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segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

A ÚLTIMA NOITE DO POETA…

A última noite do poeta que julgava que até então tinha vivido,
filmada de soslaio por uma câmara escondida.
Enredo conturbado numa cena de celulóide moreno,
género fricção dentífrica, com luzes a cintilar fora das órbitas
e um elenco de joaninhas amestradas.
Vamps carecas ornamentavam as filas de espera
só para ver o desfile das estrelas
no estúpido resort das passadeiras vermelhas.
Ratos disfarçados de limousines,
distribuíam autógrafos com efeitos especiais.
Óscares lubrificados com durex,
mostravam trelas diamantadas defecando no urinol da fama.
Foi tanta a indecência que entupiu o camião do lixo
e os aplausos não puderam ser reciclados.
O trânsito ficou parado e a inteligência obstruída.
O pânico saía das agulhas
para não faltar à convenção dos comas sintéticos.
A grande cidade não dormia e deus perdeu definitivamente
a esperança nos milagres mal filmados.
Na esquina da 5ª avenida, com uma rua qualquer,
os semáforos entraram em convulsão.
Todos os quartos do hotel da infâmia estavam ocupados
e o velho recepcionista podia jogar tranquilamente
a habitual partida de bilhar de bolso.
Na esplanada do fojo a velha raposa

de pala espetada no ouvido direito,
aguardava astutamente o momento para substituir
o mal-educado leão da metro goldwyn mayer.

,2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

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