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domingo, 11 de março de 2018

SONHOS VAZIOS NA MINHA CAMPA. FLORES SUJAS NA PEDRA FRIA.

O poeta, que fingia que vivia, escrevia noites com vésperas do amanhecer impossível. Adornava todas as vírgulas, num ritual espancado pela memória mentirosa, iludindo assim o golpe nos pulsos da morte, que desinteressadamente o desafiava.
Até ao fim, no aconchego do torpor, que encolhia as suas lágrimas.
O poeta, que vivia, só para fingir que era esta a sua sina, ludibriava sempre que podia, a mentira mesmo tingida, que da vida lhe surgia, como se respirar ainda fosse possível.
Mas quem fingia, não era o poeta, mas a sorte que ele tanto queria, que sempre lhe mentia, naquela promessa enferrujada pelas manhãs adversas, que não abrem janelas.
O poeta sorria, mas ele não sabia, que fingir tão amiúde, não é bom para a saúde, mesmo que da esperança, nada saibam os poetas.
O poeta que fingia, que de tudo isto sabia, também sentia que não vivia, lá naquele lado, onde o vento que dele fugia, secava numa nuvem que não lhe pertencia, a poesia envergonhada, que tinha entregado a um anjo sem-abrigo.
O poeta, abraçado à herança das horas sagradas, estendia os sorrisos magníficos dos sonhos vazios, e, contemplava as flores sujas que enfeitavam a sua campa.
2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA

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