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sábado, 31 de agosto de 2024

UNTIL YOU DRIVE MY BLUES AWAY

 


Ama-me minha querida.
Gosta de mim nesta ferida
conspurcada pelos abraços, 
que jurámos iriam acontecer.
Nesta galeria
pintada com ilusões,
ofereço-te um amanhecer
com as cores de um ketchup abandonado.
Com beijos de banda desenhada,
retocarei o teu rímel com os traços 
da beleza ausente.
E prometo,
penhorar a tua lingerie não desembrulhada,
numa lavandaria conceituada,
com tratamentos  alheios à nossa injúria.
Só temos o tempo que nos mente,
isto é, o suficiente
para o mais que não merecemos.
Ama-me pela manhã.
Deixa um bocadinho para o resto do dia.
Irei caucionar o beijo desta breve mania.
E no instante onde nos deitámos,
é possível que um blues desassossegado,
cante o triste fado
com que teimámos adormecer.
                Love me in the morning
                Just a little bit for the day
                I want you love me baby
                Until you drive my blues away


,2017ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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São 4 da manhã.
Digo um até logo aos livros. 
Está na hora de acalmar 
um passado ansioso, 
o futuro da esperança duvidosa, 
e , 
diluir gentilmente
a subtileza
no copo da tristeza
cansada de mentir
opções requentadas.
Está na hora de me esconder 
no tapete 
dos voos sem fronteiras, 
e aconchegar-me 
nos lençóis que me contam 
histórias 
dos amigos que partiram, 
e que continuam a deixar prendas 
nos meus cabelos cinzentos.
Despejo abraços na lua dos seus olhos, 
só porque o que nos aproxima, 
ainda dorme no relento 
da torre da amizade.







2019ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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VIDA ENTRAPADA

 


Ficaram por ali a colar cascas da miséria 
secando culpas no estendal da frustração
enquanto estátuas tentavam oferecer 
arrependimentos ressequidos.

Passou todo o tempo 
e o sonho prometido 
tardava o acontecer.







,2023Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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PERCEPÇÃO EXTRA-SENSORIAL

 


Não tens que ter vergonha,
se cruzaste as pernas sem a malícia
 inocente 
da -  Sharon Stone
Embora não seja um - Douglas qualquer, 
reconheço que como boa praticante, 
deixaste-te levar pelo instinto do Natal.
Não tens que ter vergonha,
da intenção não acerbada 
com que os teus lábios 
tocam outras bocas.
Não tens que ter vergonha,
se o encontro das coxas 
não foi assaz premeditado, 
porque só querias uma 
aproximação analógica.
Não tens que ter vergonha,
quando pensas nos homens 
que não copulaste,
embora prometesses a 

Percepção 

Extra
-
Sensorial.





,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA
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Carlos Drummond de Andrade


sexta-feira, 30 de agosto de 2024

A DIVA DA MEIA-NOITE

 


A diva da meia-noite, 
enroscada na écharpe 
entornava o caldo da voz ensaiada 
para mostrar que sabia de poesia. 
(Pobre poeta que tanto sofria 
naquele ronronar de gata fria 
em telhados de zinco ferrugento).
E aquilo que se ouvia 
era tudo menos o poema, 
enquanto a lua borralheira 
encenava um novo folclore 
que ninguém entendia. 
Estendidas no sofá da virtude adormecida,
a folha e a caneta desconfiavam 
desta anomalia assim surgida. 
O poeta na sua cara de silêncio entupido, 
solta um mudo gemido 
e um ai surdo nesta fala de absurdo 
elegantemente pretendida. 
E conversa animadamente 
com o vinho que o irá confortar. 







,2017mai,aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 25 de agosto de 2024

MÃE (25/08/1932 - 24/02/2006)

 




Sentado na sua campa teso como de costume Lembro-me de muitas conversas e do modo como aceitava as minhas mudanças de humor eu sei o que vale uma flor agora que só posso falar com a sua ausência passo o tempo numa peneira plena dos seus sorrisos e de alguns planos para o futuro sou o que sou e mais que ninguém você o sabe alguma coisa a morte levou mas lembro-me perfeitamente quando se despediu de mim com um olhar apressado para a viagem sentado no frio do mármore não consigo chorar tudo o que pretendo mais que ninguém você conhece o que poderão significar as palavras que me levam até si desta vez não vou mentir a verdade é que não me tenho portado bem talvez porque saiba que já não se pode preocupar hoje vou ler-lhe um poema daqueles que por vergonha minha nunca cheguei a mostrar sentado na sua campa teso como de costume ainda não consigo lembrar tudo o que pretendo Não sei quando me vou libertar mas já vi o arco-íris na minha janela eu sei que todos os prognósticos são reservados e as funções vitais são uma grande treta respeito a coragem mas você sabe como odeio a resignação e o tentar terá de ser sempre uma obrigação sentado na sua campa juro que não tenho vontade de abraçar o mundo este silêncio tem o som da conveniência e a minha melancolia não é obrigatoriamente triste o céu é um lugar onde nada acontece embora toda a gente acredite na sua festa sentado na sua campa só como de costume revejo imagens que me vestem e você sabe que eu sou um optimista descaradamente teimoso Mãe você sabia que o cheiro dos meus cigarros era diferente e eu nunca toquei em nada que me fizesse mal á cabeça nem mesmo os cogumelos e quando eu ficava a ouvir todos aqueles Blues você desligava o aspirador para escutar a música triste Mãe eu continuo a ouvir essa música e dou-lhe inteira razão uma perda nunca é alegre sentado na sua campa olho o tempo do tempo soletro horas com hábitos de felicidade que já só têm o cheiro da despedida Mãe continuo maluco daquela maneira que você sabe Mãe continuo à espera daquele modo que você entende agora deixo-lhe os meus poemas
Esperarei por si no clube dos poetas mortos
Até logo


Setembro12.2006_aNTÓNIODEmIRANDA
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O PASTOR

 


           Ao entardecer o cão entregou-lhe 
                    a conta das ovelhas que tinha deixado 
                    no redil.

                    Com a carga etílica costumeira,
                        foi para a cama para tirar 
                                                a prova dos nove.

                            …era assim 
                                    que
                                        Impreterivelmente lhe chegava 
                                                o sono.






2017marçoaNTÓNIODEmIRANDA
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sábado, 24 de agosto de 2024

ELEGIA DO ESTAR QUE ENTORPECE

 

          Vida 

            Ao 

             Tempo



,2021Agosto_aNTÓNIODEmIRANDA
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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

AS TIME GOES BY

 



Nada sei

Não entendo

Essa coisa do tempo

Tenho tantos relógios

Fora do pensamento

Que nem cabem no momento

E duvido

Que algum alguma vez me indique

A hora certa

Dou corda a uns

A  outros não me lembro de mudar a pilha

Os dias

Às vezes têm horas a mais

Também é verdade

Que eu e os minutos

Temos segundos diferentes



2014.aNTÓNIODEmIRANDA
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segunda-feira, 19 de agosto de 2024

ASSIM JAZ O BOM TOUREIRO

 





Foi

Um 

Touro

Que

O

Matou

Num

Dia

De Felicidade


Desde então

Nunca Mais Votou

(passou-lhe a vontade)




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SÓ PORQUE NÃO ESQUEÇO QUEM MUITO ESTIMO

 


Sombra Nunca Distante 


                                Não se 

                                    Cansa de 

                                                    Atrapalhar

                                        Este 

                                        Espólio de 

                                        Mentiras





,2024Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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SEMPRE BEM ACOMPANHADO

 


Envelhecer 

Fora 

Da 

Solidão



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PODEMOS

 


Des-aparecer?

Viver aos bocados

Morrer tenramente num ensopado 
de ternuras ocasionalmente não 
fortuitas

Observar o precipício pelo canudo 
da Sé de Braga

Aspirar / Inspirar os traços fartos do 
espelho

Dar graças (sem abusar)
da infindável bondade
com que Eles nos Detestam

Ou… Simplesmente continuar a ignorar 
a mentira que mais danifica 
a urgente Necessidade que o Mundo
tem da Solidariedade 
(sempre agredida) 
pela insignificância
 que nos é tão comum…  

                Seria Deveras                                                                               Conveniente                 
                                    Desaparecer 
                                                Para Sempre.





,2024Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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O PASSADO FICOU À PORTA

 



Encostado ao poeta 
ouvindo os abraços da pedra fria 
ficamos juntos até aos confins da 
certeza.
            E os longos passos 
marcados na calçada da afeição 
voavam como se a alegria fosse a única 
e autêntica possibilidade.
            Lembra-te de mim 
                    mesmo que o magoar da mentira 
                    anuncie o que nos matará.
            Dormir por aí na memória 
aleijada no tempo onde nem sempre 
estivemos, 
arranhando estranhas cores escritas 
nos ouvidos.
            Agora aquilo que somos 
                    já não aparece no espelho.
            Será esta a única oferta 
que nunca nos abandonará?

            Que chão aguardará 
                    o advir?
Noites vadias anseiam pela nova 
viagem.








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NINGUÉM VOA COM ASAS DE METAL

 


Só queria o aroma do dia perfeito.
 
Brinquedo não abandonado 
Sangria de afectos sempre presentes 
no recreio da cordialidade.

Ficar no silêncio.

Alimar o deslizar 
do tempo.
            (Como naquele filme 
                    visto longe do olhar 
                            que nada interrogou).









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MENSAGEIROS DA ESPERANÇA

 



Naquela chávena de delírios 
aconcheguei a memória,
gasta e curvada pelo peso dos 
enganos.
                            Sou como não sou!
                                            Por vezes por ali, 
                            ou no mais além,
escondido no choro de castiçal 
onde a tristeza mastiga o véu 
da inútil expectativa.
                            Uma alma sem 
                coração 
escreve com o bico do prego
as palavras verdadeiramente 
importantes.
                        Quem poderá pintar 
                        o doce bailado 
dos mensageiros  da esperança
                                                 fartos do logro do abrigo social?







,2024Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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DEUS NÃO RESSONA E O PERDÃO QUE OFERECES HÁ MUITO QUE DEIXOU DE O INCOMODAR

 



O baile de nêsperas criteriosamente preparado, tal como a salada de sexo prometida, jazem na faena dos palhaços articulados. Um “pas de deux” subtilmente instável ergue as lágrimas para a fatídica previdência implorando a eutanásia do arrependimento. O que fazer nesta obsessão embrulhada na mistura perfeita? Fugir com o que resta da identidade lavrada na apodrecida certidão à procura de um qualquer abrigo fora do mundo? Ou navegar num porta-abraços deitado ao fundo na batalha naval celebrando os momentos que nunca irei entregar? Estar perto do que quero terá de ser sempre uma lonjura? Cansado do falso consolo do destino, o triste voo cravado nos passos da areia, tenta roubar o tempo do engano do relógio.
Quando quererás parar?
O desespero do derradeiro sopro não admitirá qualquer ausência, e no tristonho adormecer acabará abraçado por um ocasional “riff” do Keith Richards.
O Ron Wood já me mostrou a tela.
Pediu segredo.
Nada mais adiantarei.

                    Nunca será pacífica a urgência 
                    [entregue pelo tempo] 
                    deste modo de gostar. 



,2024Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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DANÇA NA PALMA DO DESPERDÍCIO

 


            Na valsa dos heróis inventados
a memória velha, escondida no 
negro xaile, tão pálida como o sabor 
das idades a fingir, 
promete (também para enganar),
a excursão (lugares não marcados) 
aos inadiáveis suplícios.
            Almas matreiras afinam o adequado carpir para a missa do 7º. Acontecimento.
            Louvado seja o pranto,
            aqui na lixeira assim como no 
            “resort”
            das Abantesmas Glorificadas.

E, convenhamos que dos “milagres” 
do Espírito Santo
só pontificam tristes roubados.









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CONVENIÊNCIA MULTIFACETADA

 


Tu

(+)

Odeias-me


Eu Imprevisivelmente

Mato-te

(-)


(Num Improvisado Imprevisto

Previamente Ensaiado

No Mútuo Acordo

Assinado)



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AS VOLTAS DO DESATINO

 


Não consigo encontrar

O caminho 

Do

 Destino 


Não 

Me 

Avisaram

Que tinham trocado

As

Voltas 

Do

Desatino






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A INOPERÂNCIA DESTE MODO DE GOSTAR DE TI

 


Vem 
ter comigo sonho apetecido. 

                Tenho uma cama de mariposas 
a arder,
e uma ternura requintada 
irresistível ao teu encanto.

             A Sombra vadia não desiste 
do desejo 
                e aguarda ansiosamente 
o doce voar do negro cisne.

            Vem ter comigo.

            Tenho para entrega aquele colar 
            de gratidão há muito prometido.

            E, 
            se não  levares a mal, 
            pedirei então desculpas pela
 inoperância deste modo de gostar de ti. 









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CANTILENA DA SOGRA

 
Livra-me     Ó     Meu 

Todo-Poderoso     Deus 

    Do     Meu 

Estimado Genro 

Ficar 

Viúvo









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PORQUE DOIS SEM UM PARA SEMPRE NADA SIGNIFICARÁ

 


Para longe vai indo a vida no baile 
das urgências inadiáveis.
(Já não consegue continuar a iludir
a admiração que nos enganava).

É só mais um 
desapontamento
esta inquietação mascarada de sorrisos 
consolando o conforto acampado 
na opção continuamente sofrida.

Nada poderá ser questionado 
à ausência das respostas
porque     2     sem     1
para     sempre     nada                                                                                                     significará.








,2024Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 18 de agosto de 2024

QUEM ME DERA QUE O ARCO-ÍRIS NUNCA ENFERRUJASSE

 


Um dia o velho castanheiro farto das 
cicatrizes das juras do ardente amor 
ressuscitará na encruzilhada da desilusão.
E o algo profundo que sangra na 
soma da idade 
nada poderá saber das mentiras 
roubadas ao ramalhete da tristeza 
(pago às escondidas na luz vermelha 
do albergue das lamentações). 
Asas de fel à deriva seguem o voar 
para o habitual teleguiado destino.

Quem me dera que o arco-íris nunca 
enferrujasse. 





,2024Jul_aNTÓNIODEmIRANDA
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PENA QUE ASSIM NÃO SEJA

 




O     Meu     Mundo


É O                                  

            Chão 


    De     Todas     As


                Pátrias




,2024Jul_aNTÓNIODEmIRANDA
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NA CABIDELA DO TARANTINO

 


O Critério Requintado 
e os seus Egos Molestados 
repousam animados  na Cabidela do 
Tarantino.
E na dança dos Janotas, prometem 
a entrega (portes pagos pelo destinatário) 
do único não verdadeiro deus-vivo. 
Lá para a praia do Equinócio 
ainda não amotinado, 
(regressadas dos sonhos nervosos), 
Tartes de Diplomacia lisonjeira 
escrevem convites escritos pelas falíveis 
horas no relógio dos ponteiros 
envergonhados.
A barraca dos Santos sem Remédios 
anuncia os malefícios da purificação. 
E o sábio masoquista 
(disfarçado de vendedor de 
“collants” psicadélicos), 
promove a importância das Relíquias Virtuais 
com a eficiente ajuda do Manual de Suicídios 
ainda em perfeito estado 
de apodrecimento. 
(Subsídio garantido por decreto-lei 
ainda na puberdade).







,2024Jul_aNTÓNIODEmIRANDA
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MADIBA Nelson Rolihlahla Mandela (Mvezo, 18 de Julho de 1918 – Joanesburgo, 5 de Dezembro de 2013)

 


MADIBA


                Tanta 
                        Estrada 
                                    Assassinada

Primeiro tiraram-me o nome
Depois despiram a vontade
Mancharam-me a identidade
Não satisfeitos, 
identificaram-me num cartaz 
orgulhosamente mijado por energúmenos
 treinados para o evento

            Por fim queimaram 
            o que restava da memória
(eles só queriam que desistisse)

                            A Liberdade e a Vida 
                    amam-se incondicionalmente





,2024Jul18_aNTÓNIODEmIRANDA
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COVIL DE DESILUSÕES

 


O futuro é 
uma 
contínua 
desordem


Ninguém 
entra nessa 
equação 

Vou desinfectar-
Te 
destino louco
[triste cocktail de 
                            esperas inúteis]





,2024Jul_aNTÓNIODEmIRANDA
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CAMINHOS DESENHADOS

 



Nada de nós viverá 
para além dos fantasmas que 
construímos.

Doentes e 
desanimados
manchamos o despertar 
do ânimo que nos espera.

O tempo deixará de pulsar, 
quando o deleite de todos 
os silêncios 
cobrir por fim o desalento 
palmilhado.

        Será assim que 
                    nos despenharemos
nas longas noites 
da carência.

Quem terá desenhado 
estes caminhos? 
Ninguém 
                                                    nos diz…







,2024Jul_aNTÓNIODEmIRANDA
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ATROPELAR O TEMPO

 




Escrever

            Mesmo 

                        Sem jeito 

                    A esperança 

Das
 
linhas
 
mortas





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quinta-feira, 15 de agosto de 2024

021 KIKO O MEU CÃO #Quiçe Mi Lá Buche# - Editora Tea For One / 2015Março

 







POEMA PARA O LUDO #Livraria Buenos Aires# (Tea For One) _2015.

 






KIKO (TUMOR)

 



Estamos a despedirmos, meu velho amigo.
Não com os anos da idade,
Essa só nos trouxe amizade,
Mas 4 centímetros
Não nos permitem grandes esperanças.
Qualquer noite
Já não estarás à minha espera,
Não haverá lambidela
Nem cauda a abanar.
Era esta a oração
Que me conduzia ao sono
Com a feliz sensação da bênção de um amigo.
Nada é justo,
Sobretudo quando partimos
Um destino que nos pertenceu.
A tua dona chora sempre por ti
E, eu, que tanto gosto de vocês,
Conservo esta maldita incapacidade
De não conseguir enxugar estas lágrimas.
Sabes, meu bom amigo?
Eu agora também choro




2016_aNTÓNIODEmIRANDA
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KIKO_WALKING MY DOG

 


Agora só tenho a tua trela para me conduzir a alma. 

Todas as tuas lambidelas estão aconchegadas no meu porta-corações. 

Continuo despenteado pelo abanar da tua cauda. 

É agora diferente o cheiro da relva que recuso pisar. 

E o segredo só nosso de confundires a matrícula do teu carro. 

Vou enviar uma carta ao teu deus, 

a confirmar a autenticidade da nossa amizade. 

Escreve-me!

Vou aprender a ler.


2016_aNTÓNIODEmIRANDA
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"O CAPTAIN! MY CAPTAIN!"

 


Tantos medos nos tiraste
da poesia emplumada
castrada por tanto pó
numa escrita absurda
Nefasto conceito
cultivado em academias
chocadeiras do embrião
decadente
Tu mostraste
que a força do poema
não tem guarida
nem suporta
o tédio absurdo do caixão
Palavras libertas
empurram finalmente 
outras portas
Tenhamos somente
coragem para nelas tocar.
Que se ame
aqueles que sangram as palavras:
Os Poetas!
Nunca os que corrompem
o verdadeiro sentido da poesia
secando a falta da alma
num estendal vazio

                        "O Captain! My Captain!"





2016,03 aNTÓNIODEmIRANDA
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LUDO (O nosso gato que adorava ouvir as tangas do pastor da iurd ou lá o que é essa merda)


Naquele dia a Ana, aparelhou a nossa casa com uma gatinha que tinha ido buscar a uma loja. E mais uma vez, com o olhar que ela tinha, não consegui resistir. Foi assim que fui apresentado à Ludmila. Confesso que não achei lá muita graça, mas gostei imensamente da indiferença com que ela me acolheu. A Ludmila quando visitou o veterinário, logo passou a chamar-se Ludovico. Mais tarde, Ludo. Nos primeiros tempos da sua actividade ocupacional, entreteve-se a dar cabo de dois sofás e dos pendericalhos que prendiam os cortinados. Claro que também sabia brincar como se verdadeiramente fosse gato. E isso, de tão engraçado que era, tinha o efeito de amenizar os prejuízos dos estragos cada vez mais frequentes. Estou a falar de um gato, porra! Mas que gato! Seguia a dona, rabo alçado, numa conversa exclusiva dos dois. Eu quando chegava a casa, era simplesmente ignorado. Por vezes cheirava-me com alguma curiosidade, mas ficavamos por aí. Mas o Ludo não era um gato qualquer. E eu também não. Fomos conversando e acabamos por nos entender como pessoas de bem. Tivemos algumas performances que ainda hoje me fazem rir. O que é que foi? Foi a frase que ele mais gozava. À medida que o tom da minha voz se elevava, ele invariavelmente fingia-se de morto e caia redondo no chão. Enganava-o amiúde com o abanar da caixa de fósforos que ele confundia com o som da embalagem da ração. Lá vinha o gajo, orelhas para trás, a correr desalmadamente em direcção da cozinha. Como resistir a tamanha atitude de complacência? Então pegava nele e dava-lhe beijos no nariz. O Ludo agradecia com ternurentas turras. Todas as noites em que acabava por adormecer no sofá, era acordado invariavelmente por ele. Já no quarto, enquanto me despia, sentado no tapete, o chavalo aguardava pacientemente a minha entrada na cama. De repente 13 quilos de satisfação aconchegavam-me tórax. Oferecia ao meu amigo um braço dobrado e tapava-o. Colocava um dos auscultadores no seu ouvido, enquanto duas patas riscavam-me o peito, mas quando chegava a voz do tadeu, ouvia com satisfação o seu ronronar.





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NO CAFÉ DA MIMI

 


Setembro, todos sabem e ainda menos os que acreditam, é o mês ideal para envernizar palavras endemicamente infetadas. Era no café da Mimi que eu me sentava quando queria beber esta ideia. Lia o jornal começando pela última página, demonstrando a mim próprio a não preocupação da importância da notícia previamente estabelecida. Escutava conversas de gente que não sabia o que dizia abusando na proposta absurda numa burrice constantemente anunciada. No café da Mimi, aprendi a pensar naquilo que nos resta, depois de deitar fora o que não presta. Esvaziei vazios que só a mim me competiam enquanto lia os rótulos das garrafas onde faltava sempre o meu nome. Continua uma hipótese fora de questão. Não poderei medir os nós deste tempo humedecido, ancorado nervosamente a uma maré preguiçosa para qualquer aventura. O salva-vidas nunca esteve disponível para tanta indecente frustração. Navegamos outros mares logicamente enganados por faróis que só sabem ler rotas em off. No café da Mimi ouviam-se sorrisos gemidos em formato jpeg com propriedades de formatação consignadas para turistas patéticos. No café da Mimi, sentado num barco onde nunca naveguei, bebia whisky num copo com novelo e muitas vezes sonhava, nas horas que ele durava. Sonhava porque queria o sonho que me apetecia. No café da Mimi, mesmo nas vezes em que lá não ia. Aconchegavam-se preponderâncias inertes e cumprimentavam-se com o devido respeito estímulos ausentes.

Claro que não era no café da Mimi.


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MESTRES!

 
Parker, the bird, “I Can't Get Started”, Miles “Round Midnight”, Coltrane “Mary's Blues”, Mingus “Don`t be Afraid”, Roland Kirk “I Talk With the Spirits “.

LP`s riscando o nosso prazer. 
A agulha gemia e o gira-discos soltava um cansaço com toda a vénia e respeito. 
A capa do Ponty dormia sobre o meu corpo, 
aquecendo o meu quarto. 
Era uma música sempre a tocar e muitas vezes, 
nem nos atrevíamos a mudar o disco. 
Há momentos que nos merecem agradecimento.
Tinha poucos discos, naquele tempo, 
mas amei-os como se fosse única a sua pertença. 

Gostei sempre desta música. 

Mostrou-me outras portas! 

Muitas delas tive a ousadia de abrir.









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terça-feira, 13 de agosto de 2024

INPUT/OUTPUT

 
Leva-me até à beleza
embora eu não tenha a certeza
de a poder tocar.
                            Tenho esgotado 
                            o saldo das pretensões
                            ignoradas.
Avariado
o medidor de emoções.
                            Desacertado
                            o controlador de afectos.
Só me pertence
o gostar até depois,
nesta sede que bebe
as tuas lágrimas.
                            Prometo 
                            que fico bem 
                            na tua pele.






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TALVEZ O MUNDO FICASSE MELHOR

 


            


Cuidar dos mortos

                                            &


                                                Enterrar os vivos




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GOSTAVA DE TE ESCREVER ROSAS

 




Gostava de te escrever rosas.
Mas quem sou eu,
a quem todos os espinhos
rasgam as letras do teu nome? 
Preciso de um avental com luvas amigas,
e sobretudo de um vaso
para regar a tua sombra.
E uma foice amigável 
para não magoar a vontade
com que te quero.
E uma tarefa,
cumprida não como promessa,
só para enlatar o azeite
que algumas vezes nos temperou.
Sou o que sou!
O que quer dizer,
que sem ti,
continuo a ser
o
nada.
Gostava que estivesses aqui,
e que o dia que agora tão mal me trata
não tivesse que acontecer.




,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA
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VASSILIS VASSILIKOS

 

Há anjos tão belos, 
imensamente desprezados 
como se fossem cheiro de relva cortada. 

        Há que partir a cerca, 
dar o salto para a taberna mais próxima 
e celebrar sem parar 
a viagem do homem que pensou  
tinha calcado a lua. 

                            Serão estes os muros onde Baudelaire mijou? 

Quem ousará afirmar o contrário? 
Este odor é inconfundível! 

                E os poetas sabem-no.

Vassilis Vassilikos , 
eu apunhalei o teu anjo! 

                            Espero-te na velha oliveira, 
                                para que me digas como deixar 
                de escrever.


.2015aNTÓNIOdemIRANDA
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domingo, 11 de agosto de 2024

A FELICIDADE É UM SÍTIO ESTRANHO

 


As ruas tristes
vestem saudades,
despejam lágrimas de vinho azedo,
confortam estátuas
dos poetas sem lugar.
Um néon perfumado
disfarça o choro 
dos pássaros feridos.
Olhares desesperados
tremem no trânsito que os atou.
Escorre o tempo
na peneira das solidões sem fim,
no desencontro da subtileza
dos passos sem volta.
A felicidade
é um sítio estranho
para alguém se esconder.






,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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HORÓSCOPO

 



Nada me satisfaz neste rosário de lesmas 
agarrado às minhas voltas.
 Não consigo achar o sentido da beleza, 
perco-me em divagações malparidas, 
escondo-me nos fumos dos cigarros, 
neste encontro sem chegada. 
Jogo às mentiras, 
detesto a paciência e a sua inútil calma, 
atiro sorrisos enganados para a parede. 
Tenho na garganta 4 tiros amestrados, 
uma fogueira de hipóteses queimadas, 
um manual de soluções fora de prazo.
Agradeço ao tempo, 
a conta desigual com que nos aturamos. 
Neste lapso do amigável engano, 
risco do horóscopo as possibilidades fictícias. 





,2020mai_aNTÓNIODEmIRANDA
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NADA MAIS PODERIA SER TÃO ERRADO

 


Deus é um homem nu
 
O mundo 
é um precipício 

A religião 
um sacrifício 

A vida um
suplício





,2020Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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MORRESTE SEM DAR POR ISSO

 


Quando fores Feliz 

E

Não te Lembrares

É 

porque Morreste 

Sem dar por Isso








,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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NÓDOA PREDILECTA

 


Porra!
No final desta vida
o filme morre mesmo a sério.

            Foi só um momento a fingir ternura,
um cenário não conseguido
numa gelatinosa apoteose 
roubando a corda do relógio do tempo 
que vai cansando. 

A pretensa simplicidade muitas vezes 
torna-se na nódoa predilecta 
das pessoas sem dias para contar.









,2020Julho_aNTÓNIODEmIRANDA
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