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quarta-feira, 30 de junho de 2021

A TESE

 

Licenciei-me numa universidade sem diplomas e tirei o mestrado, enquanto descarregava uma camioneta com telhas.
O parecer do júri ficou marcado nos meus braços.
Na tese, está escrita a maneira educada como os mandei à merda.


,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA




domingo, 27 de junho de 2021

SEC`ADEGAS _ press release_2019.06.27

 Expressamente vinda de “Las Vergas”, os SEC`ADEGAS, porventura a mais esdrúxula banda da Serra da Mira, fará, isto é, se as condições etílicas tal permitirem, uma aparição "iconoclasta" digna dos piores encómios. 
Tudo do melhor para os nubentes, para os moinantes, e, sobretudo para quem nos irá ouvir.
Amai-vos uns aos outros, que os dias que correm, não estão para brincadeiras de má índole.











quarta-feira, 23 de junho de 2021

EU UM DIA

 


Não sou fronteira de nada

De qualquer maneira,

Não é o meu ser

Fogueira apagada

Não sei que fogo

Me deixou de arder

Apenas sou eu

De mim próprio

Sem sim

Eu

Viagem ainda não começada

Com bilhete de ida

Sem volta anunciada

Eu não melhor que nada 

Eu um dia

Para acontecer.


_2014_aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 20 de junho de 2021

AMAI COMO O OUTRO DIZ QUE AMOU

 

Candelabro incendiando um epitáfio escrito com nuvens de incenso e uma ave-maria retardada no aviário do Freixial. Frangos com certificado de pedicure e joelhos sangrados nas mais estúpidas promessas. Eu estou aqui, aviso, para vender o vosso perdão. Criaturas lindas, formosas vaidosas e não seguras. Mas hipoteco--vos uma música do sétimo dia com variações culturais de índole sexual, dignas da vossa imundice orada por mim, para o jeito que vos aprouver. Vós sérias e honradas, que tanto acreditais na virgindade anal dos vossos maridos, amai como o outro diz que amou e nunca tenhais vergonha dos sonhos húmidos que o pastor enganador vos provocou. Ele o felizardo só estava no sitio certo para medir a vaginal temperatura da vossa curiosidade. Assim na terra, como no céu e na minha aldeia também.

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

AI DE TI

 

Ai de ti que nem do teu inútil eu
consegues fugir.

Velha carne,
pele enrugada,
sórdida estima,
verruga negra
massajando uma sarna vulgar.

Degeneração amanhada
num abrolhamento prévio.

Visão ferruginosa.

Que pena esta  vida
que tanto te castiga.

2017set_aNTÓNIODEmIRANDA

Vila Chã

sábado, 19 de junho de 2021

PARANÓIA À QUINTA-FEIRA

 

Hoje é quinta-feira.
Não sei porquê mas adoro as quintas-feiras.
Há menos pessoas na rua.
Vejo menos óculos e menos olhos
que me dizem sempre o mesmo: nada.
(Talvez esteja aí a maior prova de que
realmente existe deus ... ).
Quando era miúdo, ao falarem -me de deus,
contaram que ele queria que todos 
fossemos iguais. (penso que era comunista).
Observo as pessoas
quando não posso beber um gole de whisky
ou fumar ou pensar ou falar com um rafeiro,
ou ler a página da necrologia do 
Diário de Notícias-
(Quando morrer gostava que também
me incluíssem nessa folha).
Hoje,
talvez seja 5ª feira ... Não!
Não gosto desta quinta-feira porque chove.
Se quiser andar tenho de atravessar uma
floresta de guarda-chuvas. 
Também não gosto deles: 
São todos iguais!
Atenção!
Pela primeira vez penso em
transformar - me em guarda-chuva (apaixona - me
a ideia de qualquer pessoa poder
transportar - me).
Anuncio:
Jovem de boa posição social.
Elemento mal integrado.
Solteiro e educado.
Procura cientista culto que o
transforme em guarda-chuva.
Resposta com curriculum.
Guarda - se sigilo.
Merda! Hoje é quinta-feira e os
cientistas não trabalham.
Apetece - me fumar!
Vou pedir boleia
Apetece - me o poema, vou ler:
agarro na lista telefónica.
Porra! Tem mau aspecto...
Estou no Pigalle.
Fazem - me imensa confusão os nomes
das garrafas expostas nas prateleiras.
Mas hoje é quinta-feira.
É dia santo e talvez mesmo eu
acredite em santos.(quando morrer
gostava de ser santo).
Olho para a rua.
Mais uma vez o sol. 
(digo Isto porque as pessoas adoram o sol
pr`a se bronzearem ).
Hoje é quinta-feira e as pessoas
não mudaram de fato. Fumam mais.
Pensam menos e estão mais nervosas.
Hoje é quinta-feira e o frasco da
mostarda continua amarelo. Gostava de 
ser mostarda ou empregado de café para
meter um pingo de cancro em tudo
aquilo que me pedissem.
Hoje é quinta-feira: dia mau muito mau
para o marketing : para ganhar a vida :
para a pesca : dia optimamente bom
para fumar.
Hoje é quinta-feira e vou à praia.
Nb:
pela primeira vez penso em ser
rímel ou base : agrada - me a 
Ideia de contribuir para a
máscara colectiva.
As pessoas falam alto - cada vez mais 
alto - ainda mais alto ...
E isso irrita - me.
Hoje é quinta-feira e são 14 horas e
10 minutos.
O sol ainda não apareceu ! ( ontem
deitou - se mais tarde : esteve a ouvir
Bach com um amigo ).
Hoje é quinta-feira - feira ( 5ª feira ).
Bom dia tás bom ?
Olá tás porreiro ?
O que estás a fazer ?
Paga - me uma bica
Queres ir ao cinema ?
Empresta - me uma moeda pró telefonema
O que estás a ler ?
Adeus Miranda.
Hoje é
Q - u - i - n - t - a - - f - e - i - r - a  ...
Confirmo !!!
As perguntas os olhares
As respostas os sorrisos
- não mudaram !

74abr11aNTÓNIODEmIRANDA

O POETA NÃO TEM CULPA: É A SUA SOLIDÃO

 

Escrevo na lua a calma do pôr-do-sol da praia e sensatamente aconteço em mim como poeta.
Lá no baile, o vento enxota um acordeão com sabores de caviar embrulhado no champanhe mais bonito.
Gela a minha alma num prazer mais que perfeito que aquece esta fria maneira de gostar de estar só.
Tenho na ponta do cigarro tantas coisas para recordar, até que o tango do sol-e-dó adormeça cansado.
O riff de bateria do aparelho apanha-me sempre desprevenido e o som de trompete que se segue, evidencia uma cacofonia com laivos de diarreia. O sotaque afro-apalhaçado poderá eventualmente constar na página principal de instruções técnicas que nos indicam a melhor maneira de carregar no teclado do autoclismo.
Ó senhora Mariquinhas, tenha cuidado com as galinhas, que o meu galo é solteiro.
Por mim, prefiro mijar abraçado a um candeeiro, mesmo correndo o risco de ir para a cama, com a sola das botas convenientemente aquecidas.

O poeta não tem culpa : 
é sua solidão.

Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

NOITE UNIPESSOAL

 

Pus a memória num aquário 
mas sinto que ela não gosta 
das migalhas que lhe ofereço.
Espera-me um duelo onde 
toda a minha batota será derrotada.
Vou mimando 
o engano do mundo
fingindo sempre
que o consigo vencer.
Guardo na cabeça este vício
Como se fosse uma maldosa transfusão
que percorre as minhas veias.
E engulo pastilhas para a depressão arterial.
E estou preocupado!
Deveras preocupado,
porque já não consigo
o desespero de alguma lágrima bondosa.
Agora é esperar
que a noite unipessoal
se embrulhe nos lençóis.

2016,11aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 13 de junho de 2021

OBESIDADE INTELECTUAL

 Abraçado à mesa, 
na desordem das horas, 
esmago memórias, 
no correr do tempo que de mim vai abalando.
Onde pára a beleza?
Há muito que não me molha os lábios, 
nem sinto o toque do seu desejo.
Á verdade é que estou demasiado só para a normalidade do meu eu solidário.
Junto amostras da frialdade 
desta fidúcia sem eira nem beira, 
sem nada para acreditar.
As mãos tremidas, i
mpedem-me de tentar aplaudir a prece mais corajosa, de acariciar a tremenda perversidade, 
que, 
queria ornamentasse uma genuflexão redentora.
Não passo de um cobrador 
da agência funerária “Boa Nova” 
- admirador excêntrico da obesidade intelectual.



,2019Dez_aNTÓNIODEmIRANDA


Sister Morphine; Marianne Faithfull 1969

LOU REED - Venus In Furs

THE VELVET UNDERGROUND- Venus In Furs (Live MCMXCIII).mp4

Sam Chatmon: Make Me A Pallet On the Floor (1978)

Animal Waves

☙Can - Dizzy Dizzy / Don't Say No❧ - Live WDR Musik Extra 3 1977

Future Days

terça-feira, 8 de junho de 2021

AGORA É TUDO LONGE DEMAIS


 Encontrar-te na avenida dos sonhos aziagos.
Beijar-te as artroses sublimadas na mais polvorosa mania de gostar de ti.
Desejar as melhores núpcias para os nossos pesadelos.
Perfumar-te numa água de “ausonia”, 
que nunca afunde o devaneio de mergulhar 
a boca no teu corpo.
Um desejo concreto, 
a fingir o momento certo, 
como se fosse luar.
Pintar o sonho da cor mais possível, 
caminhar o destino que ainda não parou de fugir.
Sentir o que nos falha, 
ainda não está escrito.
Talvez falte uma troca de saliva, 
e um toque ocasional que tarda a acontecer.
Amamo-nos assim, 
como se isso fosse o momento que procuramos.
Trocamos matrículas à falta da alma, 
enquanto a memória vai varrendo 
os crepúsculos possíveis.
O futuro foi uma possibilidade nunca atrevida.
Agora é tudo longe demais.




,2019mai_aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 7 de junho de 2021

AMOR?TALVEZ…

 

Amor?

Talvez…

Beijo-

Te

A nudez,

com a língua

da minha

gaguez.


,2019nov_aNTÓNIODEmIRANDA


AGASALHEM-SE!

 
Diziam aqueles que nada daquilo compreenderam, 
que realmente ele era diferente. 
Os menos resignados afirmavam mesmo, 
que apesar de tudo, talvez não fosse má pessoa.
Ele, 
(liberto de toda a imensidão da hipocrisia), 
continuava a ignorar a perniciosa adulação, 
enquanto mastigava a habitual pastilha do nojo.
E na conferência dos dias azedos, 
jamais se esquecia da oração dos estúpidos, 
que pensam que um dia irão morrer como ele quis.
Paz á vossa alma!
Tenham cuidado!
Agasalhem-se!
Contrariamente ao que se pensa, 
no vosso inferno faz um frio de gemer.
E as formigas têm uma grande dificuldade 
para armazenar esterco congelado.



,2019mai_aNTÓNIODEmIRANDA


A RESPOSTA ADEQUADA

 

Achas que gemi alto demais?

Não sei

Querida,

Estava

No quarto

Ao

Lado 



2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA

ASSIM COMO QUEM RETORNA AO CÉU

 

Na 7ª hora
No 7º dia
No 7º mês
a cigana da sina infalível, disse-me com os dedos cruzados, que a minha mentira, afinal seria possível.
Ofereci numa generosa moeda, o número do telefone do destino que ainda não encontrei.
Olhou-me como se não me visse, alargou as asas, queimou a saia comprida, e só depois se despediu. Assim como quem retorna ao céu.
Não sei onde estive sentado.
Perdi a vez.
Levantei-me, supostamente na direcção do abandono que me levaria a casa. Esperei as horas dignas no degrau daquela felicidade que tarda a chegar. Pássaros tristes voam desesperadamente, desenhando na gaiola a obscena liberdade. Neste jardim calcado por passos que possivelmente me pertenceram, olho indiferente para lágrimas que secam flores.
Dispo a memória. Aqueço o desejo. Ensaco-me no pijama do nojo, mas, já não consigo prometer-me, que desta vez será a sério. Apago o candeeiro enjoado do abat-jour que só quer dormir, e que nada se importa com a minha mais pequena significância. Fecho os olhos com a suposta alegria dos beijos sem tempo, e regresso ao futuro por mim sempre pintado.
Nada mais me importa

,2019mai_aNTÓNIODEmIRANDA

Restaurante Darshan_almoço 06 Junho