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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Francisco Fanhais - "Se os teus olhos se vendessem " do disco "República...


Lula Pena - "Senhora do Almortão" **********GOSTO********


EXIGÊNCIA

Não entendo, nem é minha função,
Estes intelectuais esquemáticos,
Equimosados pelo sistema, ...
Com discursos sistemáticos,
Apáticos, Hepáticos,
Que falam com panfleto colado na boca.
Mostram-me sempre a errada posologia.
Não é língua
Não é poesia
Nunca será ousadia.
Doutrina urinada
Estupidez insuflada
Incomoda-me tanta mania.
Continuarei a exigir
Que mesmo que não se goste
Se respeite a poesia


,2015_jan_29_aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Convém não esquecer : BABII YAR (Yevgueni Yevtushenko)

Nenhum monumento supera o Babii Yar.
A pedra sepulcral é uma pura lágrima.
Eu estou com medo.
Eu sou hoje tão remoto
como todo o povo judeu.
Agora vejo-me
como um judeu.
Aqui arrasto-me através do Egipto Antigo.
Aqui eu morro, crucificado, na cruz,
carregando as cicatrizes deixadas pelos pregos.
Sinto-me como Dreyfus.
O filisteu é simultaneamente o denunciante e o juiz.
Sou prisioneiro. Estou cercado.
Perseguido, cuspido e difamado.
Grito, enquanto deliciosas senhoras decoradas
com os seus laços de Bruxelas
furam-me o rosto com os seus guarda-chuvas.
Vejo-me então
como uma criança novinha em Bialystok.
O sangue escorre, derramado pelos soalhos.
No salão do bar a multidão desperta
para uma medida de vodka e cebola.
Desamparado, levo com uma bota
um pontapé no traseiro.
Em vão suplico por piedade
aos meus carniceiros.
Enquanto isso troçam e disparam,
"Derrotem os judeus. Salvem a Rússia!"
e um caceteiro bate na minha mãe.
Ó meus povos russos!
Eu sei, vocês são internacionalistas.
Mas aqueles que têm as mãos sujas
em vão vos retiraram a pureza do vosso nome.
Eu conheço a bondade da minha terra.
Mas os anti-semitas são vis
e não caem em deliquo.
Intitulam-se orgulhosamente
de "A União dos Povos Russos!"
Eu vi, como Anne Frank,
os límpidos ramos da Primavera.
E eu amo.
Não preciso de frases vazias.
Necessito apenas do que descobrimos dentro de nós.
O que mal se pode ver ou cheirar!
Não nos deixam partir
e é-nos negado o céu!
Contudo podemos abraçar-nos ternamente
na escuridão de um quarto.
Eles estão chegando?
Não tenham medo.
É o retinir suave da própria Primavera -
a Primavera já vem a caminho.
Chegando até mim.
Despeçam-se depressa.
Estão quebrando algo debaixo da porta?
Não, é o gelo que se parte...
A erva selvagem murmura sobre Babii Yar.
As árvores olham agourentas
como os verdugos.
Aqui todas as coisas gritam em silêncio,
e, dentro da minha cabeça, lentamente,
sinto-me transformado em cinza.
E sou eu mesmo
a soltar um berro tonitruante
pelos muitos milhares aqui enterrados.
Eu sou
cada velhinho aqui abatido a tiro.
Eu sou cada criança aqui abatida a tiro.
Nada será esquecido dentro de mim.
Deixem a "Internacional" trovejar
quando o último anti-semita na terra
for enterrado para sempre.
Não tenho um pingo de sangue judeu.
Mas, na sua raiva insensível
todos os anti-semitas
devem odiar-me agora
como se eu fosse um judeu.
Mas até por essa razão
Eu sou um verdadeiro russo!

APTIDÃO INAPTA PARA FAZER CONVENIENTEMENTE NADA

O coelho falante com botas panamá jack
era um anónimo traficante
que bondosamente entregava
comprimidos que espelhavam
a curiosidade da Alice.
A Alice fugiu do cenário.
Consta-se que agora dança num tabuleiro de xadrez
e entrega enxaquecas climatizadas
a um rei cansado de ser branco,
que escreve poemas breves
em folhas de waffles codificados.
Cogumelos espreguiçam contos de fadas
numa praia só vista por eles.
Lewis pendura pergaminhos num estendal
e é agora correspondente anónimo do jornal
da terra que lhe viu fugir.
Nas horas vagas é amolador,
mas toda a gente diz
que não tem jeito para a profissão.
Comenta-se que é dono de uma aptidão inapta
para fazer convenientemente nada.

,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

O Único Verdadeiro Deus Vivo: Poesia às Quintas – com Miguel Martins – 220ª s...

O Único Verdadeiro Deus Vivo:


Poesia às Quintas – com Miguel Martins – 220ª s...
: Poesia às Quintas – com Miguel Martins – 220ª sessão – Bar a Barraca – 2 de Fevereiro – 22.30h – entrada grátis Na próxima 5ª,...

Muddy Waters Forty Days and Forty Nights - Tomem lá bLUES!

 - Tomem

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

READER'S DIGEST

Um homem só embalando a sua sombra cáustica,
ilumina a ideia que lhe fugiu, acariciando a
lamparina mágica que lhe oferece todos os pressentimentos.
Aquece as mãos com que apalpa a existência dos erros.
Quer sair de si próprio rejeitando todos os rótulos para esta viagem.
Relê os poemas que nunca escreveu e dirige-se á porta do tempo que corre.
/
Um homem só com uma sombra incompleta, calca esperanças que lhe dificultam a vida.
Sentado na árvore dos sonhos feridos, encanta borboletas com vozes de pássaros.
Abana o mundo que não quer ter na cabeça e oferece rebuçados do Dr. Bayard às formigas constipadas.
Fez um hat-trick obedecendo à apurada técnica da sua fina cintura, e agita uma bandeira ventilada com náufragos da última colecção outono-inferno.
Salta de bíblia em bíblia embrulhando parágrafos da Reader's Digest.
/
Por isso diz-se :
um homem só não é de fiar.
/
O homem seguiu a sua sombra para o beco sensato onde se ouve a última valsa.
Relembram segredos do arco-da-velha e abraçam-se num cambalear desajeitado e bebem bagas de alegria numa taça comum.
Assim iluminam os passeios das gaivotas curiosas que aplaudem o seu encontro.
/
O homem achou a lua abraçada a um candeeiro. Julgou-se dono de tudo e roubou-lhe o único sorriso escondendo-o no bolso alheio.
Vendia versículos disfarçados de hambúrgueres tragicamente elaborados no great american disaster.
/
Marcaram encontro na fila de espera da felicidade adiada.
/
O homem perdeu a sombra.
Mas não encontrou outro caminho.


,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

ABSENTISTA DO 7º DIA

Faltam flores neste bouquet!
Até à última instância do fogo que nos corroeu, há que justificar o fôlego do encontro desajustado com memórias de inquietude só para queimar incensos.
Que rosa nos paríu a traição dos desejos nesta procissão de rostos circuncidados?
Faltam asas nestes mensageiros!
Sorrisos abados nesta fome de todo o sempre lavrada nas palavras com estrofes inconstantes, que vestem a nudez dos sonos fora de órbita.
Trovões dourados que nos assolam as madrugadas com festas privadas onde é bem vinda a indecência.Que noite saíu dentro de nós para fazer arder todas estas feridas com que ilustramos a urgência? Lambemos a realidade com sacrilégios temperados na lenta combustão que nos torra o desgosto perpétuo. E o que fazer dos sonhos escondidos nas capas dos livros atarefados nos rodapés desta penitência? Invadirei o amor para o fingir no nível exacto tão-só para confirmar todas as condições da memória. Só vale a pena correr atrás da fantasia quando esta não afoga a ambição.
Contrições repetidas lágrimas de fino trato da Petra, sacudir a égua do capote, lustrar a desculpa esfarrapada da falta de sorte, mendigar com toda a fé, invejar sem olhar a quem soletra versos para empalhar palavras e afixar carimbos da mais triste miséria.
Podia ser pior... a comiseração habitual dos infelizes!
Nada posso oferecer a este peditório.
Faltam loucuras neste bouquet!
E ele sabe a maneira como gosto quando estou disposto a concordar com a falta de comparência da sua beleza.
Continuarei um mero absentista do 7º dia.
,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!BENFICA!


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

HARAQUÍRI

Descansou o punhal na palma da mão.
Uma gueixa ocasional
imprimia numa toalha do Hilton...
o perfume do seu olhar.
No quarto,
estava escrito em todos os tectos do 7º céu,
um poema com palavras
que não diziam o seu nome.
Contudo havia champanhe
no elevador do possível amor.
Cá em baixo,
o porteiro arrumava
um vistoso aston martin
no sobretudo da call girl.
A polícia procura agora
um golden visa
e eventualmente
um jogo de algemas
mostrando iniciais incrustadas
com diamantes
made in África.



 ,2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

AMÉRICA (COM 1 ABRAÇO PARA GINSBERG) "trumpin`in usa"

América!
Pés nus sobre a terra sagrada !
Exactamente a terra que tu manchaste
América não vales nada !
América não pensas nada !
Não respeitaste as pessoas boas
Que tiveram a coragem de dizer mal de ti.
América acabaste com os ÍNDIOS
E inventaste o ketch up para celebrar a sua ausência.
América eu sei que GINSBERG deu-te tudo
E eu ofereço-te todo o meu nojo.
América não precisas justificar a tua existência
( eu sei que a tua estupidez é suficiente ).
E os teus cowboys nem em filmes me seduziram.
América vou matar-te !
E nem sequer será um acto de coragem.
América és uma mentira.
América vou segredar-te o meu espólio :
1 bomb in my head
1 bomb in my hand
1 bomb in my mind
With all this things, i love you américa
I hope you don`t mind.
América ninguém acredita nos teus cenários
Ninguém se ri dos teus palhaços
Nem os cães querem mijar na casa branca
América deves aconselhar o teu presidente
A não comer as cascas dos amendoins
(nem os macacos fazem isso).
América não aprendes nada
Os marcianos já fugiram
América GERÓNIMO derrotou-te
América SITTING BULL gozou-te
E talvez eu seja um dos milhões de espíritos de
TATANKA YOTANKA que neste momento
solenemente juram que te irão foder.
América não te livras de mim
América celebrarei exclusivamente para ti
Uma ghost dance
América we shall live again !
Eu sei que não vais gostar,
Mas o teu mau gosto nunca me surpreendeu.
América ! Are you talking to me ?
Vai pró caralho !!!
América!
Pés nus sobre a terra sagrada !
América não ouviste a fala do índio
( sim, bem o sabemos
Quando vós chegais, nós morremos )
América tu é que és o manicómio |
Liberta aqueles a quem chamaste loucos
Só porque choraram por ti.
América ! E os búfalos ? Lembras-te ?
Claro !
Inventaste o hamburguer para esconder o seu extermínio
América LITTLE BIG HORN existiu
Enterraste as tuas mentes brilhantes
Na curva do rio
América ! Merda para o custer para o super homem
 para o batman e muita merda para o capitão américa.
Merda ! Toda a merda para os teus heróis de celulóide.
América desiludiste MARLON BRANDO.
América ! Sinceramente nunca gostei das tuas torres.
América o jazz não é teu.
Os blues choram a tua vergonha
América !
Amo desesperadamente aquilo que não te pertence !
América o mundo não precisa da tua boa vontade !
Eu sei que vai haver uma vaga no céu :
O deus em quem tu confias
Anda a portar-se vergonhosamente mal.
América FIDEL é o teu amante ideal.
América os teus dólares cheiram a merda
És uma história sem vergonha
VIETNAM, BERTRAND RUSSEL
América SACCO & VANZETTI não são assassinos
MARYLIN nunca foi a tua prostituta
América não me interessam absolutamente nada
Os teus constantes esgotamentos
E os teus delírios já não são segredo
Nem a cia acredita neles
América!
Pés nus sobre a terra sagrada !
Assassinaste os jovens que pensavam gostar de ti
América eu não estou sozinho
América eu só quero ser bem comportado
América eu só quero não ser respeitado por ti
América eu vi-te sentada numa nuvem a espiar a humanidade
planeando avidamente o método mais eficaz de a destruir
América não ouviste o grito
Vou-te enforcar numa cabine telefónica
América BOB DYLAN avisou-te :os tempos estão a mudar
A tua estratégia não convence ninguém
Estou farto dos teus boicotes sistemáticos
Da tua moral sifilítica
Da tua anormalidade política
América quanta miséria espalhaste pelo mundo !
GUAJIRA GUANTANAMERA
Esta é a nossa terra, terra querida
Aqui los hombres si, yankees no !
Pátria o muerte !
América tenho a tua coragem na minha algibeira
Eu sei que não vais mudar
Nem poderás nunca seguir o meu caminho
Ainda não descobriste a razão da tua maldade
América todos confirmam o elevado grau da tua insanidade
América hoje é um bom dia para te matar
Uma boa américa é uma américa morta
América porque odiaste os teus BEATNIKS?
Não me ocorre nada de bom para te falar
A tua liberdade não passa de uma estátua envergonhada
América liberta os tornados para que definitivamente
Eles cumpram a sua missão
América as tuas guerras são uma farsa
És um pesadelo sem fim
América todos te enganam
Sobretudo quando dizem gostarem de ti
Vomito nos teus óscares e discursos
e no espírito americano e no teu way of life
América estou sempre pronto para te irritar
ZAPPA tinha razão :
Na próxima vez prometo não vir-me na tua boca
(pensando bem não mereces o meu esperma)
América tenho 1 míssil para purificar a tua alma
O meu ódio é melhor que o teu
Juro-te que a minha raiva é eficaz
Embora me considerem um bom rapaz
Os teus ensaios nucleares não me convencem
As tuas ogivas são supositórios
E no teu cú cabem todas elas
América!
Pés nus sobre a terra sagrada !
América!
Sei que vais morrer!
E GROUXO MARX não te quer no paraíso.
,
aNTÓNIODEmIRANDA

Link Wray - Rumble **** good *****


Do senhor Miguel Martins. Obrigado,Joana Azevedo !

 
 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

ASCO! Trumpin` in usa

Graças aos meus pais não sou americano!
Agradeço continuadamente essa dádiva....

Não vivo naquela parte onde um boneco com uma alcatifa loura, ornamentando uma boteifa mal cheirosa, pretendendo esconder uma diarreia cansada e careca, sossegou a estupidez dos aparvalhados que nele votaram. Que vergonha a vossa! A ignorância que vos gerou nunca perceberá. Vivemos assim os tempos ainda mais difíceis para os conscientes e o terrível preço que continuaremos a pagar pela vossa boçalidade. Não me alegra estar a escrever isto, mas também não me sossega a vossa contínua idiotice. Desde que me conheço, sofro na vida os malefícios do cancro da vossa pequenez. A vossa democracia é uma mousse defeituosamente servida no great american disaster.
E a América tinha os índios, não me levem a mal, tinha os beatniks, não quero que me perdoem, tinha os irmãos Marx, podem continuar a ignorar o senhor Woody Guthrie, teve Marlon Brando que vos comprou Wounded Knee com o dinheiro do óscar que recusou receber, deu-nos todos os pretos de quem vocês sempre tiveram vergonha, deu-nos todos os Blues com palavras tão simples que vocês consideram estúpidas.Estou farto da América! E mete-me asco aquele mundo que estupidamente imita a América! Pergunto à tua infâmia quando poderei ASSASSINAR-TE com os disparos que ainda não te mataram?
Responde-me para o asco habitual.
Ficarei vivo até estas contas estarem saldadas!
Mesmo velho e cansado, presto à tua maldade um juramento perpétuo de que nunca será agradável a tua presença.
Até nunca!


 2016,11aNTÓNIODEmIRANDA

Mr. ROBERT JOHNSON. BLUES ! Um amor antigo | Uma paixão permanente !


FUTEBOL (12) SIMULAÇÃO

Sentiu nas costas o toque de midas
e estatelou-se em plena grande área.

O árbitro mostrou-lhe o cartão amarelo
por pretensa simulação
.


,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

LENHA

 Está 1 frio de rachar!
 Ouvia dizer lá fora.
 Aconchegou a roupa.
 Ajeitou a almofada.
 Adormeceu a pensar:
 ainda bem que a lenha está longe.

2016,02aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Jefferson Airplane -White Rabbit-




"White Rabbit"

One pill makes you larger
And one pill makes you small
And the ones that mother gives you
Don't do anything at all
Go ask Alice
When she's ten feet tall
And if you go chasing rabbits
And you know you're going to fall
Tell 'em a hookah-smoking caterpillar
Has given you the call
Call Alice
When she was just small
When the men on the chessboard
Get up and tell you where to go
And you've just had some kind of mushroom
And your mind is moving low
Go ask Alice
I think she'll know
When logic and proportion
Have fallen sloppy dead
And the White Knight is talking backwards
And the Red Queen's off with her head
Remember what the dormouse said
Feed your head
Feed your head

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O HÁLITO SALGADO

Está frio no meio do meu sonho.
A pele estica-se fora da dor,
fugindo do sangue atropelado
pela lama da vida.
Tenho na mão
o hálito salgado
dos tempos morridos
desta espera constante.
Não posso pedir ajuda
a esta importância que me julga,
neste cambalear
com que embalo o meu vazio,
pensando iluminar as agruras
onde tanto me desanimei.
Estendo sorrisos
como se a eles alguém acenasse
e assim me envolvo em bolhas de sabão.
Vou passando em todas as ruas
como a areia do deserto
que sobrevive à falta da mais pequena ternura.
Chego sempre cansado
demasiado cansado
carregando o peso da minha ausência.
Descalço o olhar
escondo o desejo
alisando a memória
nas ilustrações esbranquiçadas
da minha ilusão.
Infinito é o bocejar do meu passado
feito com o polimento das pedras
que me atiraram.
Continuo apartado.
...depois de todo este tempo.


,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA



ESTIMADO PASSAGEIRO

1.
Não sei de que lugar estou perto
nem do longe que me leva.
Sou como a nuvem do deserto
chuva seca e apressada
empoeirando a saudade.
Sou o fugir sem lugar
para tanto prometer
sem nada de mim cumprir.
Tenho o coração a chorar
com gotas a fingir
a esperança tingida
com mentiras
que já não agradam a ninguém.
Fujo agora
tropeçando nos degraus do medo
que não ouso admitir.
Coxeio nesta bebedeira
tão velha como a minha ignorância
e tento sossegar esta presença
sentado no banco da estação habitual.
O tempo de espera estimado
informa-me que cada vez é mais curto
o momento que tenho
para mudar a agulha.
Estimado passageiro,
boa viagem!
Esperamos que tenha a oportunidade
de chegar ao destino que mais lhe
apetecer.
Em nome de toda a manipulação,
reiteramos os votos de um bom
desaparecimento.
O resto, se puder,
é consigo.
2.
Maldade!
Isto não se faz!
Acabei de renovar o passe social onde poderá ser vista a melhor fotografia da minha incoerência. Esmerei-me para que não existissem dívidas e até subornei o oblitarador para não dar demasiado nas vistas.
3.
Mas depois temos o tempo, essa coisa do demo que maldosamente nos vai vacinando o engano do desgaste da nossa permanência. Visitamos um calendário qualquer que nos mostra uma ardilosa conjugação de signos. O sagitário a dormir no aquário. Peixes contando carneiros. Touros a assar capricórnios. A balança com os pratos gémeos dá-nos o peso sempre a dobrar. O escorpião pica o caranguejo. A virgem angana o leão.
,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

ÀS VEZES O TEMPO

Às vezes o tempo é duro para comigo por mais que lhe diga que não admito abusos de confiança. Ele pula e avança, exagera na confiança como se fossemos velhos conhecidos. Açoito-lhe a memória, já não vou na sua história e espremo-lhe o desejo como se fosse a última dose.
Isto sou eu a fingir.
Ele só quer brincar,e eu que ainda nada sei deste jogo, logo caio no logro do seu modo louco de dizer que desta vez não me engana.
Ofereço-lhe o cachecol, ele finge que morde o anzol, eu visto o lençol e escondo-me na cama.
Amanhã será um jogo diferente?




,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

POR FAVOR, NÃO INCOMODAR

Entardecia a vida agarrado ao copo tão vazio como a sua tristeza.
E na pressa de o encher, bebia as lágrimas possíveis num olhar de absinto,
enquanto fumava nuvens que nunca lhe pertenceriam.
Teve todos os cuidados e pendurou no olhar a tabuleta | não incomodar |
como a Gina da pensão da rua Sofia, lá na bela Coimbra,
costumava fazer enquanto tocavam os corpos sem beijos acontecidos,
fingidos num amor taxado, sem bónus nem direito a repetição.
Curvado sobre o papel, a falta de vista não o impede de recordar
o cheiro da toalha mais usada do que a sua vontade de não incomodar.
Sorri letra a letra, agora deitado no sofá dos sabores.
O copo está cansado, e mais do que isso, farto das suas lembranças.
Espera como sempre, o sono, algumas vezes inquieto, do seu despertar.
É agora o seu dono, será amanhã o seu caminhar.
Com todo o cuidado, beija-lhe a testa, não vá a saudade mais tarde despertar.
Mas o vazio não tem peso nem medida, nem hora acontecida,
nem vontade adquirida.
Há que ter cuidado!
Não vá ele julgar que está a sonhar.
As nuvens agora voam baixinho, e como quem não quer a coisa,
amordaçaram o piloto automático.
Por favor,
não incomodar.

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

MEMORY

Não tenho a faca não gosto de queijo, só uma colecção de corta memórias fatiadas. Facadas em todas as costas cozinhadas em tons gourmet. Alguém sentado à minha direita, isto é do lado errado, mostra-se num ângulo cego, atropelando-me a marcha atrás. Dizem por lá que poderá ser bom rapaz. Mas continuo a não atinar com a mudança. Estou empanado! E tenho a plena consciência que não sou capaz. Só me apetece uma corrida a mil sem hora convenientemente anunciada no Borda d`Água. Na sessão da meia- noite, ressona na poltrona o filme da minha vida. Por vezes, e para não o acordar, chego a pensar num outro realizador. Mas, as discussões abertas à definição da minha probabilidade continuam a não me dizer respeito. Não me apetece mudar de inventário. Dispenso esse trabalho. Contudo irei avisar a bilheteira para proibir o consumo de pipocas com sabor a desodorizante.
Contrariamente ao que é publicitado, esta acção em nada dignifica a desinfestação do mau hálito.




2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

CONSULTOR DE IMAGEM

Um par de solas penduradas na parede rompendo a memória das ruas amigas.
Talvez um sorriso nem sempre cúmplice e uma amêndoa doce em jeito de despedida.
A tosse avulsa enrodilhava-lhe o olhar percorrido por lágrimas beijando todas as lembranças. Era o tempo para secar o acordar dos sonhos. Tinha agora os amigos necessários sempre abraçados para não esquecer. Cingia uma a uma as suas almas com sentidos apertos de mão. E uniam-se cada vez mais nas sonoras gargalhadas.
Mas ele sabia que a fivela do seu cinto, em golpes de trivela angustiada, enlutava poemas que ele nunca poderia lembrar.
Pousava na mão toda a esperança que a má sorte lhe deu. E escarrava todo o sangue do seu modo, no destino que não escolheu. Por ali, sempre fora do lugar, passam um videoclip com um tal, de fraldas deitado em palhas enternecidas pelo ar condicionado. Já não se lembra do nome que o consultor de imagem lhe apropriou.

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

PROMESSA

Àqueles que morreram e eu não fui ao funeral,
não levarei a mal
a sua ausência
nas minhas exéquias.

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

ATENÇÃO! ELES ANDEM AÍ

Não me custa nada admitir o meu feitio
para ouvir conversas que não me cativam.
Alzheimer metalizado
cadeira de rodas com tracção total
plasma não Octapharmizado
coelho sem falsos Passos
galinhas sem Cristas
Portas automáticas para a secção dos abortos
Atenção!
Eles andem aí.

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

A CONDIÇÃO DO TEMPO

Tentou seguir a estrada numa réstia de via láctea
embrulhada em delícias de nitroglicerina.
Abenço-ou o caminho feito sem destino na auto-estrada
onde ninguém aparece.
Guinou para qualquer lado assim como a despedir-se
dos velhos carreiros que tanto o acompanharam.
Desligou o voice mail e enterrou para sempre a indignação.
Acendeu os faróis que nunca lhe alumiaram a vida
e seguiu em frente para o lugar onde nunca tinha estado.
A vida fez-lhe a ferida num corpo calejado por todo o desejo aleijado.
Teve pouco tempo.
E gastou-o todo com um sorriso.

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

MURO INFECTADO

Recuso o tempo das lamentações e nesse muro tão infectado comporto-me como um cão e mesmo sem cheirar não abdico da mijadela. Nada sinto para me desculpar. Tento com todos os bons e óptimos modos tudo aquilo que tenho na ideia. A minha cabeça, única almofada que me conforta, está feliz comigo. E as nossas gargalhadas amigas nunca nos deixam ficar mal. Só temos conversas necessárias à compreensão da nossa cumplicidade. O resto, o que é feito dessa matéria apressada, embrulhamos num filme retráctil para mais tarde oferecer aos indecorosos. Temo-nos em grande estima e é isso que anima a simplicidade do nosso saber. Juntamo-nos sem data anunciada nem escritura marcada no cartório notarial. Somos adultos. Velhos conhecidos. Grandes amigos.
O que não interessa é retórica embalada no papel higiénico. Palavras palermas anexando vírgulas sem nexo. Estamos sempre esquisitos nos anúncios do intervalo, fingidamente musculados numa mentira promocional. A campanha bate à porta a campainha não se importa. Alguém me seleccionou como candidato a um prémio que nunca me apetece.
,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

VIDRAÇA

Tenho os lábios impressos na vidraça que esfrega
a trapaça deste vazio dos sons de bolor vacilante.
Arrumo os braços no compasso destas paredes
pintadas com a chuva que enlaça
os passos da deriva deste caminho.
Letra a letra escrevo um inventário com espaços
sempre vermelhos que aquecem o meu suor.
É triste esta batida numa cadência desencontrada
da urgência que me assola.
Sou um assaltante
da tranquilidade
que me arrasta
para o sonho
cada vez mais
distante

,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

PENAS DORIDAS

Cansados vão os pássaros para o ninho depois de um dia de tanto navegar.
E o Heitor (o meu amigo pombo), que pensava que era pintor, continua a não compreender porque o maltratam, quando com todo amor caga no retrovisor a mais sofisticada das suas obras. Chega triste à célula 21 do ramo disponível e tenta confortar a família pela angústia de mais um voo não conseguido. Veste o roupão com penas tão doridas como o secreto desejo de um dia voltar a ser um pássaro feliz. Depois, com os filhos aquecidos debaixo dos seus sonhos, promete só um desejo para lhe dourar os olhos.
É triste ser pássaro mas lá fora é que está a gaiola.




,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

AMOLADOR

Mas do que eu gosto mesmo é do realejo do galego amolador
que ao meu passar pergunta na sua gaita:
então não tem nada para afiar?
Tenho vergonha de lhe dizer,
que poderia começar pela minha vida.
Damos 2 dedos de conversa e sempre prometemos
que está para breve a hipótese de mastigar
a empanada de bacalhau
e saborear o tal xarro de tinto.
Os melros do jardim fazem uma breve pausa na sua azáfama,
para assim ouvirem melhor a sua música.
Sentado na velha companheira,
penteia no esmeril uma tesoura,
cortando assim saudades da sua
Galiza.

,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

O Único Verdadeiro Deus Vivo: SENSABORIA POPULAR ( no blog do Sr. Miguel Martins )

O Único Verdadeiro Deus Vivo: SENSABORIA POPULAR: 1. Há males que vêm para o bem! Que todos os males fossem assim. 2. Com papas e tolos não se fazem bolos. 3. A quem do teu foi mau banq...

A ÚLTIMA NOITE DO POETA…

A última noite do poeta que julgava que até então tinha vivido,
filmada de soslaio por uma câmara escondida.
Enredo conturbado numa cena de celulóide moreno,
género fricção dentífrica, com luzes a cintilar fora das órbitas
e um elenco de joaninhas amestradas.
Vamps carecas ornamentavam as filas de espera
só para ver o desfile das estrelas
no estúpido resort das passadeiras vermelhas.
Ratos disfarçados de limousines,
distribuíam autógrafos com efeitos especiais.
Óscares lubrificados com durex,
mostravam trelas diamantadas defecando no urinol da fama.
Foi tanta a indecência que entupiu o camião do lixo
e os aplausos não puderam ser reciclados.
O trânsito ficou parado e a inteligência obstruída.
O pânico saía das agulhas
para não faltar à convenção dos comas sintéticos.
A grande cidade não dormia e deus perdeu definitivamente
a esperança nos milagres mal filmados.
Na esquina da 5ª avenida, com uma rua qualquer,
os semáforos entraram em convulsão.
Todos os quartos do hotel da infâmia estavam ocupados
e o velho recepcionista podia jogar tranquilamente
a habitual partida de bilhar de bolso.
Na esplanada do fojo a velha raposa

de pala espetada no ouvido direito,
aguardava astutamente o momento para substituir
o mal-educado leão da metro goldwyn mayer.

,2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

SENSABORIA POPULAR

1. Há males que vêm para o bem! Que todos os males fossem assim.
2. Com papas e tolos não se fazem bolos.
3. A quem do teu foi mau banqueiro, não lhe mostres o mealheiro.
4. Quem não tem dinheiro, está sempre teso.
5. De nada serve a economia, quando a bolsa está vazia.
6. Quem quer vai, quem não quer fica.
7. Para o bom entendedor meia palavra é um erro.
8. Com tempo tudo se muda.
9. O homem prevenido fica mais pesado.
10. Águas passadas não se podem beber.
11. Boda molhada, bebida estragada.
12. Mais vale perder um minuto na vida do que meia hora no dentista.
13. Quem ama o feio, é porque tem mau gosto.
14. Deus dá a farinha e o padeiro é que se fode.
15. Vassoura nova dá muito trabalho.
16. A obesidade é mãe de alguns vícios.
17. Longe da vista, fica mais difícil de se ver.
18. O saber não ocupa penico.
19. Cautela e caldo de galinha nunca fez uma boa canja.
20. No poupar é que está o engano.
21. Quanto mais depressa mais rápido.
22. O sol quando nasce é sinal que é dia.
23. O barato não é caro.
24. Amigos, amigos, negócios em Marte.
25. Ajuda-te que Deus está ocupado.
26. Juntam-se as comadres, zangam-se os compadres.
27. Quem o alheio veste, é porque pediu emprestado.
28. De tostão em tostão não se junta nada.
29. Azar no amor, cabides na testa.
30. Quem dá e torna a tirar é porque sabe negociar
31. Quem come gato por lebre, também pode comer a ração.
32. Um é pouco, dois é bom, três é bestial.
33. Depois da tempestade a companhia de seguros está fechada.
34. A insónia tranquila não é o melhor remédio contra a consciência.
35. Cada um sabe de si e Deus de alguns.
36. Quem nasceu para burro, tem uma vida triste.
37. Quem nasceu para a forca, odeia gravatas.
38. O pior surdo é o que não tem dinheiro para comprar o aparelho.
39. Preso por ter cão, preso por não ter pago a licença.
40. Guardado está o bocado. Convém não esquecer.
41. Quem semeia feijão não colhe hortelã.
42. Quem ri por último, poderá mostrar alguma falta de entendimento.
43. Muito sabe quem pouco esquece.
44. Rei morto, funeral à vista.
45. Os opostos estão sempre longe.
46. Quem tem telhado de vidro, dentro de casa pode ver o luar.
47. Quem boa cama faz, é sinal de conhecimento.
48. Perguntar não ofende, mas às vezes é uma grande chatice.
49. Mais vale uma mama na mão, do que duas no sutiã.
50. Quem dá aos pobres, não fica menos rico.
51. Certos gostos não se discutem
52. Hoje por mim, amanhã também.
53. Se sabes o que eu sei, para quê ouvir?
54. Diz-me com quem andas que eu também quero conhecer.
55. Quem não faz o que pode, é para não ficar cansado.
56. A mentira tem penas curtas.
57. Quem corre por gosto, pode parar quando quiser.
58. Não coloque o carro na frente dos bois, ele pode ficar danificado.
59. Os melhores perfumes são muito caros.
60. Trabalhar para aquecer, é aquilo que o patrão quer.
61. Não há duas sem uma.
62. Quem tem burro e anda a pé, é porque estima o animal.
63. As boas contas também são difíceis de pagar.
64. De boas intenções estão os idiotas cheios.
65. Mais vale só do que ser sempre eu a pagar a conta.
66. Deus o trazeu, Deus o leveu.
67. Patrão na loja, dia santo lá fora.
68. A fruta proibida nem sempre tem pesticida.
69. Devagar com o andor que o santo não está com pressa.

,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA
 

CLÁUDIO NUNES | CORVOS