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quinta-feira, 20 de abril de 2017

SERRIM


Nódoas traçadas na toalha bordada
horizonte peneirado
névoa de manhas retardadas
um fugir lento sem situações confiáveis.
Nada faz sentido
neste monte de cavacas
brevemente arrastadas em tons e cinza.
O vento empurra o serrim
alçando nuvens que alcançam
a espuma dos dias.
Nada restará deste pó
tantas vezes crucificado na vã glória
do sonho nunca acontecido.
Os retratos fugiram das molduras
habitando agora um hábil desleixo
que enche estas mãos sem nada para abraçar.
E esta perseverança repetida
assobia aos ouvidos as canções
do serrim vagabundo
que jura nunca nos abandonar.
No chão da lareira ardem todos os prenúncios
deixando um cheiro angustiado que suja a solidão.
E depois há um soalho velho e gasto
por tantos passos que tantas vezes
nos levaram a lado nenhum.
E o sol oculto nas janelas
demasiado apressado na longa caminhada
para acordar os dias.
E um torpor gélido
que ponto por ponto
sublinha as palavras da circunstância
que nos pariu.

,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

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