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sábado, 19 de agosto de 2017

VISIONS OF GERARD (para JACK KEROUAC)

Gerard antes de se tornar anjo,
acendeu todos os candeeiros do caminho 

e meteu-se no autocarro que só pensava
em fugir da paragem.
Embrulhou os poemas da sua memória,
alisou a mala dos sonhos e deslizou na auto-estrada
que lhe tinham entregado.
Rodou sobre si próprio para não ficar entontecido
e riscou no pára-brisas o último desejo.
Aconchegou o desconfortável nó na garganta
e timidamente mirou-se no retrovisor.
Tudo estava prestes a acontecer
e o seu sorriso prazenteiro não enganava.
Lá fora as dunas acenavam às bermas de um destino qualquer. Beatas controlavam a azáfama do trânsito

e polícias com sotaques malabaristas
pintavam a passadeira do azul do céu.
Gerard acendia estrelas tímidas

e começava a despedir-se da vida que o traiu.
Elevou-se educadamente para fora do alcance das pessoas
e num assomo de derradeira simpatia,
rasgava cartões-de-visita

onde estava escrita a sua antiga morada.
Poisou as lágrimas na varanda,
despiu-se de si próprio e começou a voar.
Chegou ao recinto pela porta dos fundos
e só porque é mentira, dizem que estava feliz.
Gerard disto nada sabendo, escreve agora poemas
com as penas das asas caídas.
Sempre que se sente alcançado,
liga o purificador das vontades inócuas.
Diz-se que o céu morre de inveja

e quem o habitava,
já lá não mora.
Gerard antes de se tornar anjo,
pensou seriamente no assunto.
E concluiu que nada mais havia a fazer.


2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

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