Tinha no bolso a mania da ilusão, e remendos envergonhados
escondidos na solidão que lhe rasgava o olhar.
Fugia dentro de si, embalando uma rouca canção,
Fugia dentro de si, embalando uma rouca canção,
chorada demasiadas vezes, e, no aperto que restava,
aperaltava-se em frente ao espelho preto,
enquanto as luzes da ribalta simulavam a sua presença.
Escorria no nó da gravata,
a hipótese mentirosa de sair de si mesmo.
Mas os beijos que lhe fugiam da cara,
fingiam o sorriso que pensava ter.
Guarda as carícias numa seira confidente,
e durante o amor que lhe mente,
amassa a dor que a vida lhe deixou.
Num esgar florido, julga-se agradecido,
e comovidamente bate as palmas,
encostado às pontes do inferno.
Fecha os olhos numa cortina de fumo breve,
e queima os passos que lhe tolhem a vontade,
com longos apertos de solidão.
Tem nas mãos a indigência
que lhe carimbaram na pele vagabunda,
que dorme no altar das estátuas tristes.
E assim amanhece,
sem qualquer jeito para outro sentir.
E na oração que ninguém lhe ensinou,
murcham fios sem prumo, à procura do novelo.
Está mais só do que a própria sombra,
e agora procura o embrulho dos sonhos remendados.
Vai colando nas esquinas a sua fotografia que pergunta:
Alguém viu este gajo?
Alguém viu este gajo?
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