Miles abanava o trompete na noite em que a morte
subiu ao céu. E tocava as notas da estrela-do-mar com sons de
fogo-de-artifício.
Os sonhos bailavam no ar, perfumando a lua com os
seus sorrisos.
De olhos fechados via-se o impossível e os joelhos
tremiam uma dança que ninguém conseguia parar.
Abriam-se assim todos os parêntesis para o
acontecer.
Miles dirigia o baile, celebrando na negra pele a
arte de mestre-de-cerimónias.
Erguiam-se lágrimas rejubilosas e toda a gente
pensava que o mundo teria um final feliz.
Coleccionador de almas deslocadas, descondicionador
de sonhos em banho maria e de loucuras torradas num micro ondas ecológico.
Desenhador da não perfeição, mágico com pés de
algodão, solitário no infinito especial, cartaz seduzindo ao longo da estrada
do paraíso.
Miles tem na cabeça pergaminhos com pautas celestiais
e sopros do “únicodeusverdadeiramentevivo”.
Deleitam-se os anjos num “festim nu”, onde bebem o
néctar das orquídeas sentimentais.
E é tão perto o inatingível e é tão serena esta
mania de sonhar.
Voam pássaros que ninguém lê, desenhando-nos os mais
bonitos poemas dos poetas perdidos.
Creio em tudo o que me é possível.
Acredito que estou vivo.
E se deus não estivesse distraído, olhava para o
lado para acreditar.
Ergo um salmo num cálice benevolente repleto de
sombras que me desconhecem.
E solenemente aviso:
Já tenho poucos milagres disponíveis.
Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA
Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA
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