Sem jeito algum tenho o pó dos anos enterrado num dedal e alguma vida
enrolada num desenfreado novelo tão pequeno que cabe em qualquer do meu lugar.
Animo um vulcão escondido numa tenda com um grotesco zelo que esta mania
não emenda e saboreio uma rabanada de vento dourado como se fosse uma torta
fatia de gloriosas celebrações, quando sem dar por ela consigo acertar alguma
agulha para provocar o descarrilamento daquilo que me não é querido.
Atento como se fosse revisor acciono o fecho das portas desta carruagem
que chegará a um destino onde nada de mim acabará.
Sei de antemão o cais da minha pouca sabedoria e só espero que nuvens de
carvão sosseguem a ausência daqueles que me esperam. Possivelmente nunca
chegarei a esse lugar até porque sempre me disseram que o paraíso tem má fama.
Escrevo este postal molhado por uma chuva envergonhada que encontrei num
canteiro onde rosas tristes tentam enternecer a minha angústia.
Melros fora de horas entregam às suas amadas cânticos de natal com
saudades do bolo-rei.
Deixei no parquímetro algumas moedas para colmatar alguma necessidade
imprevista.
Todo o sonhar é possível!
Aguardemos com renovada esperança a chegada do carteiro mentiroso.
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