Não
seria o mais famoso dos cromos mas sem dúvida alguma era o único
agente secreto que ruminava sandes de naftalina. Não por ser chique
mas pela simples razão de tal acto amainar os incontroláveis
vapores do seu rego. Uma conhecida corretora financeira ainda o
tentou demover, ameaçando-o com um considerável rating abaixo do
estrume. Seguro de si próprio e com os índices de confiança
elevados ao mais alto desnível, conseguiu resistir a todos os
assédios. Até porque mantinha a secreta esperança de um dia
coordenar, nas horas de ponta, o trânsito ferroviário na ponte
sobre o Tejo. Uma pequena questão pendente com uma brigada que
amiúde lhe causava problemas, lá para os lados da bagageira.
Mantinha há longo tempo conversações avançadas com o sindicato e
esperava a todo o momento o anal do secretário-geral. Até porque
representava um conceituado ponta de lança, disponível para uma
hipotética transação. Era sobejamente conhecida a sua ambição
por uma estrela Michelin, embora no seu pisa cocós, fosse evidente a
primazia pela Firestone. Mudar? Nem pensar! Havia um contrato a
respeitar e nunca iria pôr em causa o patrocínio que tanto lhe
custou a adquirir. A indústria química estava no bom caminho. Novos
e prometedores mercados rolavam na via verde.
Cedo
abandonou a carreira política. Não admitia que houvesse alguém que
enganasse e roubasse mais do que ele.
,2016,05.aNTÓNIODEmIRANDA
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