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terça-feira, 18 de outubro de 2016

CRÓNICAS DE VILA CHÃ (MEMÓRIAS DE POBRE)

Aqui os cães não sabem utilizar os telemóveis. Falam no ar nada preocupados com aquilo que dizem. Confesso-me curioso por esta conversa. Passam à minha porta rabo entre as pernas olhar medroso acompanhado por um modesto abanar de cauda. Como compreendo eu a sua desconfiança. Bem tento a aproximação mas o seu medo vence a minha intenção. Ofereço num prato de plástico amarelo aparas de fiambre extra “Nobre” e escondido vejo as lambidelas mais satisfeitas do mundo. Não nos conhecemos mas isso não impede o meu contentamento pela sua presença. Mentiria se não escrevesse que no meio destas badaladas da média noite com o silêncio afagado pelo tremor das folhas desta velha oliveira, não me lembrasse de outras sombras. Tenho à minha frente um rebanho vagabundo de ovelhas e cabras vigiadas à distância por três sábios cães e uma cachorra distraída mas curiosa na aprendizagem deste trabalho. O pastor como os demais no desemprego não subsidiado, enrola nos dedos a falta de um paivante e queima o desejo de isto acabar o mais depressa possível. Isto não é vida. Olhe que isto não é conversa de bagaço. Vamos por aqui, sabe lá deus por ali. O leite não vale a pena. A ovelha fica prenha e o filho mesmo que ainda não saiba pular, é a solução.
Já não como queijo.
São memórias de pobre, compreende?
Pouco vale o meu saber. E no café da aldeia onde me pensam como artista, ouço o seu curvar nas cadeiras abarcando um sono insano que lhes promete ardilosamente um amanhã menos mal.
Cresci na cidade. Ainda me falta a alma de viver no campo. Haverá algum passe social?
A previsão meteorológica já não era o que era!
Com tanto parlapié mais parece o anúncio da nova colecção Outono/Inverno.
 

2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

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