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segunda-feira, 2 de outubro de 2017

ROCK`N`ROLL ANIMAL

De cócoras no meu canto, retoco a vida em jeito de brincadeira várias vezes repetida. Nunca admirei os heróis com banda desenhada, nem a vergonha adequada que me impunham. Saltei outras vistas, soltei as minhas conquistas, e sabia que aquilo que esperava iria acontecer. Sou do género dos sonhadores indestrutíveis. Algumas vidas deram-me razão, outras assim que tal, muitas outras também pouco não. Atravessei os oceanos que dividiam o meu coração. Caminhei sempre de pé deixando as asas no chão. E continuo a tentar infernizar as dúvidas que não me pertencem. Só estou fora da lei, porque a lei nunca me respeitou. Emprestei a minha alma a um bom ladrão que gostava de comer couscous. Ninguém o conhecia, e alguns, desconfiados dessa mania, colaram a sua biografia numa cruz. Mau trabalho, embora publicitado nas embalagens de sais de banho. Entretanto, há uma voz que reza, que nada preza a minha vontade de voar noutras nuvens. Leio o mais que posso, sempre que não me esqueço do prazo de validade desta opção. Baixo o som da guitarra, desligo os efeitos do amplificador, e deixo que a calma chegue vagarosamente até mim. Escrevo canções para o acaso. Os caminhos do medo pensam que são a minha estrada. Pinto-os nas passadeiras com cores invisíveis para que os curiosos as ignorem. Podia desejar estar noutro lugar, mas também não me lembro. Toda a gente pensa que está feliz, naquele bar que mostra a música que os engana. Sovacos mal cheirosos, trocas de sorrisos mentirosos, um roçar de penas para sempre feridas, olheiras de sexo adiado, e, tudo é bom, não foi? Vamos dançar até o laço nos apertar, esperar até cansar esta ideia absurda que não assassina a nossa velhice. Vamos tirar um retrato que não minta o amor que queremos verdadeiro. Vamos endireitando o caminho que nos subtrai, arrasar o olhar que pensamos estar numa dor nunca pintada nas praias do arco-íris. E pensar que alguma vez qualquer coisa poderá acontecer. Os desejos bons cansam tanto! E as semelhanças que não nos reconhecem, não merecem qualquer respeito! Não sei o que me prometi. Toda a gente está ausente nesta corrida fora do meu mundo. Talvez seja uma boa hora. Mas o meu relógio fugiu do baile dos segundos. E corre, corre sempre, para longe de mim. Strippers domésticas, enrolam com esmero o meu pijama e dançam com toda a pompa e circunstância uma música do Lou Reed. Uma questão de bom gosto. Reconheço o baixo do Fernando Sanders trepando o “Rock`N`Roll”. Porque não nos conhecemos? O perto nunca teria de ser o infinito do longe. Todas as luzes foram apagadas e a única hipótese não passou de um concurso assombrado pela tv. E a escuridão que nos quebra, é agora uma paisagem embrulhada num outdoor olhada por transeuntes com a pressa às costas.
Há um céu onde já não cabemos, uma estrela que ignora o nosso nome e um anjo que quando passa por ela, altera a rota para outro inferno. O que fizeram de nós, vida tentada, atrevida, congelada numa carne branca que tanto nos magoou. Balouça comigo uma dança sempre estranha, mansa de cor, penteada com nós que não me pertencem.
2017set_aNTÓNIODEmIRANDA

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