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terça-feira, 17 de outubro de 2017

FOGO

Só me restam as fotografias, o olhar triste, e as mãos raivosas que as tocam. Choro com lágrimas de saudade, estes lugares que tantas vezes amei. Nada entendo deste castigo abusador, que enche de dor, gente que estimo. O céu está cinzento e teimosamente não quer molhar o que queimou. Era linda a esperança, que fazia nascer flores na primavera, que não mais irá acontecer. A vida sempre foi dura, muitas vezes traiçoeira, mas agora que as raízes arderam, os caminhos já não têm volta, e os passos, nenhuma vontade de os calcar. Este verde que foi para longe, deixou feridas sem remédio, e olhares que só vêem o vazio. É difícil acreditar, sobretudo quando ficámos com um tição em vez do coração, derretendo lembranças que sempre emolduraram os nossos anos.
Não ouvirei mais o piar do mocho.
Não terei mais a visita do cão para quem eu comprava ração.
Não terei mais os copos nas adegas.
Não terei mais as histórias repetidas que fingia serem sempre novas.
Não terei mais as cabras e ovelhas no caminho para o lameiro.
Não terei mais aquelas conversas onde tanto aprendi.
Não terei mais a broa quente, a boa aguardente e a sensação inequívoca da sua estima.
Que nomes poderei agora chamar?
Estou desolado.




,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA

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