Ela dizia:
O meu corpo não me envolve.
E pedia ao Deus que nunca perdoou
que a acalmassem. Mas, era esse Deus maldizente
e distraído de todas as pretensões suplicadas.
Ela só queria ser o que constantemente lhe fugia
e implorava sensações que vira nos outros.
Gelava sempre neste sonho, mergulhada em frios suspiros
e as noites molhadas escondiam-se
nos tupperwares da solidão onde dormia
sonos estranhos. Tinha ouvido falar da paixão
que talvez estivesse naquele presente
que nunca conseguiu abrir. Ela dizia
que só queria salvar a alma,
e num gesto há anos utilizado,
continuava a encher com lâminas
o mealheiro da sua vida.
E o seu corpo mentia enquanto lhe dizia:
Gosto de ti, doce nuvem de algodão hidrófilo.
Ela mentia quando dizia:
o meu amor acabará por chegar.
E na cínica espera com que o tempo nos enlaça,
sorria feita megera, rindo até ao último choro,
secando as lágrimas desta trapaça.
Ela dizia, para alguém que não ouvia:
a perspectiva é uma calúnia e a sua falácia
a realidade que muitas vezes enleva o sonhar.
Depois não há corpo nem pertença,
nada que preste para partilhar.
Deus é uma cópula
que nem todos sabem fornicar.
Melides,2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com
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