Entardecia
a vida agarrado ao copo tão vazio como a sua tristeza.
E na pressa
de o encher, bebia as lágrimas possíveis num olhar de absinto,
enquanto fumava nuvens que nunca lhe pertenceriam.
Teve todos os cuidados e pendurou no olhar a tabuleta | não incomodar |
como
a Gina da pensão da rua Sofia, lá na bela Coimbra,
costumava fazer
enquanto tocavam os corpos sem beijos acontecidos,
fingidos num amor
taxado, sem bónus nem direito a repetição.
Curvado
sobre o papel, a falta de vista não o impede de recordar
o cheiro da toalha mais usada do que a sua vontade de não incomodar.
Sorri
letra a letra, agora deitado no sofá dos sabores.
O
copo está cansado, e mais do que isso, farto das suas lembranças.
Espera
como sempre, o sono, algumas vezes inquieto, do seu despertar.
É
agora o seu dono, será amanhã o seu caminhar.
Com todo o cuidado,
beija-lhe a testa, não vá a saudade mais tarde despertar.
Mas
o vazio não tem peso nem medida, nem hora acontecida,
nem vontade
adquirida.
Há
que ter cuidado!
Não
vá ele julgar que está a sonhar.
As
nuvens agora voam baixinho, e como quem não quer a coisa,
amordaçaram o piloto automático.
Por
favor,
não
incomodar.
2016,12aNTÓNIODEmIRANDA
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