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quinta-feira, 12 de maio de 2016

BOLOR

Poderia ter feito de ti outra coisa que não um fantasma,
mas por vezes assumi que gostava da tua realidade.
Nada me deves.
Paguei o preço certo,
aquele que é devido aos amantes.
Escondemo-nos um com o outro
com a promessa de um encontro inadiável.
Tornámo-nos personagens diferentes
numa festa com o desejo ausente.
Saboreamos um champanhe patético
erguendo amargamente os copos da nossa solidão
com juros excessivos para a nossa conta.
Tudo ficou desconcertado
e nem sequer ousamos fingir
os olhares de um desejo idiota.
Ficou a nódoa fiel companheira da minha gabardine.
O último dia não passa de uma aparição dolorosa
e passeia-se apressadamente
no meio de toda a gente
e apenas nos oferece uma fórmula indecifrável.
No quarto desta pensão
a anomalia da tua memória agita um rumor
de inquietudes sem palavras de cortesia.
Não me apetece dormir
e nem sequer acho isso estranho.
Poderia ter feito de mim um fantasma
e não outra coisa que assombrasse a minha sanidade,
mas por vezes acreditei na importância descabida.
Tudo me devem nesta loja,
onde como um mestre de obras qualquer,
projecto inadvertidamente planos para o meu não futuro,
onde me espera uma cobrança indevida.
Vou pregar os danos morais no reposteiro.
Não quero enlouquece-los.



,2016,05.aNTÓNIODEmIRANDA

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