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quarta-feira, 27 de setembro de 2017

CRÓNICAS DE VILA CHÃ (fechou a porta)

O barbeiro de Sevilha já não faz a barba.
Enlouqueceu precocemente a afiar a navalha que lhe aparava certas manias. ...

Artista evoluído, dizem da arte entendido, manejava o pincel como não havia ninguém.
Beijava antes do deitar, os calendários com as gajas que sossegavam a sua tendência sexual.
Maldita trombose que o pôs três meses no hospital.
Voltou à terra, agora um planeta estranho, e a curiosidade dos energúmenos lá da aldeia pela sua maleita, causava-lhe um mal estar encardido.
Agarrado ao pau da sobrevivência, o único que agora funcionava, compunha o andar de outrora, e indiferente aos tropeços, teimava em justificar que o que se passou, já era. Abriu a porta do estabelecimento, e num choro silente, rasgou com as lágrimas que lhe restavam, as fotografias da sua memória, que agora eram só caras estranhas.
Fechou a porta.
E enferrujou a chave do amanhã que o apodrecia.
2017set_aNTÓNIODEmIRANDA
Vila Chã

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