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quinta-feira, 20 de abril de 2017

NUNCA SORRIO PARA MIM DESCONFIADO

De onde saio?
Do tempo infame ou terei de continuar no corredor das fintas curtas e golpes de rins vendidos em qualquer talho?
Mastigo sem gosto a sopa de letras que não sei ler e nos passos em cima da linha, alinho contradições que só a mim dizem respeito.
Longe, naquele lugar que às vezes encontro e que de tanto o achar, o desencontro, procuro uma lucidez que não me dê muito trabalho.
Sento-me na paragem da espera do tempo, agarro o fôlego e envio para o céu códigos escritos com a nuvem dos cigarros que fumo.
É sempre necessário admitir que nem tudo o que me seduz é ouro. Já tenho a pele com a certeza do couro e demasiadas pulseiras antagónicas para soletrar penas nunca cumpridas.
O bom filho a casa rouba e a mais não é obrigado.
Sou um desalinhado com algum jeito para centrar exacto o esférico em direcção à cobiça adversária.
Como dromedário,
os estúpidos não compreendem
o meu contrário,
e assumo quando me apetece
que a minha aspiração na vida nunca foi central.
Gosto do que sou
amo o que gosto
mas isso é tão banal que nem importância lhe dou.
Finjo que não ouço mas nunca me esqueço.
Aqueço o espelho para que o vapor
não mude a risca do meu penteado.
Nunca sorrio para mim desconfiado
e não confio absolutamente nada
num relógio que admita enfeitar o meu pulso.

,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

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