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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

e eu ainda não sou anjo

Para os que comemoram aniversários clandestinos debaixo dos viadutos,ouvindo sinfonias estereofónicas de claxons e que conhecem de cor as influências dos fluídos do trânsito no comportamento das pessoas.Para aqueles que ainda têm a coragem de assumir a diferença cada vez mais etiquetada com heterónimos de loucura. Para os que rezam em silêncio desfilando entre os dedos rosários de lágrimas e ajoelhados em soluços de desespero,esperam ainda com a esperança possível aparições dos anjos do néon.



EU AINDA NÃO SOU ANJO

Para os que constroiem a poesia com o amargo optimismo de experiências repetidas e que sobretudo,sobretudo não lamentam ,não invejam a maldita sorte dos poetas malditos :

Visões do apocalipse

tentações demoníacas

desolação

E EU AINDA NÃO SOU ANJO !

VIVA LA MUERTE !
Os duendes de somorra invadiram as auto estradas deste inferno com sorrisos malignos de arco -íris.

Para aqueles que ignoram as constantes tentações do deus publicidade e fumam orgulhosamente beatas anónimas marimbando-se nas marcas e ainda para os que olham as montras sem qualquer laivo de cobiça manifestando delicadamente a sua indiferença pelo yves saint-laurent.


Para os guerrilheiros da angustia que atacam a normalidade com raids ritmados de swing e destroiem horários com metralhadoras de coragem.


E EU AINDA NÃO SOU ANJO !


Para os que gastam o tempo antes que o tempo os gaste e sorriem às estátuas com sorrisos cheios de cumplicidade


Para os que lavam as horas em retretes repletas de relógios para que o despertar não tenha o sabor inglório da obrigação digital.


Para os que se deitam na praia desenhando na areia voos obscenos de gaivotas e desfilam sonhos de m`água e que compreendem docemente os queixumes do mar e choram no silêncio soluços da ausência.


Para os que acordam sempre
do mesmo lado
da mesma maneira devorando
avidamente croissants recheados com perfumes da dior e devoram avidamente o nosso tédio cuspindo depois as algemas da nossa escravidão.


Para que os vagabundos tenham pena de nós, da nossa impotência da nossa burguesia das nossas aspirações dos nossos projectos da nossa incoerência do nosso medo e sobretudo, sim sobretudo para que lamentem :

a nossa falta de coragem que sempre desculpamos com a sorte
porque gastamos a vida na margem dum rio que se chama morte.