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terça-feira, 1 de novembro de 2016

Um poema do Miguel Martins.

E se as aves estacarem em pleno voo e ficarem imóveis
na pintura de Deus? E se Deus estiver indisponível
e a remoção do corpo não remover o olhar? E se ficarmos
para sempre olhando aquela imagem feita de azul e branco
e negro, desbotados por um sol manso, de esperança...
ainda em esboço? E se a Eternidade for um jogo de xadrez
perpetuamente empatado, uma água estagnada que
enverdece como os cobres de uma casa abandonada?
É provável que o encanto seja fraco descanso, que o tédio
sobrevenha ao veraneante, que o trocaria por uma hora
de juventude, de joelhos esfolados pelo asfalto de uma queda
logo erguida num sorriso rompante. É provável que desejemos
apenas morrer e o desejemos muito, como se aquele segundo
em que a respiração se suspende dando início ao orgasmo
pudesse durar para sempre, não como um travelling
sobre a pradaria da irrealidade, mas como um corte abrupto
que, gloriosamente, não deixa qualquer questão nas ideias
dos néscios. Sim, esperemos que o Céu um spaghetti western.


Miguel Martins
 

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