Habitar o sexto andar do paraíso, nem sempre é possível. Do piso inferior, não me chegam boas notícias. Dizem que, quem nele mora, vê filmes esquisitos, e por vezes risca azedumes num vermelho que mancha o tecto do céu. Deve ser alguém infeliz, embrulhado nas reportagens dos telejornais, ou se calhar, o que ainda será mais triste, um compulsivo analista, daquelas coisas que o obrigam a introduzir pipocas, para mastigar o tempo que tanto lhe mente. Roupão de xadrez anodizado, hálito de anis estragado, botão sim, canal não, usa a estupidez como única opção, e desliza o desligar na ideia sempre errada. Vinga-se na almofada, que há muito desdenha dos seus sonhos, e num gesto estupidamente simplificado, lubrifica a vida na caixa das mensagens não lidas. Acorda sempre da mesma maneira, premindo a tecla da torradeira, esperando ainda uma eventualidade mentirosa.
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