Estou a
perder a cabeça.
Já não
calco os passos que me levavam até mim. Danço os sons da floresta
nesta amálgama de incúrias lambidas suavemente pela língua da
minha aparência. Percorro-me de lés a lés num golpe estranho ao
batuque do coração. Visto-me com a vontade congelada aguardando o
seu degelo para nela naufragar. Esta é a fé que não pode ser salva
pelas trompas gloriosas da ventura insaciada. Há um desejo repetido
tantas vezes sem conta um soluçar de esperança atrevido e um não
estar orado nas preces sem deuses. Estou vivo no modo contrário da
normalidade narcotizada embora assuma a plenitude da minha falta de
defeitos. Tenho uma tranquilidade adversa uma vontade dizem que
perversa e um juramento infiel bailando a valsa dos arrependidos que
estão por chegar. Guardo num saco azul quezílias bolorentas
sediadas num paraíso artificial que ainda não encontrei. Não digas
não sussurra a velha canção. Olha que amanhã também poderá ser
um dia como deve ser.
Mudar de rumo também não me apetece.
Perco-me
facilmente nas propostas indecentes.
Passam um
milhão de medos pela minha cabeça. Não tenho desculpas para todos.
Frito as tristezas nos sorrisos sem futuro mas não tenho pele para
tantos golpes. Nada está calmo nesta nuvem com sons cada vez mais
desavindos onde estranhos que já conheci acenam com bandeiras da
última meia noite. Mas eu quero mais : o sonho que não dormi! Quero
um cocktail de luas maliciosas. Um sono não amolgado.um outono
sossegado. Um velho blues sincopado. Um abraço não ocupado. Uma
aleluia sofisticada com berros dos cordeiros sobreviventes e cútis
fora das hóstias e histórias sem morais inóspitas e uma vontade
sempre a arder. Um relógio fora de horas um tempo sem demoras e uma
ideia sempre pronta para acontecer.
Estou a
perder o coração.
Não digas
isso que me dá dó. Diz-me a minha fralda madrinha. Coitadinha, não
sabe que está só. Todas as mães deveriam estar no céu. Refiro-me
unicamente às boas mães.
Que poderei
eu fazer se nada pretender?
Vi aquele
cogumelo naquele lugar estava vivo tive de o abraçar. Vou oferecer
todo o meu desejo. Talvez sim provavelmente não. Só quero uma noite
de cada vez na minha lista de espera. A minha porta já pouco se
abre. Todas as cores morrem sem me avisarem. Ninguém chora a
orfandade das tintas. A palete desmaiou a espreitar a fechadura a
carpete foi aniquilada como obra de arte gongos ao longe disfarçam o
seu choro.
A minha
cabeça entrega-me a chuva dos dias de prata onde dormem as
primaveras amistosas. Sonhos voam nas ravinas dos murmúrios para
enconderem as lágrimas. Estou no meio da sopas dos ninhos das
borboletas dos sorrisos multicores. Guinchos de ambulâncias queimam
as esponjas do fim do dia. A brigada dos choros convulsivos recolhe
dissimuladamente alguns poemas. A angústia é uma colher onde nunca
tudo caberá.
A minha
cabeça diz-me que estou certo. Hoje preciso da sua ajuda. Quero o
seu amor esta noite. Agora ouço as suas palavras que me prometem as
imagens que quero. Preciso da sua ajuda. Hoje quero que o seu amor me
ofereça as folhas do outono prometido.
Sinto-me tão
preguiçoso. Vou dedicar-me a pintar o teu sorriso vestido com as
nuvens do teu olhar. Podes ouvir-me querida amiga neste absurdo da
vida com que celebro a tua presença num TANGO
WHISKEYMAN.
2017ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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