Pesquisar neste blogue

sábado, 30 de setembro de 2023

Eduardo Guerra Carneiro (1942-2004) #Isto anda tudo ligado#

 


ARQUIVO MORTO

 

Resta
                                    - Lhe
Ensacar
                Estrelas

Para Mentir
                            O              Desejo
De
Sonhar


,2023Set_aNTÓNIODEmIRANDA


6 PRANTOS INACABADOS

 


1_ Se quiseres saber de mim poderás falar com o vento. Costumo andar onde não fogem as sombras agarrado ao consolo das asas vagabundas.
2_ Não me olhes assim.
Nasci em 55 e continuo à espera da sorte. Todos os dias aponto os números da lotaria, tento a simpatia, claro está, com o habitual gosto de azia, mas a fortuna não me conhece. Fartei-me de ser bom rapaz, depois de ter emprestado a alma embrulhada em delírios desonestos. Vomitei pizzas no azar da fome na “Grand Place”, desejei o calor dos lençóis naquele jardim de “Vitoria-Gasteiz”, e lavei muitas vezes os testículos nos wc´s dos comboios.
3_ Pensava que ser feliz seria a coisa mais normal, mas a despedida do dia sem nunca me convidar fazia de mim o órfão mais abandonado.
4_ Parece que tudo se esconde na minha cabeça! Mas, eu estou de partida nesta mala cheia de abandonos. O cérebro, escondido num tubo de ensaio, só quer mentir naquela análise demasiado curiosa para incomodar a minha intimidade. Guardo comigo uma luz branca fora das lágrimas do olhar, um caminho amigo do vagar dos passos, só para inventar dias que ainda não conheço.
5_ Nunca me preocupei com o futuro!
Não tenho seguro para o tempo seguinte. Sou um analfabeto continuamente desinteressado pelo vazio das ideias que só ocupam espaço. 
6- Ok!
Está tudo bem!
Mas,
não faço parte desta banda. 


2019Ago_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

A preto e branco.

 


O AMOR A OESTE DA PAUTA

 


Nem uma foto para enternecer 
o álbum de recordações

O tinteiro das lágrimas 
já não conforta as palavras gravadas 
na confidência de um mata-borrão

Alma de arame:

Será sempre traidora 
a certeza com que te imagino


,2023Set_aNTÓNIODEmIRANDA


Livraria Poesia Incompleta (texto de Luis França)

 

Luís França
6 de Agosto  · 
Poucas cidades no mundo (se é que há alguma) têm a sorte de ter uma livraria como a Poesia Incompleta, dedicada exclusivamente a poesia. Isso devemos ao seu extraordinário livreiro, Mário Guerra, que o faz há anos e anos para nosso benefício (e desgraça dele, que ninguém vive de poesia em Portugal). 
Depois de anos no Principe Real, mudou-se para o Rio de Janeiro levando consigo essa livraria, talvez por ser essa a forma que ele arranjou para respirar. Há uns anos, voltou para Lisboa, mais uma vez, de livraria às costas, e instalou-se na Lapa, na Rua de São Ciro, onde permanece até hoje.
Ir à Poesia Incompleta é parar por umas horas e ousar viver uma utopia. O desmesurado sentido de humor e o vastíssimo conhecimento do Mário, fazem de uma visita à Poesia Incompleta um momento inesquecível (ou Inês Quecível, como ele gosta de dizer) de descoberta e gargalhada. Sem que se esteja à espera, o Mário diz de cor um poema que responde exactamente ao que estávamos a perguntar. 
A isto se somam as leituras que o Mário faz regularmente no seu micropalco (designação dele). Ele é o mais empolgante leitor de poesia que conheço. Nas suas leituras, as palavras ganham todos os sentidos que por vezes nos escapam na nossa leitura. Muitas vezes, conheci verdadeiramente, pela voz do Mário, poemas que já tinha lido. 
Hoje mesmo, ele fará uma leitura de poemas de Alexandre O’Neill e estou em pulgas para ouvir outra vez alguns dos poemas que só conheci pela voz dele. 
Este tipo de sonhos tornados realidade precisam de nós para continuarem a existir. Caso contrário, arriscamos ver-nos reduzidos a supermercados do livro, onde quem vende sabe pouco mais que ler a etiqueta do preço. 
Por isso, visitem a Poesia Incompleta, sigam-na nas redes sociais e usufruam do privilégio que é poder jogar uma conversa fora com o Mário. E se não puderem lá ir, porque estão longe ou ocupados, tenham essa conversa por mail ou por carta e peçam os livros que querem e ele envia-os pelo correio. 
Algumas utopias, como esta, podem ser reais. Mas para isso, precisam que nós mostremos o quão importantes são para nós.
Rua de São Ciro, 26, em Lisboa
Aberta de terça a domingo, entre as 11h e as 19.49h
https://www.facebook.com/profile.php?id=100063489553101
https://www.instagram.com/livraria.poesia.incompleta/
https://twitter.com/LIncompleta
https://poesia-incompleta.blogspot.com/?m=1
(Fotos de Filipe Amorim e ?)
Mário Guerra _Changuito

Mário Guerra _Changuito



ESCOLHA FÁCIL

 


De

Nenhum

Talvez

Alguém


,2022Set_aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

"Old School" ( no Atelier do Tomás Miranda e Fábio Mendes.

 


TV7

 

Ela pegava no taco como se quisesse aprender.

Sorridente ele aconchegava-lhe as mãos

com toda a ternura de um cheque evoluído.

E no fundo do champanhe a fingir, 

combinava-se o sono com toda a urgência 

para um cansaço ardilosamente mentido.

Ela lia as gordas das revistas sociais.

Ele sonhava com outras fotografias.



2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

EPITÁFIO TEMPORÁRIO

Conhecia-o de ginjeira.

Mas a árvore estava podre.

Pendurou-se no galho.

& assim foi para o caralho!



2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 24 de setembro de 2023

5 PÁS CRAVADAS NA MEMÓRIA

 


Uma noite de verão na cidade suja. 
Dança de catarros,
xaropes bêbados deslizando na angústia. 
Um DJ com beijos de anjo, 
chora todos os nomes que o amassam. 
Não há baile mais triste, 
neste chão de estrelas palmilhado 
por cheiros de naftalina, 
incapazes de desancar tanta orfandade.

A morte
Vestiu a vida
Num dia qualquer
Sem lugar algum.


,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA


FRATERNIDADE

 


Os que nada têm 

Nunca poderão ajudar aqueles 

A quem tudo falta.  



,2020Set_aNTÓNIODEmIRANDA


QUANDO ISTO ACABAR

 


Quando isto acabar, as lágrimas que fugiram, regressarão aos olhos chorados.
Os passos sem volta, serão escondidos nas esquinas da invenção.
Quando isto acabar, a música gritará outros nomes, e acordes noviciais celebrarão a sua anunciação.
Quando isto acabar, os desesperos serão vestidos com trajes de luzes, e sorrisos sem medos, deitados no altar das alianças sem preço.
Quando isto acabar, todas as ignorâncias serão queimadas, e a inteligência mal qualificada, entrará, então livre, nos armários da boa vontade.
Quando isto acabar, a diferença nunca mais será etiquetada com heterónimos de loucura, e as alucinações serão oficialmente celebradas no templo da gratidão.
Quando isto acabar, o tempo correrá com a única pressa de nunca abandonar o hino da alegria.
Quando isto acabar...
seremos gente com rostos diferentes.


2018Jun_aNTÓNIODEmIRANDA





terça-feira, 19 de setembro de 2023

CRÓNICAS DE VILA CHÃ (A VARANDA)

 


Esta varanda não tem mar, mas deslumbro o tropel das suas ondas. O quarto crescente da lua para mim sempre nova, observa-me indignado pela minha curiosidade. Conto as estrelas, cem de cada vez. Mas não tenho cabaz para as guardar. Lá longe, rasguei a cidade, e sinceramente não tenho saudades dos seus pornográficos outdoors. Gosto deste tempo amigo, que me desafia a discordar dos relógios sem alma. Tardam a chegar a Jaqueline e o Rodolfo Vila Chã, que nunca falham a visita nocturna, para açambarcar os restos que espalhei. Um de cada vez. O respeito é fundamental. E disto, eles percebem muito mais do que eu. Passo os dias tranquilos, (o senhor Lawrence Ferlinghetti, sabe do que falo), neste patamar ancorado na gratidão de nada ter de justificar. As coisas simples só se tornam grandes, quando honramos a memória de quem as tornou possíveis.
E o que dizer destes sons que iluminam o silêncio para nos deitar? Uma leira de couves apontadas para o Natal, a vindima sem uvas por onde se lhe pegue, a inocência das oliveiras despidas do tempo que as abrasou. Escuto um lamento resignado à vontade de não viver, um olhar perdido no cheiro bravo-de-esmolfo. 
A vida do campo é bela, o carago! 
Provem a angústia da esperança ofendida, metam os olhos na enxada, a indiferença dos inquéritos dos não entendidos na matéria.
Este país é só para as Alices.
As maravilhas só acontecem na televisão.
Nuvens cinzentas?
Já foram prenúncio de chuva.


2018Set_aNTÓNIODEmIRANDA




Times there are changing

 


Já há mais filhos da puta

do que imbecis


aNTÓNIODEmIRANDA

HORAS SEM CONTAS

 


Lá longe 

para além das horas sem contas 

fico cansado da teimosia 

desta esperança




,2021Setembro_aNTÓNIODEmIRANDA

Brevemente... Novidades Sanitárias...

 


COMO QUEM NÃO QUER A COISA

 A paciência

Desconchava-me

O ritmo



,2020Ago_aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

SITE DA RESSURREIÇÃO

 


Nunca, é um lugar confortável.
Espalham-se sonhos 
no vazio sem circunstância, 
e, areiam-se as teias do grito da borboleta.
Estamos em prateleiras diferentes
nesta subscrição para a 
Sociedade Portuguesa dos Patetas.
Esperamos por aí, 
abanando cabeças no chão devastado
pelas facas no lado da madrugada.
Agora?
Presos neste saque, 
rasgamos cercas, 
mordendo a língua alojada 
nas noites da perfídia.
Cancelem a minha ida 
para o site da ressurreição.
Já não tenho amigos lá dentro.


2018Set_aNTÓNIODEmIRANDA



domingo, 17 de setembro de 2023

TRETA

 

Como os sonhos
Que fugiram do desenho
Dás-me a noite
Com ternura a
Conta-gotas 


(não temos de ser sérios)

Coerência
Não 
Gosta
Dessa
Treta


,2023Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

MUDA DE MORTE

 


Se no passado tanto vives


É porque não estimas


O


Presente


,2020Set_aNTÓNIODEmIRANDA







MAS ESTÁ TUDO BEM!

 


Tenho um grito que não foge de mim 
e o poster de uma anunciação 
que diz lembrar-se do meu nome. 
O mundo é esquisito 
tem dias complexos cheios de alquimias 
que esqueci. 
Tenho um rio que fugiu da minha viagem
e uma procuração devidamente preenchida, 
selada e assinada 
num papel de sessenta e uma rasuras. 
Tenho tudo em dia excepto a coerência 
que continua pertença minha.
Tenho as dúvidas actualizadas 
e um ritmo cardíaco sempre sincronizado 
com esta contínua vontade 
de continuar a ser diferente. 
Não pretendam de mim outra coisa 
que não o nojo com que vos beijo.

Mas está tudo bem!

Um de nós, vou matar-te!


2016,09aNTÓNIODEmIRANDA




quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Almoço de trabalho... — em Oeiras Valley.




 

A PAIXÃO DOS AMANTES INCORRECTOS

 



7 velas para um poema. 
O que o vento escreve despenteia a memória. 
O resto, embrulhado nas sombras, vai e vem como se fosse saudade. 
Nada mais do que um cêntimo a nadar no bolso. 
Um sumo de liberdade seria bem acolhido.
Um fruto que nunca amadurará, achado na valeta dos beijos roubados, será devorado na taça dos segredos azedos.
Alguém para nos livrar desta barca desterrada no mar das memórias sujas.
Bebemos há demasiado tempo o veneno dos sorrisos ocos, mastigamos olhares peçonhentos entregues pelo carrasco dos costumes.
Duvidamos que algum céu, mesmo de azul mal pintado, esteja à nossa espera.
O tempo, este verbo que tanto nos desespera, é uma roda apressada, foge sem nunca respeitar a nossa demora. 
E este chão que nos engana, esculpido em veludo azul, não é de confiar. 
Enlouquece-nos sempre que lhe apetece com sádicos abraços, oferecidos a preços de saldos de fim de estação.
Adormecemos com pedras na mão, um coração de filigrana arrependida, uma réstia de esperança demasiadamente usada em vão.
No velho banco do jardim contamos as histórias do azar, mas elas há muito fugiram da pele. 
A paixão dos amantes incorrectos arde no velho entrudo das recordações falidas.

Não me lembro dos meus sonhos...



,2020Set_aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

PORTO _7 de Setembro 2023

 




AM_Solar do Morgadio * Rojão Pequeno

 



Sevilha. ( Tábua)

 











Ana Gomes da Costa





Paulo Leminski. #Toda Poesia#

 




Badalo IV?

 


Trouxas de cogumelos salteados(alheira, alho, e coentros). Com massa da filó...

 




LAVAR O TEMPO

 


Corre 
o momento 
no arrepio sofrido
untando o caminho 
da esperança fugidia

Suja-se a vida 
na pressa sem sentido 
beijada pelo hálito 
da desilusão

Na varanda do ocaso
rasgam-se palavras 
nunca faladas



,2023Set_aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 12 de setembro de 2023

NICOTIME



 Serei só eu?

Ou o que resta de mim?

Imorais são as definições queimadas pelo cigarrro

                Que teimosamente me dizem para apagar.



,2015aNTÓNIODEmIRANDA

ASSIM SEJA FEITA A TUA VIDA

Vi tantas dores sem sentido
que só queriam a todo o momento
matar a morte....

Vi lágrimas secas da esperança
dos abraços cansados
de nunca nada terem tocado.
E eu,
não sei porquê,
pouco entendo do começar
dos novos caminhos.
Fico-me
num contínuo deslizar
para o álbum das fotos
com rostos cada vez mais ausentes.
Corre! Corre!
Não largues o horóscopo
que tem escrito
a tua última vontade.
Assim seja feita
a tua vida.


2017set_aNTÓNIODEmIRANDA

IMPONENTE RIGOR

 

Que noite é esta que para nada presta?

Onde te escondeste anjo dos anzóis amargurados? 

Caiem as estrelas expulsas da limousine dos sonhos, 
mal sabendo que não haverá feira para as exibir. 

Ao longe uma barca tatuada 
desenha a rota do precipício. 

Sobe lentamente ao encontro da lua, 
escondendo o sol que não se cansa de roubar. 

A morte já nada espreita. 

Há muito sabe que a única certeza acabará na inevitabilidade do abraço habitual.

Ampulhetas caídas tornam longa a espera da fatalidade.


,2022Set_aNTÓNIODEmIRANDA
Casa Branca* Praia de Melides

domingo, 10 de setembro de 2023

Otis Redding - (Sittin' On) The Dock Of The Bay (Official Music Video)



CANÇÃO DA AUTO-ESTRADA

[E o teu amigo especial é a tua sombra nos momentos em que invejas o conforto da casa]. 

Esse bálsamo desconfiado que te fez pegar na mala e largar. A tua alma é um saco de viagem repleto dos sonhos que te acompanham. Agora és uma solidão não sozinha, nunca igual à que vês nos olhos apressados daqueles que sem qualquer sentido, caminham para o mesmo lugar. É a hora do lobo, onde o sol mal disposto e cansado, vai enganar a lua. E o teu amigo especial é a tua sombra nos momentos feitos de esperança às vezes com lágrimas com o sabor da hipótese mais apetecida. É sempre tempo para se viver aquilo que ainda não aconteceu. Agora que a noite caiu, e o polegar é o teu anjo da guarda, há um frio que te deseja e abraça o corpo. Há uma espera imaginada. Agora qualquer beijo seria bem-vindo. Qualquer tronco de árvore no jardim será a tua cama. Agora que rogas no teu único silêncio um soluço que nem de saudade já é, agora onde todos os minutos recusam o adormecer, e o medo habitual vai fazer-te companhia, agora que te apetecia chorar mas falha-te a vontade, agora não podes parar. É a vida feita saudade. E há sempre um carro que policia com olhos curiosos. Abeiram-se de ti e pedem uma qualquer identidade, menos aquela que te pertence. Partem para voltar. Voltar sempre mais cedo do que era imaginável. Observam-te vigiando a atracção da tua diferença. Agora, todas as estrelas que tu não vais sonhar foram dormir. Deixaram-te sozinho e não te iluminam o tecto. É sempre longe qualquer desejo. 
Nem um cão está tão abandonado. Logo, quando o frio for mais forte, terás pensado, talvez mais um dia, afinal sou um gajo com sorte. 
E vais tomar o banho habitual, numa qualquer retrete de estação, lavando a tua bondade em suaves prestações. Então, esperarás como sempre, por alguém sempre ausente que continuará a não te estender a mão. São fáceis todos os sorrisos. É normal o desprezo com que passam por ti. Hoje e amanhã, nada será diferente 
Mas tu tens a estrada da alma enorme que impede de seres tal gente.
Fugiste dos caminhos perfeitos. Em tempo algum foi aceite a tua necessidade. E a tua consciência sempre foi confundida.
Adormeces com uma faca na mão, sabendo que nem sequer vais ter tempo para a usar.
Educadamente dizes boa noite ao “clochard”.
Ele farto de ti Saúda-te com um peido
Nem um deus mentiroso tens para confiar.
Agora fazes-te lembrar naquela velha música:


Sitting on the dock of the  bay 
Watching the tide roll away






,2015abr_0,22h-14aNTÓNIODEmIRANDA

CANÇÃO DA AUTO-ESTRADA

 


[E o teu amigo especial é a tua sombra nos momentos em que invejas o conforto da casa]. 

Esse bálsamo desconfiado que te fez pegar na mala e largar. A tua alma é um saco de viagem repleto dos sonhos que te acompanham. Agora és uma solidão não sozinha, nunca igual à que vês nos olhos apressados daqueles que sem qualquer sentido, caminham para o mesmo lugar. É a hora do lobo, onde o sol mal disposto e cansado, vai enganar a lua. E o teu amigo especial é a tua sombra nos momentos feitos de esperança às vezes com lágrimas com o sabor da hipótese mais apetecida. É sempre tempo para se viver aquilo que ainda não aconteceu. Agora que a noite caiu, e o polegar é o teu anjo da guarda, há um frio que te deseja e abraça o corpo. Há uma espera imaginada. Agora qualquer beijo seria bem-vindo. Qualquer tronco de árvore no jardim será a tua cama. Agora que rogas no teu único silêncio um soluço que nem de saudade já é, agora onde todos os minutos recusam o adormecer, e o medo habitual vai fazer-te companhia, agora que te apetecia chorar mas falha-te a vontade, agora não podes parar. É a vida feita saudade. E há sempre um carro que policia com olhos curiosos. Abeiram-se de ti e pedem uma qualquer identidade, menos aquela que te pertence. Partem para voltar. Voltar sempre mais cedo do que era imaginável. Observam-te vigiando a atracção da tua diferença. Agora, todas as estrelas que tu não vais sonhar foram dormir. Deixaram-te sozinho e não te iluminam o tecto. É sempre longe qualquer desejo. 
Nem um cão está tão abandonado. Logo, quando o frio for mais forte, terás pensado, talvez mais um dia, afinal sou um gajo com sorte. 
E vais tomar o banho habitual, numa qualquer retrete de estação, lavando a tua bondade em suaves prestações. Então, esperarás como sempre, por alguém sempre ausente que continuará a não te estender a mão. São fáceis todos os sorrisos. É normal o desprezo com que passam por ti. Hoje e amanhã, nada será diferente 
Mas tu tens a estrada da alma enorme que impede de seres tal gente.
Fugiste dos caminhos perfeitos. Em tempo algum foi aceite a tua necessidade. E a tua consciência sempre foi confundida.
Adormeces com uma faca na mão, sabendo que nem sequer vais ter tempo para a usar.
Educadamente dizes boa noite ao “clochard”.
Ele farto de ti Saúda-te com um peido
Nem um deus mentiroso tens para confiar.
Agora fazes-te lembrar naquela velha música:


Sitting on the dock of the  bay 
Watching the tide roll away




,2015abr_0,22h-14aNTÓNIODEmIRANDA


O CONTRÁRIO

 


Sou 

Como estou 

Muitas vezes 

Contrário 

Disso mesmo



,2021Setembro_aNTÓNIODEmIRANDA




INTERROGAÇÃO

 


Porque me enfeitiçaste 
sonho de todas as lisonjas 
Poema louco da despedida
Eu que apenas queria 
enfeitar o teu sabor
- Verter contigo o mesmo sangue 
- Cobrir-me com o teu olhar
- Voltar a sonhar
- Voar fora do campo dos martírios
- Chegar contigo ao verbo mais ousado
- Cuidar de ti em suaves lençóis de poesia
?



,2021Setembro_aNTÓNIODEmIRANDA


SONHAR SÓ O POSSÍVEL

 



Sonhar só o possível

é muita falta de jeito

para a imaginação


2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA






sexta-feira, 8 de setembro de 2023

A ROSA DA FOME DO IÉMEN

 


Caras lindas estão a chegar ao céu.

Anjos caídos

desenham nas asas

a rosa da fome

do IÉMEN.




2018Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


A DESILUSÃO SOBRANTE

 


Alvejar as ideias

Trasladar os epitáfios repetidos 

Esgrimir na ponta e mola figuras de estalo

Admitir qualquer consolo
mesmo o mais fortuito

E engalanar a ausência da beleza 
com atributos não sofisticados

Ter a fé possível neste esconjuro 
de suposições tardias

E espetar com a devida esperança 
espinhos de água & sal

Molhar desregradamente 
a desilusão sobrante
e esperar que nos venha cair no pranto 
qualquer dose de alegria 
ainda que seja breve o instante

Descolar é preciso

Atear o desejo
é uma necessidade 
que não podemos fingir




,2018jan_aNTÓNIODEmIRANDA


segunda-feira, 4 de setembro de 2023

DESLIGOU A TELEFONIA DOS SONHOS MENTIROSOS

 


Olhar desengonçado como se espremesse 
as borbulhas do tempo que não conseguiu alinhavar. 
Barbeou os desgostos numa espuma fálica 
que ensurdecia o trautear dos conhecidos 
e pisados fantasmas. 
Afastou a hora da velhice 
que só queria distrair o sentir de penas feito. 
(E assim manipulava a sinfonia desafinada), 
resgatando o pecado entregue pelos medos 
das próteses celestiais.
Vomitou todos os futuros trapaceiros.
Desligou a telefonia dos sonhos mentirosos



,2021Dezembro_aNTÓNIODEmIRANDA


FOLHAS CAÍDAS ACENAM AO LENTO PASSAR DOS ENGANOS

 


Já não conto o tempo 
nem do mundo sei os dias 
que só conseguem empatar 
o acordar desesperado 
pintado na mentira do horóscopo. 
Encomendo a habitual dose de optimismo 
na compra on-line 
embora saiba que o saldo da vontade 
continua negativo. 
Informam que a operação foi cancelada. 
Maldita conveniência 
sempre pronta para me atraiçoar.
Pisadas pelos passos sem volta,
folhas caídas acenam 
ao lento passar dos enganos.



,2021Novembro_aNTÓNIODEmIRANDA


sexta-feira, 1 de setembro de 2023

RAMALLAH

 


40 vezes pensei renascer, só para escrever respostas naquele tapete de veludo azul, onde passavam os filmes da minha ilusão. Morre-se em Jerusalém, chora-se em Ramallah, assim como nos outros lugares que também assassinam a esperança. De punho erguido, amaldiçoo a injustiça que me viu crescer. Tanta é a vergonha que me desgosta, e o futuro tão tardio, traça com lâminas a simples possibilidade de pisar um chão que queremos nosso. Só existe o tempo para apanhar o presente da desolação. É feita com pedras a revolta das nossas lágrimas. Mas nunca olhamos a realidade de braços caídos. A nossa vontade tornou-nos imprescindíveis, apesar de sentirmos na alma, que a crueldade da humanidade, continua a espalhar a indiferença.



,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA


PRÁXIS DA IMBECILIDADE

 


a) Qualquer imbecil pensa que pensa que é menos                     imbecil do que o imbecil que o faz pensar isso.

b) Qualquer imbecil nunca passa disso mesmo.

c) Qualquer imbecil pensa que não o é por isso nunca conseguirá provar o contrário.

d) Qualquer imbecil sente-se abençoado quando lhe                   mentem dizendo-lhe que não é o único imbecil.

e) Qualquer imbecil é uma contrafacção continuada, por            isso a imbecilidade é uma característica sempre                      presente.

f) Qualquer imbecil pode ser rico.

E isso, como é sabido, também o faz ainda mais estúpido.



,2016,09aNTÓNIODEmIRANDA