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domingo, 17 de julho de 2016

MILES ABANAVA O TROMPETE #Kind of Blue#

Miles abanava o trompete na noite em que a morte subiu ao céu. E tocava as notas da estrela-do-mar com sons de fogo-de-artifício.
Os sonhos bailavam no ar, perfumando a lua com os seus sorrisos.
De olhos fechados via-se o impossível e os joelhos tremiam uma dança que ninguém conseguia parar.
Abriam-se assim todos os parêntesis para o acontecer.
Miles dirigia o baile, celebrando na negra pele a arte de mestre-de-cerimónias.
Erguiam-se lágrimas rejubilosas e toda a gente pensava que o mundo teria um final feliz.
Coleccionador de almas deslocadas, descondicionador de sonhos em banho maria e de loucuras torradas num micro ondas ecológico.
Desenhador da não perfeição, mágico com pés de algodão, solitário no infinito especial, cartaz seduzindo ao longo da estrada do paraíso.
Miles tem na cabeça pergaminhos com pautas celestiais e sopros do “únicodeusverdadeiramentevivo”.
Deleitam-se os anjos num “festim nu”, onde bebem o néctar das orquídeas sentimentais.
E é tão perto o inatingível e é tão serena esta mania de sonhar.
Voam pássaros que ninguém lê, desenhando-nos os mais bonitos poemas dos poetas perdidos.
Creio em tudo o que me é possível.
Acredito que estou vivo.
E se deus não estivesse distraído, olhava para o lado para acreditar.
Ergo um salmo num cálice benevolente repleto de sombras que me desconhecem.
E solenemente aviso:
Já tenho poucos milagres disponíveis.


Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

AMADURECE, DE VEZ EM QUANDO…

Conspurcador de almas filantropas
sonegador de jackpots improváveis
assimila em demasia
teimosas vontades alheias.
Passeia-se no parque
disfarçado de periquito curioso
e circula em voos redondos
como se não fosse capaz de estar parado.
Levanta a voz,
baixinho,
acomodando o volume
à conveniência da intenção.
Faz que chora
mas nunca abraça a lágrima fingida
e descaradamente mostra defeitos
que não lhe pertencem.
Faz a soma iludindo a prova dos noves
e risca no quadro raízes arredondadas
à ínfima centésima.
Amadurece,
de vez em quando,
disfarçado em cachos de bananas.


Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

A NOSSA LUTA É ACABAR COM OS FILHOS DA PUTA!

Encontrar-me contigo debaixo do túnel o lugar mais desprezível dos abandonados. E seguir os carris para os destinos senis e encher pneus de barriga para o ar.
Inchar! Inchar a fome até rebentar. E vomitar uma ou mais sanções como digestão obrigatória. Vomitar esta puta da Europa, que sem a nossa permissão nos condena, dirigindo-nos castigos vindos de quem em nunca votámos.
Ás armas!
Ás armas!
Desta vez não podemos falhar!
Um povo nobre nunca poderá obedecer a uma indústria malfeitora.
É chegada a hora dos canhões cumprirem o hino.
Façamos o nosso destino.
A nossa luta é acabar com os filhos da puta! 

 




Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

A SORTE DA MORTE

Sinto-me como vagas de raiva.
Constante, que faz em mim
a importância que me é devida.
Tenho 7 vidas como a um gato é estabelecido.
E a arrogância circunjacente à minha única condição.
Tenho pedras.
Tenho feridas.
Tenho a fisga na mão.
Tenho que ter pontaria.
Tenho tanto asco,
que toda a revolta não me chega.
Tenho a sorte da morte numa vontade sem norte.
Tenho nos suspensórios pensamentos ilusórios
que me abanam a consciência
para com toda a decência acabar
o mais rápido possível com a secular obediência.
A minha alma não é pequena.
Será o meu desejo incomum?

 

Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

A BELA SONOLENTA

A bela sonolenta, deitada na cama,
ouvindo a lenga-lenda da ama,
espera a fingir de acordada,
a chegada do cavaleiro da Kawasaki 1100,
 produzida no Camboja,
onde nunca lhe contaram,
que ali caíram bombas.
Vestiu a combinação de lingerie adequada,
para a noite da desfloração,
e muda reza a Buda,
pedindo para que o príncipe encomendado,
não se esqueça do Black & Decker, made in Japan.
Lembra-se vagamente do Enola Gay.
Que raio de coisa haviam de mentir.
São rosas!
Escreveu-lhe uma rainha de um distante país.
Mas de cada vez que olhava pela janela
só via os espinhos
que mancharam a humanidade.

 

Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

A BELEZA É UMA ACTIVIDADE INFLACIONÁRIA

Odeio círculos viciosos.
A traição poderá estar na esquina.
A beleza é uma actividade inflacionária.
Os curandeiros Filipinos respiram essa convicção.

A agência France Press e o conceituado Die Spiegel,
pelo contrário,  respigam a ideia da pobreza penetrada
de um positivismo apostólico, admitindo um
neopaganismo europeu.
O vaticano, preocupado, manda chover adereços
progressivos, escamoteados na psique da metafísica,
que nos dirigem a penúria.
O mundo é feito com demasiadas pessoas
desprevenidas.
Os ataques acontecem.
Os presidentes reúnem-se em gabinetes de crise
previamente concebidos.
Isto é, supostamente sem o pecado original.
Distribuem-se condolências escritas em cartões
cinicamente impressos.
Como não conseguem resolver a sua inutilidade,
vingam-se nas sanções impostas aos outros países.

Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

CAMPANHA LIMITADA!

A indústria bancária
utiliza computadores em situação precária,
e induz em erro os colaboradores,
com gráficos tingidos a tinta da china.
Os técnicos da economia,
providos da sabedoria
dos xanaxes alcoolizados,
explicam a azia da sua não importância
com intervenções de caganeira
nos telejornais.
Usam o palavreado nauseado
com teorias dessincronizadas,
à razão de um cêntimo por minuto quadrado.
As agências do desenvolvimento,
sem o nosso consentimento,
investem em acções de formação,
publicitando um sucesso
digno de encher qualquer bidé.
Isto é:
Há sempre uma oportunidade
que espera o nosso engano.
Esteja atento!
Não desperdice esta ocasião!
Nós fazemos de si um campeão.
Note bem:
Prometemos regar a sua lápide
com os mais sentimentais e fingidos elogios.
Decida-se!
Esta campanha é limitada!
(exclusivamente direccionada
à sua fiel estupidez).
Sentado na varanda da casa branca da praia de Melides,
Milaides em inglês,
abençoo estas melgas que cortejam a minha velha pele.

 
Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

ESTRANHA FORMA DE AMAR


Tens-me

Debaixo

Da tua pele.

Espero

Que só me

Esfoles,

Quando

Eu estiver

Distraído.

 

Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

MAS OS GRANDES, ERAM OS IRMÃOS AVELINO…(Barcelos)

Falta-me uma fotografia no meio do meu mundo.
Tenho a fria sensação
de recordar tantas conversas
sem a ousadia de as retratar.
Calco as teclas da memória
com sorrisos que pintam vírgulas
e monto a motocicleta do poço da morte,
onde num vaivém redondo,
dobro páginas corajosas lidas no circo.
Ouso o cheiro do espanto
e dissimulo perigos não calculados.
Era sempre o medo que me não confessava
alcances maiores.
Mas os grandes, eram os irmãos Avelino,
quando atravessavam em cima de um cabo de aço,
o campo da feira.
Não me lembro da dor quando pensava
que poderia ser pássaro.
Acenava unicamente
para a incontornável presença
de ser diferente.
Na praça principal,
bocas que não me conhecem,
soletram ao meu passar:
aquele é artista.
Na Colonial de Barcelos,
ainda dissolvo o café,
bebendo esta imensa saudade.


Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA


CAMPEONATO EUROPEU DE HÓQUEI EM PATINS

O guarda-redes suíço,
é muito bom.
Mas sofre golos
com a qualidade de um queijo certificado.

 
Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

QUANDO TENHO DE PAGAR…

Amor é uma palavra horrível
quando tenho de pagar
para fingir que te ouço gemer.
O sindicato da paixão
não me preveniu para esta situação,
quando fiz a transferência
da minha carência,
via multibanco.
Usei o melhor cartão
com a simples ilusão
que desta vez não serias igual à outra.
Ataviei-me como o mais janota
Deitei-me só
com o fato idiota
e vinguei-me sem dó
do erro que tanto me faz morrer.
Barrei as paredes com o sangue de Lorca
E sentei-me no espelho
À espera do nó da forca.
Amanhã, amanhã
Enviar-te-ei um telegrama
com as mais sentidas condolências
da tua morte.
Perdoar-me-ás
esta animalesca bruteza
de pensar nos dias felizes,
mas nunca tivemos jeito
para as ocasiões mais importantes.
e ambos sabíamos
que a combinação dos signos é uma treta.


Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

Leituras de férias : Bertolt Brecht.

 
 
 
 
 
 

Leituras de férias : Aimé Césaire.

 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 14 de julho de 2016

BEWARE OF THE PICKPOCKETS!

Angústias desesperadamente sós.
Cansadas de tanto redundar
mágoas em tépidas águas.
Suor desfeito contra as rochas.
Barco pronto a naufragar
marinheiro feito em lascas de bacalhau.
Baco satisfeito,
disfarça a cara de pau
e um tempero malandrinho,
de azul talvez malino
e o sol a bocejar.
País neste mar arrendado
num vermelho descorado
e o vento sempre atento
a descobrir o alento
para nos empurrar.
Porque ficámos quietos
no jeito tão estreito
que nos faz hesitar?
Mau conforto nos espera.
Fraudulento e queimado com incenso
na toalha da guitarra
onde trinam todos os destinos
que nos pertencem.
E na fé,
onde os santos perdem a paciência,
são agora renomados carteiristas
com reconhecida identidade cee.
&…
Finalmente pode ler-se no velho 28:
beware of the pickpockets!
Andam aqui turistas!
Em boa verdade,
Já fomos mais felizes.




,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

MARKETING

E uma alma nada amena
que tanto me condena
e me desordena neste golpe
com que cicatrizo as dívidas da vida.
Longe para mim é uma medida inexorável,
embora digam que não há fumo sem ferida.
Nem todo o peixe cabe na rede.
Receita perfeita para uma calma angélica,
que só acontece no digital.
E o artista do anúncio,
sugere-nos opções tão credíveis
como a merda que as pariu.
Não lhe invejo a fama,
até porque sei,
que na primeira piscadela,
o meu isqueiro daria cabo dela.
O rosto escanhoado,
lembra-me sempre um testículo
com o pelo queimado.
E tal cheiro a perfume,
Dar-me-ia imenso jeito,
Para disfarçar a trampa que cago.
O marketing,
é a intenção mais verdadeira que existe.
Desde que nela não acreditemos.

 

,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

BILHETE POSTAL

A vida fica-nos tão só quando os raios de sol
deixam de nos cortejar a memória.
E mente quando promete um torpor sereno ´
embalado pelo suave do mar que nos adormece.
Rosas de sábios espinhos,
acendem o caminho  com sonhos tristes,
molhados no sobressalto da maré traiçoeira,
com convites que nos abandonam.
E agora que o corvo trincou a lua
e a cegonha nos traz as últimas notícias,
há que ironizar com todas as maldades
que irão acontecer.
Há um desperdício na espuma que barbeia a areia.
É incerta esta estrada que nos leva a um navegar
apetecido no deslizar da onda.
Deixo-me perverter e lavo o pensamento
só para olhar e gostar.
E encostar o ouvido no vento.
E eu sei,
que nestas noites,
sempre que olho para o céu,
vejo nele desenhado
um bilhete postal.



,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

SAUDADES CADA VEZ MAIS PRESENTES

Haverá em qualquer lua,
a noite sem dia seguinte.
Borboletas da mais famosa boîte,
irão traficar como se fosse carne,
o último raio do sol
a embrulhar-se na areia.
Sei,
que não sei a distância
que me pode preocupar.
E agora,
os caminhos que percorro,
de tão diferentes,
ocupo-os com aguarelas não violentas.
É ténue o ritmo do meu coração
e não quero constranger esta realidade,
com escapatórias enganadoras.
Tenho saudades
Cada vez mais presentes.


,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

CRÓNICAS DE MELIDES (20) A velha pereira

Já não tenho aquela conversa.
A velha pereira está triste
e mostra toda a pressa
para ir abraçar o meu velho amigo.
Estranho estas coisas da natureza.
E no afastar do seu olhado,
sinto que aquilo que nos oferecia,
agora não são mais que grandes lágrimas
na forma de pequenas peras.
Toco no seu tronco,
e silenciosamente ele diz-me:
temos de ir ter com ele.



,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

 
 
 

quinta-feira, 7 de julho de 2016

muddy waters all aboard


Muddy Waters - Walking through the Park 1970


Howlin' Wolf - Wang Dang Doodle


ÀS VEZES MORREMOS SEM NOS APETECER

 Às vezes morremos sem nos apetecer.
Vem em algumas enciclopédias
penduradas no alto da torre
onde a coruja desmói o papo.
Desejos vestidos com pele de raposa,
conversas comezinhas, marinadas em maldizias,
que acabam por nos dar muito que fazer.
Nada é perfeito neste vento soprado,
que nos enleva em gelados de baunilha sofisticada.
Nenhuma razão aparente poderá ser desenhada.
A que sonhos nos referimos?
Estou sentado no museu,
com molduras de hamburgures
que me afectam o apetite.
O artista não sabe,
mas algumas estão já incompletas.
Estou embrulhado num velho Março
e sinto nos pés a pressa de fugir.
Aqueço a alma num cigarro
e aguardo serenamente
simpatias amigas
que se deitam comigo no possível acordar.
Está bem!
Podes voltar.
Diz-me um sol desconhecido
para iluminar o sono
com quem durmo dias tranquilos.
,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

OS AMORES PERFEITOS

Descongelava postas de ficção
e oferecia bombons,
com recheio de perfumes dourados,
aos membros da orquestra da poesia.
Recordações marcantes
dissecadas em sumários reduzidos.
E embrulhava nenúfares em forma de couve flor.
Acertava o passo,
quando lhe apetecia colher no lago do jardim,
os amores perfeitos.
E era assim que temperava
as solidões menos ferozes.
E era assim que pensava escrever nas nuvens,
embora não soubesse nunca o que buscava.
Não tinha jeito para encontrar.
Por isso não invejava os que bailam até ser dia.
Por vezes juntava-se à mistura,
delegando na sua preciosa bondade
todos os poderes.
Descia da normalidade com fintas certeiras
e renegava sempre o até breve.
Até porque o amor,
continuava-lhe estranho.

,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

EM PICADILLY CIRCUS, PODIA TER SIDO ASSIM

- Agora lê poesia no pátio das mortes
onde grandes pássaros
acendem cachimbos com misturas curiosas.
- E goteja palavras
só entendidas por poetas descalços.
- Escorrem ácidos
de taças lacrimosas
que tornam brandos todos os queixumes.
- E os poetas, felizes
andam ao colo dos anjos
abraçando assim a humanidade possível.

Poderia ter acontecido em Picadilly Circus.

 
,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA


segunda-feira, 4 de julho de 2016

Coisas antigas. Achadas num livro que comprei num alfarrabista.

 
 

ORAI POR NÓS, MAS NÃO PERCAM MUITO TEMPO

Orai por nós:
Os desertores da infâmia.
Os que com sangue regam gota a gota
as rosas com espinhos arrependidos.
Os que estão sempre prontos para cair na tentação.
Os que só ajoelham para determinada posição.
Os pervertidos da glória.
Os travestidos da memória.
Os que continuam a sonhar com outra coisa.
Os que não fazem outra coisa senão sonhar.
Os que teimam em tapar o buraco
da camada do ozono com bolas de naftalina.
Os que só pensam em introduzir no buraco do Osório.
Os que se vendem mesmo por preço irrisório.
Os sérios, os graves, os desanimados.
Os ridículos, os burlescos, os grotescos, os cómicos.
Os bizarros, os pífios, os tolos, os engraçados.
Os gozados, os satíricos, os caricatos.
Os disformes, os velhacos.
ORAI POR NÓS, MAS NÃO PERCAM MUITO TEMPO.
Os preocupados sem futuro.
Os desocupados no futuro.
Os medíocres.
Os que escrevem arritmias nos murais
das redes sociais.
Os que injectam doses optimistas.
Os que mantêm teimosamente
ventríloquos tresloucados
E entopem artérias
com todos os sentidos proibidos.
Os que amam nos tempos difíceis.
Os que dormem na vertical.
Os que morrem à pressa.
Os que demoram a viver.
Os que nos aborrecem sordidamente.
Os que usam nós de gravata
completamente desafinados.
ORAI POR NÓS, MAS NÃO PERCAM MUITO TEMPO.
Os mal-educados.
Os analistas do fluído vaginal.
Os que pedem sempre desculpa
numa frequência imoderada.
Os indiferentes.
Alguns indigentes.
Os menos inteligentes.
A carpideira.
A moçoila namoradeira.
O petiz aprendiz.
Os que não corroem a corrupção.
Os fatídicos.
Os distraídos.
Os mal dizentes.
Os mordedores de inveja.
Os sábios sem nexo.
Os que não têm de nós boas ideias.
Os que fugiram à boleia e voltaram de táxi.
O difícil sem fácil.
Os pensamentos mal frequentados.
Os esquisitos.
Os requentados.
Os esquentados.
Os bons e os malvados.
Os putativos.
Os inerentes.
A barata no topo do bolo.
O engraçado que só é tolo.
A dignificação.
A insubmissão.
A sublimação.
A efervescência.
O esturro do tacho.
Quem se deixa ser capacho.
ORAI POR NÓS, MAS NÃO PERCAM MUITO TEMPO.
A sílaba mal colocada.
O ponto sem nó. A exclamação desfocada.
Os desarrumados mentais.
E também os sentimentais.
Os que confundem bóbós com papos de anjo.
O padre que diz que perdoa.
O pecado que não magoa.
Os curandeiros mal tratados
Os políticos menstruados. O deputado marmanjo.
Os que tomam conta de nós.
Os que às vezes odeiam
e arrefecem na fogueira
sacrifícios a um deus desconhecido.
Os autoclismos desprezados.
Os desenganados do amor.
O amor não reconhecido.
Os epitáfios não lidos.
ORAI POR NÓS, MAS NÃO PERCAM MUITO TEMPO.
Os incautos. Os perdulários. Os inaptos.
Os inadaptados. Os adoptados.
Os arautos. Os anormais. Os colegiais.
Os coloquiais.
Os que gritam Toni faz-me um filho
mesmo sabendo que eu só me chamo António.
Os que me pedem a camisola,
não se importando com o frio que depois teria.
Os agradecimentos. Os sentimentos.
As mulheres mal-aventuradas
e também as desgraçadas.
As menos interessantes. As de ventre inchado.
As desconfiadas.
Os epicentros. Os retábulos. Os oráculos.
Os oratórios. Os sacrários. Os dromedários.
Os anjos sem cabecinha e com asas de cebolada.
Os conventos. As carmelitas.
As recolhidas. As não escolhidas.
As que f…. às escondidas.
As noviças. As nabiças.
As metediças. As mestiças.
As clandestinas e as dominicanas.
As virgens imaculadas . As louras. As oxigenadas.
As infectadas. As perfuradas.
Os eclesiásticos da parábola do falo.
Os faloqueiros e azeiteiros.
A serenidade embutida nas alas psiquiátricas.
Os obscenos. Os helénicos. Os frenéticos.
Os morenos. Os patéticos. Os angélicos.
ORAI POR NÓS, MAS NÃO PERCAM MUITO TEMPO.
A beleza da incerteza.
As musas mediáticas e as dores ciáticas.
A visita guiada. A colaboração.
A pena. A temperatura amena.
O turismo sexual.
O casamento conveniente.
A proposta indecente.
O anel de diamante.
As bodas de fígado. A foto à la minute.
O minete feito à pressa.
O linguado desajeitado.
O orgasmo não adquirido.
Os onanismos coerentes.
As práticas indecentes
O resto que nunca interessa.
A faca na liga. A cintura descaída.
O peito flácido. A ária do Plácido.
O domingo soalheiro. O furo no mealheiro.
O jet leg. O jet set. O cinc à sec.
Os astronautas e argonautas.
Os anabolizantes e fertilizantes.
Os debutantes e os não principiantes.
A família que não escolhemos.
A paciência que não pudemos.
A fodação Internacional.
A importância do espanador.
Os suicídos que estão para vir.
Os que gastam a vida a carpir.

Orai agora por mim.
Aquele que nunca será o vosso salvador.



,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA


NOBLESSE OBLIGE

Peço sempre tudo!
O necessário não condiz
com aquilo que quero.
A menoridade
é uma ejaculação precoce
que se vende nas farmácias.
A minha médica
já alterou a prescrição.
Comprei óculos de mergulhador
e barbatanas estereofónicas
para ler a receita.
…Não vá o farmacêutico desconfiar.
Se estiver bem disposto,
tenho os “Tomates Enlatados”
do Benjamin Péret,
Para me entreter.
"Noblesse oblige"



,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA


EURO2016 GALES / BÉLGICA

Witsel, a culpa não é sua.
Mas você tem de admitir
Que os belgas deitam-se sempre mais cedo.



,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

A CORRIDA

Sempre que sentia aquele cheiro,
algo estranhamente insano
bulia com ele.
Acelerava! Acelerava! Acelerava!
Ninguém o apanhava.
Era o rei da maracona.


,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

FUTEBOL (8)

Ok!
Não tinha muito jeito para os lançamentos laterais.
Ainda por cima era maneta.
Mas nos penalties era a 1ª opção.
… Até que uma caibra na orelha esquerda,
obrigou-o a marcar a penalidade
com o calcanhar de pedra.
Falhou!
Ainda hoje,
conta que a culpa foi do escultor.


,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

LÁGRIMAS MOVEDIÇAS

Não me respeitam.
Roubam-me o nome e dão-me um número
como se fosse a chave do euro milhões.
Escorro a seca da vida
num rio de lágrimas movediças
só para afundar as minhas ilusões.
Rio que me envergonha
onde desliza a peçonha
daquilo com que me faço.
A vontade só acontecida em fotografia
revelada no ácido da tina
onde arde a sina
da possibilidade admitida
sem a minha permissão.
Mas eu não me encontro
e dói-me tanto o achar-me
às escondidas da esquina.
Elevo agora,
e isto sou eu a fingir,
imbecilidades pisadas a papel químico.
Nada sei daquilo que de mim pensam diria respeito.
Longe vai a lua
realizando uma manhã,
certamente com as habituais palavras nos noticiários.
Continuo a mijar em retretes
onde estão escritos convites
sem a menor convicção.

,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

A SECRETA ESPERANÇA

Tinha na mão o poema.
Dobrou-o em forma de avião
E lançou-o ao vento
Com a secreta esperança
De algum pássaro o ler.


,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

Delilah • Tom Jones • Original • 1968 ( estava Dalila na cama...)


sexta-feira, 1 de julho de 2016

GROGUE

Nunca estive em Acapulco.
Se calhar, joguei golfe em Las Vergas
com o Silva dos plásticos.
Não colhi férias temporárias em Bali
nem dancei rumbas nem salsas lá para os lados deVaradero.
Também não meti o cú
numa qualquer espreguiçadeira de Cancun.
Também nunca vi fornicar em Punta Cana.
Mas, orgulhosamente estive presente
numa festa no bairro de Santa Filomena, na Amadora.
Tenho na alma o sabor daquela cachupa.
E reguei com o melhor Grogue
o Funáná mais bonito do mundo.


,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

O FRIO DE VÉNUS “sine Cerere et Baccho friget Venus”

No fim do inferno,
Vénus tirou a camisa numa honrada elegia a Baco,
que sorrateiramente tinha fugido para o monte,
no seu Saab descapotável.
Anjos despidos na auto-estrada,
desconfiados, não aceitaram a boleia.
Ficaram sentados,
a grelhar uma deliciosa barriga de freira,
abanando as brasas com o diploma da licenciatura.
Sorria, você está sendo filmado.
Agradeci, dizendo não merecer tanta atenção.
Afinal sou um homem simples
com bifídos activos
contribuindo para a manutenção
do nível normal de estatina.
É verdade que preciso de mudar o óleo.
Tudo está bem nesta manhã.
Não pretendo explicações difusas
para preencher questionários
com técnicas de procura de emprego.
O sempre sério fica-me cansado.
A artrite mongolóide está sossegada,
convenientemente vigiada por princípios antigos.
Sou apenas uma velha pedra rolante abraçando blues.
Quero casar!
Contrair matrimónio!
Já tenho a fralda rota
de coçar este demónio!
Põe a tua mão na minha...
Não tenhas medo que o Senhor da Califórnia
Não está a ver
Põe a tua mão na cama do Senhor
que acalma o mar
Meu Senhor que cuidas de mim
eu que passo o dia a distribuir mercearia
Noite e dia sem pescar
Põe a tua mão na mão do meu Credor
não tenhas medo, ele pode pagar.
Mãe compra-me umas botas
que estas já estão rotas
de dançar o charleston.


,2016,06aNTÓNIODEmIRANDA