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quarta-feira, 16 de março de 2016

LUDO (O nosso gato que adorava ouvir as tangas do pastor da iurd ou lá o que é essa merda)


Naquele dia a Ana, aparelhou a nossa casa com uma gatinha que tinha ido buscar a uma loja. E mais uma vez, com o olhar que ela tinha, não consegui resistir. Foi assim que fui apresentado à Ludmila. Confesso que não achei lá muita graça, mas gostei imensamente da indiferença com que ela me acolheu. A Ludmila quando visitou o veterinário, logo passou a chamar-se Ludovico. Mais tarde, Ludo. Nos primeiros tempos da sua actividade ocupacional, entreteve-se a dar cabo de dois sofás e dos pendericalhos que prendiam os cortinados. Claro que também sabia brincar como se verdadeiramente fosse gato. E isso, de tão engraçado que era, tinha o efeito de amenizar os prejuízos dos estragos cada vez mais frequentes. Estou a falar de um gato, porra! Mas que gato! Seguia a dona, rabo alçado, numa conversa exclusiva dos dois. Eu quando chegava a casa, era simplesmente ignorado. Por vezes cheirava-me com alguma curiosidade, mas ficavamos por aí. Mas o Ludo não era um gato qualquer. E eu também não. Fomos conversando e acabamos por nos entender como pessoas de bem. Tivemos algumas performances que ainda hoje me fazem rir. O que é que foi? Foi a frase que ele mais gozava. À medida que o tom da minha voz se elevava, ele invariavelmente fingia-se de morto e caia redondo no chão. Enganava-o amiúde com o abanar da caixa de fósforos que ele confundia com o som da embalagem da ração. Lá vinha o gajo, orelhas para trás, a correr desalmadamente em direcção da cozinha. Como resistir a tamanha atitude de complacência? Então pegava nele e dava-lhe beijos no nariz. O Ludo agradecia com ternurentas turras. Todas as noites em que acabava por adormecer no sofá, era acordado invariavelmente por ele. Já no quarto, enquanto me despia, sentado no tapete, o chavalo aguardava pacientemente a minha entrada na cama. De repente 13 quilos de satisfação aconchegavam-me tórax. Oferecia ao meu amigo um braço dobrado e tapava-o. Colocava um dos auscultadores no seu ouvido, enquanto duas patas riscavam-me o peito, mas quando chegava a voz do tadeu, ouvia com satisfação o seu ronronar.





2016,03aNTÓNIODEmIRANDA

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