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sábado, 21 de abril de 2018

O POETA NUNCA DIZ QUE É POETA (com os melhores cumprimentos para o Senhor Ferlinghetti)

Num contexto fácil e descontraído, preocupa-se com factualidades terríveis, como a queda da aranha na maionese, que ostensivamente machucou o néon dos seios daquela musa, surpreendida pelo ondular achocolatado das pregas da sua dança.
Um lenço acena uma seda triste.
O poeta que nunca diz que é poeta, afoga com estima, molduras ressequidas, e num laço afectuoso, envolve as sombras da poesia. Depois, senta-se lavando lágrimas no alguidar dos poemas que ninguém leu. Amparado na bengala da solidão, acende candeeiros abandonados pelo céu das estrelas fraudulentas. Desobedece confortavelmente às intenções maliciosas do bem-estar oferecido. Conspurca sempre a higienização social, e asfixia no mictório da normalidade, a pronúncia dos patetas que dizem ser poetas. O poeta não perde tempo com zunidos, não gosta que lhe entupam os sonhos. Fala com os amigos que também não se dizem poetas, e desfiam artifícios como sobremesa.
Na conversa dos poetas, aqueles que dizem não serem poetas, gravam-se sorrisos num grafiti engraçado, para mais logo emprestar.
O poeta nunca acaba o poema. Tem na folha outra invenção. E cavalga a onda do seu consentimento, só para aparar limalhas que choram no seu peito. Sustenta a tristeza que corre nas veias, lambe as feridas, e diz o único adeus com sabor a despedida.
O poeta que nunca diz que é poeta, entorna o olhar na memória lenta dos poemas que o abandonam. E tatua cicatrizes na marcha da ignorância, só para lembrar, que como sempre, morrerá só.
Os que se acham poetas, não passam de alucinações doentias!
&, Como os poetas que dizem não serem poetas sabem, isso é uma estupidez sem cura possível.



2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA

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