para dela me esconder.
Até logo é a nossa mentira habitual.





,2016,08aNTÓNIODEmIRANDA
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ATILHO

 


Enlaço-me no saco-cama 
onde uma nuvem que há tanto me procura, 
enrosca o colar 
deslizando no fumo um cair que me entorpece. 
Salgo estes momentos com a flor do mar 
e adorno os desejos que me são possíveis. 
Adoço a xícara deste prazer, 
às vezes com açúcares que não me pertencem. 
Deslizo a cãibra numa ausente solução 
e limpo suores refrigerados 
em tépidos pensamentos.
Não sei fazer estas contas e por isso 
enfio-as num atilho para mais tarde desatar. 
Adormeço com algum cuidado 
para a não dormência dos braços.
A luz vai desaparecendo. 
Estou pronto para mais um filme.








Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 28 de abril de 2024

A CONDIÇÃO DO POETA

 


Andamos para aqui a sarapintar vírgulas num papel qualquer.
Sabes, os poetas não têm uma fama lá muito aconselhável.
Há quem diga que têm na alma um teclado de uma máquina de escrever. 
E não são muito rígidos na escolha das palavras adequadas.
Às vezes pintam imagens estranhas, como se falassem com elas.
Abusam constantemente nas cargas etílicas.
Têm sempre uma pressa urgente.
E lavam pouco os pensamentos.
Enfeitam com um laço as ilusões,
ouvem outras vozes frequentemente
e são geralmente doidos por um par de asas.
São singelos na leitura de cartografias,
aparecem tímidos nas fotografias,
e passam muitas tardes a corrigir epitáfios.
E beatificamente despedem-se com a bênção habitual:
Que deus vos acompanhe,
porque eu já não sei o caminho.
Aqueles, ditos subversivos,
apostam sempre na barata tonta,
e lisonjeiam com desdém matraquilhos curiosos
que vomitam sílabas mal cheirosas.
Os poetas não são assim,
mas também nunca poderiam ser o contrário.
Têm ritmos de alquimia,
e, sentados, tentam colorir outro cenário.
Pensam que falam como as pessoas,
discutem amiúde anatomias sintéticas,
descansam os olhos com atitudes patéticas,
e sorriem como se fizessem parte do mundo.
Cultivam simpatias incompreensíveis,
dão longos passeios envoltos num manto de nevoeiro, chamando alguém em forma de estátua, de Sebastião.
Odeiam parapeitos supersticiosos, 
e escorrem por uma corda fictícia
até pisarem os pés da lua.
Dois poetas nunca se encontram, 
mas abraçam-se com um código secreto, 
e sabem de cor a maliciosa palavra-chave.
Os poetas têm importâncias não definidas,
e sangram como crianças,
pelo poema que nunca poderão escrever.
Vivem em forma de tempestade, 
o tempo que constantemente lhes foge.
Cavalgam como um puro-sangue, 
mas enganam-se sempre na corrida.
Sabem que não há futuro na poesia,
mas, enquanto poetas acreditam na sua eventualidade.
Há quem diga que não são normais! 
Até mesmo difíceis!
Têm sempre um copo na mão,
Donde bebem sessões contínuas de dignidade.
Nunca renegam a condição de ser poeta.


2016_aNTÓNIODEmIRANDA
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“A ANGÚSTIA DAQUELE QUE NASCEU ANTES DE MORRER” Para o Changuito. (A minha escandilose não permite como desejaria, beijar o sagrado da tua sombra).

Naquele tempo estavam doze poemas e um intelecualóide a copo, que só por milagre escapou à sincronizada operação da brigada de trânsito. Furioso, o comandante propôs-se castigar o resto da humanidade.
Alguém ironicamente bêbedo, lá do alto do seu filme, balbuciava sem a menor convicção:
Perdoa-me pai! A culpa é tua! Eles só fazem o que sabem.
Ferlinguetti no preâmbulo da leitura do poema “a angústia daquele que nasceu antes de morrer”, tentava convencer os demais, que a poesia só pode ser dita por alguns. Corso, incorrigivelmente narcotizado, limpava a boca a haikus que lhe sabiam a hambúrguer de peyote. Kerouac, sentado no canto do meio, rezava e chorava com cara de Ginsberg, agarrado ao último rolo de papel higiénico. Di Prima, estava com muita vontade, mas ninguém ali, mostrou o mínimo interesse numa demostração grátis de um superior blowjob. Paul Carroll, tinha na mão as três dimensões do retrato do pai, mas só conseguia ver dois minúsculos pês (pele, picha & ossos).
Um ovni aterrou disfarçadamente em cima do gira discos e todos puderam ouvir aquela música.
Como eu gostaria de ter estado presente.
 
2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA
 
 
 
 
 

POSSIBILIDADE NÃO ENDEREÇADA

 


Fechada para inovação

Abrirá Brevemente
Com

Inteligência 
 Possível 








,2023Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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NÃO ANDO POR AQUI À CATA DO SOM DAS PALMAS

 


certas coisas acabam
e tal como eu previ 
o mundo
não ficou mais pobre  




,2023Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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POIS ENTÃO

 


Sinto-me num processo evolutivo
 


Assim sendo
mando à merda 
as escritas 
que tentam emporcar a minha cabeça






,2023Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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Zack Magiezi

 












sábado, 27 de abril de 2024

LICEU_68

 


Nunca soube o nome dela. 
Liceu da Amadora, 
gravata do meu pai às bolinhas 
tipo Gilbert Bécaud.
Acompanhava-a à distância no caminho para casa 
olhar de soslaio com troco de nenhuma palavra. 
Rock&Folk na mão 
Du Maurier para impressionar acendido 
com o Ronson.
Anos mais tarde encontramo-nos na pastelaria 
e recordamos no olhar a campainha 
que anunciava 
o  intervalo ansiosamente esperado.
                Mas era tarde.
                            Demasiado longe para falar.







2016,08aNTÓNIODEmIRANDA
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LINGAM

 


Perguntou
Se a pressão dos dedos
Era suficiente.
Disse-lhe que sim.
Desde que não ultrapassasse os 2 bar.
… sabe, tenho uma tendinight crónica.
Maravilhoso!
Correu tudo bem.
Exportou uma considerável quantidade.
Vestiu-se. Agradeceu.
Mas… ainda não pagou…
Peremptoriamente
Respondeu:
Não deixe que o dinheiro
Estrague um final feliz!





,2016_aNTÓNIODEmIRANDA
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KIKO (TUMOR)

 



Estamos a despedirmos, meu velho amigo.
Não com os anos da idade,
Essa só nos trouxe amizade,
Mas 4 centímetros
Não nos permitem grandes esperanças.
Qualquer noite
Já não estarás à minha espera,
Não haverá lambidela
Nem cauda a abanar.
Era esta a oração
Que me conduzia ao sono
Com a feliz sensação da bênção de um amigo.
Nada é justo,
Sobretudo quando partimos
Um destino que nos pertenceu.
A tua dona chora sempre por ti
E, eu, que tanto gosto de vocês,
Conservo esta maldita incapacidade
De não conseguir enxugar estas lágrimas.
Sabes, meu bom amigo?
Eu agora também choro




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sexta-feira, 26 de abril de 2024

BLUES PARA 6ª FEIRA À NOITE

Tudo mais do que o mundo, foi o que me prometi enquanto todas as tardes eram passadas em buracos. Desci tantas ruas às cambalhotas trauteando “I`m a rolling stone”. Perdia-me assim do olhar das pessoas e salvava a pele com esta minha alma. Tinha estampado nos olhos um sorriso indiferente enquanto pensava no “Leave me alone”.Cuidava de mim assim nesta “Worried life”. Pisava esta encruzilhada, embrulhado no “Crossroads” cantada por um velho amigo preto. E quando chegava à realidade não faltava nunca a lembrança do “ I got the key to the highway”. Ficava calmo desejando um amanhã mais depressa. A minha mãe dizia que era uma música muito triste enquanto me penteava uma cabeleira com mais de quatro anos. Continuei a prometer-me muito mais. E este mundo já não cabia em mim. Mas era sempre o mesmo acordar e eu fazia disto um desafio à minha medida. “Dark clouds rollin`” nunca foi uma preocupação importante. “I`m a king bee” acompanhava-me no primeiro cigarro da manhã. E chegava à hora habitual, à secretária do costume com um autógrafo personalizado desodorizando no escritório “I can`t get no satisfaction”. Era uma pedra rolante ainda não tendo provado o amargo sabor do “Love in vain”. Da janela chegava-me um convite que me acendia o dia: “Born to be wild”. Saía com toda a pressa inventando desculpas porque estava à minha espera um jamaicano um tal de Jimmy Cliff com a tal promessa do “Wild world”.
Todos a bordo! “That`s Alright
Eu sou o vosso “Hootchie coochie man”.
Blues! Apanhei este vício e escondi-o para sempre nas minhas veias.
I`m in the mood” ! “I`m ready” !
Blow wind blow. Blow back my baby to me”.

2016,09aNTÓNIODEmIRANDA
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CRÓNICAS DE VILA CHÃ (ESTÁ-SE BEM NO CAMPO)

 


A buzina do peixeiro precisa de ser afinada.
O padeiro mudou de viatura e disso se ressente a qualidade do pão. Faltam passar 2 dos 7 carros para o fluido do trânsito ficar normalizado. A escola há muito que fechou.
A venda também, e os idosos são cada vez menos. A net é demorada.Tão lenta com as horas tocadas no aparelho a imitar o som do sino há muito tempo fugido. Às 5ªs, lá para o final da tarde, há-de chegar a carrinha da carne. Há um ou outro a comprar, que agora esta coisa dos supermercados, abanou e de que maneira, o negócio. O vinho já poucos o bebem. Maldita Coca-Cola! O complexo desportivo dos matraquilhos continua com os jogos adiados. Tem chovido muito pouco e a terra mostra nas suas rugas, a sede que tanto a magoa. A saúde vai faltando cada vez mais, e a médica quando aparece, fala uma língua que não se entende. A requisição dos exames está deitada no gavetão. Custam quase tanto como os remédios, e da vergonha da reforma, nem vale a pena lembrar.
Está-se bem no campo. 
Dizem o galo e o gato sem ração.
Está-se bem no campo.
Dizem por aí, aqueles que nunca se deitaram
com a solidão.



,2017ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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FAHRENHEIT

 


A minha carruagem está a chegar.
Não me lembro de uma só vez em que esta cidade 
desse pela minha presença. 
Não pretendo o amanhã como outro dia.
Já não tenho tempo para coisas inúteis.
Deixo-vos essa angústia enquanto vou estrelar o céu.
Como é que estão?
Sentem-se bem?
Não acredito.
É melhor tomarem qualquer coisa que não 
deprima a hipótese do habitual.
Hey, baby.
Tardas em aparecer.
Tenho para ti as flores que roubei 
daquele pomar infestado de olhares curiosos, 
onde só queríamos esconder o destino da lua. 
Tínhamos sempre que fugir pela porta das traseiras, lambendo um chão conspurcado por uma lei 
que sempre ignorou o respeito que nos era devido.
Eram tão corriqueiros os sons das sirenes, 
que enrolávamos o medo em mortalhas cheias de nojo.
Tocávamos as mãos num azul que nos traía, 
e juntávamos os lábios com decibéis de fahrenheit (s) proibidos.


,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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EU BEM TE AVISEI!

 


Eu bem te avisei!
Os poetas escrevem com palavras mentirosas. 
Pensam enquanto riem e nesse riso fingido, 
não têm tempo para emendar o que não foi sentido. 
Desenham a tristeza em folhas frias e limpam lágrimas escondidas nas caixas de pó de arroz. 
Avermelham os olhos pintados cirurgicamente 
em frente de espelhos convenientes.
Acendem o cigarro com voz de catarro,
e entram no filme levando no braço 
a gabardine do Humphrey Bogart.
Num olhar pretensamente descomprometido, 
imaginam a amplitude
da costura daquelas meias de renda.
Os poetas escrevem as palavras possíveis
dos poemas mentirosos.
E a sua almofada preferida é forrada 
com papel mata-borrão, 
para que os sonhos que não querem ter, 
não incomodem a sua fantasia.
    Os poetas não têm culpa da inveja de Deus.
Eu bem te avisei!
Vou desligar esta chamada
com número anónimo.



,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA
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BARCA VELHA


 Amantes abandonados
Numa barca velha
Dois copos tombados
Procurando a deriva adormecida,
Tornam o amor absoluto.
    Pairámos em ondas
Que absurdamente nos alvejam
Com as setas do cupido.
    Há dias mais que perfeitos
Para embalar
A circunstância repetida.






,2016_aNTÓNIODEmIRANDA
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DEIXEI A ESPERANÇA A SECAR NO VARAL

 


Não me entregues o amor.
Esta não é a altura ideal.
Eu sei que o teu erro não me engana, 
que sou só eu, quando dizes o único que amas. 
Tenho guardado num envelope a escrita 
das nossas traições e nas telas que pintamos 
com velhas molduras mentirosas, 
decoramos auto-retratos onde sempre 
estivemos ausentes.
Não me entregues o amor.
Ambos sabemos do seu afogamento 
numa taça de champanhe quebrada muito antes 
da nossa paixão.


2016,11aNTÓNIODEmIRANDA
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José Barata Moura - Cravo Vermelho ao Peito (1975)_no blog do Miguel Martins.

http://cachimbodemilho.blogspot.com/2024/04/para-grande-maioria-dos-marchantes-jose.html 

quinta-feira, 25 de abril de 2024

AS PORTAS DE ABRIL QUE SE FECHARAM

 


Gostaria que estas palavras não tivessem o sabor de uma esperança agredida.
Gostaria que o direito á diferença não fosse uma situação ocasional.
Gostaria que o respeito fosse uma opção institucionalizada.
Gostaria que a utopia fosse uma ideia minimamente aceitável.
Sobretudo gostaria que as pessoas não tivessem a necessidade constante de continuarem a ser enganadas.
Porque:
As portas existem para serem abertas. 
As portas fechadas são sempre ideias erradas!
Nunca negarei aquilo que valho, porque o que sou não será nunca o vosso número preferido
& ninguém terá de ser um mero assistente operacional.
Não me transformem num assassino!
Por muito que queiram, não matarei nunca esta intenção:
continuo a alimentar a esperança possível e garanto-vos que a vossa imbecilidade jamais condicionará a minha vontade.
SEI AQUILO QUE QUEREM!
Mas...
não é culpa minha se a vossa realidade me constrinja a fazer guerra a tanta maldade.
Pois é...
Não vemos o mesmo filme | Não lemos o mesmo livro | E o vosso diccionário continua a dar um significado MENTIROSO (da vossa errada conveniência), das palavras mais importantes.
TANTA BOMBA MAL CAÍDA!


2014abr12_aNTÓNIOdemIRANDA
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AS 11 PEDRAS DE MOISÉS

 


Então,
outra vez por aqui?
O que é que se passa?

        Isto não anda nada bem.
        Estou derrubado.
        A ciática não me larga.
        Essa coisa das leis escritas na pedra,
        não foi lá grande ideia.
É pá, 
mas eu hoje não estou para aí virado.
Aliás, há muito que desmontei
a tenda dos milagres.
        Mesmo assim,
        digo-lhe com toda a franqueza:
        não há quem enrole charros melhor
        que o Senhor!






2017set_aNTÓNIODEmIRANDA
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ARTIGO 68

 


Só queria um pouco do que deitamos fora, não o resto da hora nem o perfume do segundo que tanto nos enganou. Talvez bastasse um taxímetro lisonjeiro para taxar as memórias da nossa ausência. Iremos esconder no cacifo a pétala da rosa traçada pelo destino que tanto nos encalhou. Somos um amor ferido aquecido em mantas compradas com desconto especial nos saldos da nossa ilusão. Meu amor, como vem escrito na página do livro que nunca tivemos, o fastio destes dias amarga um folclore com danças cortejadas por simpatias ocultas.
Abraça-me com a tosse que tolhe a maneira peculiar com que me sonhas. Mascarado de cavaleiro negro ou cego andarilho, montado no teu medo, capa e espada tipo justiceiro, eu que de mim nem soube ser primeiro, em golpes de espada à cinta, espirro assim esporas medrosas entornando toda a angústia, como se fosse o final para sempre, num qualquer canal da tv, reclamação pendurada na antena enferrujada e uma box tão mentirosa como a previsão do horóscopo garantindo o 2º prémio da latoaria nacional. As bolas do sorteio não estiveram à altura das minhas necessidades, e o júri ignorando a minha indignação, mandou-as passear e na sua benevolência ilimitada ofereceu-lhes o acesso ao artigo 68 do código viril da estrada


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA
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ARQUIMEDES NA SUA BANHEIRA DE HIDROMASSAGEM

 


Serei eu só de mim

ou o resto daquilo

que me falta?

                            Arquimedes na sua banheira de Hidromassagem

ficou de me entregar 

a resposta.




,2017,mar_.aNTÓNIODEmIRANDA
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EXTREMA-UNÇÃO

 


Costumava 

                    Ser 

                            Tão 
    
                                    Novo...






,2024Abr_24_aNTÓNIODEmIRANDA
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quarta-feira, 24 de abril de 2024

SENTIMENTOS PROFUNDOS

 


Roubam-te a alma num discurso esconso
 
Chupam-te a pele com um tonto sorriso
 
Fazem-te a cama com lençóis de miséria

            Até que o sangue se afunde na verdade do vermelho
para que o cansaço dos anjos adormeça abraçado 
aos verdadeiros sonhos

            Até que as pátrias não sejam terras alheias

    Eu continuarei a cumprimentar 
                            todas as alternativas 
                            credíveis





,2022Vila Chã 24Abr_21,40h *aNTÓNIODEmIRANDA
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TUDO O QUE EU TE DOU NÃO SERÁ COISA MAIOR

 


Elogiar o teu decote que eu imagino mais ousado e tirar algumas das tuas medidas sem imiscuir-me naquilo que gostaria ter nas mãos. Mas o teu andar de geleia com meias de vidro Murano, acaba sempre por me surpreender. 
Balanço-te um olhar como se fosse poeta e entrego-te um convite bem-educado para ires beber na minha fonte. Já estive a falar melhor, dizes tu para esta cantiga mil vezes dita. 
Falo-te dos encantos de _Lisboa, da sardinha de_Alfama, dos subterfúgios da_Bica e do final de uma noite boa, talvez numa pensão da_Madragoa. 
Mas eu sou um simples ineficaz, o que até não faz de mim um bom marçano. 
Mas não esperes muito de quem passa os dias a distribuir mercearia. 
Hoje em dia as gorjetas são escassas embora certas mulheres elogiem o meu charme. 
O que eu andei para a ti chegar. 
Fiz a barba com água gelada 
e lambuzei a tromba com a segunda via 
de um perfume 
que vi anunciado num leilão de última oportunidade. 
Escrevo poemas que nunca vais ler
e preencho algumas paredes com colagens 
onde tu continuas ausente.
Falta sempre uma estrela 
e por isso continuo a olhar desconfiado para o céu.


,2016,06aNTÓNIODEmIRANDA
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A SABEDORIA SERÁ SEMPRE BEM-VINDA

 


Não invejo o léxico dos pseudo-intelectuais.

                    Até porque 
                    a
                    minha rede sanitária
                    funciona 
                    na perfeição.







,2023Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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ENQUANTO O DIABO APURA O MOLHO…

 


A liberdade chegará, disse-me um anjo com pena suspensa . 
As suas asas de fantasma feriam um céu de pássaros pasmados, abrigados num guarda-vento friorento. 
Pairavam num horizonte descabido, as crónicas do exílio anunciado.
Uma tempestade de conceituada ingerência, fermentou no oráculo dos créditos, fatias douradas com a ficção publicitada nas embalagens das bebidas energéticas.
Um drone habilmente disfarçado de trovão, destruiu todas as expectativas desleais. 
O fantasma cansou-se das asas, a liberdade conseguiu um novo patrocinador, e dizem as más línguas, jamais voltará a ser uma ideia confrangedora. 
O céu está á venda em retalhos de credibilidade, como sempre duvidosa. 
A tempestade é a agência de viagens mais solicitada. 
O trovão, nos intervalos da merditação, é accionista maioritário do grupo ecuménico que gere o banco de esperma da organização mundial da imbecilidade.


,2019mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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OS BONS VELHOS TEMPOS NUNCA MAIS CHEGAM!



         Estou farto da confusão nesta velhice de veias entupidas. Esta lâmina não presta. Eu não quero voltar. Sou um galo velho que já não encontra o poleiro. Não confio no azar, mas também nada sei da sorte. Salto aqui e acolá com um imbecil bilhete pré-comprado, que uns dias aparece, e nos outros, manda-me à merda quando lhe apetece. Chamo a patrulha da traiçoeira lotaria, apodrecida no albergue da morte anunciada. Não gosto. Recuso sempre os abrigos que me oferecem. 
Sou um oásis naufragado num alguidar de lama, supostamente perfumado com o falso sabor da liberdade. Emoções perdidas deitadas na sombra dos abraços. Despeço-me de mim. No colchão de magnólias há um espião tecendo a teia, que observa a baboseira das minhas orações. 100 Anos de vida, promete a pulseira da liberdade ocasional. A fúria doente, cansada da minha indecisão, esconde-se num pijama que ostenta uma etiqueta duvidosa. 
“Nada faz sentido nem o sorriso que mostras
                no relógio.
                Nas pregas do teu olhar, vejo agora essa dor 
                  que só te enganou nesse aperto traiçoeiro 
                    que prometia o que querias conhecer.”



,2021Julho_aNTÓNIODEmIRANDA
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SOMBRA

 


Vigia a tua sombra.
Existe ainda um fantasma
dentro de ti.
    A liberdade chegará
malgrado a vontade nula
que ponho na minha sobrevivência.
    É chegado o momento
de encararmos as coisas
com a frontalidade possível.
    Façamos da incoerência
a nossa amada e tão necessária
Coerência.
    E,
sobretudo
continuemos a evitar
as perguntas perturbadoras.
    É urgente
a paixão ardente
o amor violento
que emane
sem margem para
quaisquer dúvidas
a nossa malvadez
o nosso gentil ódio.
    Sim,
a liberdade chegará
e, embora sem sermos capazes
de compreender a sua presença,
escreveremos o seu nome nas
paredes,
soletra-lo-emos
letra a letra,
pelo que ela não deixará de
ser aquilo que sempre foi :
                                            Uma palavra agredida
                                            Pela nossa futilidade.
    Perdoa - me! Perdoa - me 1000000
De vezes
por não ter
um filho teu.
    Mas tens de admitir
que a vida é dura
quando um homem
só tem
aquilo que deus
Lhe deu!
(e deus não existe!)
    Vigia!
Vigia a tua sombra
há sempre um fantasma
dentro de ti.
    Vigia!
vigia o teu fantasma
há sempre uma sombra
dentro de ti.
    Não fiques intrigado
com o teu próprio jogo:
os trunfos que podes deitar
são o espelho da tua
versatilidade.
    Joga com a cautela
que te é usual
    Assim, não perdes o que podes
Ganhar
(recuperas sempre o fracasso).
    Porque a vitória
só é possível num jogo viciado.
    O que nos une,
e é necessariamente
Urgente
que disso
tenhas consciência,
é o nosso desastre
arduamente conquistado,
conseguido gota a gota
falhanço a falhanço
pela nossa imbecilidade
pela nossa cretinice.
    Tomai e bebei do meu cálice!
E, que o veneno seja assaz eficiente!
    Perdoai a minha coragem
assim como eu não admito!
    Não aceito!
O vosso bom comportamento
a vossa boa disciplina
a vossa boa organização.
    Tomai e bebei todos
este meu ódio permanente
este néctar que deliciosamente derramo
sobre os vossos pensamentos
sobre os vossos sorrisos
que,
abusivamente
têm o gosto
amorfo do tédio!
    Há um fantasma dentro de mim
que ocupa o sossego do meu corpo.
    Há milhares de sombras sorridentes
que preenchem a minha imagem.
    Vou!
vou esconder-me
esconder-me bem
pôr-me fora de vista.
A polícia do sexo
anda por aí espalhada!
(alguém lhes disse
que tinha no frigorífico
as mãos da minha namorada!)
    Como é difícil de explicar a dificuldade do amor!!!
    Corações ardentes
paixões violentas
milhares de humanidades refugiadas
no medo da solidão,
que fecundam o desprezo
a nulidade da personalidade
e toda a tentativa individual
    DO DIREITO À DIFERENÇA.
(Como é diferente
Ser-se Diferente.)
    Tomai e bebei todos!
Este é o veneno do meu corpo
para vossa glória
por mim derramado.
    Dão - vos um yô-yô
e com ele brincam à felicidade.
    E depois dizem -me:
assenta bem os pés
no chão!
    Então
como poderei tirar as calças?
    (evitemos
as perguntas perturbadoras...)
    Assumamos
De uma vez por todas
A inconveniência da comum conveniência.
    Consumamos
consumamos o desejo de ser obrigatório
Consumir.
    Consumamos até á exaustão
a ânsia da ignorância,
dos prazeres consentidos
pela legalidade legalizada.
(amor: que jogo mais estranho!)
    Vou escrever
uma carta apaixonada
antes que aniquilem esta
vontade louca que tenho de ser feliz!
    Corações violentos
paixões ardentes: enterrem
a minha loucura
na curva
do rio.
    Haveremos de viver!
(O homo sapiens
usa perfume penetrante
bebe coco cola
e encharca o corpo
com desodorizante).
    Assim, tudo!
tudo não passa de
reclame
iluminado pelo néon
da nossa estupidez.
                                Ámen!
                                    Desolação!
                                        Sou um anjo da desolação!
    Estou farto de lutas
árduas conquistas e
principalmente
do herói de celulóide
que aconselha a pasta dentífrica
que devo usar.
    Resta - nos esperar
pela imortalidade da morte.
    Porque
                    As pessoas diferentes
                    acabarão por realmente
                                                            VIVER !


84.jan,                            

84.jan, aNTÓNIODEmIRANDA
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terça-feira, 23 de abril de 2024

DESALENTO

 


Fogem

dias

na

minha

esperança




,2022Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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MOMENTANEAMENTE ACESSÍVEL

 


Mandem um beijo
Ou aquele sorriso desaparecido
Para a tenda dos milagres
Fingidos.
Mandem mesmo
A bandeja dos sabores podres.
Porque não um padre amistosamente
Abatinado
Um galão
Com  sumo de coca
Porque não
Uma irmã da Confraria 
Das Adoradoras do Sangue de Cristo
Com a senha certa para fugir do paraíso.
Mandem tudo!
Estou momentaneamente acessível.
Até porque...
Hoje apetece-
Me
Mentir.






,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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ALGUMAS PALAVRAS TERMINADAS EM …MENTE

 


Há Quem suba às árvores para tocar na própria cabeça Quem atire pedras para matar acasos Quem pense demasiadas vezes (quando uma é suficiente) Quem sonhe o contrário Quem desconfie assiduamente de si mesmo (se assim for, serão válidas todas as ocasiões) Quem antecipe o problema antes da solução Quem semeie sentimentos aleijados Quem se magoe amiudamente Quem repita o erro frequentemente (pedindo desculpa constantemente) Quem afie invejas desalmadamente Quem rumine calmamente Quem merdite exemplarmente Quem pratique não eficazmente Quem reitere obviamente Quem ronque insistentemente Quem ofenda contundentemente Quem insista duplicadamente Quem reflicta distraidamente Quem relembre estupidamente Quem se distraia animicamente Quem vibra ocasionalmente Quem visite reiteradamente Quem sonhe inteligentemente Quem esmoreça sempre de repente Quem importune obscenamente Quem caia ineficazmente Quem desista abusivamente Quem considere não exemplarmente Quem multiplique contrariamente Quem aumente minimamente Quem reconsidere distraidamente Quem inove atrozmente Quem recomece mentirosamente Quem renove tardiamente Quem siga erradamente Quem triture dolorosamente Quem ressuscite precocemente Quem se regenere oleosamente Quem consulte a tal vidente Quem chore ostensivamente Quem frequente radicalmente
Quem narre sorrateiramente Quem conviva oralmente Quem pratique anonimamente Quem gema embargada mente Quem pine espaçadamente Quem imita empaticamente Quem compreenda espantadamente.
Evidentemente…




,2019abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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TANTAS VEZES ME MINTO ENROLADO NA VERGONHA QUE DEMASIADAS VEZES SINTO

 


Aparelhar pecados no paraíso das máscaras.
 
Sonhos de lantejoulas pintadas no papel do amargo tempo. 
 
Lábios de vermelho decadente 
tatuados nos copos da volátil memória, 
amanhecem nos beijos gritados 
na esplanada da solidão. 

Irão banhar na beleza escrita em mata-borrão, 
um acorde que já não nos pertence. 

Uma colagem de abraços imaginários poderá (mesmo por um só momento), emoldurar a desilusão que plantámos. 

    Então, com o préstimo das palavras mentirosas, riscaremos a magia da importância.

        Não calçamos o mesmo estar.


,2023Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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25

 
            Beijar o cravo

                                            Sorrir a esperança, 
e nunca perder a vontade dos dias felizes

                            Que nos fique para sempre
na lembrança 
                que o medo que nos amarrava
foi sendo vencido
                com coragens
que nem sempre respeitamos.



,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA
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segunda-feira, 22 de abril de 2024

Robert Saggese - UM PÁSSARO NA PALAVRA

E ali estava no céu há duzentos anos
e toda a gente dizia para sempre que
cantava com uma voz divinamente mística
uma grande águia desdobrando as asas
aos ventos do mundo
e aos povos
oh como vêm
em barcos e aviões
e como montaram o grande pássaro
e como ele os levou de passeio
e voou milhares
e milhares de milhar
e como gostava de levar gente de passeio
faziam tocas no grande costado
e fossos nas asas
e cavavam nos grandes genitais
e extraíam-lhe os sucos a taxa reduzida
e treinavam e ajaezavam
este pássaro divinamente místico
e ele foi enfraquecendo
e envelhecendo
e os cabelos brancos
caíram da sua cabeça encanecida
e chamaram-lhe
a águia careca
e pôs um ovo em hiroshima
e outro em nagasaki
e perdeu a voz
e as penas caíram-lhe sobre cuba
e a república dominicana e o mississipi
e as asas caíram-lhe sobre o vietnam
e fizeram penas sintéticas para tapar as faltas
e ninguém acreditou no seu canto
nem mesmo as joaninhas
e ao cair tornou-se um falcão
e começou gente a cair
sufocada pelo fedor de um sonho moribundo
e tornou-se um canário
cantando versos de cor
a um mundo comprado dentro de um mundo
e o dia tornou-se noite
e o atrás tornou-se frente
e o preto tornou-se branco
e as folhas de erva viraram-se e gemeram
e as árvores gemeram
e o ar uiva e guincha
o seu lamento contra a América.


Robert Saggese
(in antologia da novíssima poesia norte-americana)

 

EDUARDO GAGEIRO_FACTUM_CORDOARIA NACIONAL_2024_ABRIL_21