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quarta-feira, 27 de setembro de 2017

NÃO GOSTO DESTA CIDADE

Não gosto desta cidade.
Trocou-me as voltas.
Dei-lhe a minha alma e ela agora oferece-me um retorno sem destino. Acho-me tão distante neste tremer de mãos sempre à procura do lugar possível. Nunca me sinto melhor. Dei-lhe a minha alma e agora caminho como um cão com trela. E é proibido mijar nas esquinas. Olho para o letreiro dos eléctricos só para lembrar a vontade de neles entrar. É um trabalho sujo este detestar os lugares que amei. Dou-me mal com os cheiros que não conheço e amareleço sem querer este sorriso outrora companheiro inseparável.
Onde estou?
Numa encruzilhada de tabuletas impregnadas de palavras que recuso ler.
Ondas de medo enchem o meu sonho com o tamanho medonho apertado pelo meu cinto, afastando aquilo que gosto. E um acorde alucinado que geme na minha guitarra, aguarda o solo do mi dobrado num dó de tanto penar.
Voltarei à cidade, para aquele lado selvagem, onde várias vezes vivi a surpresa. Tudo era diferente naquele tempo. E os pais das miúdas ficavam chateados quando me conheciam. Estive em jantares com a minha indesejável presença. Algumas mães eram gentis desconfiadas, geralmente com um pedido no olhar. Não faça mal à minha filha. Escutava ameno esta cavaqueira de merda. Não é assim que se recebe um ínclitico hóspede.
Mais tarde provou-se que o anjo era eu.

2017set_aNTÓNIODEmIRANDA

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