apagou o quarto
e foi passear a memória.
Caminhava pintando poesia
e sentia-se feliz
como se alguém não ocupasse
o lugar do seu desejo.
Agora que via os dias
num modo que sempre lhe faltou,
eram diferentes estes passos
com voltas subtis
cheias de convites onde o medo nada mandava.
Embrulhou-se na tela
onde correm os galgos do Amadeo.
Rasgou a moldura para que não atropelasse
a pressa da sua beleza
e abraçou todas as cores
como se fossem sua exclusiva pertença.
As suas formas escorriam-lhe da cabeça
e não sabia o que fazer com tanta paixão
que tinha entre mãos.
Lembrou-se dos cheiros de Manhouce
e pintou a imaginação possível.
Não lhe seduzia abraçar o seu outro.
Afagou os cabelos com os dedos
que agora tinham traços de pincéis.
Calcou a receita
e nem sequer se deu ao trabalho
de decorar a prescrição.
Apanhou o autocarro
exactamente na direcção contrária
à cela #345.
Desta vez não teria medo
do silvar da ambulância.
,2016,05.aNTÓNIODEmIRANDA
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