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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Cidade suja ( para Ferreira Gullar )

cidade de abutres

porca manhosa tinhosa
cidade triste e alegre
maliciosa
insidiosa
desesperante
frustrante
inimiga do amigo
maltrata o sem abrigo
cidade sem cor
ódio e amor
paixão silenciosa
violenta
tarde cinzenta
não ouves quem te fala
não sorris a quem te cumprimenta
cidade do frio
não aqueces o rio
não apaixonas quem te ama
louca dos mais loucos
amor apetecido
esquecido numa cama
coração arrefecido
onde se esconde a minha alma
percorro as tuas ruas
beijo as estátuas nuas
choro o porquê de não conseguir amar-te
e durmo nos teus jardins
abraçando a estrela que me acalma
já não consigo pintar
a tua beleza
sei a cor da tua tristeza
mas os meus olhos
já nada querem ver
serei eu a rasgar o teu véu
de noiva feita puta
que já ninguém desfruta
na alquimia do desejo
finita império
abraça-me no el último tango:
( não me queiras
não te quero
nada me deste
nada te pedi
não te engano
quero outra
não creias por isso
que te traí
o único beijo que me deste
foi aquele que não te pedi)


cidade suja
favela chic
zombies junkies
corruptos
corrumpidos
suicídios
violadores pedófilos
doutores neuróticos
mulheres desesperadamente solitárias
olhares pedintes
carências afectivas
á espera de serem fodidas
sugerindo a dificuldade
mentindo a idade
castrando o desejo
por agora só a intenção envergonhada
talvez um beijo
e barcos cansados
adormecendo no tejo
virgens arrependidas
santos enforcados
orações ridículas
homens enganados
soluços rasurados
cidade que não é minha
cheia de amantes ausentes
sons de pássaros menstruados
paixão clandestina
sonhos delinquentes
bebedeiras copos doentes
sombras de fantasmas envergonhados
cantando a canção do malandro
espiões
normalizadores do comportamento social
odores desodorizados
hipocondríacos distraídos
bandidos surpreendidos
sonhadores arrependidos
confundidos
enganos inteligentes
adolescentes surpreendentes.
traço no espelho
sem risco
leva-me ao riso que eu gosto
e eu sei que ninguém me conduz
neste caminho da felicidade
gostava que estivesses aqui
comigo
sem o teu medo
não irei contar nunca o nosso segredo
os golpes na pele do nosso enredo
as razões não explicáveis
as alegrias pendentes
os soluços acontecidos
projectos esquecidos
dejectos à mesa servidos
inaptos
fingindo-se sensatos…




ninguém me ajuda
ninguém está atento
ao meu salvamento emocional
e eu sei que não se pode manter uma promessa .


jun2010