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domingo, 17 de julho de 2016

MILES ABANAVA O TROMPETE #Kind of Blue#

Miles abanava o trompete na noite em que a morte subiu ao céu. E tocava as notas da estrela-do-mar com sons de fogo-de-artifício.
Os sonhos bailavam no ar, perfumando a lua com os seus sorrisos.
De olhos fechados via-se o impossível e os joelhos tremiam uma dança que ninguém conseguia parar.
Abriam-se assim todos os parêntesis para o acontecer.
Miles dirigia o baile, celebrando na negra pele a arte de mestre-de-cerimónias.
Erguiam-se lágrimas rejubilosas e toda a gente pensava que o mundo teria um final feliz.
Coleccionador de almas deslocadas, descondicionador de sonhos em banho maria e de loucuras torradas num micro ondas ecológico.
Desenhador da não perfeição, mágico com pés de algodão, solitário no infinito especial, cartaz seduzindo ao longo da estrada do paraíso.
Miles tem na cabeça pergaminhos com pautas celestiais e sopros do “únicodeusverdadeiramentevivo”.
Deleitam-se os anjos num “festim nu”, onde bebem o néctar das orquídeas sentimentais.
E é tão perto o inatingível e é tão serena esta mania de sonhar.
Voam pássaros que ninguém lê, desenhando-nos os mais bonitos poemas dos poetas perdidos.
Creio em tudo o que me é possível.
Acredito que estou vivo.
E se deus não estivesse distraído, olhava para o lado para acreditar.
Ergo um salmo num cálice benevolente repleto de sombras que me desconhecem.
E solenemente aviso:
Já tenho poucos milagres disponíveis.


Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

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