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quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Carlos Drummond de Andrade - um poeta de alma e ofício.

https://www.facebook.com/drummond.umpoetadealmaeoficio/videos/433888306996680/

CONFISSÃO


Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,...

melodiosas, tarde, ao voltar da festa.

Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.

Do que restou, como compor um homem
e tudo que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, murmúrios
de riso, entrega, amor e piedade?

Não amei bastante sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro – vinha azul e doido –
que se esfacelou na asa do avião.




Carlos Drummond de Andrade

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