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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

UM GRANDE PRESENTE ! Obrigado Nuno Moura !

 
 

BARCA VELHA

Amantes abandonados

Numa barca velha

Dois copos tombados

Procurando a deriva adormecida,

Tornam o amor absoluto.

Pairámos em ondas

Que absurdamente nos alvejam

Com as setas do cupido.

Há dias mais que perfeitos

Para embalar

A circunstância repetida.



2016,01

aNTÓNIODEmIRANDA
 


MANHÃS SUBMISSAS


Os grandes dias

nunca começam com manhãs submissas.



2016,01

aNTÓNIODEmIRANDA

NUNCA MUDAM


Não vale a pena cheirar o amanhã.

Nunca mudam a merda!


2016,01

aNTÓNIODEmIRANDA

AI EU !


Ai eu !

Que às vezes nada sei de mim !

Também não sei,

Porque há dias que me fazem assim...


2016,01

aNTÓNIODEmIRANDA

O ÚNICO E VERDADEIRO.


Sex(t)o Sentido.

 

2016,01

aNTÓNIODEmIRANDA

IMPRECAÇÕES PARA UM DEUS MENOR (c)


Porra !

Já chega !

Nunca vi um nome

tão danificado !





2016,01

aNTÓNIODEmIRANDA

IMPRECAÇÕES PARA UM DEUS MENOR (b)



Ser católico

é um pecado como outro qualquer!

Não é grave, mas inflói o Alter

e enferruja o Ego !



2016,01

aNTÓNIODEmIRANDA

IMPRECAÇÕES PARA UM DEUS MENOR (a)


Não julgo ninguém pela sua aparência.

Deus disse-me o mesmo,

quando duvidei da sua presença !





2016,01

aNTÓNIODEmIRANDA

Bom fim de semana e boa sorte nas actividades. (Se for caso disso...).


quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Jefferson Airplane - White Rabbit (Grace Slick, Woodstock, aug 17 1969)




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AQUELA FAMILÍA (Tri[o]logia Profilática)

AQUELA FAMILÍA (Tri[o]logia Profilática)_1
HOMEM RICO, GENTE POBRE !

E o teu pai é um homem rico,
Mija fora do penico.
A tua mãe está sozinha,
Tem no dedo um diamante
Que a põe sempre contente.
Não se lembra do ausente,
Nem quer saber do marido
Quando toma o comprimido.
Um diamante é para sempre.
Mas muitos mais tem a amante
Com ele sempre presente.
O teu pai é um ladrão
Diz sempre que não é sua a culpa.
Sempre que rouba mais um milhão
Acusa o pobre filho da puta.
O teu pai é um bandido
Nunca se cansa de enganar.
Faz-se passar por sério
É esta a novela que tem para te mostrar.
E assim te conta fábulas
Para te envaidecer,
São tantas as lérias cantadas,
Que acabas por adormecer.
Nunca te falou da mentira
Do mundo em que te faz viver.
Ocultou a história verdadeira
Não há pobres de segunda
Nem gente de primeira,
Mas isso não deves saber.
O teu pai é um podre valente:
Dá cabo da vida de muita gente.
 
2016,01
aNTÓNIODEmIRANDA
 
AQUELA FAMILÍA ( Tri[o]logia Profilática)_2
A TUA MÃE É UMA BOA MULHER…

A tua mãe é uma boa mulher.
Embora exemplo para não ser seguido.
Mas ele não dá o que ela quer,
Sempre ausente e tão distante,
Que nem aquele diamante
Que ele um dia lhe ofereceu,
A faz hesitar por um instante
Quando nos beijos do amante
Cai nos braços do Orfeu.
Tem esta forma peculiar
De gostar do fruto proibido.
Não importa o que faz
Se é isso que a satisfaz,
Nem se lembra do marido.
Ele está sempre tão distraído!
Ela tudo sabe do amor comprado,
E daquela vontade sempre a crescer.
Não quer o homem enganado,
Mas acaba sempre por acontecer.
Não tem culpa de gostar.
Compõe-lhe o nó da gravata,
Aconchega o penteado,
Mais um borrifo de perfume
Para mais tarde disfarçar.
Não há queixa nem ciúme
Cada um vai para o seu lado.
Não tem jeito para o poema
Talvez o diga no próximo telefonema
Com palavras de corar.
A tua mãe é uma boa mulher.
… podia ter outra mania qualquer.
 
2016,01
aNTÓNIODEmIRANDA

AQUELA FAMILÍA ( Tri[o]logia Profilática)_3
E TU NÃO ÉS DE DEITAR FORA...

E tu não és de deitar fora
Inteligência distraída
Decência fora de hora
A beleza oxidada
Por orgasmos patológicos
Caucionados por espasmos cosmológicos.
Há quem diga,
Que és uma boa rapariga.
Para não fugir à verdade,
Isso não corresponde à realidade.
Não fiques triste assim,
O papá vai oferecer-te um carro novo,
Com o dinheiro que roubou ao povo,
E a mamã contigo às compras irá.
Crédito aberto,
O amor sempre tão perto,
À distância de um telefonema.
Esquema
Numa lógica perversa
Onde te deitas submersa
Em sonhos tão húmidos que te enferrujam.
Não, não és de deitar fora,
O prazer aí não mora,
É tão longe o teu pensar.
Bijou pret à porter,
Sexo take away,
Eu só digo o que sei.
O teu humor é tão brejeiro,
O que tu gostas é de zumbar.
Tudo em ti é tão foleiro
Nada há para emoldurar.


2016,01
aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

HOMEM RICO, GENTE POBRE !

E o teu pai é um homem rico,
Mija fora do penico.
A tua mãe está sozinha,
Tem no dedo um diamante
Que a põe sempre contente.
Não se lembra do ausente,
Nem quer saber do marido
Quando toma o comprimido.
Um diamante é para sempre.
Mas muitos mais tem a amante
Com ele sempre presente.
O teu pai é um ladrão
Diz sempre que não é sua a culpa.
Sempre que rouba mais um milhão
Acusa o pobre filho da puta.
O teu pai é um bandido
Nunca se cansa de enganar.
Faz-se passar por sério
É esta a novela que tem para te mostrar.
E assim te conta fábulas
Para te envaidecer,
São tantas as lérias cantadas,
Que acabas por adormecer.
Nunca te falou da mentira
Do mundo em que te faz viver.
Ocultou a história verdadeira
Não há pobres de segunda
Nem gente de primeira,
Mas isso não deves saber.
O teu pai é um podre valente:
Dá cabo da vida de muita gente.

2016,01
aNTÓNIODEmIRANDA

SINA ERRADA

Há tanto tempo que vivo sem abrigo. Há tanto tempo que mantenho constante, esta lembrança sem qualquer laivo de surpresa, só abafada pelo cair de algumas moedas na caixa de cartão, que tenho à minha frente. É tão triste este chão. O que me aquece, é o abraço das estrelas amigas, que disfarçam o embaraço com que fingem olhar para mim. Não presto para a atenção, ninguém pega em mim ao colo, julgam-me tolo e os mais afoitos, sempre dizem que já tenho idade para ter juízo. Leram-me a sina errada e sujaram o meu destino com todos os registos da maldade nunca frequentada.Que lágrimas poderei chorar, para não manchar a vossa indiferença?
Sei o que valho, e orgulhosamente aceito que isso não vos importe.
Temos peles diferentes.
& o meu sorriso não tem cotação comercial.
Não é ignóbil.
,2016/01
aNTÓNIODEmIRANDA

TEMPORARIAMENTE INDISPONÍVEL

& as palavras vazias que dizemos escritas em folhas que entopem sargetas Compram-se como recordações num qualquer armazém de revenda Talvez alguém ainda creia na sua importância Riscada por um giz malicioso no quadro do mau comportamento exemplar Ousadia arrependida dor fina e fria Tingida a vermelho pelo fio da navalha Moda canalha pisada em passadeiras vaidosas Portas fechadas não revelam segredos Pensámos nós que escondem medos Mas o que se passa No outro lado da vidraça É um bafo preguiçosamente limpo Pelo pano do dó Tarda a calma Sentada numa culpa sempre pronta e traiçoeira Como se fosse um rio sempre a fingir De resto, nada de novo Continua-se a comer o povo Pitéu nunca caído em desuso Desculpas à Brás Com ou sem natas Manhas habituais à Gomes de Sá Penas matinais Maldosamente cozinhadas a vapor
Temporariamente indisponível Digo-vos adeus Até ao meu regresso.



,2016/01
aNTÓNIODEmIRANDA

E AGORA? DEITA FORA A HORA!

Tenho de ter cuidado, não mostrar ar desconfiado, a polícia anda por aí. Caminhar descontraído, fingir que não estou fodido, ter um aspecto decente. Não votei no presidente. Não tive vontade nem esquecimento, acelerei na consciência um esquentamento, e a puta da certeza da vontade de um povo com estímulo salazarento. Tenho pouco dinheiro e um caminho cada vez mais longo e difícil, que não sei, me levará a casa. Estou no supermercado, constantemente admirado pela frequência ilógica de pessoas que não alcançam o meu cheiro. Não ouço muita música clássica, mas monto bem qualquer bicicleta. Não sou bom no skate e devo dizer que nunca tentei a trotineta. Sou um atento conversador, e preencho bem histórias de amor estupidamente proibidas. Improviso destramente situações húmidas, difundo alguma curiosidade sulfatando ideias, e sei desde há muito tempo, que os ventos do medo quando nos gelam a face, não conseguem mostrar qualquer caminho. Não nos dão um só sabor para provar, e servem-nos a costumeira desilusão numa bandeja tão fria como a alma que gostávamos requentada. Caminho por aí ao acaso, quem me dera estar onde não estou, ainda não achei o passo desenhado no compasso, e é sempre verdade que nunca me quis passar por alguém que não eu. Comecei muito novo a ver drogados, que tiveram na seringa a heroína errada das histórias mal-intencionadas. O bem e o errado convivem amigavelmente, e vontade e mentira fingem uma aparência pacífica. O caminho da luz, aquela enganadora sedução, induz o sim apropriado disfarçando o verdadeiro. Não há quem, em ruas que cortam, ande à procura do amor com passos gelados, onde escorrega a dor, e fique admirado por lágrimas incendiadas guardadas na última algibeira. Ainda chora a ferida sempre acontecida. Embrulhámos a solidão num cachecol para agasalhar o caminho sempre difícil. E, vem à memória um solo da guitarra do Lou Reed, o amigo que conseguimos lembrar. Nada às vezes não é pouco, basta aquilo que nos acompanha na vontade de fugir. E há esquinas tão curtas, sempre oportunas para nos ajudar, para o pulo que nos põe a memória num tinteiro à espera da pena para as escrever, num papel de sangue, pluma insensata, sem data exacta para o deve sem haver, agora que já tenho tantos anos para caberem num satélite, que por demasiadas vezes já foi observado na tv. Mas as luzes acabam sempre por se apagar. E eu que tanto gostava de continuar a ver este filme, que nunca me deixa arrependido. São os brilhos do cansaço, ou aquilo que não serei ainda mais, ou esquecidamente uma vontade não conseguida de voltar a ser criança. E são agora, poucos os soluços para caminhar esta vontade pintada num camarim, onde as estrelas estão sempre fingidas. Talvez uma vez mais não haja nada para dizer. Talvez as minhas coordenadas não sejam as correctas, e a luz branca nada possa encontrar. Talvez a minha carne não seja apetecível, o meu cérebro esteja confuso, o piloto distraído não atinou com o fuso, e eu normalmente no último andar, disponível para uma queda vulgarizada. Só tenho a luz branca para me guiar.
Nada de especial aconteceu! Só estive a ouvir Rock`N`Roll.


2016,01
aNTÓNIODEmIRANDA


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Ettore Scola...Claro que gosto!




No atelier do Tomás Miranda. Foto de Fábio Mendes

Tomás Miranda | aNTÓNIODEmIRANDA

CIÁTICA
Não minto quando te digo que dezembro é uma estação fria e o inverno é um mês com demasiada solidão. Dirás então, que o calendário continua errado, e, as flores que florescem na primavera, aparecem em postais compulsivamente mentirosos. É este o tempo moderno, condicionado por um ar vendido em ampolas com sabor a ciática. Os antigos ficam confusos com esta falta de lealdade. Queimam a saudade saltando fogueiras onde ardem memórias, até então religiosamente guardadas.
É chegada a hora de bebermos desconfiadamente o chão das cinzas.
Haveremos de ilustrar outros postais.

aNTÓNIODEmIRANDA

The Muppet Show: Dr Teeth . Grande Grupo.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

domingo, 17 de janeiro de 2016

ANARQUIA PRECISA-SE!

Existo Logo trabalho Vendo-me Consumo E sou consumido. Sentado á secretária, Imagino & sou feliz Vendo os ponteiros do relógio Apressando um tempo Que em nada me dignifica.
Ser figurante nunca fez de alguém importante. Ainda nos torram com tantas soldagens. Não precisa de ser tão pessimista! Pois é, senhor ministro, eu dantes não era pensionista. É sempre o mesmo filme que nos preparam estes mentecaptos realizadores. É-nos impingida a ideia constante que precisamos de ser orientados, governados e caímos sempre na teia   que nos transforma em meros espoliados. A banca está atenta, como sempre pronta para chupar um sangue que já não é nosso. Depois virão as teorias do plasma negociado por vampiros, varizes cromáticas em forma de tatuagens para impressionar os músculos fabricados com suplementos encharcados com toxinas inadvertidamente amestradas num ginásio sempre com promoções prometendo um aumento facilmente observável do sexo daqueles que só distraidamente o praticam. As desculpas habituais aparecerão nas mãos de cavaleiros liofilizados com máscaras de anjos  para cultivar a nossa servidão. Mas quem manda, quem tem de mandar para construir uma realidade que a cada um de nós diz respeito? Falam do útil como se fosse necessário e premendo a tecla do fútil nunca arbitrário. Dói-nos na pele. Emporca-nos a alma, tira-nos a calma e queima-nos assiduamente o sonho. Estatísticas holísticas inquéritos esponjados numa frequência tendencialmente alérgica à mínima inteligência necessária para a eles não responder. Óleos queimados que nos entopem a tentativa da diferença. Não me conformo, e sei agora  que nunca poderá ser proibido o ousar. Mas o medo encanta uma gente que já não canta esta vida que já não é e nunca virá a ser. Ameaçam-nos com o caos porque eles são os bons e nós, os sempre roubados e enganados, os maus. Deixem-me em paz! Eu quero agora calcar o meu próprio caminho. Não sei que força é esta. Não a compreendo. E rejeito as suas garras que vos engenham a necessidade de serem mandados.
ANARQUIA PRECISA-SE!
Deveremos saboreá-la e bebê-la com o sangue daqueles que ao abrigo da lei só nos têm enganado.

Chegou o momento de provarem o próprio veneno da sua hipocrisia. Ofereço-vos um nó  windsor na gravata feita com as vossas tripas.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

MIGUEL ÁNGEL ASTURIAS.

(19 de Outubro de 1899, na Cidade da Guatemala | 9 de Junho de 1974 )
A questão política foi um dos temas centrais dos intelectuais latino-americanos do séc. XX.
A sua obra representa uma crítica a um regime político, onde o medo, a opressão, a subserviência e o controle ditatorial, estavam sempre presentes.

Bibliografia

Lendas da Guatemala | O Senhor Presidente | Fim de semana na Guatemala |
América Latina: ensaios | Vento Forte | O Papa Verde | Homens de milho | O Espelho de Lida Sal | Furacão | Tijón Gongón e Outros Escritos
 
 


 

GERÓNIMO`S BLUES : ESGOTADO!


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Chico Buarque - Cotidiano





Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café

Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão

Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão

Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã

Chico Buarque - Construção



Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague

Geni e o Zepelim -CHICO BUARQUE DA HOLANDA



De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geleia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de ideia!"
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir
Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni!
Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela)
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai, Geni!
Vai com ele, vai, Geni!
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni!
Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!
Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

AUTÓPSIA


A essa coisa do mau hálito, anuí para segundas núpcias. Inequivocamente era observável a falência total do seu sistema humanitário. O que é certo, é que tinha a cara convidadora para a autópsia perfeita. E, eu sei que há bisturis que embelezam as incisões mais difíceis de esconder. Não te preocupes! Estarei atento e venerando um qualquer sinal da tua parte. Prometo-te uma temperatura amena, para não estragar o anel que acabei de te roubar. Serás entregue porta a porta, num prazo nunca excedendo as 24 horas. Só terei nas mãos o teu coração. Sabes, o meu já não é o que me faz falta.


aNTÓNIODEmIRANDA