Trocámos as veias numa análise. Só de ti eu esperava o que de mim não podia acontecer. Velha estrada chorada neste verbo onde o tempo perdeu o haver. E havia sangue nesta caminhada sem destino para o nada, e o nada de tão pouco querer, fazia que havia o que faltava para nada de novo acontecer. E havia luz numa estrela ausente e apagada que fingia que iluminava aquilo que julgámos ter. E o ter já fugia, lesto corria para o encontro onde nada acontecia, porque nada havia para amanhecer. Má sorte a morte que nos pariu, a vida que nos fugiu e a sina comprada na cigana errada. Mentira esta ideia acostumada, logro sempre usado para o azar adormecer. E dormíamos sonhando, adormecendo um sono que em nada nos fingia. Sonho fora da janela, escondido na estrela que não nos conhecia. E o teu corpo frio, que o meu nunca conheceu e a minha ternura congelada numa vontade adiada, escrita nas asas do voo meu. E tu no meio da minha veia, cosendo a meia do poema que ainda nenhum poeta escreveu. Agora tenho o teu sangue neste coração ao abandono, e percorro o teu sorriso como se fosse o meu oceano. As lágrimas passam alisando esta calçada, com falhas alheias ao meu desejo. Sangue que foge do meu corpo. Resta-me talvez este infinito sem retorno, e uma cada vez mais atrasada esperança de me achar. Deitado nesta maca encardida que faz de mim a vida, olho nos olhos que nada já vêem, seringas ávidas de me tocarem o sangue. Onde estou, neste lugar que não presta, vestido de batas brancas embaladas em cadeiras de rodas onde o sol nunca poisa? Este cheiro de estrume desinfectado, não está interessado na minha poesia, e a preocupação do termómetro é coisa que não me diz respeito. Olho o vento que sopra, fugindo enquanto é tempo, do encefálotrama que me quer apanhar.
Agora não posso fintar. O jogo é sério.
Não tenho nenhuma sinfonia preparada.
,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA
Agora não posso fintar. O jogo é sério.
Não tenho nenhuma sinfonia preparada.
,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA
Sem comentários:
Enviar um comentário