Um homem só embalando a sua sombra cáustica,
ilumina a ideia que lhe fugiu, acariciando a
lamparina mágica que lhe oferece todos os pressentimentos.
Aquece as mãos com que apalpa a existência dos erros.
Quer sair de si próprio rejeitando todos os rótulos para esta viagem.
Relê os poemas que nunca escreveu e dirige-se á porta do tempo que corre.
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Um homem só com uma sombra incompleta, calca esperanças que lhe dificultam a vida.
Sentado na árvore dos sonhos feridos, encanta borboletas com vozes de pássaros.
Abana o mundo que não quer ter na cabeça e oferece rebuçados do Dr. Bayard às formigas constipadas.
Fez um hat-trick obedecendo à apurada técnica da sua fina cintura, e agita uma bandeira ventilada com náufragos da última colecção outono-inferno.
Salta de bíblia em bíblia embrulhando parágrafos da Reader's Digest.
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Por isso diz-se :
um homem só não é de fiar.
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O homem seguiu a sua sombra para o beco sensato onde se ouve a última valsa.
Relembram segredos do arco-da-velha e abraçam-se num cambalear desajeitado e bebem bagas de alegria numa taça comum.
Assim iluminam os passeios das gaivotas curiosas que aplaudem o seu encontro.
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O homem achou a lua abraçada a um candeeiro. Julgou-se dono de tudo e roubou-lhe o único sorriso escondendo-o no bolso alheio.
Vendia versículos disfarçados de hambúrgueres tragicamente elaborados no great american disaster.
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Marcaram encontro na fila de espera da felicidade adiada.
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O homem perdeu a sombra.
Mas não encontrou outro caminho.
,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA
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