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sábado, 3 de agosto de 2024

FALÁCIA

 


Ela dizia:
O meu corpo não me envolve.
E pedia ao Deus que nunca perdoou
que a acalmassem. Mas, era esse Deus maldizente 
e distraído de todas as pretensões suplicadas. 
Ela só queria ser o que constantemente lhe fugia 
e implorava sensações que vira nos outros.
Gelava sempre neste sonho, mergulhada em frios suspiros 
e as noites molhadas escondiam-se 
nos tupperwares da solidão onde dormia 
sonos estranhos. Tinha ouvido falar da paixão 
que talvez estivesse naquele presente 
que nunca conseguiu abrir. Ela dizia 
que só queria salvar a alma, 
e num gesto há anos utilizado, 
continuava a encher com lâminas 
o mealheiro da sua vida. 
E o seu corpo mentia enquanto lhe dizia:
Gosto de ti, doce nuvem de algodão hidrófilo.
Ela mentia quando dizia:
o meu amor acabará por chegar.
E na cínica espera com que o tempo nos enlaça, 
sorria feita megera, rindo até ao último choro, 
secando as lágrimas desta trapaça.
Ela dizia, para alguém que não ouvia:
a perspectiva é uma calúnia e a sua falácia 
a realidade que muitas vezes enleva o sonhar.
Depois não há corpo nem pertença, 
nada que preste para partilhar.
Deus é uma cópula 
que nem todos sabem fornicar.


Melides,2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA 
poemanaalgibeira.blogspot.com

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