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domingo, 30 de julho de 2023

ROCK RENDEZ VOUS. Obrigado, Mário Guia!

 


O ÚLTIMO SORRISO

 


Não sei quantas vezes me benzeram,
nem que desígnios o velho bruxo desenhou 
no meu futuro.
Não me enganei no presente que me levou, 
muitas vezes às escondidas, 
para os caminhos da diferença.
Paguei com demasiados rasgões na coragem, 
a pele que me abriga. 
Fui um jogador confiante na batota 
que ia aprendendo. 
Voltava a casa para abraçar o conforto 
da compreensão dado pela minha velha, 
assim como o último sorriso que me ofereceu.




,2021Julho_aNTÓNIODEmIRANDA


CULTURA?

 

.

.

Isso já foi chão

que deu egos


2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA



CLOSE UP (um tal crucificado)

 

Falhaste todos os encontros, pá!
& há gajos que teimosamente continuam à espera, 
e, para saldar essa angústia, colaram no vazio das suas almas, posters da tua promessa,  
com tons de artista de cinema.
Não fiques preocupado!
Não estou vocacionado para pintar o teu lugar.
Tanta festa em tua memória, 
tantas chagas para celebrar o teu sofrimento, 
tantos cânticos para encher o teu sepulcro, 
e demasiado sangue sempre em nome 
da tua inocência.
Por vezes, vejo-te em filmes, mas, 
esta é uma ficção sem diálogo possível.
Estamos em prateleiras diferentes.
De qualquer forma,
agradeço-te o menosprezo 
com que sou reconhecido.





2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA


CREIO

 


Acredito na salvação. Não na minha, pois não tenho interesse nisso. Creio em tudo o que não me perturbe, em certas bondades infectadas nos cabides que amparam a cerca das felicidades vindouras. Nas ideias inúteis deitadas ao abandono. Em solidões choradas nas bag in box 5lts, com origem nas regiões das carícias nunca encontradas. Creio nos lugares que enganam certos passos, na bíblia sagrada escrita pelos pastores da noite, que ainda esperam núpcias prometidas, no não sentido das coisas verdadeiramente importantes, na redundância das hipóteses não concordantes, e no vazio que não queima o significado dos instantes atrevidos. Acredito no ouro que marca a pele, no sorriso sem palestra e nas intenções não pacíficas. Creio algumas vezes em mim, claro está, nem sempre até ao fim. Creio na tolerância da intolerância, na alquimia, nunca em demasia, e sobretudo em qualquer perspectiva anacrónica que não infecte excessivamente a minha cronologia.






2018Jun_aNTÓNIODEmIRANDA


sábado, 29 de julho de 2023

COM OS MELHORES CUMPRIMENTOS...

Tenho todo o tempo do mundo. O cartier que me afaga o pulso, (luxo burguês adquirido numa conceituada candonga), nem sempre está de acordo com a minha disposição. Mal menor! Deixo de lhe dar corda. Aproveito este privilégio, e faço acontecer aquilo que quero. Abro a lata do atum, à hora que me apetece, agradeço a arte de cortar o presunto, desfio o bacalhau com 1 abraço para o Brás, meto o polvo na panela, ou desenho uma cabidela, e, como quem não dá por ela, uma massada de cherne, um rancho folclórico com passos de cominhos, e porque não, uma feijoada com chispe menos bebido do que eu? Essa coisa dos rojões à minhota, é um patamar à parte. Não exagero (ao dizer) que será assim uma espécie de concílio dos deuses.
Não sou estúpido!
Amanhã tenho consulta. Como sempre, irei oferecer à minha médica um poema que confirmará esta mania de ser feliz.
Enrolarei com o maior cuidado e respeito as suas indicações.
Assim espero que seja feita a nossa vontade.
Com os melhores cumprimentos...


,2018Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

MORTE

 


Estou inscrito na fila

Aguardo
que  a espera
apague
o
nome



,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA


DEIXA ESTAR

 



Sombras velhas conhecidas rasgam caminhos.
Não pertenço aqui a este lugar naufragado que não me deixa fugir da lição mentirosa do professor com a cartilha errada, que pensava que me iludia. Mas eu só via o gato encostado no vidro da janela que no seu manso miar comentava o que lá fora acontecia. Não me pertenço nem nos sóis que pintam de vermelho a areia.
Foi apenas um sonho beijar o teu rosto como se a tela onde te abracei, alguma vez tivesse aparecido. São lentos e sem verdade estes lençóis que vejo reflectidos no tempo que nos separa com momentos cada vez mais mentirosos. Tenho nas mãos as rugas deste rosto sem mim, olheiras que já não peneiram o saldo negativo da vida que agora tudo subtrai. Há um projecto de lei ansioso pela aprovação da inutilidade das memórias que hão-de chegar. E um desejo mesmo sem futuro, que consigna a salvação dos defuntos inteligentes que morreram de véspera. Entretanto naquela rua há um cão incomodado pela sirene do 112. Não gosta que incomodem a sua preocupação. Rosna o cão. A dona, morta não dá por isso. No domingo há procissão. Na quermesse vende-se pão com chouriço. O padre enraba o sacristão. Cada um fode com o que tem à mão. Ninguém tem nada a ver com isso. Tocam os sinos a rebate. A gravação com os decibéis distraídos, avisa no meio dos gemidos:
Irmãos! 
É preciso manter a calma!
                                        
                                        Isto só acontece em Marte.



,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA


QUANDO DIZES QUE MINTO

 


Quando dizes que minto 
eu logo digo que não 
e se tu sabes o que sinto 
talvez tenhas razão

Agora que nos perdemos 
neste tempo desavindo 
foi tal coisa sem destino 
que da rosa ficou o espinho
no amor que nunca ardemos

Ambos sabemos do beijo 
da paixão desencontrada
tão velha como a ideia que não vivemos

Olhaste para mim no baile 
como quem quer fazer ciúme
fingi que não percebia o teu azedume 

Agora que somos sós 
num amparo enganoso 
lustrando a memória do não
do meu eu não mentiroso

Segues o teu caminho 
por uma porta 
que não conheço 
e eu agora sozinho 
para aquilo que mereço

Digo-te adeus desta janela 
que não vê o teu olhar 
sonho sempre com ela 
mas sei que não vai voltar


2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA 


ISSO ACONTECE SEMPRE AOS PIORES

 


Quando não se consegue explicar 
aquilo que julgámos ter entendido
não há motivo para preocupação.

Isso acontece sempre aos piores.





,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA


REFLEXO

 


Ser 

Sempre 

Igual 

Mim


Seria 

                Um 

                        Tédio 

                                    Sem 

                                                Fim





,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA


AS 11 PEDRAS DE MOISÉS

 

Então,
outra vez por aqui?
O que é que se passa?
Isto não anda nada bem.
Estou derrubado.
A ciática não me larga.
Essa coisa das leis escritas na pedra,
não foi lá grande ideia.
É pá, 
mas eu hoje não estou para aí virado.
Aliás, há muito que desmontei
a tenda dos milagres.
Mesmo assim,
digo-lhe com toda a franqueza:
não há quem enrole charros melhor
que o Senhor!




2017set_aNTÓNIODEmIRANDA


SOSSEGO

 


Velha fraga escondida

enternece com o olhar

o voo de quem a procura





,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA


NA MINHA INOPERÂNCIA JUVENIL

 


Dei-te todo o meu amor mas nunca soubeste daquilo
que falávamos. Continuas a pensar que voas no céu aquecido, feito pateta vestido de amarelo empobrecido, para a rentrée da estação tola, onde caiem folhas que ninguém lê. 
Não gosto daquilo que encontras. 
Tenho escrito no nó da gravata os preâmbulos que não tivemos. 
Pára de me enfeitares a sorte. 
Essa carta está avariada, contida num vazio que dentro de mim, insulta a vontade com que me ofereço. Continuaremos a escrever na pele este adeus sempre que a despedida deixe de ser uma palavra mentirosa.
3 mata-haris / 1 califa constipado / 1 faquir enferrujado / 3 observadores circuncisados & uma vontade tremenda de ver outro filme /Je t`adore ma petite / mais pour favor / ne me donne plus / patates frites.
Escrevo-te um atestado comprovativo de falta de assiduidade mental, mas não quero fazer de ti a gata putalheira a ler a ladainha excomungada. 
Há quem viva numa caixa de espelhos mirando a Modas & Bordados, e duvide das intenções só com maldade moderada. Aquilo que somos é a impossibilidade que ignobilmente nos consome. E ficamos quietos como um qualquer caracol encarquilhado. Desprezámos o indício da escolha.  Nessa altura eu era jovem e ainda não sabia percorrer os caminhos da língua. Na minha inoperância juvenil eu achava sempre que a primeira vez tardava. 
Claro que me chateei / Embora soubesse / Que isso podia acontecer / Eu disse-te / Que era um problema / Mas não eras tu / Que o iria resolver.




,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA


PERFUME

 


A minha memória
Só tem o teu cheiro

E o respirar do teu corpo
Que guarda o meu sono
Com todo o cuidado

Amo-te ternamente
Esperando
O
Teu
Acordar









,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

O BAILE

 


Ela movia-se como geleia Enquanto subia e descia a avenida Cada curva das suas meias Acentuava a pele cobreada Que fingia uma indiferença mostrada
40 dias & 40 noites
Desde que foi embora Não sei o que fiz de errado
Quando só lhe prometi Amá-la a cada hora
Gastava assim o tempo Secando sempre o momento
Num sorriso árido e infeliz Partia então cansada
E mal chegava Ao quarto da pensão Gemia ao chorar
Sonhos de meretriz Na outra manhã acordava 
Na toalha enxugava Lágrimas cansadas e secas
Por nunca ter sido Aquilo que sempre quis
Mas ela  Movia-se como geleia Já com a condição dos anos Com todos os minutos sem faltar Já era mais atrevida Menos tímida no olhar Procurando nesta ânsia Outros olhos para a ver Mas só um chauffeur de táxi De idade muito avançada Com o brilho da saudade comentava Para indiferentes passageiros
Esta foi a mais linda das mulheres Não teve sorte na carreira Mas ela  Movia-se como geleia E voltava para o quarto da pensão E lá chegando Chorava da mesma maneira Enquanto adormecia Abraçando a cabeleira
Embrulharam o seu corpo De um modo igual àquilo que é feito Alguém escondido soluçava Olhando uma tabuleta de mármore Que nunca terá escrito o seu nome
Agora
Ela move-se como geleia
Num baile onde todos a convidam


,2016,03aNTÓNIODEmIRANDA

PÊSSEGAS NA LAVANDARIA

 


Uma matilha de hot-dogs esfomeados, 
aterrou no balcão da hamburgueria. 
Aproveitaram a ocasião para 
uma breve sessão de Flash Mob. 
Alfinetes desinfectados picaram entranhas 
desafinadas, perante o inconcebível 
espanto das testemunhas do senhor jeóva.
Sorrisos escalados, premiaram a presença 
dos peregrinos da santificação adulterada.
Todos os abrenúncios devidamente benzidos, 
emporcaram aquele rio, 
que só queria fugir da maré do azar.
Distante, o céu risca no sol, 
um alfabeto que ninguém lê.
Na lavandaria, pêssegas impacientes, 
lamentam em uníssono, 
as cópulas ausentes.






2018Jun_aNTÓNIODEmIRANDA

ONDE COSTUMO ACONTECER

 


Sou só 1
Naquilo que pretendo
Ser

+

Nenhum
Que não eu
Neste tempo
Desavindo
Onde
Costumo
Acontecer




2018Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

O AMOR VERDADEIRO

 


Se é confuso este amor
nunca desconfies dele.

                            O verdadeiro
                            poderá ser mais traiçoeiro.









,2018jan_aNTÓNIODEmIRANDA

DOUTRINA

 


Conversa com 1 apóstolo:
Depois da primeira bebedeira, 
disse-me que de nada se lembrava

Conversa com 2 apóstolos:
Fomos expulsos do inferno

Conversa com 3 apóstolos:
Deus viu-se obrigado a mudar de lugar

Conversa com 4 apóstolos:
O sangue não era fresco

Conversa com 5 apóstolos:
A cabidela estava azeda

Conversa com 6 apóstolos:
Que se foda o pão integral

Conversa com 7 apóstolos:
Devia ter sido o Robert de Niro 
a desempenhar este papel

Conversa com 8 apóstolos:
O man pensava que era um cigarro

Conversa com 9 apóstolos:
A culpa é da Madalena: 
confundiu carpaccio com felatio

Conversa com 10 apóstolos:
Dizia o Judas: se este gajo é assim tão bom, 
que se dedique a preencher o euromilhões

Conversa com 11 apóstolos:
Esta cara não me é estranha. 
O bonitão já pousou para a Benetton

Conversa com 12 apóstolos:
Em verdade vos digo, que mais não consigo



,2018Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

QUANDO EU COSTUMAVA REZAR NAS LIVRARIAS

 


Teclando na velha máquina de escrever no escritório bolorento, enevoando o cheiro nauseabundo das conversas imbecis, eu só esperava a pressa do relógio, para vasculhar as prateleiras das velhas livrarias. Somava o preço dos livros que gostaria de comprar, antecipava a chegada do salário, e pedia aos velhos empregados que reservassem as minhas escolhas até ao dia do receber. Diziam-me com a mão no meu ombro, estes livros só podem ser teus.

Como poderia abandonar tão grandes amigos?



,2018jan_aNTÓNIODEmIRANDA


OLÍVIA

 


O bom pastor reza a deus um pranto de chuva
para que no prado cresça a erva 
que alimenta o rebanho. 
Mesmo com os dedos lambuzados, 
depois de ter comido a perna da Olívia, 
a sua ovelha de eleição, 
nunca se esquece de agradecer 
o tempero da refeição.

Era um dia especial.

A Olívia já não leva a mal.

Não era lá grande concubina.
Fugidia.
Matreira.
Esquisita.
Malina.




2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA

PRESCRIÇÃO

 



Ando 

Tomar

Saudades 

De 

Ti



2018Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


sexta-feira, 28 de julho de 2023

NO SALMO DOS DIAS QUE MAGOAM A ESPERANÇA

 


A carcaça está à espera. 

Há uma maionese de lamentos 

para decorar o apetite, 

um cocktail voador,

uma crença imutável 

e lírios deitados ao lado de preces inúteis, 

conforme está escrito no salmo dos dias 

que magoam a esperança.


,2022Mar_aNTÓNIODEmIRANDA


ESTRANHO TORPOR

 


Choro por ti
Nos dias que me dão
Acordar
Canto poemas
No teu
Sorriso
Gravo no peito
Beijos nunca
Acontecidos
Amo-te assim
Escondido no estranho torpor
Como se fosse de mim
Esse olhar
Para nunca
Acabar


,2022Mar_aNTÓNIODEmIRANDA

PULL MY DAISY ( SÓ ESPERAVA A VIAGEM PROMETIDA) editora volta d´mar - 2018

 





CONVERSAS COM O MR. BOURBON



Convenhamos que todas as mulheres são bonitas. 
Isto, para não falar daquelas que tanta falta nos fazem. 
As que nos martirizam, possivelmente nunca compreenderão a nossa insolvência, mesmo a demasiada decência com que as enganamos. 
As feias, nunca terão culpa da nossa imutável beleza. 
Estão sempre presentes nos piqueniques na húmida relva, atentas aos solavancos da braguilha, quais rouxinóis, sempre prontos a ajudar. Eu, e o Mr. Bourbon apreciamos essa distinção. Eu, e o Mr. Bourbon lemos os mesmos rótulos, e naturalmente, assumimos a verdadeira decepção da sua importância. 
O tempo para os lados da morte, é o calendário que nos resta. Desejamos sorte um ao outro, mijando cumplicemente nesta roleta enferrujada. 
Respeitosamente vos desejamos umas boas súplicas. 
Se não resultar, eu e Mr. Bourbon iremos continuar a nossa conversa. 
Nada melhor do que ouvir certa poesia, é a sugestão preferida do Mr. Bourbon.
A vida deveria ser vivida num barril de carvalho, 
destilada precocemente num alambique de beijos. 





,2020Julho_aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 26 de julho de 2023

LUTAR PELO CÉU NAS ASAS DESTE VOO MENTIROSO

 


Não me interessa se alguma memória deixarei. 
Tento não desiludir o convite para a viagem 
que o nascer me entregou. 
Revejo-me nos abraços da solidão ancorada 
com suaves beijos de tolerância. 
Velho agora, 
(como me mira o espelho enrugado), 
embeveço neste odor de hortelãs taradas, 
estendo-me num colchão de chá, 
esperando o fingir de um qualquer adormecer. 
Continuo a morrer sempre que não importa 
a maneira como acordo. 
Calçar a esperança ainda é um exercício 
que não me mente. 
Mas as horas deste relógio são mais atrevidas 
que o tempo que desejo. 
Então enleio-me neste poço de mentiras  
que não consigo rasgar.




,2022Jul_aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 25 de julho de 2023

Lawrence Ferlinghetti * VEM DEITAR-TE COMIGO E SÊ O MEU POEMA





 

EMANUEL FÉLIX * Poema dos Náufragos Tranquilos * no blog do Miguel Martins

https://cachimbodemilho.blogspot.com/?m=0 

LISBOA...

 


REQUIEM POR TODOS OS POETAS DESCALÇOS

 

Nada
Para além
De um bolso 
Repleto de sonhos
Uma prática 
Quotidiana
Abusivamente
Condicionada
A um certo 
Ritmo de consumo
De posições 
Motivadas
Pelo próprio sistema
Ou
Uma traição consciente
Mas sempre
Traição a mim mesmo.
Não !
Não quero ser 
Dos que ficaram pelo caminho.

O poema ...
O poema é a pena
De eu não ter pena
De escrever o poema.

Mas ...
Não te chateies :
Eu
Sou 
O único poeta
Que 
Pode mijar
Na tua algibeira.

, aNTÓNIODEmIRANDA

O VENTO FAVORÁVEL

 Serei sempre umas reticências, um ponto de interrogação ladeado por um etc às vezes latido. Um aloquete mal aberto ou ferrolho enferrujado. Tímida descoberta desaguando num cais com todas as milhas da distância. Mera circunstância de marinheiro atrevido. Relógio sem pulso, mentindo o impulso do tempo em que me abuso, navegando alturas agarrado a uma corda digitalizada em formato de imagem desfocada, que não me respeita. Serei sempre aquilo que gostava de ser. Vontade presente, para um desejo sempre premente parindo uma razão apenas não válida, para um pretérito imperfeito onde nada mais poderá caber. Não gosto de meias medidas!
Serei sempre o meu mundo dentro de uma barca prenha de soluços encaminhados por um controlo remoto, tentando enganar o nevoeiro anunciado pelo ronronar dos faróis automatizados. Uma solitária prancha de surf, aproveita o momento para entregar poemas de amor a uma onda com destino desconhecido. Uma vela ingénua, anuncia contente uma passageira hipótese de poesia.
Na praça do costume, à hora habitual, estátuas supostamente interessadas, catam o tempo corrigindo a minha escrita não adequada. A cigana despenteia-me o olhar. Perdeu a vontade de me ler a sina. Caminho ao contrário.

Esta rota já não me convém... 
O comandante sou eu!
Ainda não descobri o vento favorável.


2015dez11_3 ½ da manhã
aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 24 de julho de 2023

42 (24.07.1981 * 24.07.2023)

 


Escrevo na tua pele
a solidão dos poemas
com que entardeciamos
o amanhecer.
Saudades caligrafadas
neste mar caído
onde acontecia
o nosso naufrágio.
Solta o vento
o resto das palavras
que não tivemos tempo
para inventar.
E no tempo que passa
oferecendo-nos a brisa
que nos torna mais usados,
ainda consigo traçar
nos teus lábios
sabores de um amor
que pretendo total.
Me gustas baby.


aNTÓNIODEmIRANDA




domingo, 23 de julho de 2023

EFECTIVAMENTE...

 

Nunca pensei 

Que depois de tanta maldade 

Houvesse tanta amizade 

Escondida no teu 

Punhal


,2021Julho_aNTÓNIODEmIRANDA

TINHA NOVE ANOS E JÁ TOMAVA COMPRIMIDOS PARA DORMIR...

 


Na cabeça usava ovos com óculos na testa. A aba do chapéu escondia um nariz sempre a fungar. Sorria a chorar. Tinha nos olhos uma tristeza sempre presente e sonhava em forma adulta exactamente o contrário do que era suposto acontecer.
Tinha nove anos e já tomava comprimidos para dormir... E adormecia ouvindo lengalengas que lhe cobriam os medos. Mas sentia sempre aquele frio que mesmo a luz do quarto não conseguia aquecer. Tinha na sua confusão um mundo tão diferente que fazia com que não soubesse brincar. Mimada até à medula da estupidez, encharcava birras e constipava-se quando bebia a água fervida. Mal tossia e logo uma pastilha a esperava. A febre sempre vigiada por uma soma de cuidados ridículos, exigia uma atenção redobrada. Sabia de cor as marcas dos comprimidos e todos a admiravam por esta habilidade. Era uma menina não criança. Crescia ao contrário da idade. Raio de mundo moldado numa tijela! Ali Babá e os seus amigos fugiram daquele curral. Mas tiveram azar: uma mochila com conteúdo alérgico a refugiados, não os levou ao Banco Alimentar Contra A Infâmia
Tinha nove anos e já tomava comprimidos para dormir... 
Possivelmente tornou-se fã incondicional dos Abba e espera que o Fernando adormeça para sonhar: 
Give me A Man After Midnight!




,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA

A ÚLTIMA TENTAÇÃO DA CRUZ

 


Logo 

Que 

Saia 

Daqui… 


Despeço 

Me 


,2022Jul_aNTÓNIODEmIRANDA


NO LUGAR ONDE NADA TERMINA

 

Gritos loucos na manhã dos fantasmas vagabundos vagueiam na estrada, enquanto o céu foge numa pressa sem paraíso para mostrar. Sentado no balançar desta cadeira, contamos alegrias uns aos outros, sabendo que as lágrimas correm desalmadamente para olhos desconhecidos. Não imaginamos o quanto é difícil ignorar as perguntas que incendeiam a pele. Sei que tenho idade suficiente para enforcar esta teimosia, mas, quero que saibam, não é a lembrança que me conforta. Há muito que não consigo embalar o desgosto, nem animar o descalabro. Errei num verbo que não me pertencia, e perdi-me na lição falsa. Acreditei no amparo da mais mentirosa das seduções. Cortei-me com os sorrisos que enviavam, lá das estrelas dos anjos diferentes. E, na cama dos infernos atrevidos, esperei a ternura da sedutora mariposa, enquanto lábios tatuavam no vazio da cama, as flores que não consegui entregar

Naquele tempo, 
(dizem os que morreram), 
eu ainda não teria nascido.





,2022Jul_aNTÓNIODEmIRANDA


A BANDEJA

 Ao milésimo dia acordou.
Mandou aparar a bondade,
sentou-se na esperança mentida,
barbeou o desgosto,
pôs-se em guarda,
e, retirou do cofre 
a vacina fora de prazo.

(Sem validade
continuam os discursos da boa nova).

Mirou o Ferrari,
sacudiu o monge que fingia de motorista,
retocou o calendário penteado com a infâmia das expectativas.
Guardou o bolor no relicário,
longe da cobiça do olhar dos não ignorantes.
Retirou do cardápio as 
notas de um velho nojento”, 
e ensebou carinhosamente 

a paciência dos cretinos.
Rega todos os dias a bandeja dos desgostos que provoca, 
com vómitos cómicos.




,2020abr_aNTÓNIODEmIRANDA


sábado, 22 de julho de 2023

O ESCOAR DO TEMPO

 


Quando naturalmente 
sentimos o escoar do tempo, 
adquirimos a tendência de repetir 
histórias.


Nas verdadeiras, 
a ideia principal não é 
alterada.





,2016,08aNTÓNIODEmIRANDA

O MEU SABER

 


É FEITO 

                    DA VONTADE 

                                        DE APRENDER 

      

(a todo o momento)



2016,12aNTÓNIODEmIRANDA


JARDIM ENTARDECIDO

 



Dispo a malícia das palavras 
para a pendurar na roda da tua saia 
como se fosse a única flor do jardim entardecido.
Se calhar falámos demasiado.
É o normal quando não se tem nada para dizer.
Acariciámos penas mantendo a saudade mentida 
no meio de copos de vinho 
de uma colheita imperfeita.
Trocámos pulseiras
 à falta de ideias
 e ansiosamente esperámos a finalidade 
que não ousámos.
Mirámos a marca dos relógios 
e rimos da futilidade da nossa intenção.
Aparámos os nomes para mais tarde 
não nos lembrarmos.
Passei por ti no Chiado.
Não me recordo de te ter visto.
Sentado na sua estátua, 
o Pessoa continua impávido 
e nada interessado nos saldos da Benetton.
Não há nomes para significar 
a nossa anomalia.



2016,08aNTÓNIODEmIRANDA

NO CAFÉ DA MIMI

 


Setembro, todos sabem e ainda menos os que acreditam, é o mês ideal para envernizar palavras endemicamente infetadas. Era no café da Mimi que eu me sentava quando queria beber esta ideia. Lia o jornal começando pela última página, demonstrando a mim próprio a não preocupação da importância da notícia previamente estabelecida. Escutava conversas de gente que não sabia o que dizia abusando na proposta absurda numa burrice constantemente anunciada. No café da Mimi, aprendi a pensar naquilo que nos resta, depois de deitar fora o que não presta. Esvaziei vazios que só a mim me competiam enquanto lia os rótulos das garrafas onde faltava sempre o meu nome. Continua uma hipótese fora de questão. Não poderei medir os nós deste tempo humedecido, ancorado nervosamente a uma maré preguiçosa para qualquer aventura. O salva-vidas nunca esteve disponível para tanta indecente frustração. Navegamos outros mares logicamente enganados por faróis que só sabem ler rotas em off. No café da Mimi ouviam-se sorrisos gemidos em formato jpeg com propriedades de formatação consignadas para turistas patéticos. No café da Mimi, sentado num barco onde nunca naveguei, bebia whisky num copo com novelo e muitas vezes sonhava, nas horas que ele durava. Sonhava porque queria o sonho que me apetecia. No café da Mimi, mesmo nas vezes em que lá não ia. Aconchegavam-se preponderâncias inertes e cumprimentavam-se com o devido respeito estímulos ausentes.

Claro que não era no café da Mimi.



,2016,03_aNTÓNIODEmIRANDA


NÃO TENHO A SABEDORIA DO FAQUIR

 


Vivo na minha cabeça
O sítio onde passo todo o 
Tempo
Deixo-me estar
Neste lavar de pensamentos
Escritos num destino que não
Conheço
Aconchego poemas
Em doentias importações de
Optimismo
Tento fugir 
Do caminho dos espelhos 
Quebrados
Não tenho a sabedoria do
Faquir




,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA

BEBER QUALQUER COISA ÚTIL À MINHA DIGNIDADE

 

Navegamos nos tempos difíceis.
Mais uma noite para chorar.
Mais um lençol manchado por perguntas 
erradas. 
Um brilho de nódoas ilumina a esperança 
espalhada no desdém da vida. 
Não há cura para este remédio, 
nem maleita que dignifique 
saúdes defeituosas. 
Quem poderá esperar-me 
na esquina dos pecados viciados?
Estou cansado desta afronta entediada. 
Acendo a teia da escuridão, 
ajoelhado no chão que não acredita no meu nojo. 
Virado para mim mesmo, 
deslizo-me no contrário do que sou. 
Manobro no catavento 
a procura do negro carinhoso.
A quem entregar 
este envelope travestido de ousadias?





,2021Julho_aNTÓNIODEmIRANDA

FESTIVAL DE JAZZ DE ESPINHO * 1977 * Estive lá.

 


CECIL TAYLOR


Sacudia a extravagância no teclado do piano.
Naquela noite de `77, embebedei-me para sempre, com aquele som que não queria fugir dos ouvidos. Na praia de Espinho, o frio do mar, continuava o concerto com notas que tentavam adormecer o saco-cama. E, eu, rezava com as estrelas, privilégios do mais feliz habitante do império com sentidos. Queria abraçar  aquele anjo com fumo, e remar nas suas ondas de incenso, a exactidão da loucura que há muito procurava. Taylor entregava abraços ungidos de liberdade, e, eu, na maré dos 22 anos, cavalgava mundos naquela mala.



2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA



ESTHER GEORGIE no Atelier do Tomaz Miranda - 22 de julho de 2022

 



Fábio Mendes * Esther Georgie * Tomaz Miranda

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Lisboa...

 







AGUARDA COM A ANGÚSTIA POSSÍVEL

 

Má sorte ter nascido,
disse a sina arrependida.
Meu filho,
carregas a alma assassinada
daquele que diz para seres outra coisa.
Está na hora de deixares a mochila das indecisões.
Enlouquece as etiquetas sem endereço 
e esconde os soluços na escada da desilusão.
Aguarda, 
com a angústia possível,
o despertar
que te 
Libertará

,2021Julho_aNTÓNIODEmIRANDA

NÃO GOSTO DA PRESSA DO TEMPO

 

Limar folhas do calendário

Rasurar décadas


                Fugir do destino 
                Sem poder mudar-lhe 
                A
                Sorte


,2022Jul_aNTÓNIODEmIRANDA

SHOTGUN


Encontrei certas veias serradas no álbum das fotografias. Um curioso fotógrafo pensou que as congelou. O gelo matou a máquina e escondeu o negativo. Li esta notícia, sentado em frente do engraxador das mentes coloridas. Não percebo nada de abismos e não estou com grande vontade para relembrar esse sorriso. Há por aí muitos parvos que pensam que sou eu que lhes engraxo os ténis.
Quero que se saiba, que sou um intelectual da esquerda minimamente alcoolizado em raids submersos de conversas sem título. O que você leu, alguém escreveu e isso nunca satisfará a minha curiosidade. A sua cabeça exibe bolas de pingue-pongue e a minha raquete não está para as jogar. Poderíamos falar de uma atitude profiláctica, mas a minha paciência neste momento, está pouco saudável para aguentar explanações de bidé. Iremos tentar o “AIKIDÓI”, mas não quero que se magoe. E, devo dizer, não aprecio por aí além a sua postura de “pizza hut”. Não sei quem o convidou para este filme, e reconheço sempre quando um realizador não está na plena posse das suas possibilidades fecais. Temos estrumes diferentes, o que torna neste caso a vida numa grande diarreia. Já reparou que nos estamos a entender, pensa você com esse tom argiloso, andar dengoso e estupidez pepsodent. Não vimos a mesma cena no écran que mirámos. Mas não é grave. Tenho quilómetros de vaporizações de desodorizantes habilmente aconselhados, e isso, permita que lhe diga, dá-me uma certa fragância para aturar os imbecis que cada vez mais invadem a minha área geográfica. Gostaria que isto acabasse bem. Não por uma questão de consciência, mas o tempo vai passando, a idade avançando e a pontaria já não é o que era. Tenha eloquência, meta uma pose de irreverência, encoste-se ao muro. 
Mantenha-se sereno! 
Assim está bem. 
Então, gostou do furo? 
As despesas do funeral são por conta do governo.


2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 20 de julho de 2023

PORT WINE

 


2 relógios ressacados,
encontraram-se por acaso 
no meridiano de Greenwich.
A rainha ficou preocupada
e chegou atrasada
à prova do gin.
Os lords salteados
na câmara dos comuns patetas,
aceleram as bicicletas
e foram beber Port Wine
nos esgotos do cais de Gaia
.








2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

PIAF

 


Lia-me um poema ao contrário e soletrava letra a letra a teoria da ascensão cósmica no universo uno e transcendental. Continuava admirado por todas as vezes que esteve na Trocadero de Paris, ninguém parou para o medir. Falei da "metatísica" , da importância do "photomaton" da insegurança "fotodiária" e da futura rendição incondicional de todos os deuses ainda não arrependidos. Pois, mas as molduras atraiçoam muitas telas. Não consegui explicar que a intenção não era má. Nem você é bom, respondeu. Não tinha um prego. Não pude virar o bico. Lá mais adiante, um bando de cretinos impregnados de smart camera, tentava pintar o Sena. Mas, este é o rio dos poetas que chora uma música que só eles podem beijar. 
Tenho nos ouvidos um segredo que a Edith me vai cantar.
Estendi o saco cama e adormeci com a navalha na mão.








2015aNTÓNIODEmIRANDA

QUERO VOLTAR PARA OS ANJOS DA SUAVE NOITE

 


Escreves no teu corpo 
um convite promissor

Abandonaste a pele 
com que te amava

Despimos abraços 
num sentimento 
desigual

Invejo a língua 
que dança na tua flor

Quero voltar para os anjos 
da suave noite







,2023Jun_aNTÓNIODEmIRANDA

CAMA DE PESADELOS

 



Não me perguntes porque há 
muito ninguém fala das noites 
que me deitam.

Tenho memórias inquietas
em tempo lento que esperam 
o forno das tentações. 

Nunca mais visitaste os sonhos 
que amei para ti.





,2023Jun_aNTÓNIODEmIRANDA

ABRAÇADO AO CHÃO COM AS ESTIMAS EM BAIXO

 


Não me substituo ao acaso. 

Muitas vezes reconheço a amálgama que sou.

Padeço, 
(a evidência dos anos confirma) da
 falta de estricnina  para bonificar a consideração 
que deseja as vossas melhoras.

Orai até que o riso se canse 
do cálice da purificação. 

Creio em vós, 
(in*feliz*mente), 
e acreditai, que ao contrário 
do que está escrito, 
continuo a tentar não vos desenganar.

Boa nova. 

Grande foda.






,2023Jun_aNTÓNIODEmIRANDA

OUSADIA ACIDENTAL

 


Gosto de me perder dentro de ti
despir-me nos teus lábios
ao abrigo da ousadia acidental

Acariciar a tempestade
na noite do sono desalmado
pintar na cama o cansaço
mas não tenho flores para escrever

Nada de fácil acontecerá
no chão que nos achou







,2023Jul_aNTÓNIODEmIRANDA

MAS QUE DIABO DE COISA FAZES AQUI?

 


sou eu num spa 


a confortar a minha religião


numa prece sem retorno




,2023Jul_aNTÓNIODEmIRANDA

INSOLVÊNCIA

 


Chegaste de salto alto 
para desassossegar o 
sobressalto

Fiquei discreto 
para não acordar inquieto

Estamos sempre longe 

E esse é o caminho certo 
para 
prosperar a insolvência  





,2023Jul_aNTÓNIODEmIRANDA

NORTE

 

Sentado na linha, 
volto a seta ao contrário 
e numa curva apertada 
tento não acertar no norte.

Meto a 5ª como finta
para fugir ao aquaplaning
das minhas lágrimas. 

Acredito na sorte
em ponto-morto
e acelero até às 6000
como se fosse o piloto
de mim próprio.


2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA


quarta-feira, 19 de julho de 2023

O QUE FAZ JESSICA RABBIT NA MINHA ALMOFADA?

 


Gatas vadias arranharam-me os lençóis

É insuperável o cheiro a Jack Daniel`s 
da tua almofada
(disse ela)

Simpatia tua

Gostas de estátuas atrevidas?
(perguntou)
Não aprecio a lingerie pretensamente sofisticada

Poderei mostrar coisas interessantes
(ela disse)

Tens cara de poema

Nada mais quero beijar








,2023Jun_aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 17 de julho de 2023

#QUIÇE MI LÁ BOUCHE#!

 


Leva-me devagar.
Tenho o tempo que precisas para chegar ao desastre dos sítios sem nome. Ama-me em limbo brando, ata-me numa leira de facas, crucifica-me nos dias mais felizes, mas, peço, não ofendas o meu sangue nem o ofereças a curiosos atrevidos. Hoje, como sempre, repetimos o ontem que tanto nos traiu. Não me apetece roubar o que tens na cabeça. Beija o meu fogo, mesmo fingindo o deus que ilumina a mentira do meu mundo. Faz com que a minha vida não se resuma nunca, à absolvição dos teus pecados. Abençoa os traídos, os cornudos não atentos. Eu por mim, fico-me com umas migas de espargos. Não percas tempo com os meus devaneios. Apenas sou aquele fingidor que não intruja quando te manda à merda. Não tenho paciência para discutir as metástases do teu pudor, até porque troco facilmente a imbecilidade por uma sopa de cação. Prefiro a azeitona galega a uma qualquer via-sacra, onde o nu da tua demência é ostensivamente pornográfico. Tenho um poster na casa de banho, e, agradeço-te o facto de ele controlar o desenvolvimento normal do meu tráfego intestinal. Não ouso pedir um minuto. O que pretendo da vida será sempre muito menos do que isso. Tenho na ideia um relógio amigo para bebermos mentiras maliciosas. Tocam-me no veludo da pele ritmos sem tempo para envelhecer, abraçados a memórias que só sabem beijar o som da solidão, desta passagem sem caminho. 
O que é feito de ti, “baby blue”, e da marotice que sangrava o desejo? Recordo a música que me oferecias, ouvida do delírio dos teus seios, e, aquelo beijo atrevido para acordar as manhãs. Nada era proibido naquela possibilidade sem promessas obscenas. E, tu sabes, eu só queria fazer de ti, um alibi ignorante sem a mentira da perfeição absurda! Como um canto sagrado de golfinhos, contentes com o nosso bem-estar. Dói tanto esta ausência, esta onda chorada, este nunca chegar à partida, este lamento sem palavras para escrever, este motivo despido de fé para nos salvar, este momento abandonado na maré assassina, e, de nada nos servirá esta alucinação sem terra à vista. Não quero o bilhete que me ofereceram para chegar ao teu olhar. Cego como estou, morro neste cansaço, que tudo vai danificando. Glorifico-te nas hipóteses que nunca irão acontecer. Sombra que vais sem nunca avisar, a rudeza de me cansares os ombros. Visão da carência sem fim, néctar amargo deitado no meu sossego. Mas eu, ainda respiro o último aceno, embrulhado no sorriso que sufocámos. 
#Quiçe mi lá bouche#! 
Desculpa o meu francês, mas tu sabes o caminho do atrevimento da minha língua.




Melides, 2019jul_aNTÓNIODEmIRANDA

LISBOA BLUES (69)


É como se tivessem posto uma aranha no meu guisado

Ou trocado a moeda da sorte que nunca tive

Parafuso desapertado, rosca moída, vida fodida

Feliz e nada interessado

Caminho pela humanidade

Com um ramo de espinhos que nunca tiveram rosas

Batimentos estranhos do coração

Viajam amolgados

Dentro de um tuk-tuk  que borrifa esta cidade

Emporcando-a com toda a inanidade

Como está diferente o cheiro das suas ruas

A ignorância anda livremente espalhada

Aborrecem-me esta espécie de sorrisos

Que me olham como se eu fosse um fardo de palha



.2015aNTÓNIOdemIRANDA

AS COISAS ESPECIAIS FICAM SEMPRE TÃO LONGE


Vou indo devagar.
Neste tempo a pressa é mais lenta
Não deixando de acompanhar 
Todos os nojos destes anos.
Eu sei meu amigo
Que aquilo que sempre precisas 
É só um momento de conforto 
E isso nunca acontece.
Nunca ninguém
Mesmo aqueles com olhos mentirosos para te ver, 
Estendeu a mão.
As coisas especiais ficam sempre tão longe, 
NÃO É?
Estás só como todos os dias que virão
Momentos confitados sem esperança 
Tornam maior a distância 
E marcam a pele do teu rosto 
Envergonhado pela ausência de respeito 
Que sempre te deveram.
Perdoa-me esta lágrima
Mas eu sou tão pouco
Que nem consigo estar perto
De ti



2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 16 de julho de 2023

KIKO_WALKING MY DOG

 


Agora só tenho a tua trela para me conduzir a alma. 

Todas as tuas lambidelas estão aconchegadas no meu porta-corações. 

Continuo despenteado pelo abanar da tua cauda. 

É agora diferente o cheiro da relva que recuso pisar. 

E o segredo só nosso de confundires a matrícula do teu carro. 

Vou enviar uma carta ao teu deus, 

a confirmar a autenticidade da nossa amizade. 

Escreve-me!

Vou aprender a ler.


2016_aNTÓNIODEmIRANDA