Não sei de que lugar estou perto
nem do longe que me leva.
Sou como a nuvem do deserto
chuva seca e apressada
empoeirando a saudade.
Sou o fugir sem lugar
para tanto prometer
sem nada de mim cumprir.
Tenho o coração a chorar
com gotas a fingir
a esperança tingida
com mentiras
que já não agradam a ninguém.
Fujo agora
tropeçando nos degraus do medo
que não ouso admitir.
Coxeio nesta bebedeira
tão velha como a minha ignorância
e tento sossegar esta presença
sentado no banco da estação habitual.
O tempo de espera estimado
informa-me que cada vez é mais curto
o momento que tenho
para mudar a agulha.
Estimado passageiro,
boa viagem!
Esperamos que tenha a oportunidade
de chegar ao destino que mais lhe
apetecer.
Em nome de toda a manipulação,
reiteramos os votos de um bom
desaparecimento.
O resto, se puder,
é consigo.
2.
Maldade!
Isto
não se faz!
Acabei
de renovar o passe social onde poderá ser vista a melhor fotografia
da minha incoerência. Esmerei-me para que não existissem dívidas e
até subornei o oblitarador para não dar demasiado nas vistas.
3.
Mas
depois temos o tempo, essa coisa do demo que maldosamente nos vai
vacinando o engano do desgaste da nossa permanência. Visitamos um
calendário qualquer que nos mostra uma ardilosa conjugação de
signos. O sagitário a dormir no aquário. Peixes contando carneiros.
Touros a assar capricórnios. A balança com os pratos gémeos dá-nos
o peso sempre a dobrar. O escorpião pica o caranguejo. A virgem
angana o leão.
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