Devo agradecer aos turistas o desenvolvimento cultural da chacota Nacional.
Devo agradecer aos turistas a possibilidade geográfica de a Trafaria ser uma estância turística do norte de África.
Devo agradecer aos turistas a liquidação local de Lisboa.
Devo agradecer aos turistas o pastel de bacalhau com queijo, assim como as bifanas sem aquele molho gorduroso e nojento.
Devo agradecer aos turistas a infindável espera do 727, assim como a inutilidade do meu passe social.
Nunca me irei esquecer, claro, de agradecer aos turistas, o cheiro pestilento da comida de plástico que encharca a tipicidade desta cidade.
Devo agradecer aos turistas a sua imaculada estupidez, passeada em qualquer tuk tuk com o som estereofónico das suas curiosidades.
Devo agradecer aos turistas, este trânsito de troleys que desgostam os passeios, assim como o seu sempre patético sorriso que de tão tonto, torna o meu, amarelo.
Devo agradecer aos turistas, o enlevo com que poisam as patas nos bancos dos comboios , o ruído nos restaurantes, o terem-me ensinado a comer ameijoas de faca e garfo, a possibilidade cada vez mais rara, de saborear a verdadeira comida Portuguesa.
Devo agradecer aos turistas a sua sábia ecologia, a sua natural imbecilidade que os faz não respeitar as filas, entrarem pela porta de saída e ocuparem os lugares reservados para velhos, grávidas e crianças. Devo agradecer aos turistas a impossibilidade de alugar uma casa com o preço correcto, de saborear um simples café sem ser incomodado pela sua vista, e eventualmente com um inadequado pedido de uma foto.
Devo agradecer aos turistas a conspurcação dos cheiros destas ruas, a ocupação dos sentidos , a usurpação da identidade desta Lisboa cada vez menos parecida.
Não posso deixar de agradecer aos turistas a iniquidade da sua presença, assim como o ridículo da sua presunção e a minha não obstipação dedicada à sua memória.
E agora, isto é a sério:
Agradeço o retour chez vous.
Merci pró cu!
2016,10aNTÓNIODEmIRANDA
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