Nascido sob um mau sinal,
estive sempre na lama desde que comecei a rastejar.
Escavo as lágrimas que queimam este poço.
Se não fosse por má sorte, não teria azar nenhum.
Seda e colinas verdes salpicam a cor do amanhecer que trará alguém de uma cidade distante, e construirá altares ao lado da cama dos sonhos, num suave caminhar, como uma teia de vento.
Mas não há memória para pentear qualquer nome, e nada posso esconder neste monte de armários quebrados.
Queima-me tanto esta sopa feita de ossos!
Numa amálgama de peças feitas de mim, sobram cascas para encher o chapéu que vai ser usado num prazer ainda escondido, pendurado numa estátua de pedra pomes, espreitando um abismo qualquer.
Ranjo o olhar trancado em novelos de tempestade. Cílios tocam as letras por salvar na arte-final.
Mantive todas as minhas estranhezas, nesta ilusão latente de beijos e desabraços, mais ferozes do que aqueles batimentos, que enfureciam a forma doce das melodias com o cheiro escandaloso da honestidade.
Espeto a faca na água, e soletro os pés na montanha, com as palavras que permitem boa companhia.
Continuo a pensar que a poesia nunca será uma desgraça.
2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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